“O mundo, às vezes, reserva surpresas”, afirma Moro, que ainda não decidiu o rumo a tomar
Natália Santos
Estadão
O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro evitou fechar as portas sobre a hipótese de ser o candidato a presidente pelo União Brasil e reiterou que seu nome “está à disposição” para um projeto nacional. “O mundo às vezes reserva surpresas”, admitiu em entrevista à Rádio Eldorado.
Moro não revelou qual seria seu “plano B” caso a candidatura presidencial – da qual ele já havia aberto mão publicamente ao migrar do Podemos para o União Brasil – não se confirmasse.
ESTAMOS DISCUTINDO – “Há muitas alternativas”, afirmou. “Tudo passa por uma construção pelo partido político. Eu posso ser candidato a um eventual cargo, mas isso ainda estamos discutindo”, completou. Recentemente, ele havia afirmado que poderia também ficar de fora das eleições.
Moro voltou a defender a construção de um acordo em torno de um único nome de centro que quebre a polarização Lula-Bolsonaro e venha ou de um “partido robusto” ou de uma “aglutinação do centro”:
“Precisamos ter uma candidatura de centro, moderada no polo político, disposta a fazer as reformas que o Brasil precisa e que apresente integridade”. Para o ex-juiz, dois critérios devem ser levados em conta na escolha da candidatura em consenso: “Uma mistura de avaliação de estrutura partidária e intenção de voto, porque quem decide é o eleitor”.
MIGRAÇÃO DE VOTOS – Pesquisas eleitorais recentes mostram que a desistência momentânea de Moro da disputa presidencial tem favorecido uma migração de votos do ex-juiz para o presidente Jair Bolsonaro (PL). Para o ex-ministro, esse processo consiste em um “movimento natural”.
“O eleitor ainda não está tão focado no período eleitoral. Quando o meu nome sai das pesquisas, é natural os meus eleitores se dividirem.”
O União Brasil já possui um nome como pré-candidato à Presidência da República, o deputado e presidente da sigla, Luciano Bivar (PE). Há um pré-acordo entre o União Brasil, o MDB, o PSDB e o Cidadania para que as siglas caminhem juntas. Além de Bivar, o grupo avalia ainda a possibilidade de lançar a senadora Simone Tebet (MDB-MS) ou o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB).
Ciro Gomes diz que possui “ideias distantes” para fazer um acordo com terceira via
Raphael Felice
Correio Braziliense
Em entrevista nesta quarta-feira (27/4), após participar da 21ª Marcha de Vereadores, Ciro Gomes (PDT), voltou a se distanciar da terceira via ao afirmar que “não faz parte do movimento”. Apesar de ter se aproximado do PSD, de Gilberto Kassab, e de ter recebido elogios de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o pedetista afirmou que o entendimento da terceira via está “distante”.
“Você tem a imprensa misturando, o que é natural, a terceira via com meu movimento de aproximação com o PSD. Eu não sou da terceira via. A distinção: terceira via tem candidatos. MDB tem candidata, União Brasil agora tem candidato, PSDB tem candidato. Eles estão numa dinâmica, e eu, em outra. O que estou fazendo: eu estou tentando é atrair uma ampla aliança de centro-esquerda com solidez, na prática, dos interesses do Brasil, que produz e trabalha com o Brasil social-miserável e pobre, com objetivo de superar a miséria”, disse Ciro.
DISCORDÂNCIAS – Segundo Ciro, há distanciamento em razão da discordância com alguns participantes da terceira via, como o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB). Entre os pontos de divergência estão as privatizações e a política de paridade internacional (PPI) dos combustíveis.
“Hoje, eu diria que é muito distante o ponto de partida sobre o que eu penso e que o Doria pensa. Por exemplo, política de preços da Petrobras: considero crime e eles querem manter. Privatização da Eletrobras, sou radicalmente contra. Se privatizar, eu estatizo”, afirmou.
Em sua participação na Marcha de Vereadores, hoje, o presidenciável falou sobre seu projeto de governo e fez críticas, também, aos modelos econômico e de governança brasileiros sobre as altas taxas de juros, além de críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ciro também comentou a aliança formada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e por Geraldo Alckmin (PSB): “Um encontro entre jabuti e girafa”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É um paradoxo. Ao invés de se aproximar da terceira via, o próprio Ciro Gomes arranja obstáculos. Fica discutindo em público alguns temas polêmicos que deveriam ser tratados entre quatro paredes, como diria Jean-Paul Sartre. É um pena. Desse jeito, ele acaba elegendo Lula ou Bolsonaro. (C.N.)
Roberto Freire diz que a terceira via jamais excluiu manter diálogo com Ciro Gomes
Deu no G1
Os dirigentes do MDB, PSDB, Cidadania e União Brasil se reuniram nesta terça-feira (26) e anunciaram que devem ter um novo encontro para formalizar a lista de critérios que será levada em consideração para a escolha de um candidato único à Presidência.
A reunião desta terça (26) ocorreu dois dias após um jantar entre pré-candidatos e representantes de partidos, organizado pelo pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, João Doria (SP), ter sido cancelado.
PROJETO ÚNICO – A assessoria de João Doria informou no domingo (24) que a pauta do encontro seria a “discussão de critérios e caminhos para um projeto único” – mesmo tema da reunião desta terça. Segundo o blog da jornalista Ana Flor, a avaliação interna dos partidos foi de que o ex-governador de São Paulo forçava protagonismo nas discussões.
Participaram das discussões nesta terça os presidentes: do MDB, Baleia Rossi (SP); do PSDB, Bruno Araújo; do Cidadania, Roberto Freire; e o vice-presidente do União Brasil Antonio de Rueda, além do líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), representante de ACM Neto.
