sexta-feira, 21 de outubro de 2022

 

Na campanha, Lula e Bolsonaro disputam a eleição e o troféu “O passado te condena”

Como foi o debate da Band entre Lula e Bolsonaro no segundo turno

No segundo turno, sobraram dois candidatos de ficha suja

William Waack
Estadão

Na fase final da corrida eleitoral, as campanhas se dedicam também à supressão de duas memórias coletivas. Ambas de altíssimo conteúdo emocional. Por parte de Lula, é a tentativa de apagar da recente memória coletiva os enormes escândalos de corrupção do período petista. Esforço até aqui malsucedido: a rejeição de Lula subiu nas últimas semanas.

Por parte de Bolsonaro, é a tentativa de apagar da recente memória coletiva a dor e o sofrimento trazidos pela pandemia. São sentimentos de forte impacto sobretudo no eleitorado feminino. Esforço também malsucedido: a rejeição de Bolsonaro “melhorou”, mas continua superior à de Lula.

POR QUE ISSO? – O que explica o empenho de duas campanhas profissionais em tentar relativizar acontecimentos bastante recentes de tamanhas amplitude e relevância?

Provavelmente o apego à convicção, nos operadores políticos profissionais, de que a essência da política é fazer a própria narrativa prevalecer, impedindo que a do adversário se sobreponha. Isso é tão velho quanto a política, mas parece ter assumido significância ainda maior no atual “espírito de nossa época”, que é o da criação de “fatos alternativos”.

O problema é o choque dessas táticas político-eleitorais com a realidade, pois parecem ter apostado numa monumental dissonância cognitiva coletiva. As duas campanhas aparentemente menosprezaram o peso de acontecimentos históricos cujo alcance se mostrou bem superior à capacidade de gerar “fatos alternativos”, mesmo com a predominância de redes sociais.

MARCADO PELA CORRUPÇÃO – No caso de Lula, é o fato de que uma enorme parcela da população enxerga a corrupção como o pior problema do País e viu na Lava Jato uma resposta aos poderosos que sempre escapavam da Justiça. Ela não é vista como simplesmente uma operação policial ou vingança contra Lula: é encarada como evento a ser celebrado, não importa que erros possa ter cometido.

No caso de Bolsonaro, os mortos da pandemia pesam não só pelos números horríveis, mas, sobretudo, pela gritante falta de empatia frente ao sofrimento de centenas de milhares de famílias. É algo tão profundo, esse tipo de sentimento, que mal se consegue expressar em palavras – mas a rejeição é o sintoma. Ela traduz a falta do gesto de carinho, do abraço, da lágrima dividida com quem perdeu alguém.

É claro que na decisão do eleitor impactam fatores comuns a qualquer eleição em qualquer lugar, tais como economia, ideologias, valores, religião. E tudo se funde num tipo de emoção, em geral de esperança. No caso do Brasil, prevalece o medo. Nenhuma das duas campanhas conseguiu escapar da frase “teu passado te condena”.

Feitiço identitário volta-se contra feiticeiros no Reino Unido e também aqui no Brasil

A premier com o ex-ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng

Demétrio Magnoli
Folha

O gabinete original britânico da primeira-ministra Liz Truss condensava os sonhos mais extremos dos ideólogos das políticas identitárias. No seu núcleo, as “Grandes Pastas de Estado”, não figurava nenhum homem branco. O (agora demitido) ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, é negro, filho de imigrantes de Gana. A mãe de James Cleverly, ministro do Exterior, também negro, imigrou da Serra Leoa. A ministra do Interior, Suella Braverman, é negra, filha de imigrantes africanos.

A descrição identitária não deve ocultar a descrição política. Truss formou o governo britânico mais conservador e sectário desde o pós-guerra. São leninistas da direita, segundo a Economist. Na economia, seguem uma cartilha ultraliberal de alegadas raízes thatcheristas. Na política, uma cartilha antieuropeísta e xenófoba apoiada na nostalgia da “Pequena Inglaterra”.

AQUI NO BRASIL – O feitiço identitário volta-se contra os feiticeiros — e não só na distante ilha de Shakespeare. Entre os deputados federais eleitos no Brasil, a maioria absoluta dos autodeclarados negros pertence a partidos da coalizão de Bolsonaro, com destaque para PL, Republicanos e PP. No Senado, entre os seis eleitos que se declaram negros, quatro pertencem a partidos bolsonaristas.

“Negro vota em negro”, clamaram ativistas do identitarismo racial. Ninguém sabe se a campanha funcionou, pois o voto é secreto. Sabe-se, contudo, sem erro, que cor e ideologia andam em trilhos separados.

Os porta-vozes da política identitária ficaram confusos diante do gabinete ultraidentitário de Truss, mas escolheram criticá-lo nos termos da linguagem identitária. “Não é suficiente ser negro ou de uma minoria étnica; representação não é isso”, fulminou um deputado da esquerda trabalhista. Tradução: negros que pensam diferente de mim não representam os negros.

