quarta-feira, 6 de julho de 2022

 

Eleição de Lula no primeiro turno depende dos eleitores que podem abandonar Ciro Gomes

Eleitores indecisos

Charge do Duke (domototal.com)

Thomas Traumann
O Globo

A pesquisa Datafolha mostrou que dois de cada três eleitores do ex-ministro Ciro Gomes podem mudar seu voto até outubro, e o destino dessa escolha pode decidir a eleição. Com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com chances reais de vencer já no primeiro turno, os eleitores light de Ciro são a chave da campanha nos próximos meses.

Perguntados pelo Datafolha em quem votariam como segunda opção, 44% dos ciristas escolheram Lula, 12% Jair Bolsonaro e 12% se disseram indecisos. Se estes ciristas realmente mudassem para Lula, o favoritismo do petista cresceria exponencialmente.

SEM REVIDAR – Por tática, Lula e o PT têm evitado responder aos ataques de Ciro dos últimos meses, numa tentativa de não gerar antipatia. Mas é certo que haverá uma ofensiva para conquistar esses votos nas últimas semanas de setembro, caso o quadro atual se mantenha.

O voto útil, ou estratégico como é conhecido na ciência política, faz parte do processo de decisão do eleitor brasileiro. Nas duas últimas semanas da campanha de 2014, a metade dos eleitores de Marina Silva mudou para Aécio Neves, considerando que ele tinha mais chances de derrotar o PT.

Em 2018, as candidaturas de Geraldo Alckmin, Marina Silva e João Amoêdo encolheram na reta final com a onda de que Jair Bolsonaro poderia vencer no primeiro turno.

ANTECIPAR A DECISÃO – “Esse voto estratégico já está acontecendo nesta campanha desde o ano passado. Numa eleição na qual o candidato em segundo lugar, Bolsonaro, é muito rejeitado, e a disputa muito polarizada, o eleitor está antecipando a decisão que em outras campanhas ficaria para o final”, avaliou Felipe Nunes, diretor da empresa de pesquisas Quaest.

Na pesquisa Genial/Quaest de junho, 37% dos eleitores de Ciro responderam que aceitariam votar em Lula para derrotar Bolsonaro já no primeiro turno.

Na mesma pesquisa, questionados a comparar se tinham mais medo da continuidade de um governo Bolsonaro ou da volta do PT ao poder, 49% dos eleitores de Ciro disseram temer a reeleição do presidente e 31% responderam que seria ter o PT de novo no Planalto.

MAIS TENDÊNCIAS – Em outro item, 84% dos ciristas afirmaram que Bolsonaro não merece um segundo mandato e 30% que Lula merece voltar a ser presidente.

A campanha de 2022 é atípica. Ela começou ainda no ano passado, se afunilou mais cedo e o candidato à reeleição não está em primeiro lugar. É a primeira vez que um presidente enfrenta um ex-presidente.

Desde 2006, não se tem uma disputa com dois líderes tão predominantes. Naquela oportunidade, Lula e Geraldo Alckmin tiveram somados 90% dos votos válidos no primeiro turno. Um quadro similar pode se repetir em 2 de outubro.

TUDO ANTECIPADO – Mas como tudo nessa campanha foi antecipado, não se deve descartar a hipótese de que os eleitores que fariam voto útil também se adiantaram. A empresa Ideia entrevistou grupos focais de eleitores que não citam Ciro Gomes espontaneamente, mas escolhem o ex-governador do Ceará na pesquisa estimulada.

O resultado, apresentado a um grupo restrito do mercado financeiro na semana passada, mostra que se depender desses eleitores light de Ciro, haverá segundo turno. Os ciristas entrevistados pela Ideia rejeitam igualmente tanto Lula quanto Bolsonaro.

Para Maurício Moura, diretor do Ideia, existem duas premissas necessárias para a campanha terminar no primeiro turno: a falta de competividade de uma candidatura de centro-direita e a fuga dos eleitores light de Ciro para Lula. “A primeira premissa está dada, com os índices até o momento fracos de Simone Tebet. A segunda ainda não. A capacidade de Ciro manter esses eleitores fiéis pode ser a chave da eleição”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Com todo o respeito ao cientista político Thomas Traumman, sua análise é interessante e procedente, mas despreza a possibilidade de que maioria dos eleitores inseguros venha a apoia Ciro Gomes e Simone Tebet. A meu ver, é uma hipótese que não pode ser desconsiderada. (C.N.)

Militares da ativa descumprem a lei em bolha de extrema direita no Twitter, indica levantamento

Brum on Twitter: "Charge da Tribuna do Norte #brum #charge  #chargespoliticas #governobolsonaro #militares #militarizacao #cargoscivis  #governomilitar https://t.co/ck1G1T7XUp" / Twitter

Charge do Brum (Tribuna do Norte)

Jan Niklas
O Globo

Membros do topo da hierarquia das Forças Armadas vivem em uma bolha de extrema direita no Twitter, segundo apontou um levantamento do laboratório DATA_PS, que reúne pesquisadores da UFRJ e da UFF, feito a pedido do GLOBO. Militares que usam a plataforma estão inseridos numa rede de políticos bolsonaristas e influenciadores olavistas, de acordo com a pesquisa. O estudo elaborou um mapa ideológico do debate público na rede social a partir das redes de perfis que são seguidos por políticos e militares na plataforma.

