quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Sputnik

 

Análise: mundo teme guerra por semicondutores, e ascensão da China no setor alarma o Ocidente

Visitante de exposição em Pequim observa chip em um microscópio do projeto Tsinghua Unigroup, controlado pelo Estado chinês, que se tornou um campeão nacional das ambições nacionais no setor de semicondutores. China, 17 de maio de 2018 - Sputnik Brasil, 1920, 26.11.2025
Especiais
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas apontam que a China soube desenvolver sua indústria de semicondutores por meio de uma política de Estado e hoje tem uma participação no setor que preocupa os EUA e aliados europeus.
O fornecimento de semicondutores à indústria automotiva brasileira esteve com a corda no pescoço. Isso porque 40% dos nossos chips vêm da Nexperia, uma subsidiária da empresa de semicondutores chinesa Wingtech, sediada nos Países Baixos.
Em outubro, o governo holandês tomou o controle da empresa, citando preocupações com a segurança nacional, e ordenou a remoção do CEO da companhia, Zhang Xuezheng, do cargo. Em resposta, a filial chinesa anunciou a interrupção do envio de matérias-primas à prima europeia, criando um nó logístico mundial.
Na semana passada, entretanto, Amsterdã anunciou a suspensão da intervenção na empresa após conversas com Pequim.
A Nexperia é uma fornecedora crucial de chips básicos para a indústria automobilística, e a escassez desses componentes vem ameaçando a cadeia de suprimento global. Em meio à crise, a China garantiu que as remessas ao Brasil estão garantidas, mas a problemática é mais um indício do papel central dos chips e semicondutores na geopolítica atual.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, o presidente da estatal brasileira de semicondutores, Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), Augusto César Gadelha, destaca que hoje os Estados Unidos estão perdendo a liderança nessa tecnologia.
"Os EUA já estiveram à frente nos semicondutores, foram os criadores de todo o uso de semicondutores na área computacional e em tudo que temos na sociedade. Mas eles pararam um pouco no tempo e agora estão querendo recuperar isso com esses esforços de atrair todos os seus recursos humanos."
Produção de microchips - Sputnik Brasil, 1920, 06.11.2025
Notícias do Brasil
'Soberania passa por tecnologia': Brasil pode ser polo de produção de semicondutores, diz analista
Do outro lado do mundo, a China trilhou o caminho oposto. Desde a década de 1980 já considerava os semicondutores um setor crucial para o desenvolvimento.

"A China passou a considerar isso uma prioridade nacional."

Nesse mesmo período, o Brasil também estava começando a dar importância ao setor, mas não lhe deu continuidade. O país, diz, não conseguiu definir o setor como um projeto de Estado. "O Brasil jamais transformou semicondutores em uma prioridade nacional."
O presidente da Ceitec explicou ao podcast que o desenvolvimento de uma indústria para o setor leva em torno de 20 anos e que hoje a empresa desenvolve semicondutores para nichos específicos.
"Por exemplo, nós elegemos a fabricação de semicondutores de potência, que são utilizados na área de conversores de potência, de correntes elétricas, de tensões com aplicações em carros elétricos, em energia alternativa e em motores industriais."
"Mas os semicondutores independentes de chips vão ser produzidos no exterior. Nós não temos condições nem capacidade para desenvolver semicondutores mais avançados."
Em contraponto, a China, que conseguiu se estabelecer no mundo inteiro, tem uma indústria "comparável""compatível" e "competitiva" com a dos EUA, detalhou Gadelha. "E isso preocupa demais os países ligados aos EUA".
Chips semicondutores organizados em uma bancada - Sputnik Brasil, 1920, 15.10.2025
Panorama internacional
Pequim acusa EUA de enfraquecer indústria de chips em Taiwan
Diego Kerber, jornalista e apresentador do canal Adrenaline, enfatiza ao Mundioka que não é só o Brasil que é dependente da importação dos microchips. "Chegamos a um ponto em que a gente afunilou demais essa tecnologia."
"Praticamente toda a produção de chips de alto desempenho é feita em uma ilha na Ásia, no caso, lá em Taiwan. Nós temos praticamente todas as máquinas que fazem os chips […] sendo [de] uma única empresa, lá na Holanda."
Com nossas vidas inteiras armazenadas na nuvem, e quase todos os componentes da tecnologia analógica trocados por digitais, é difícil pensar em um setor que não seria duramente afetado em uma escassez desses produtos.
"Hoje tem mercados que você não imagina que estão usando chips; a gente incorporou isso de uma forma que é surpreendente. A gente tem, hoje em dia, semicondutores em tudo, e, quando não tem, a gente tenta achar um jeito de colocar."
Por conta disso, hoje há uma preocupação com uma possível guerra desencadeada pela falta de semicondutores, e Kerber aponta que a União Europeia e os Estados Unidos vêm investindo bilhões em fábricas do setor.
"Porque os semicondutores começaram a ficar tão importantes quanto qualquer outro insumo, especialmente para quem está preocupado com conflitos, como combustíveis, como equipamento de guerra bélica", destaca o analista.

Nenhum comentário:

Postar um comentário