quarta-feira, 4 de maio de 2022

 

Na máquina do tempo, uma eleição entre um líder envelhecido e o outro, envilecido

Ⓜ️ariaAlima's tweet - "Nem Lula Nem Bolsonaro #BrasilPrecisaDoMoro " -  Trendsmap

Charge do Amarildo (Arquivo Google)

Merval Pereira
O Globo

Nos anos 90, ficou famosa no Rio a história de um velho comunista que, para comemorar os 60 anos, soprou as velinhas colocadas sobre confeitos em forma da foice e do martelo e, em vez do tradicional “Parabéns para você”, foi saudado pelos amigos com o hino da Internacional Socialista. Já àquela altura, com a queda do Muro de Berlim, era um ato simbólico extemporâneo de antigos membros do Partidão, um saudosismo inofensivo, quase juvenil.

O que dizer de Geraldo Alckmim, outrora acusado de ser do Opus Dei, ouvindo (não acredito que conhecesse a letra para cantá-la) a Internacional Socialista todo empertigado, numa reunião do Partido Socialista Brasileiro (PSB), ao lado do ex-presidente Lula? Se nos anos 90 já era apenas um retrato na parede da memória, o que será agora?

MEDO ELEITORAL – Tão surpreendente quanto anacrônico, o ato é uma amostra fiel do que vem sendo a campanha de Lula, que diz que criará uma moeda latino-americana para não depender mais do dólar. Fatos como esse do hino socialista, ou da crítica aos policiais, que o obrigou a desculpar-se de público, ajudam Bolsonaro a espalhar o medo entre eleitores de centro-direita que, desapontados com ele, pensam em votar em Lula. O medo, já ensina o sociólogo Manuel Castells, é um grande impulsionador nas escolhas eleitorais.

Por caminhos distintos, Lula e Bolsonaro chegam ao mesmo antiamericanismo infantil. O Itamaraty na época de Lula tinha um viés esquerdista que permanece nas suas declarações e atitudes políticas até hoje, Estados Unidos relegados a segundo plano na estrutura de nossa diplomacia. Até não falar inglês chegou a ser considerado para os alunos do Instituto Rio Branco.

Bolsonaro acaba de fazer uma reforma estrutural no Itamaraty que também relega os Estados Unidos a um departamento em que nem mesmo o nome do país aparece: “Departamento do Caribe, América Central e do Norte”, chama-se agora.

SEM ENTUSIASMO – O fracasso relativo das manifestações pelo Dia do Trabalhador, no domingo passado, mostra que, a esta altura da campanha, nem Lula nem Bolsonaro conseguem entusiasmar os eleitores. O atual presidente já esteve pior, e o ex, melhor. Lula está à frente nas pesquisas, mas não empolga mais como antigamente, tem cometido erros com frequência, falado muita bobagem e sido obrigado a pedir desculpas. Sinal de que não está na melhor forma.

Bolsonaro esvaziou sua própria manifestação, pois sentiu que não era um bom momento. Não por bom senso, mas por falta de força. Estamos vendo que os dois candidatos se destacam por falta de alternativa, não têm mais a repercussão popular que já tiveram, especialmente Lula. Além de se ajudarem mutuamente alimentando a polarização, têm cometido erros primários que beneficiam o opositor, principalmente Lula.

Quando repete que fortalecerá o Brics, mas que para isso tem de mandar Putin parar “essa porra de guerra”, Lula volta a ser aquele que queria ganhar o Prêmio Nobel da Paz tentando mediar a crise nuclear do Irã sem a menor condição geopolítica de obter sucesso.

MEDIADORES – Lula dá chance a Bolsonaro de criticar a proposta de resolver a guerra tomando cerveja e se despe da fantasia de líder mundial, para assumir a realidade de um falastrão de mesa de bar.

Bolsonaro, por seu lado, também se meteu a mediador da guerra na Ucrânia, atribuindo a si um suposto recuo de Putin depois de uma conversa a dois. A patacoada virou pó na esteira dos tanques russos invadindo território ucraniano, poucos dias depois da jactância jeca.