O GLOBO localizou 26 oficiais do último grau hierárquico do Exército, Marinha e Aeronáutica — sendo a maioria de generais (23) — com contas ativas na plataforma. Entre eles estão integrantes do governo Jair Bolsonaro (PL), como o vice-presidente Hamilton Mourão, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno; e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos.

Também têm perfis na rede militares como o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas; o ex-ministro da secretaria de Governo de Bolsonaro — e atualmente filiado ao Podemos — Carlos Alberto dos Santos Cruz; e o deputado federal General Girão (PL-RN).

AFINIDADES IDEOLÓGICAS – Baseado nos dados das contas desses generais, além de um universo de 668 políticos entre deputados, governadores, ministros e senadores, a pesquisa encontrou seis redes agrupadas por suas afinidades ideológicas. Dentre elas, três se destacam pela sua relevância na atuação nos debates da plataforma.

A primeira é a rede da esquerda, onde estão políticos como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Guilherme Boulos (PSOL). Ao centro, estão dispostos políticos que vão desde a centro-esquerda como Ciro Gomes (PDT), passando pelo centro como Rodrigo Maia (PSDB), e mais para a direita com Sérgio Moro (União Brasil).

Já no topo, , estão os canais da direita mais extremista, agrupados em torno do presidente Jair Bolsonaro (PL). É nesta bolha que estão localizados todos os militares identificados pelo GLOBO.

EXTREMA DIREITA – Na lista de usuários mais seguidos pelos oficiais estão perfis institucionais das Forças Armadas, ministros, veículos de imprensa e uma variedade de páginas com conteúdo de extrema direita. Nesse catálogo ideológico de maior interesse dos generais estão políticos que são figuras de proa do bolsonarismo como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Carla Zambelli (PL-SP) e Major Vitor Hugo (União-GO).

Também estão entre os canais preferidos dos generais contas dedicadas ao ideólogo Olavo de Carvalho. Influenciadores como Leandro Ruschel e Bárbara ‘Te Atualizei’ — que chegaram a ser alvos de investigações do Supremo Tribunal Federal (STF) por propagarem fake news — são alguns dos mais populares entre esses perfis.

Comandante do Exército até o fim de março deste ano, quando foi nomeado para chefiar o Ministério da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira conta com 98 mil seguidores e segue apenas 24 contas no seu Twitter. No pequeno rol de figuras de interesse do militar estão os deputados bolsonaristas Carlos Jordy (PL-RJ) e Bia Kicis (PL-DF); além da juíza e influenciadora olavista Ludmila Lins Grilo.

GENERAIS DA ATIVA — Os generais são significativamente alinhados a um lado específico da direita brasileira, com forte relação com o campo bolsonarista. Eles são, em geral, pouco seguidos, e seguem mais perfis bem à direita — diz o pesquisador e autor do levantamento Francisco Kerche.

Crítico do que aponta ser uma politização exacerbada do Exército pela turma de generais que ocupam cargos no governo Bolsonaro, o oficial da reserva e mestre em Ciências Militares Marcelo Pimentel destaca que militares têm o direito de se posicionar individualmente, desde que na inatividade e sem se vincular à instituição.

Porém, ele ressalta, isso não ocorre nessas contas, onde a maioria dos oficiais se apresentam com suas patentes de general, usam roupas fardadas ou outras referências militares

FORA DA LEI — “Isso afronta a Lei 6880, que define a ética militar, onde está determinado que os membros das Forças Armadas devem abster-se, na inatividade, do uso das designações hierárquicas em atividades político-partidárias e no exercício de cargos da administração pública — afirma Pimentel.

Segundo uma portaria publicada em julho de 2021 pelo Exército sobre a criação de perfis em mídias sociais, a função militar somente pode ser associada a perfis em redes de publicação de currículos e atividades profissionais, tais como o Linkedin.

Especificamente sobre o Twitter, a portaria ressalta que o “ato de seguir ou curtir perfis” e postagens “é considerado um endosso” ou uma aprovação àquele conteúdo. “Sendo assim, é preciso muito critério nas ações de relacionamento nesta mídia social”, completa o texto.

REGRA INEFICAZ – O GLOBO questionou o Exército se os generais estariam contrariando a regra impunemente, porém não obteve retorno.

Segundo o cientista político Mauricio Santoro, que já ministrou cursos e palestras em institutos militares como a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), o Exército sempre foi envolvido com política no Brasil, desde a independência em 1822. Porém, ele afirma que até o golpe militar de 1964 havia uma “pluralidade” maior entre a tropa, com correntes mais liberais e outras mais conservadoras.

“Essa turma dos anos 1970 que se formou com Bolsonaro tem uma visão marcada pelo anticomunismo, pela Guerra Fria e de que os militares deveriam salvar politicamente o Brasil. Hoje, na vida pública brasileira, é nítida essa conexão da cúpula do governo com ideais da linha dura do regime” — analisa Santoro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Mais uma constatação de que o Brasil está de cabeça para baixo – ou ponta-cabeça, como dizem os paulista. Aqui do lado debaixo do Equador, nem os militares cumprem as leis que disciplinam seus comportamentos na ativa e na reserva. É realmente lamentável. (C.N.)

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