Também na noite desta terça, horas depois, o pré-candidato do PSDB, João Doria, se reuniu em Brasília em um jantar com o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite – que desistiu de tentar ser pré-candidato ao Planalto pelo mesmo partido.
DISCUSSÕES INTERNAS – Segundo Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, cada um dos partidos discutirá internamente os fatores considerados essenciais para a escolha do candidato de consenso. “Ficamos de fazer uma nova rodada de conversas na semana que vem já com um quadro mais claro do que cada partido pensa como critérios”, disse Rossi.
O MDB, o PSDB, o Cidadania e o União Brasil acordaram, no último dia 6, que apresentarão, em 18 de maio, esse “candidato de consenso” à presidência.
Apesar de questionada por membros das siglas e por pré-candidatos, como Ciro Gomes (PDT), a data do prazo final está mantida. Na ocasião, os critérios para a escolha do chamado nome de “consenso” também não foram decididos.
VÁRIOS FATORES – “Não está definido. Temos vários fatores que serão importantes: intenção de voto; possibilidade de crescimento dentro do que espera o eleitor do centro democrático; temos a questão da rejeição; temos a opinião, que é importante, dos parlamentares, deputados federais e senadores; e temos a impressão e a colaboração dos diversos palanques regionais que teremos”, disse o presidente do MDB.
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, disse que os dirigentes dos partidos se comprometeram a “voltar” aos seus partidos para amadurecer a questão.
“Não há consenso sobre isso, ficamos de voltar aos nossos partidos para amadurecermos esses critérios, e esperamos que na semana que vem tenhamos avançado sobre essa decisão. Independentemente dessas reuniões, estamos em um canal aberto de conversação, de diálogo e de construção”, afirmou Bruno Araújo.
TESE DE SIMONE TEBET – Mais cedo, durante participação na XXIII Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios nesta terça-feira (26), a pré-candidata do MDB à Presidência, Simone Tebet, disse esperar que a intenção de votos não seja o único critério. “Quero que seja o critério que nos leve ao segundo turno”, afirmou.
Os dirigentes dos partidos afirmaram que estão abertos ao diálogo com “qualquer partido” disposto a discutir uma alternativa ao que chamam de polarização formada por Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nesta terça, em entrevista à Rádio Bandeirantes, o pré-candidato do PDT a presidente, Ciro Gomes, voltou a dizer que está disposto a conversar com os membros da chamada terceira via.
Horas após o novo aceno de Ciro, Roberto Freire, presidente do Cidadania, disse que o grupo está aberto a ouvir o candidato do PDT. “Nunca perdemos o diálogo com Ciro. Desde o começo, está firme essa ideia, e estamos abertos para discuti-la com qualquer partido. Vamos aguardar, quem sabe?”, declarou Freire.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Sem Ciro Gomes, a terceira via “non ecziste”, diria o inesquecível Padre Quevedo. (C.N.)
Ao desafiar o STF, Bolsonaro jogou uma isca e Barroso teve má ideia na hora errada
Eliane Cantanhêde
Estadão
Ao voltar à carga e jogar pedra no Supremo, de novo a “Geni”, o presidente Jair Bolsonaro quis mais do que atiçar a tropa bolsonarista – quis jogar uma isca para o eleitorado de centro, que resiste tanto a ele quanto ao ex-presidente Lula, mas está confuso, empurrado o tempo todo contra o Supremo e as instituições.
Vamos combinar? Está difícil entender o Supremo e fácil entrar na onda de criticá-lo e atacá-lo, depois que a Corte foi dura no mensalão e no petrolão e deu uma cambalhota, voltou atrás e devolveu ao marco zero as condenações de Lula. Basicamente, com a mesma composição.
LONGE DEMAIS – Quem acompanha os três Poderes de perto pode não concordar, mas sabe que há uma lógica e argumentos consideráveis para a guinada, sobretudo depois das mensagens do Intercept Brasil entre o juiz Sérgio Moro e procuradores. Mas, à distância, como leigos podem entender e assimilar a reviravolta? No Congresso, com tantos alvos da Justiça, quem defende o Supremo? E, com “novo” Twitter, vai piorar.
É o que Bolsonaro explora ao decretar a “graça constitucional” para um desqualificado. Até lembra o filho 01 condecorando com a medalha da Alerj um miliciano preso e depois morto pela polícia. Porém, mais do que proteger Silveira, o objetivo do presidente agora foi atacar o Supremo.
A crise já estava de bom tamanho e militares, políticos e colegas de toga acharam “desnecessário” e “má ideia” do ministro Luís Roberto Barroso falar de Forças Armadas, e para alemães. Ele elogiou os militares e não disse que eles atacam o processo eleitoral e sim que há quem oriente e gostaria que atacassem. Mas os generais reagiram mal.
HORA DE ACUAR – No Congresso, é a oportunidade de acuar o Judiciário. No STF, é hora de cautela, de conversar, buscar um meio termo e fugir de radicalizações. Não interessa às eleições, à democracia e ao País uma crise institucional, ainda por cima envolvendo militares, e a efervescência é minimizada, atribuída ao caldeirão eleitoral.
Há quem compare: assim como Lula acena com revisão das reformas e do teto de gastos para animar seus “camaradas”, Bolsonaro indulta o tal Silveira para galvanizar a indignação contra o Supremo. Bem… A diferença é que um adota discursos corporativos e irresponsáveis sobre a já debilitada economia, mas o outro mexe com democracia e ameaça descumprir ordem judicial (inclusive o marco temporal).
O “centro” reage com exclamações e palavrões inconsequentes, mas o fato é que Bolsonaro está indo longe demais, deixando no ar as loas ao AI-5 e a máxima de que “basta um cabo e um soldado” para fechar o Supremo. Mas que estrelado estaria disposto a dar essa ordem?
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