Vivemos uma situação muito delicada, e o caminho até as eleições será tumultuado, especialmente porque Bolsonaro joga tudo na desconfiança das urnas.

AVANÇA E RECUA – Bolsonaro faz ao mesmo tempo campanha para se reeleger e um hedge para se proteger em caso de derrota. É do tipo que avança e recua. Temia-se que participasse das manifestações de 1º de Maio de forma agressiva, e não aconteceu.

Certamente, não quis esticar a corda, como se pensava, mas só a presença dele em atos em que o (ainda?) deputado federal Daniel Silveira era defendido e o Supremo Tribunal Federal (STF) atacado não é um bom sinal. No Nordeste, Lula é fortíssimo, mas em São Paulo já começa a ser superado por Bolsonaro, e algumas pesquisas sugerem um empate técnico em regiões como Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Os dois estão com dificuldades nos seus campos e têm sorte de não ter aparecido nenhum candidato que mobilize o eleitorado para uma disputa maior pelo segundo turno. Tanto Lula quanto Bolsonaro terão campanha mais difícil do que imaginaram. Trata-se de uma disputa entre um líder envelhecido, que não fez um aggiornamento, contra outro, envilecido, ambos recuando no passado numa máquina do tempo enferrujada.

Ao discursar, Lula usa sempre palavras de ódio, mas diz que fala em nome da harmonia

Lula Paz e Amor – Bem Blogado

Lula tenta reviver o estilo “paz e amor” da primeira eleição

Alexandre Garcia
Gazeta do Povo

A proporção de público nas manifestações de 1º de Maio, no Brasil inteiro, foi de 10 para 1. Nas manifestações pela liberdade, pela Constituição e Democracia, o público foi 10. E nas manifestações de apoio à candidatura Lula, o público foi 1. Em especial em São Paulo, quando se comparam as manifestações na Avenida Paulista e a que estava em frente ao estádio do Pacaembu.

Lula, inclusive, teve que atrasar o discurso por falta de público. Tinha tão pouca gente que ele atrasou. E começou o discurso pedindo desculpas à polícia. Lula, na véspera, havia dito que polícia não é gente na seguinte frase: “Bolsonaro não gosta de gente, ele gosta de polícia”. Aí pediu desculpas.

PALAVRAS DE ÓDIO – Ele fez as mesmas promessas de restrição à mídia, de mudar as leis trabalhistas, e usou palavras de ódio, como “genocida” e fascista”. E no entanto, disse que falava em nome da harmonia. É uma coisa muito estranha.

A Avenida Paulista contou com muita gente, foi o principal momento das manifestações pelo Brasil. Houve também grandes manifestações em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Em Brasília eu achei que o público foi menor do que das outras vezes. Bolsonaro compareceu, mas não discursou. Ele chegou a pé, na ida e na volta deve ter caminhado cerca de um quilômetro na rua. Em comparação, Lula chegou de carro blindado com vidro fumê, aquelas coisas.

Bolsonaro evitou subir no carro de som, inclusive para não ser denunciado ao Tribunal Superior Eleitoral por fazer campanha fora de época. Ele já havia estado em Uberaba, na véspera, e teve uma recepção extraordinária na 87ª ExpoZebu, na ABCZ. Já Lula fez um discurso bem de candidato, dizendo tudo que pretende fazer como presidente da República. São todas coisas que não foram feitas durante os 14 anos em que o PT esteve no poder.

###
LULA NÃO FOI ABSOLVIDO NO CASO DO TRÍPLEX

O domingo também foi um dia importante para o tríplex do Guarujá. Fernando Gontijo, que ficou com o tríplex, parece que por R$ 2,2 milhões, lançou o apartamento para aluguel. Vai ser um aluguel histórico. Quem estiver lá dentro vai se perguntar se aquilo tudo era do Lula, se era do amigo dele. De quem era? Como é que foi? Tudo isso porque o STF botou uma pá de cal por cima.

