segunda-feira, 12 de junho de 2023

 

Esculhambação é tamanha que o deputado dos dólares na cueca quer ser ministro

Lula confirma José Guimarães como líder do governo na Câmara

Guimarães vive na sombra de Lula e sonha cada vez mais alto

Jeniffer Gularte e Sérgio Roxo
O Globo

Com dificuldades na relação com o Congresso neste início de mandato, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva também enfrenta uma série de disputas veladas em sua equipe, o que, na avaliação de interlocutores do presidente, tem afetado a montagem de uma base coesa. Uma delas envolve dois dos principais responsáveis pela articulação política do Palácio do Planalto, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), que têm se desentendido nos bastidores.

O fogo amigo também atinge outros ministros, como o da Casa Civil, Rui Costa, alvo constante de queixas na bancada petista; o da Fazenda, Fernando Haddad; e até a do Meio Ambiente, Marina Silva.

DE OLHO NO CARGO – A origem da disputa entre o ministro das Relações Institucionais e o líder do governo é atribuída por aliados próximos de Lula a um desejo que José Guimarães nutria de ocupar o posto que ficou com Alexandre Padilha.

Auxiliares do ministro afirmam que, ainda na transição, o deputado trabalhou para que o colega assumisse a pasta da Saúde e a articulação do governo ficasse sob seu comando. Agora, entendem que Guimarães utiliza a pressão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para enfraquecer Padilha no governo.

Petistas admitem que a relação entre os dois “não é redonda” e que as divergências afetam o andamento do cotidiano da articulação política, um trabalho que precisa ter uma operação conjunta para dar certo. Aliados dão como exemplo a escolha dos integrantes da CPI mista dos Ataques Golpistas.

EXEMPLO DA CPMI – Sem uma estratégia definida para influenciar as indicações de partidos da base na Câmara, a presidência do colegiado acabou nas mãos do deputado Arthur Maia (União-BA), considerado um nome não alinhado ao Palácio do Planalto.

Auxiliares de Padilha citam como fator de desconfiança o que chamam de “excesso de alinhamento” de Guimarães com Lira, que tem feito críticas públicas ao trabalho do ministro da articulação política.

No embate sobre o rito das medidas provisórias, por exemplo, enquanto o Planalto evitava tomar lado na disputa, o líder do governo defendeu abertamente a tese do presidente da Câmara de ignorar as comissões mistas, se opondo ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

QUEIXAS DA BASE – Do lado de Guimarães, colegas do parlamentar relatam que, em conversas reservadas, ele costuma se queixar de que Padilha seria lento e pouco objetivo no trato com a Câmara. Por isso, não consegue capitanear a organização da base. A avaliação no entorno do deputado é que o ministro utiliza o cargo para trabalhar pela própria candidatura ao governo de São Paulo, em 2026.

Questionado pelo Globo, Guimarães minimizou as dificuldades na articulação política e as classificou como “normais de início do governo”. Ele negou problemas na relação com Padilha. “Converso com ele umas dez vezes por dia, portanto não tem areia na nossa relação” — afirmou o deputado.

As rusgas internas fizeram com que Padilha fosse a público para afirmar que não há clima de desunião no time da articulação política. “Não tem intriga, não tem futrica, não tem nada que vá gerar qualquer tipo de desunião nos três mosqueteiros do presidente Lula e no D’Artagnan” — disse o ministro, em entrevista na semana passada, comparando-se ao espadachim da obra de Alexandre Dumas.

RUI COSTA VIRA ALVO – Um outro fator, na visão de deputados petistas, que atrapalha a formação da base na Câmara é o que chamam de “falta de sensibilidade política” do ministro da Casa Civil. Rui Costa só começou a reservar espaço em sua agenda para receber parlamentares recentemente, após críticas à sua postura. Embora a relação com o Congresso não esteja entre as suas atribuições, as nomeações de cargos precisam necessariamente passar por sua pasta.

Na quarta-feira passada, precisou se retratar nas redes sociais após chamar a capital federal de “ilha da fantasia”, o que motivou críticas públicas de políticos do Distrito Federal, incluindo deputados do PT. O ministro costuma repetir a aliados ter encontrado dificuldade em lidar com o ambiente de intrigas em Brasília, mas diz que dará a resposta com trabalho.

Além da bancada petista, Costa enfrentou problemas recentemente com Haddad durante as discussões sobre o novo arcabouço fiscal. Enquanto o ministro da Fazenda queria regras mais rígidas de controle da dívida pública, o chefe da Casa Civil defendia mais espaço para investimentos. As divergências escalaram ao ponto de Lula precisar intervir, prevalecendo a visão da equipe econômica.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – A esculhambação chega a tal ponto que o deputado José Guimarães (tristemente famoso como o deputado cujo assessor foi preso no aeroporto com uma mala de dinheiro e dólares na cueca) tinha e tem pretensão de se tornar ministro. Aliás, faz sentido. Se até Sérgio Cabral, condenado a 342 anos de prisão, já declara que pretende voltar à política, por que o deputado dos dólares na cueca não pode ser ministro? Faz ou não faz sentido?(C.N.)

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