terça-feira, 21 de novembro de 2017

SEBASTIÃO NERY




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OLIMPÍADAS DE SANGUE


Fernando Martins, jornalista, diretor da ANJ (Associação Nacional de Jornais) no Rio, conhecia o Salgueiro de “Chão de Estrelas” de Orestes Barbosa e Sílvio Caldas. Ia passando na boca do morro, um velho e um rapaz carregavam uma moça.

– O que é que ela tem?

– Está passando mal. Vamos levar para o hospital do INSS em Andaraí.

– Entrem aqui no meu carro.

E Fernando Martins saiu em disparada para o Hospital de Andaraí.

Branca como uma nuvem, os olhos enormes saltando das pálpebras roxas, a moça tossia desesperadamente. O rapaz apertava a cabeça dela contra o peito e pedia baixinho:

– Calma, Gracinha, calma.

Trânsito ruim, Fernando furava o sinal, dava contramão, guardas apitando, anotando.

Ligou o rádio para distrair a moça. Elisete Cardoso cantava “Chão de Estrelas”:

- “Minha vida era um palco iluminado / Eu vivia vestido de dourado Palhaço das perdidas ilusões.”

E a moça tossindo, sufocada.

E Elisete cantando: – “Cheio dos guizos falsos da alegria / Andei cantando minha fantasia / Entre as palmas febris dos corações.”.

A moça deu um gemido fundo, grunhiu forte.

O rapaz, desesperado, o rosto lavado de sangue que saia do peito dela, golfadas esguichando, ensopando o tapete do carro.

E Elisete cantando: – “A porta do barraco era sem trinco / e a lua furando nosso zinco / salpicando de estrelas nosso chão. / Tu, tu pisavas nos astros distraída / sem saber que a ventura desta vida / é a cabrocha, o luar e o violão.”

O velho apenas bateu com a cabeça. E passou os dez dedos calosos na testa da filha. O rapaz ficou soluçando baixinho, contido, beijando as pálpebras roxas. Tinha nos olhos o espanto dos loucos. E Elisete cantando: - “Meu barraco no Morro do Salgueiro / Tinha o cantar alegre de um viveiro. /Foste a sonoridade que acabou./ E hoje, quando do sol a claridade / Forra meu barracão sinto saudade / Da mulher, pomba-rola que voou.”

Depois da correria, Fernando Martins chega ao hospital do INSS, em Andaraí. A moça tinha recebido alta algum tempo antes naquele mesmo hospital. Voltava morta. Apenas 21 anos, uma filha de dois meses. Comida pela tuberculose, a doença da fome.

Elisete já não cantava “Chão de Estrelas”.

O jogo tem que mudar. O relativo sucesso esportivo e cultural das Olimpíadas e das Paralimpíadas no Rio de Janeiro, de 2016, não pode apagar os desmandos e as roubalheiras de autoridades e dos dirigentes das federações esportivas brasileiras. A governança das entidades e de muitos clubes no Brasil é um desastre. Uma vergonha! Pelo menos duas ações devem ser imediatamente apoiadas diante de tão grande número de escândalos no COI, na CBF e outras entidades: primeiro a apuração total e irrestrita da malversação dos recursos financeiros. E, segundo, buscar uma lei que limite ao máximo em dois mandados cada cargo de dirigente de federação e de time de futebol. Nada melhor para a gestão do que alternância de poder.

É hora de fechar o ralo do desperdício e da roubalheira para realizar as Olimpíadas da Saúde, da Educação, da Segurança, do Saneamento e da Pobreza. A vida do povo está em jogo.


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NÃO HÁ REPUBLICA SEM HOMENS HONESTOS


Agamenon Magalhães, governador, ministro, patriarca de Pernambuco, era um político sábio:

- “O homem público no poder não compra, não vende, não troca”.

Outro sábio, Ortega y Gasset, filósofo espanhol, em 1921, perplexo diante do desfibramento da política e da sociedade espanhola, escreveu “Espanha Invertebrada”, sobre os rumos e o futuro da Nação:

- “Uma sociedade míope agrava a enfermidade pública, prestigiando políticos sem virtudes que impõem as suas vontades e interesses em detrimento dos verdadeiros valores nacionais”.

Roberto D’Ávila com seu talento e competência profissional, entrevistando Lula, na Globo News, tentou tirar leite das pedras, extrair alguma luz de uma cabeça de bagre. A entrevista foi um descalabro. Uma aula torta de como mentir. Podia ter encerrado a conversa relendo relatório da Polícia Federal, publicado na “Folha de S. Paulo” que lista as 15 empresas da família Lula.