Lula não foi absolvido. Lula foi condenado na primeira, na segunda e na terceira instância, mas o Supremo decidiu que o juiz Sérgio Moro foi suspeito, e anulou o julgamento. Os autos foram mandados para outro foro, e depois caducaram. Não houve absolvição. O processo prescreveu. Houve as condenações e a anulação do processo. Agora a gente não sabe quem vai morar nesse tríplex histórico. Mas a gente viu as imagens de Lula lá dentro, discutindo as mudanças no tríplex, “faz aqui, faz ali”.

###
MENINA YANOMAMI E O STF

Outra questão que está muito estranha é o pedido de investigação feito pela ministra Cármen Lúcia sobre o suposto estupro de uma menina Yanomami de 12 anos, que morreu. Segundo a mídia, os estupradores são garimpeiros. Quando eu ouvi isso, me perguntei: “Eles estavam lá? Eles viram? São baseadas em que essas alegações?”. Disseram que é porque tem garimpeiros lá. Ora, também tem missionários estrangeiros, ONGs estrangeiras. Por que os garimpeiros? É óbvio que é uma tentativa de provocar.

A Polícia Federal e a Funai foram lá, junto a agentes do Serviço de Saúde dos Índios, do Ministério da Saúde. Todos foram lá e ninguém achou nada. Não encontraram sequer indícios, segundo informou a Polícia Federal. Então eu fico pensando, o que é isso? Quem está usando o Supremo? E me parece estranho esse caso ter ido para o Supremo, deveria ter ido para a primeira instância. Não sei por que vai para o STF, que já é a última instância.

(artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

 

É um caso privado. Federal? Sim, porque os índios estão sob a tutela federal da lei. Então seria para a primeira instância da Justiça Federal, mas foi direto para a última instância. É estranho. E eu não sei como vai reagir a ministra Cármen Lúcia se for realmente isso, se isso não existiu. Se for uma invenção, uma falsa comunicação de crime, quem fez a denúncia terá que ser responsabilizado.

Ministro da Defesa garante: Forças Armadas estão “comprometidas com a democracia”

Ministro Luiz Fux em audiência com General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira  — Foto:  Nelson Jr./SCO/STF

Esta reunião com Fux foi agendada pelo Ministro da Defesa

Por g1 — Brasília

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, se reuniu nesta terça-feira (3) com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, e disse que as Forças Armadas estão “comprometidas com a democracia”. A informação foi divulgada pelo Supremo por meio de nota institucional. De acordo com o Supremo, a reunião com Fux foi pedida por Nogueira. Mais cedo, o general se encontrou com Bolsonaro para tratar de “assuntos de defesa nacional”.

A reunião com o general estava marcada, incialmente, para quarta-feira (4), mas foi adiantada. Fux também se reuniu nesta terça (3) com o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

DEMOCRACIA – “Durante o encontro, o Ministro da Defesa afirmou que as Forças Armadas estão comprometidas com a democracia brasileira e que os militares atuarão, no âmbito de suas competências, para que o processo eleitoral transcorra normalmente e sem incidentes”, diz a nota do Supremo.

A reunião ocorreu em meio à polêmica criada pelo presidente Jair Bolsonaro ao novamente colocar em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas e ao sugerir uma apuração dos votos feita também pelas Forças Armadas.

O presidente já admitiu que não tem provas para acusar o sistema eleitoral. Autoridade e especialistas sempre ressaltam que as urnas são seguras e os votos são auditáveis. Bolsonaro é investigado em um inquérito no STF devido aos ataques às urnas.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – O general Paulo Sérgio Nogueira é um legalista, que obedece as quatro linhas da Constituição. Na época da pandemia, ele desprezou a orientação equivocada de Bolsonaro e se empenhou para vacinar toda a tropa e evitar contágio, numa atitude que deu certo, o índice de Covid no Exército foi muito baixo. Nesta terça-feira, o general se comprometeu com Fux a defender a democracia e certamente deu o mesmo recado ao presidente Bolsonaro. Nesta terça-feira, Fux também se reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que defendeu as urnas eletrônicas, criticou ataques feitos ao Judiciário e disse que “a disputa eleitoral não pode descambar em anomalias graves”. Para a democracia, foi uma terça-feira gorda, portanto. (C.N.)  

Nenhum comentário:

Postar um comentário