terça-feira, 13 de setembro de 2022

 

200 anos de independência | Por Luiz Holanda

Exposição do Bicentenário da Independência do Brasil no saguão do Palácio do Planalto.
Exposição do Bicentenário da Independência do Brasil no saguão do Palácio do Planalto.

Há 200 anos o Brasil se tornou independente de Portugal. O grande marco do acontecimento foi a manifestação de D. Pedro I do dia 7 de setembro de 1822, quando, às margens do Rio Ipiranga, afirmou que, a partir daquele momento, o Brasil estava independente de Portugal. A história registra o fato como “O grito do Ipiranga”.

Cinquenta e quatro anos (54) depois, Machado de Assis, comemorando o 7 de setembro, disse, em uma de suas crônicas, que “Não houve grito nem Ipiranga”, e o jornalista Pinto Júnior, adotando a mesma opinião, afirmou que “houve algumas palavras, entre elas a Independência ou Morte, – as quais todas foram proferidas em lugar diferente das margens do Ipiranga”. Era o aniversário do “Grito”.

As causas foram várias, começando pela Revolução Liberal do Porto, o retorno de D. João VI para Portugal e a posterior exigência das cortes portuguesas sobre a revogação das medidas aqui implantadas e o retorno do príncipe regente a Portugal, que terminou no “Dia do Fico”, quando D. Pedro declarou que permaneceria no Brasil. No “Cumpra-se” afirmou que as ordens portuguesas só seriam cumpridas no Brasil com o seu aval.

Quando passamos a ser parte integrante de Portugal, D. João VI, em dezembro de 1815, decretou a elevação do Brasil para parte do Reino Unido. Isso, na prática, significou que o Brasil deixava de ser uma colônia e se transformava em parte integrante do Reino de Portugal, que agora passava a ser chamado de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Daí muitos historiadores considerarem que nós já fomos um país europeu.

As Cortes portuguesas (instituição surgida com a Revolução do Porto) tomaram algumas medidas que foram bastante impopulares, como a exigência de transferência das principais instituições criadas durante o Período Joanino para Portugal, o envio de mais tropas para o Rio de Janeiro e a exigência de retorno do príncipe regente em dezembro de 1821. Em janeiro de 1822, durante uma audiência do Senado, um documento com mais de 8 mil assinaturas foi entregue a D. Pedro. Esse documento exigia a permanência do príncipe regente no Brasil.

D. Pedro I estava sofrendo de problemas intestinais quando o evento da independência ocorreu. A história registra que o fato deu-se com o famoso grito às margens do Rio Ipiranga, que os historiadores afirmam não existir evidências que o comprovem. Nos meses seguintes, acontecimentos importantes aconteceram, como a Aclamação de D. Pedro como imperador do Brasil, no dia 12 de outubro, e sua coroação, ocorrida no dia 1º de dezembro.”

Com a declaração da independência, várias regiões no Brasil demonstraram sua insatisfação, rebelando-se contra o processo. Eram movimentos “não adesistas”, isto é, movimentos que eclodiram nas províncias que não aderiram ao processo de independência, como Pará, Bahia, Maranhão e a província de Cisplatina (atual Uruguai).

Depois de independente começamos a construir a nação brasileira. Nascia, assim, o sentimento de nacionalidade, de patriotismo, de civismo e a identidade nacional, forjadas por uma elite política imperial e sem participação das camadas populares da sociedade. Esse fato explica a apatia brasileira em relação às questões relativas à corrupção e a ínfima consciência política do nosso povo. Machado, em sua crônica, cita o aforismo que   “também os aniversários envelhecem ou adoecem, até que se desvanecem ou perecem”. Até que isso aconteça, comemoramos nossos 200 anos.

*Luiz Holanda, advogado e professor universitário

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