O Brasil teve durante 300 anos uma família imperial. Agora sabe-se que tem uma “família empresarial”, que fez o milagre de chegar a São Paulo carregando uma trouxa e meio século depois ser proprietária destas 15 empresas:

1 – BR4 Participações Ltda /Capital R$4 milhões.
2 – FFK Participações Ltda / Capital R$ 150.000,00.
3 – G4 Entretenimento e Tecnologia Digital / Capital R$    150.000,00.
4 – LFT Marketing Esp. Ltda / Capital R$ 100.000,00.
5 – LKT Marketing Eireli / Capital R$ 100.000,00.
6 – Flex BRT Tecnologia S.A. / Capital R$ 20.000,00.
7 – Flex BRT Ltda / Capital R$ 20.000,00.
8 – LLCS Participações Ltda / Capital R$ 1.000,00.
9 – LLF Participação Eireli / Capital R$ 80.000,00.
10 – Gamecop S.A. / Capital R$ 10.000,00.
11 – LLCS Participações Eireli / Capital R$ 1.000,00.
12 – Touchdowm Prom. de Eventos Esportivos Ltda / Capital R$ 1.000,00.
13 – Gasbom Cursino Ltda / Capital R$ 2.000,00.
14 – Gisam Comércio de Roupas Ltda / Capital R$ 5.000,00.
15 – L.I.L.S. Palestras Eventos e Publicidade / Capital R$ 100.000,00”.

É com essa L.I.L.S. que Lula assina os recibos das fajutas conferências.

O mestre Florestan Fernandes ensinou que o problema do Brasil é que somos um povo atrasado.

1 – O ex-ministro e professor João Sayad da USP confirma:

- “A Democracia ameaça a República se for dominada pela demagogia, por eleitores mal informados. Não há república sem homens virtuosos: honestos defensores do interesse público e corajosos. A República pode se tornar tirania. República e democracia procuram um equilíbrio delicado. A República vai mal. Falta virtude. Como tornar os homens públicos virtuosos? Deveriam ler os clássicos – Cícero, Catão, Platão, Aristóteles. Só assim homens virtuosos poderiam se candidatar sem ter que jantar escondido com financiadores de currículo duvidosos”. (Valor Econômico)

2 – Professor e diretor do Instituto de Políticas Públicas da UNESP, Marco Aurélio Nogueira:

- “A política ficou submetida ao mercado e a representação perdeu substância. A fragmentação e a falta de operacionalidade do sistema político fazem com que a democracia, em alguns países, fique bloqueada e, em outros, passe a ser alimentada por doses expressivas de corrupção e ilicitude. Neste ambiente, os governos e a classe política pioram dramaticamente seu desempenho e deixam suas comunidades sem muitas saídas.” (O Estado de São Paulo)

O PT nasceu para ajudar a iluminar a vida política da Nação. Mas só fez apagar a luz. O Brasil jamais havia descido a um nível político tão invertebrado. Ortega y Gasset não viu nada.



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A PEDRA DE MINAS

Pedro Aleixo e Magalhães Pinto, nomes de destaque entre os signatários do manifesto que reivindicava o fim do Estado Novo. Os setores liberais, ainda que não tivessem sofrido a violenta perseguição destinada aos comunistas, também se viram impossibilitados de agir sobre os destinos políticos da nação.


Rio de Janeiro – No restaurante do aeroporto Santos Dumont, no Rio, almoçaram, em 1942, cinco amigos, mineiros ilustres: Virgílio de Melo Franco, Luís Camilo de Oliveira Neto, Pedro Aleixo, Afonso Arinos de Melo Franco e José de Magalhães Pinto.

Conversavam sobre o livro do padre José Antonio Marinho, “História do Movimento Político de 1842”, a histórica batalha de Santa Luzia, perto de Belo Horizonte, em que três mil mineiros em armas, completamente equipados, inclusive com artilharia, haviam enfrentado as forças imperiais.

Os cinco mineiros buscavam uma maneira de comemorar o centenário da rebelião mineira. Não conseguiram. Quem comemorou foi a ditadura de Getúlio Vargas, numa cerimônia, no local da batalha perdida, em Santa Luzia, em homenagem a Caxias. O general que esmagou os mineiros rebeldes.

Eles queriam fazer alguma coisa que sinalizasse a reação à ditadura.

Em agosto de 1943, a delegação de Minas ao congresso jurídico nacional, organizado pelo Instituto de Advogados do Brasil, retirou-se, em companhia da delegação do Rio, em protesto porque o governo proibiu o congresso de tomar deliberações sobre pontos da maior importância.

Um almoço de desagravo, no Rio, reuniu 150 pessoas em solidariedade a Pedro Aleixo, presidente da delegação da Ordem dos Advogados Mineiros ao congresso.

Uma tarde, no Banco do Brasil, onde ambos eram advogados, Afonso Arinos e Odilon Braga discutiam a necessidade de ser preparado e divulgado um documento, um manifesto aos mineiros sobre a situação nacional. Odilon Braga escreveu logo um esboço. Virgílio de Melo Franco, sabendo do assunto, preparou também um anteprojeto.

