Bolsonarismo, assim como o lulismo, tende a desaparecer se não conseguir vencer a eleição
Carlos Pereira
Estadão
Com a derrota eleitoral cada vez mais iminente do presidente Bolsonaro à reeleição e com o fracasso de seu suposto projeto autoritário, se espraiam agora receios ou quase delírios de natureza persecutória de que o bolsonarismo vai sobreviver, mesmo perdendo.
Como provavelmente Bolsonaro não terá um segundo mandato consecutivo, a aposta agora é que ele seria capaz de manter digitalmente engajado seu eleitorado mais fiel de perfil conservador, solapando assim o mandato de seu sucessor e preparando o terreno para o seu retorno triunfal em 2026. E aí sim, a democracia brasileira, com certeza, estaria sentenciada à morte.
FANTASMAS DO AUTORITARISMO – É como se, a cada novo dia em que a democracia brasileira se mantivesse firme e estável, houvesse a necessidade de serem criados fantasmas do autoritarismo para dar sentido aos falsos argumentos de fragilidade da democracia e de suas instituições.
Certamente que preferências conservadoras vão continuar existindo na sociedade. Mas até que ponto conservadores vão apostar em Bolsonaro como único líder capaz de defendê-las, especialmente se perder as eleições? Sem institucionalização, movimentos políticos evaporam e, quando institucionalizados, são forçados a se submeter às regras do jogo.
A subordinação política de Bolsonaro ao jogo institucionalizado do presidencialismo multipartidário, forçando-o a trair de forma escandalosa seus eleitores ao montar uma coalizão com os partidos do Centrão, foi uma clara saída institucional para a sobrevivência de um governo em situação de extrema vulnerabilidade política.
MOEDAS DE TROCA – Movimentos semelhantes de busca de apoio político de partidos ideologicamente amorfos, como os do Centrão, já foram amplamente usados por praticamente todos os governos anteriores. A utilização de moedas de troca políticas e/ou orçamentárias na montagem de maiorias legislativas não é mais suja, menos legítima e/ou menos transparente no governo de Bolsonaro do que, por exemplo, nos governos petistas de Lula ou de Dilma.
Presidentes, inclusive os populistas, precisam de partidos-pivôs de perfil não ideológico para governar. Tais partidos evitam que mudanças extremas sejam aprovadas, constrangendo governos de coalizão a negociar saídas medianas e, consequentemente, proporcionando estabilidade à democracia.
Se Bolsonaro seguir um caminho não institucional após sua provável derrota, tende a ser esquecido e substituído pelo próximo conservador de plantão, que, se for inteligente, seguirá as regras do jogo do presidencialismo multipartidário desde o início de seu governo
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Excelente reflexão do cientista político Carlos Pereira. Realmente, Tanto o lulismo quanto o bolsonarismo estão em fase terminal. Justamente por isso é preciso unir forças para eleger a terceira via. Como diz Duarte Bertolini, não se justifica essa histeria para eleger Lula no primeiro turno. Será que não há candidatos melhores? Pense nisso. (C.N.)
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