INSULTO HABITUAL – Por aqui, sempre vamos além. “Os tais candidatos negros de direita são negros mesmo?”, tuitou o Instituto Luiz Gama, presidido por Silvio Almeida. O insulto habitual é aplicar ao negro “errado” o rótulo de “capataz da Casa Grande”.

No caso, porém, inaugura-se o procedimento revolucionário de expropriação de cor: o negro que não concorda com as políticas de raça nem negro será. Logo, alguém se levantará para cassar a identidade étnica da indígena bolsonarista Silvia Waiãpi, eleita deputada pelo Amapá.

O “voto identitário” não funcionou, do ponto de vista da esquerda. Mas qual será o efeito eleitoral mais amplo das políticas identitárias?

EXEMPLO AMERICANO – Nos EUA, ao longo de décadas, ajudaram a empurrar a maioria dos brancos para o Partido Republicano – e já transferem votos das minorias.

Trump, o republicano mais à direita desde Barry Goldwater (1964), incrementou sua parcela do voto hispânico entre 2016 e 2020 (29% a 32%, a maior de um republicano desde 2004) e até do voto negro (8% a 12%, a maior de um republicano desde 1980). Lá, a esquerda identitária amplia o eleitorado da direita nacionalista e antidemocrática.

Há indícios de que algo similar ocorre no Brasil. A direita bolsonarista replica o discurso identitário, mas com um ajuste crucial, operando com signos de identidade que apelam à unidade: a religião (“somos todos filhos de Deus”) e a pátria (“todos somos brasileiros”).

COTAS NO CONGRESSO – A estratégia revela-se mais eficiente que a proposição de fragmentar os cidadãos em grupos raciais condenados ao conflito perene. Como atestam o gabinete de Liz Truss e a bancada negra bolsonarista, nada disso impede a incorporação dos adereços do identitarismo racial.

Nossos parlamentares negros de direita não promoverão a reforma das polícias ou direitos universais à saúde e educação.

Mesmo assim, a esquerda identitária tem algo a comemorar: eles não votarão contra a eternização das cotas raciais nas universidades — e, por interesse próprio, ajudarão a estendê-las para a distribuição de cadeiras no Congresso.

Bolsonaro cometeu erros na semana passada, mas Lula não soube capitalizar o momento

Bolsonaro não poderá tocar em Lula no debate da Globo; veja as regras

Descontraído, Bolsonaro conseguiu amortecer Lula na TV

Eliane Cantanhêde
Estadão

Se a semana passada foi péssima para o presidente Jair Bolsonaro, esta começou mal para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e essa montanha-russa das eleições acirra os ânimos na reta final até o dia 30, com expectativa de mais fake news e jogo sujo. Muita calma nessa hora, minha gente.

Especialista em dar tiro no pé e no peito, Bolsonaro fez feio no Círio (não Sírio…) de Nazaré, fez pior ainda em Aparecida e ele e seus seguidores não param de açoitar a Igreja Católica e pressionar fiéis evangélicos. E a agenda foi incompreensível. Comício no Recife um dia antes de Lula, que teve 66% de votos em Pernambuco? E a ida a Fortaleza, se Lula teve o mesmo índice no Ceará?

PINTOU UM CLIMA – Para fechar a semana, depois da “revelação” grotesca até de estupros de bebês em Tapajós (PA), feita pela senadora eleita Damares Alves, ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos (?), veio mais um de tantos vídeos aterrorizantes de Bolsonaro. Neste, o presidente fala que, numa motociata, “pintou um clima” com venezuelanas de 14 anos. Mundo cão…

O tempo abriu para Bolsonaro no domingo, que começou com uma live tentando justificar o injustificável, evoluiu para a decisão, vejam só, do ministro Alexandre de Moraes tirando o vídeo sobre as adolescentes do ar e terminou com o presidente bem treinado para o primeiro debate do segundo turno, e com Sérgio Moro de troféu.

Líder da campanha, Lula tinha tido bons momentos no Rio e em quatro Estados do Nordeste. Mas sofreu um revés com a decisão de Moraes, teve de ignorar a história das adolescentes, atrapalhou-se nas perguntas óbvias sobre corrupção e, pior, deu quase seis minutos de graça para Bolsonaro no horário nobre da TV aberta.

CHANCES DESPERDIÇADAS – Lula comeu muitos “s” e desperdiçou várias chances de reagir e atacar. Não lembrou que Bolsonaro teve os quatro piores ministros da Educação da história, nem que Nelson Jobim, o melhor ministro da Defesa até hoje, não é “companheiro” da esquerda e do PT.

Também esqueceu as rachadinhas, 51 apartamentos comprados com dinheiro vivo, queda da vacinação contra a pólio e, na boa resposta sobre o Complexo do Alemão e os “traficantes”, não citou a condecoração da família Bolsonaro a um líder das milícias no Rio, depois morto pela polícia. São fatos.

Diz o pragmatismo que, em debates, o empate está de bom tamanho para quem está na frente, mas o que está atrás tem de vencer, e por nocaute. Sei não. Em eleições polarizadas, nervosas, nunca é bom titubear em ocasiões decisivas. Debates passam, mas erros e acertos viralizam na internet, ao gosto do freguês, e chegam às urnas.

