O Brasil não é para amadores | Por Joaci Góes
Ao casal amigo Mollie e Nelson Cerqueira!
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
Rui Barbosa
O título deste artigo é a frase que se consolidou originalmente da lavra de Tom Jobim, “O Brasil não é para principiantes”. De fato, somos uma inesgotável fonte de originalidades, a maioria das quais, desgraçadamente, nada edificantes.
O inamistoso ambiente político deste ano eleitoral aponta para a continuidade da odienta separação entre brasileiros, seja quem for o Presidente eleito, tendo em vista o mais do que aparente fracasso das tentativas de construção de uma terceira via, equidistante das dominantes paixões desenfreadas.
Esse caldo de cultura é ideal para a prosperidade de anomalias de toda sorte, compondo aforismos como aquele criado por Otávio Mangabeira, ao sentenciar: “Pense num absurdo: na Bahia há um precedente”. Refraseamos essa sentença colocando o Brasil em lugar da Bahia, para sediar absurdos de escala planetária.
Ao longo da semana corrente, dois conhecidos e respeitados juristas baianos, Luiz Holanda e Fabrício de Castro Oliveira, abordaram temas que se enquadram nessa anomalia que tantos prejuízos acarretam à vida moral e econômica de nosso País: enquanto Luiz Holanda disseca a monstruosidade constitucional do “orçamento secreto”, destinada a proteger ominosos crimes contra a Bolsa Popular, Fabrício denuncia falsos conflitos exegéticos de nossa legislação ambiental que inibem quando não impedem que a boa gestão municipal cumpra o seu insubstituível dever de elevar as possibilidades de enriquecimento do seu território e de sua gente. Várias são as questões de grande interesse nacional que flutuam em função da natureza dos interesses de núcleos de poder dominantes.
Para aprofundar o mar de dúvidas existentes, não nos recordamos de perspectivas eleitorais tão incertas quanto as atuais, cabendo, praticamente, ainda que em graus variados, todas as possibilidades, como as que defrontamos, nos planos federal e estadual. No federal, é possível que qualquer das duas candidaturas presidenciais saia vencedora, no primeiro ou segundo turno, a depender do grau de influência decorrente da implementação de políticas sociais, no ânimo das camadas mais pobres da população brasileira que só serão do pleno conhecimento dos beneficiários ao longo do horário eleitoral. Líderes petistas, por outro lado, consideram inevitável que as eleições estaduais só serão resolvidas, na Bahia, num segundo turno entre os candidatos Jerônimo e ACM Neto, saindo vencedor o representante do PT, caso o candidato do Partido dos Trabalhadores seja eleito no primeiro turno, possibilidade em que não acreditamos.
A verdade que não quer calar é que, seja qual for o resultado das maniqueístas eleições presidenciais de outubro, a numericamente menor metade do povo brasileiro sentir-se-á tão infeliz que será levada a desejar que pioremos nossas já difíceis condições de vida, desde que isso desmoralize os vencedores.
Verdade é, também, que têm poucas possibilidades de alcançar um saudável patamar civilizatório os povos em que parcela ponderável de suas populações consideram defensável votar em ladrões.
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