Um terceiro texto foi escrito por Dario de Almeida Magalhães. Fizeram uma reunião na casa de Virgílio e juntaram os três em um só. E em um almoço no restaurante do aeroporto, a que compareceram os três redatores e mais Luís Camilo, Afonso Arinos, Pedro Aleixo e Magalhães Pinto, foi aprovado. E ainda mandaram para Belo Horizonte, para Milton Campos dar seus palites.

Luís Camilo e Virgílio de Melo Franco encarregados de pegaram as assinaturas, no maior sigilo, porque, se a polícia de Vargas tomasse conhecimento, iria abortar. Na última hora, como acontece no Congresso, alguns que já haviam assinado retiraram as assinaturas.

Mas saiu. Assinado por 88 líderes mineiros, impresso às escondidas em uma tipografia de Barbacena, com a data de 24 de outubro de 1943, aniversário da revolução de 30), o “Manifesto dos Mineiros”, sob o título de “Ao Povo Mineiro”, começou a ser mandado aos pacotes e distribuído, também sigilosamente, em todo o país.

Numa manhã, em que ia para o centro do Rio com o cunhado José Tomás Nabuco, Virgílio de Melo Franco cruzou na praia de Botafogo com a chefe de Polícia do Rio, João Alberto, que lhe disse:

– Aquela pedra que vocês lançaram da montanha ninguém mais pode parar.

Getúlio sabia o peso que aquela pedra tinha.

Setenta e cinco anos depois o Brasil esta precisando de quem jogue uma nova pedra. Os partidos não sabem para onde vão. A universidade está sem caminho. A imprensa perdida em interesses miúdos. Chegou a hora de se construir uma bandeira que comande as esperanças nacionais. As eleições de 2018 estão ai, na porta. Os idiotas da direita e da esquerda imaginam uma solução fora da Constituição. Ilusão. Pela primeira vez, 75 anos depois, as Forças Armadas estão ensinando que fora da Constituição não há salvação.





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MARCELLO CERQUEIRA



Rio de Janeiro - No dia 12 de abril de 1972, no horror da ditadura Médici, escrevi em minha coluna na “Tribuna da Imprensa” e tantos outros jornais:

– “Marcelo Caetano, primeiro-ministro de Portugal: Portugal jamais abandonará o controle sobre suas províncias da África”.

Mussolini também disse que a Itália jamais sairia da Abissínia. Acabou berrando de cabeça para baixo em um posto de gasolina de Milão.Como um bode imundo. Hitler também disse que a Alemanha jamais sairia da Iugoslávia. Acabou enterrado nos porões de Berlim. Como um verme imundo.

No mesmo dia, o embaixador Manoel Fragoso, de Portugal, foi ao Ministério das Relações Exteriores e exigiu do ministro Mário Gibson Barbosa que eu fosse enquadrado no artigo 21 da Lei de Segurança Nacional:

– “Ofender publicamente, por palavras ou por escrito, chefe de governo de nação estrangeira. Pena: reclusão de 2 a 6 anos”.

O ministro Mário Gibson oficiou imediatamente ao ministério da Justiça. O ministro Alfredo Buzaid abriu processo.

Era a primeira vez, no Brasil, que alguém era enquadrado no artigo 21 da Lei de Segurança. O processo andou rápido. Meu brilhante e gratuito advogado e amigo o jurista Marcelo Cerqueira que, com seu generoso talento já me absolvera outras vezes, brincava comigo:

“- Nery, você esta frito. Por menos que isso porque chamou Augusto Pinochet de ditador em pleno exercício do seu mandato de deputado federal Chico Pinto foi condenado, tirado da Câmara e levado para a cadeia. Desta vez você não escapa.”

Havia decidido comparecer ao julgamento da Primeira Auditoria da Marinha no Rio de Janeiro. Desse no que desse.

Mas nas vésperas do julgamento meus fraternos amigos Graça e Hélio Duque, companheiros de luta na Bahia e de clandestinidade em São Paulo, passaram pelo Rio e não concordaram com a minha ideia de arriscar. Na véspera do julgamento, de madrugada, no carro deles, saímos para São Paulo onde esperaríamos o resultado no dia seguinte.

Condenado iria para Londrina, de lá até a fronteira seguiria para o exílio no Chile e depois Paris.

De manhã liguei para José Aparecido em São Paulo:

“- Vamos almoçar com o presidente Jânio Quadros na casa do Pedroso (líder do MDB).”

Jânio chegou de camisa esporte:

“- Nery, estava sabendo pelos jornais e o nosso Zé me disse que você será condenado. Não sem razões, sabe-se.”

Os três dissolvendo minha tensão com um Borgonha. Pedroso silencioso, sorria, e eu com a cabeça na Auditoria da Marinha. Às 6 da tarde Marcelo telefona:

“- Eles são uns desprevenidos. Te absolveram por 4 a 2.

