Afinal, que imagem aos militares pretendem deixar para a História nas eleições de 2022?
Eliane Cantanhêde
Estadão
Há muitos tons de cinza entre golpes à antiga, com tanques nas ruas, e contemporâneos, com descrédito das instituições, e no Brasil as Forças Armadas estão sendo usadas para desacreditar a Justiça Eleitoral, as urnas eletrônicas e, portanto, o resultado das eleições. Sem um tiro, mas com igual poder deletério para a democracia.
Ao bater continência para as ameaças do capitão insubordinado Jair Bolsonaro, confrontando o TSE e criando um monitoramento paralelo – ilegítimo e inconstitucional –, a atual cúpula militar se mete onde não deve e se presta a enfraquecer a democracia e a própria imagem.
Se as Forças Armadas se colocam acima dos demais Poderes, donas do bem, da razão e da lisura das eleições, elas abrem espaço para o TSE, as instituições e a própria Nação questionarem as intenções dos militares. Assim como desconfiam das urnas eletrônicas, a sociedade civil pode desconfiar de um “sistema paralelo” militar, que pode dar pretexto para aventuras de Bolsonaro contra o resultado eleitoral.
Nenhum militar da ativa ou da reserva, das três Armas e de diferentes patentes, imagina que as Forças Armas cerrem fileiras com esse ou qualquer presidente para sair nas ruas armado, prendendo adversários, compactuando com golpes. Mas a certeza não é a mesma diante da possibilidade de serem manipulados e usados para fazer o jogo de Bolsonaro.
E se ele perder? Se bolsonaristas forem arregimentados para votar de uma forma na urna eletrônica e outra no papel? Se houver incongruência entre os números oficiais do TSE e os das Forças Armadas? Pode ser a senha para tropas bolsonaristas civis, muito bem armadas, entrarem em ação. Gente como Jorge Guaranho, que matou a tiros o petista Marcelo Arruda na sua festinha de aniversário.
A versão de Bolsonaro, do vice Hamilton Mourão e seus estrategistas é igual à dos advogados do assassino: não foi absolutamente um crime político, foi um desses que acontecem toda hora por aí. Chocante! As imagens e as falas de Guaranho não deixam dúvida: ele não matou Arruda por causa de mulheres, dinheiro, jogo, religião, futebol, briga de trânsito. Matou porque é bolsonarista e o aniversariante era petista. Ponto.
Além de aterrorizante, é desolador, de uma tristeza imensa, que as cúpulas militares se deixem manipular para objetivos sombrios. E não é por ingenuidade, é disposição. Assim como seu antecessor Braga Netto, o general Paulo Sérgio Oliveira abandonou sua bela imagem de militar moderado e profissional ao ser tragado pelo bolsonarismo e assumir no Ministério da Defesa ares autoritários, ameaçadores, como se estivesse numa guerra. Que imagem as Forças Armadas deixarão para a história na eleição de 2022?
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