Lula também falta ao debate da Record, que vai entrevistar Bolsonaro durante uma hora

E depois de Lula? Depois dele, que venham também os outros | Opinião | EL  PAÍS Brasil

Lula se acovarda e Bolsonaro ganha espaço para atacá-lo na TV

Deu em O Tempo

Após decidir não comparecer ao debate do SBT que ocorrerá nesta sexta-feira (21), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também decidiu que não irá ao encontro marcado para acontecer na Record TV no próximo domingo (23). A emissora já foi comunicada pela campanha na noite desta quarta-feira (19).

Com isso, a Record fará uma entrevista com o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), que já havia confirmado sua presença. A conversa terá duração de uma hora, a partir das 21h30 e será conduzida pelo jornalista Eduardo Ribeiro.

SOMENTE NA GLOBO – Com a ausência de Lula no SBT e na Record, os dois candidatos só terão mais uma oportunidade de debaterem. Será no dia 28 de outubro, na TV Globo. Neste caso, Lula deve comparecer.

Logo que a disputa entre os dois ficou definida, na primeira semana de outubro, o ex-presidente disse que iria a apenas um ou dois debates, pois se concentraria em atividades de campanha.

Como ele participou do encontro promovido pela Band, junto com o jornal Folha de São Paulo, o portal UOL e a TV Cultura, no dia 7 de outubro, havia mesmo a expectativa de que ele só voltasse a debater no programa da Globo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – No final da reta de chegada, Lula mostra ter medo de debate e deixa Bolsonaro sozinho, em horário nobre, para fazer propaganda eleitoral e baixar a pancada no candidato petista. Assim, além da oportunidade de ouro no horário nobre, Bolsonaro ganha também duas horas de treinamento intensivo para o debate contra Lula na quinta-feira, dia 28, pela TV Globo. É pena que comece às 21h30. A Globo é vaidosa e acha que suas novelas são mais importantes do que a política nacional. Essa postura é deprimente. (C.N.)

Lula consegue censurar no TSE suas declarações que não lhe interessam mais

⭕ Charge do Dia | 16 de Abril de 2019 - Direto ao Ponto

Charge reproduzida do site Direto ao Ponto

J.R. Guzzo
Estadão

Nunca antes, na história das eleições nesse país, um candidato usou tanto a posição de força que tem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para censurar o que o seu adversário de campanha diz nos órgãos de imprensa e nas redes sociais.

Nunca houve, ao mesmo tempo, um TSE como esse – um organismo de Estado que abandonou sua obrigação de operar de maneira neutra o mecanismo da votação e apuração dos votos, e se transformou numa facção política em favor de uma candidatura e contra a outra.

ESFORÇO DE SUPERAÇÃO – Agora, neste final de campanha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o TSE se empenham num esforço neurótico de superação. Lula não se contenta mais em censurar o que o concorrente diz dele. Quer censurar também o que ele próprio, Lula, já disse no passado – em público, por sua livre e espontânea vontade e com a costumeira arrogância de quem se julga capaz de decretar o que é a verdade sobre tudo que existe no mundo.

Acha, agora, que uma porção das coisas que disse pode lhe tirar votos, e exige que o TSE proíba a sua divulgação. O TSE concorda.

 

Lula afirmou, tempos atrás, que “a natureza” tinha feito um grande favor ao Brasil, quando mandou a covid para cá. “Ainda bem”, disse ele. Assim as pessoas aprendem a “importância do Estado” – ou, mais exatamente, aprendem a obedecer ao governo.

Poucas afirmações poderiam deixar tão claro como Lula vê o Brasil – uma massa de gente que está aí para servir ao deus único do seu “Estado”, e, naturalmente, a quem manda nele. Tudo bem. Mas se ele pensa assim, por que não tem a coragem mínima de assumir a responsabilidade pelo que disse há tão pouco tempo atrás, e disse com tanta empáfia?

APENAS INTERESSES – A verdade é que Lula não tem convicção séria nenhuma – só tem interesses, e só diz o que lhe parece render mais proveito pessoal no momento em que está falando.

Agora já é outro momento, e ele vê que a sua oratória de outro dia sobre a covid pode lhe fazer mal na hora da eleição. Corre, então, para pedir censura ao TSE:

“Proíbam que alguém divulgue o que eu falei”, exige ele. O TSE executa no ato – se censura o que os outros dizem de Lula, qual é o problema de censurar o que ele diz de si mesmo, se é isso que os seus advogados estão querendo?

NÃO ME COMPROMETA – Lula chega à véspera da eleição fazendo um esforço extraordinário para mostrar ao eleitor que ele não pensa nada sobre coisa nenhuma; acha que é mais seguro, para sua candidatura, não se comprometer com coisa nenhuma e ficar na repetição de bobagens que lhe rendem palmas nos auditórios do PT – do tipo “eu vou devolver a felicidade a este país”.

Não quer, nem mesmo, responder alguma pergunta feita em público. Diz que todos já o conhecem, que ele não deve explicações a ninguém e que não precisa mais demonstrar o seu gênio sem limites na política do Brasil e do mundo.

É esse o seu projeto de governo.

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