Marcelo havia levantado a tese irrespondível: a lei de segurança falava em Chefe de Estado que era o almirante Américo Tomas, presidente de Portugal. Marcelo Caetano não era Chefe de Estado era Primeiro Ministro, Chefe de Governo.

O promotor Militar recorreu para o Superior Tribunal Militar. Meses depois compareci ao julgamento. O promotor militar, que não me conhecia, disse que tanto eu tinha certeza de não ter razão que não tive coragem de comparecer ao julgamento. Marcelo disse apenas:

“- Senhor presidente do Tribunal, senhores Ministros, apresento-lhes o réu aqui presente.” E apontou para mim.

Fui absolvido por unanimidade.

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O Rio fez nesta semana uma festa para o lançamento do livro de Marcelo Cerqueira, cidadão da cidade e meu advogado imbatível. Dezenas de amigos foram à Livraria da Travessa Leblon abraçá-lo pelo seu excelente “Fragmentos de Vida – Memórias”.




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Rio de Janeiro – Foi em 22 de agosto de 1976. O Brasil o perdeu e nunca mais tivemos um Presidente igual. E que falta ele faz.

1 – O telefone tocou na casa de praia de Madame Schneider, uma francesa amiga de Juscelino Kubitschek, a 20 quilômetros de Saint Tropez, no sul da França, onde ele, dona Sarah, as filhas Márcia e Maristela e o ex-secretário amigo dileto Olavo Drummond, passavam uns dias descansando, depois de deixar a presidência da República em 31 de janeiro de 1961.

Era o empresário, poeta e redator de alguns dos históricos discursos de Juscelino, Augusto Frederico Schmidt, falando do Rio:

– Juscelino, estou recebendo um clipping das revistas dos EUA. A revista “Time” está dizendo que você é “a sétima fortuna do mundo”.

Conversaram, Schmidt desligou e Juscelino ficou deprimido, amargurado. Olavo o chamou para darem uma volta:

– Presidente, hoje de manhã, quando fui comprar os jornais, quem estava na banca era a Brigitte Bardot. Podemos encontrá-la de novo.

Juscelino riu. Saíram. A primeira pessoa que viram foi a Brigitte Bardot, no auge do sucesso, com aquela carinha de paraíso terrestre depois da maçã, cercada de fãs, tirando fotografias. Juscelino se afastou:

– Olavo, se eu sair com essa mulher em um fundo de fotografia, a imprensa vai dizer no Brasil que estou namorando com ela.

Mas não esqueceu a história da “sétima fortuna do mundo”.

Quatro anos depois, a embaixada da Inglaterra no Brasil mandaria a Londres um documento para o “Foreign Office”, sob o cód.371/179250: – “O ex-presidente Kubitschek retornou ao Brasil. Não há dúvida de que ele é popular, com seu charme e suas ideias.

2 – Na véspera de passar o governo a Jânio Quadros em 31 de janeiro de 1961, Juscelino reuniu um grupo de ministros, auxiliares e amigos no Palácio da Alvorada. Chega Jose Maria Alkmin:

– Juscelino, estou seguramente informado de que o Jânio vai fazer um discurso agressivo contra você, na sua frente, na solenidade de transmissão do cargo, no Palácio do Planalto.

– Vou passar o cargo ao presidente que o povo elegeu. Só o Dutra passou. Quero dar uma demonstração ao mundo de nossa Democracia.

– E se ele fizer um discurso agressivo?

– Dou-lhe uma bofetada na cara e o derrubo no meio do salão. Vai ser o maior escândalo da história da República.

Não houve discurso nem bofetada.

PT QUEBROU O PAIS

3 – O país está fiscalmente quebrado. Os gastos públicos são superiores à arrecadação, produzindo um “déficit primário” de 2,2% do PIB (Produto Interno Público).

Sobretudo no governo de Dilma investimento em infraestrutura, saúde, segurança, educação e outros foram as principais vítimas. A dívida bruta em relação ao PIB produziu o desastre em que estamos mergulhados.

Em 2017, o déficit primário previsto é de R$ 159 bilhões. Para 2018, o cenário não será diferente.

A falta de rudimentares conhecimentos da economia da maioria dos políticos e de muitos analistas na área jornalística, não enxerga a gravidade do momento em que está mergulhada a economia brasileira. No Congresso e na imprensa prevalece a falta de racionalidade no enfrentamento realista, com propostas consistentes, seja à direita ou à esquerda.



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Rio de Janeiro – Tristes trópicos assustaram o sábio Claude Lévi-Strauss. Tristes dias nos assustam.

Triste país que tem um Procurador Geral da República desacatado por um respeitado ministro do Supremo Tribunal Federal. O STF (Supremo Tribunal Federal) está brigando. E brigando lá dentro, incluída a Procuradoria.

