Estratégia de Bolsonaro é usar as Forças Armadas e o Centrão contra as eleições
Eliane Cantanhêde
Estadão
O clima no Planalto é de “já ganhou”, com uma torcida para que o presidente Jair Bolsonaro ultrapasse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas ainda no primeiro semestre. Se no bunker de campanha de Lula há apreensão e troca de acusações, na ampla massa órfã da “terceira via” espalha-se o pânico.
Enquanto milhões de cidadãos e cidadãs não conseguem imaginar a reeleição, Bolsonaro ocupa espaços: conquistou o comando de fato das Forças Armadas, domina a Câmara, acua o Supremo, foca na eleição do Senado e lidera uma campanha de descrédito da mídia.
ESTRATÉGIA ELEITORAL – Assim como jogou a boiada na Amazônia e nas comunidades indígenas, ele conseguiu minar a confiança nas urnas eletrônicas, um orgulho nacional, e o respeito pelo estado democrático de direito, baseado no princípio de que “decisão judicial não se questiona, se cumpre”.
E o general Paulo Sérgio (Defesa) dizendo que as Forças Armadas estão em “permanente estado de prontidão para (…) suas missões constitucionais”? A frase (ou ameaça?) foi em meio a conversas com Judiciário e Legislativo, enquanto o Exército se alinha a Bolsonaro em 88 itens contra as urnas e o general Heber Garcia Portella cobra urgência do TSE para prever e divulgar “as consequências para o processo eleitoral, caso seja identificada alguma irregularidade”.
O general foi posto por Bolsonaro na Comissão de Transparência do TSE, surfando na boa-fé e na ingenuidade de ministros do Supremo. Agora, Bolsonaro está dentro do TSE e fala, com apoio militar, em criar uma sala paralela, um computador paralelo e um sistema paralelo para vigiar a Justiça Eleitoral…
NA MESMA TROPA – Os militares, assim, acabam na mesma tropa do deputado Daniel Silveira, que é bucha de canhão de Bolsonaro e tem costas quentes para atacar a Justiça e a democracia e tratar o STF como tratava sua corporação policial: com desprezo. O presidente gastar duas horas para homenagear um tipo assim no Planalto?
O tsunami avança e Lula fala bobagens, bate no teto e enfrenta problemas na campanha. A capa na revista Time, um golaço, virou gol contra quando ele disse que o ucraniano Zelenski tem tanta responsabilidade na guerra quanto o russo Putin. Como Bolsonaro ataca a regra de que “decisão judicial se cumpre”, Lula ignora que não se transforma vítima em réu.
Contra o tsunami, há recessão, inflação, juros, desemprego, queda da renda e altíssima rejeição de Bolsonaro entre os capazes de identificar fake news e armadilhas de internet. Mas ele tem a caneta e está cuidando do flanco econômico, com reflexos na rejeição. Logo, tudo é possível em outubro, mas o pior é o que vem depois de outubro
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