Emile Durkheim ensinou:

– “A sociedade sem o Direito não resistiria, seria anárquica, teria o seu fim. O Direito é a grande coluna que sustenta a sociedade.”

Quando um ministro do Supremo Tribunal Federal acusa a Corte de estar “inventando um Direito criado na malandragem, o Supremo está muito concessivo e contribuindo para uma bagunça completa” e atinge o Judiciário. Em entrevista ao “Estado de São Paulo” (2-8-2017), disse, alarmado, o ministro Gilmar Mendes:

– “O Direito Penal foi todo reescrito, nesse período, isso precisa ser arrumado. É preciso voltar a um mínimo de decência, sobriedade e normalidade na Procuradoria Geral da República. Inventando Direito Constitucional criado na malandragem e a reboque de quem? É doutrina Janot, não tem nada a ver com Direito, isso é uma loucura completa que se estabeleceu.”

O ministro Gilmar amplia o seu ataque:

– “As delações todas, essas homologações, o referendo de cláusula, uma bagunça completa e fica a reboque das loucuras do Procurador. Certamente o Tribunal vai ter de se posicionar, até para voltar a um quadro de normalidade e decência.”

No centro do embate jurídico está a homologação pelo procurador Rodrigo Janot das delações do Grupo JBS e ratificada pelo ministro Edson Fachin, do STF.

Ex-ministro do STF, o exemplar Francisco Rezek, no “Valor” (3-8-2017), dizendo-se preocupado com a animosidade entre os magistrados, constatou:

– “O que mais me preocupa na atual composição da Corte é que eles (ministros) se estimam menos do que antes e, portanto, se respeitam menos. Tenho a impressão que os ministros estão brigando, usando uma linguagem que não seria própria para magistrados desse nível. Vai além dos limites da cordialidade que caracterizaram o tribunal antigamente. O que nos tranquiliza é que esse exagero de protagonismo da Corte é um resultado direto da crise.”

Segundo o ensinamento de Platão:

– “O Juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo as leis”.

Os 11 ministros do STF e o polemico Procurador Janot deveriam ler os 4 volumes sobre a “História do Supremo Tribunal Federal”, escrito pela advogada Lêda Boechat Rodrigues. Por décadas servidora da Corte, produziu um trabalho de profundidade histórica sobre a importância do Judiciário sensato e equilibrado no desenvolvimento nacional.

O Estado de Direito é balizado pelo STF, como poder moderador da República. Os ministros de tribunais superiores quando extrapolam, em declarações à imprensa, muitas vezes antecipam o seu julgamento, provocando descrédito que atinge a instituição. Cultivar a discrição deve ser uma prerrogativa da função de juiz. No caso dos ministros do STF e do Procurador Geral da República, a paixão política deve ser arquivada e em seu lugar devem prevalecer relações harmoniosas e independentes entre os poderes da república.

O país precisa de sabedoria. E sabedoria não quer dizer pancadaria.

Deixem isso para o ringue do UFC.



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A DIREITA EUROPEIA


Roma – Desde quando a grande imprensa brasileira e a latino americana pararam de viver a custa da Guerra Fria, os Estados Unidos deixaram de ser o bicho papão. Donald Trump passou horas com a Chancelar Angela Merkel e não devorou a Chapeuzinho Vermelho da Alemanha. Nem a OTAN explodiu, nem o Serviço Secreto dos Estados Unidos puseram fogo no mundo.

Agora os tarados militaristas que estão sempre tentando buscar um fogo de guerra, podem deixar Vladimir Putin em paz. Os rapazes e as lourinhas agitados da “Globo News” passarão noites sem dormir, mas essa guerra não virá. É verdade que há uma direita assustando a Europa. Sempre haverá. Mas depois de séculos de guerra a Europa aprendeu que só os traficantes das balas saem ganhando com as guerras frias ou quentes.

Neste fim de semana a Holanda esfriou seu partido da Direita. Angela Merkel esta ganhando brilhantemente sua batalha contra a direita alemã. E a velha e sábia França nos apresenta uma bela lição de como os povos acertam quando encontram a solução política para conter suas radicalizações.

Ontem o melhor jornal do mundo, o Le Monde, numa síntese admirável mostrou que a França caminha para encontrar sua rota isolando o radicalismo furioso da beligerante Marine Le Pen. E o centro francês chega afinal ao que sempre foi desde a guerra: um abraço dos socialistas com o centro.

A porcentagem inédita de 34% de indecisos, mostra a candidata Marine Le Pen (do partido Frente Nacional) com 27% dos votos, Emmanuel Macron (do partido En Marche) com 26%, François Fillon (do partido Republicanos, de Sarkosy) com 17,5, Benoît Hamon (do partido Socialista) com 12,5%, Jean-Luc Melenchon (do Frente de Esquerda) com 11,5, mostra que a França parou para pensar.

Não é preciso ter medo de Donald Trump. A velha e sábia França está mostrando o caminho.

No Brasil o cientista político Fernando Abrucio, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, observa: “Os Estados, vivem um paradoxo. Por um lado, são centrais de provimento dos serviços públicos: educação, saneamento, saúde, segurança e transporte. Por outro, as condições fiscais e financeiras para isso são muito ruins. As demandas por serviços públicos de qualidade só vão aumentar. Resolver a crise do Rio não resolve a crise dos Estados”. Na mesma direção o economista José Roberto Afonso, da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, faz o alerta: “Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerias antecipam a crise de todos os Estados e, por algumas peculiaridades, a potencializam. Não por acaso, são os três em que mais pesam os inativos na folha salarial.”

A grande maioria dos Estados integra relação dos mais ricos e desenvolvidos, com expressiva população. A origem dos desajustes está em más administrações e pouco comprometimento com o equilíbrio das finanças públicas, ao longo de duas décadas. O caso do Rio de Janeiro é emblemático. Em 2010, recebeu da agência “Standard & Poor’s”, grau de investimento, passando a ser o Estado brasileiro classificado porto seguro para investimentos. Além dos fatos policiais envolvendo o seu então governador Sergio Cabral, a gastança irresponsável, sustentada pelo sonho e esperança na receita do petróleo, produziu o desastre com um rombo nas suas contas públicas de R$ 26 bilhões.





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BOBBIO ERA UM SÁBIO


Roma – Tinha nome de nuvem e era um sábio. Norberto Bobbio foi o mais notável pensador político e social aqui da Itália no século passado. Estudava sua terra e sua gente com a profundeza dos sábios.

– “Deixo para os fanáticos, aqueles que desejam a catástrofe, e para os insensatos, aqueles que pensam que no fim tudo se acomoda, o prazer de serem otimistas. O pessimismo é um dever civil porque só um pessimismo da razão pode despertar aqueles que, de um lado ou de outro, mostram que ainda não se deram conta de que o sono da razão gera monstros”.

Passando para o Brasil, o pensamento de Norberto Bobbio, se traduz no monstro da maior recessão econômica da história republicana no pais. A catástrofe foi construída ao longo de anos, com a omissão da maioria da sociedade, em todos os níveis. Cultivou um otimismo marqueteiro sem se dar conta do que mostrava a realidade. A ilha da fantasia, sustentada no voluntarismo ideológico e pelo aparelhamento da administração pública, marginalizava a meritocracia, ampliando os poderes de um estado perdulário onde “nós” e “eles” foi erigida à filosofia de governabilidade. O corporativismo empresarial e sindical tomou conta do poder surfando no privilégio e na onda de notícias plastificadas, enganadoras da opinião pública.

Ao final de uma década o cenário da realidade eclodiu como um “tsunami”. Recessão econômica de três anos, déficit público em nível recorde, dívida pública multiplicada, taxa de juros incontrolável, inflação mais do que o dobro da meta primária, carga tributaria crescendo e sugando a produção e desemprego atingindo mais de doze milhões de trabalhadores. A ilusória popularidade, apoiada pela maioria da sociedade deixou como herança uma economia em frangalho. O que fazer para retirar o País dessa realidade dolorosa?

Não foi por falta de advertência. O economista e professor paranaense Hélio Duque advertiu a tempo: – “É preciso despertar do sono da razão e entender que o atual governo, também responsável pela situação de caos econômico, por integrar pela sua maioria a base de sustentação dos governos Lula e Dilma, passou a enxergar a realidade. Impopular e desaprovado pela maioria da população, vem surpreendentemente propondo reformas básicas para retirar o Brasil da UTI. Se pelo lado político enfrenta cenário negativo, com nefastos personagens do passado, na área econômica promove mudanças estruturais positivas com equipe econômica competente. Destacadamente no Banco Central, na Petrobrás, no BNDES, no Ministério da Fazenda e áreas afins. A aprovação do teto dos gastos públicos, as propostas de reformas da previdência, do setor tributário, na área trabalhista, herdeira da “Carta del Lavoro” de Mussolini e mesmo alteração limitada na vida partidária, são propostas positivas.”

Pode-se afirmar que o fundo do poço da crise foi atingido. Mas exigirá tempo para recolocar o nível em padrão aceitável a uma retomada do crescimento econômico. Felizmente a reação já começa a ser sentida superando o momento de desespero. O caminho ainda será longo. A prioridade deve ser a retomada do crescimento e o aprofundamento das reformas estruturais. Norberto Bobbio ensinou: Governar é enfrentar a realidade.





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JANGO E BRIZOLA


Roma – Ontem, no voo Rio-Roma, li um livro imperdível. Até surpreendente, pela idade do autor. Todo brasileiro deve ler, pois preenche um pedaço fundamental da historia do pais. E foi escrito com honra, alma e verdade. A partir de agora ninguém mais poderá falar sobre o golpe militar de 1964 sem ler e citar “JANGO E EU- Memórias de um Exílio Sem Volta”, de João Vicente Goulart, filho do grande e saudoso ex – Presidente João Goulart (Ed. Civilização Brasileira – Rio)

Não se põe um livro em uma lauda. Em vez de tentar resumi-lo, prefiro citar entre aspas apenas alguns pequenos trechos, que o resumem:

– “Jango chegou a Porto Alegre no auge da crise. Após vários encontros com políticos e militares e de longas conversas para avaliar se haveria condições ou não de resistência, preferiu partir para o exílio, depois de constatar que resistir naquelas precárias condições logísticas seria ocasionar inutilmente um derramamento de sangue entre brasileiros, o que levaria o país a uma guerra civil de proporções inimagináveis, provocando, possivelmente, até a divisão territorial da nação.

Sua atitude, sem dúvida, foi a mais acertada, mesmo que as diferente forças políticas, de esquerda e de direita, continuassem a criticá-lo duramente por não resistir. Por que essa crítica seria dirigida apenas a ele?, eu me pergunto. Por que o Partido Comunista não resistiu? Por que Brizola não resistiu? Por que os sindicatos não resistiram? Por que as Ligas Camponesas não resistiram? Por que Arraes não resistiu? Ora, Jango seria o único a se submeter? E onde estavam aqueles que o criticavam?”

“Jango sempre foi legalista. Alguns setores da esquerda – entre as quais estava Brizola -, que desejavam impedir o avanço da direita, é que queriam dar o golpe”…

“Pregavam o avanço, mesmo que pela força ou pela ruptura institucional antes do golpe de direita, o que acabou ocorrendo…

– “Jango não caiu por seus erros, e sim por seus acertos”, como disse Darcy Ribeiro, muito pragmaticamente, em suas declarações sobre o golpe.

“Brizola queria ser nomeado ministro da Justiça e indicar o general Ladário para ministro da Guerra”.

“Jango sabia disso e não jogaria seu povo numa resistência fratricida em nome do poder. Sua atitude preservou a paz da nação brasileira, e, principalmente, nosso território.

– “Por anos, uma pesquisa feita pelo Ibope foi escondida nos escaninhos da Unicamp. Segundo ela, quando ocorreu o golpe, Jango tinha aprovação da maior parte da população brasileira, e, se pudesse concorrer em 1965, venceria as eleições, perdendo para Juscelino apenas em Belo Horizonte e Fortaleza.

Certa vez, enquanto conversávamos perto da lareira em casa, meu pai me contou como ele e o tio Leonel romperam relações. No dia 2 de abril, na casa do general Ladário, Jango decidiu não resistir ao golpe e Brizola queria que ele o nomeasse ministro da Justiça e o general Ladário ministro da Guerra. Jango não quis, e Brizola disse que ficaria no Brasil para lutar e morrer, porque não concordava em renunciar à luta e ir para o exílio.

“Brizola, no entanto, não conseguiu viabilizar a resistência no Rio Grande do Sul. Jango não concordava com a luta armada que Brizola queria implantar no Brasil.”

“Jango fez as pazes com Brizola pouco tempo antes de morrer”…

“Eles passaram um longo período sem se falar”…





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A SAÚDE DOENTE


Rio de Janeiro – Um terço da população não é capaz de ler e compreender um texto mais elaborado. Segundo o Inaf (Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional), em pesquisa nacional, só 26% do povo brasileiro é plenamente alfabetizado. Mesmo entre os com curso superior, encontram dificuldades de entender nas suas mais diversas áreas do conhecimento, em setores profissionais fundamentais para o desenvolvimento. E o mais dramático é que o Brasil investe em educação o equivalente aos países mais desenvolvidos. A grande vítima dessa realidade é a própria população. Há anos a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) vem realizando exames para os bacharéis saídos das Faculdades de Direito. A cada ano aumenta o número de reprovados para obtenção da carteira de advogado: 8 de cada 10 não alcançam o nível de conhecimento jurídico para se filiar ao órgão. É um número espantoso que atinge as centenas de milhares de saídos dos cursos de Direito, ao longo das últimas décadas.

Agora, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) diz que 56% dos médicos formados nas 46 escolas de medicina em atividade no Estado entram no mercado de trabalho sem conhecimentos básicos: 80% não sabem interpretar uma radiografia e 70% não conseguiram diagnosticar um paciente com crise hipertensiva, doença que atinge o quase cotidiano de 25% da população brasileira. O conselho médico de SP, ao divulgar os resultados dos exames realizados em 2016, constatou que dos 2.766 inscritos, somente 43,6% atingiram a pontuação que os habilita para o pleno exercício profissional.

O médico Bráulio Luna Filho, diretor do Cremesp e coordenador dos exames, que vem realizando desde 2005, constatou:

-“Com exceção do exame de 2015, nos últimos dez anos o índice de reprovação ficou acima de 50%. É preciso que as escolas médicas promovam melhorias nos métodos de ensino e imprimam mais rigor em seus sistemas de avaliação”.

Infelizmente as provas e o caótico resultado não impedem os futuros médicos do exercício profissional. Somente para o programa de residência médica, instituições como a USP, Unicamp, Unifesp e Santa Casa desde 2015 passaram a exigir aprovação nos exames do Cremesp, para ingresso.

A “Folha de S.Paulo” publicou em 9 de fevereiro deste ano assustadora matéria da competente jornalista Claudia Collucci, mostrando as áreas problemáticas: “As médias mais baixas foram em saúde pública/epidemiologia (49,1%); pediatria (53,3%); e obstetrícia (54,7%);- 71% dos recém-formados não acertaram diagnóstico e tratamento para hipoglicemia de recém-nascido, problema comum nos bebês”.

– “As escolas médicas privadas continuam com pior desempenho em relação às públicas (33,7% contra 62,2%) de aprovação, Em ambas houve aumento de reprovação em relação a 2015. Entre as públicas de 26% para 38%. Entre os cursos privados, de 59% para 66%.”

Sendo a saúde , como dizia o saudoso medico e prefeito de Londrina, Dalton Paranaguá, a suprema lei, o resultado oficializado pelo Cremesp, no Estado mais desenvolvido do País, é devastador. Se na pauliceia onde, indiscutivelmente, o padrão da medicina hospitalar está anos à frente da totalidade dos Estados brasileiros, imaginem o que pode estar ocorrendo em outras unidades federativas.

A saúde está doente e não é só nas filas dos hospitais.





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O BOM E OS MAUS LADRÕES




Rio de Janeiro – Do alto do púlpito da Igreja da Misericórdia, em Lisboa, em 1655, desafiando a Inquisição, o Padre Antonio Vieira, o mais valente dos pregadores, desafiou o poderoso Império Português e seus maus ladrões:

– “Navegava Alexandre Magno em sua poderosa armada pelo Mar Eritreu a conquistar a Índia, e como fosse trazido à sua presença um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício. Porém, ele que não era medroso nem lerdo, respondeu assim:

– Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador? Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza; o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muitos faz os Alexandres. Se o rei da Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que fazem o ladrão e o pirata, o ladrão, o pirata e o rei, todos têm o mesmo lugar, e merecem o mesmo nome”.

“- Ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno. Os que não só vão, mas levam, de quem eu trato, são outros ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São Basílio Magno. Diógenes, que tudo via com mais aguda vista que outro homem viu, que uma grande tropa de varas e ministros da justiça levava a enforcar uns ladrões e começou a bradar:

 – Lá vão os ladrões grandes a enforcar os pequenos. Ditosa Grécia que tinha tal pregador! Quantas vezes se viu Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um Cônsul ou ditador, por ter roubado uma província? E quantos ladrões teriam enforcado estes mesmos ladrões triunfantes?”

Quando, em 2011, o STJ (Superior Tribunal de Justiça), sob o pretexto de ilegalidade nas interceptações telefônicas, anulou a “Operação Castelo de Areia”, construiu um rastilho de pólvora que, três anos depois, explodiria: na “Operação Lava Jato”. Os brasileiros passariam a conhecer o maior escândalo de corrupção na vida política e econômica nacional, a força-tarefa comandada pelos bravos Juiz Sérgio Moro e Procurador Rodrigo Janot e seus infatigáveis companheiros.

Logo se articularam as aves de rapina e, na imprensa, no Congresso, nas OABs da vida, começaram a tentar fabricar leis para barrar a missão da Policia, da Procuradoria, da Justiça. É hora de a Nação repetir as jornadas de 2013 e voltar às ruas para salvar a Lava Jato. O povo sabe quem são seus inimigos. E como encurrala-los Mais do que nunca, a sociedade brasileira deve multiplicar seu apoio à força-tarefa da Lava Jato.

Os interesses poderosos contrariados, nessa fase crucial das decisões estão escondidos, mas ainda não estão derrotados nem dormindo. Os missionários da corrupção sonham em paralisar com “chicanas” as conclusões da “Lava Jato”, especialmente os detentores dessa excrescência jurídica chamada “foro privilegiado” (detentores de mandatos), nos poderes Executivo e Legislativo.

Os envolvidos nos crimes de corrupção não podem alimentar o sonho da impunidade. Os brasileiros precisam acreditar que depois da “Lava Jato”, no Brasil, nada será como antes.





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LULA NÃO QUERIA O PT



Rio de Janeiro – O PT não nasceu em São Bernardo. São Paulo. Nasceu em Criciúma, Santa Catarina. Eu vi. Estava lá. Em 1978, Walmor de Luca, combatente líder estudantil de esquerda, deputado federal catarinense de 1974 no levante eleitoral do MDB, realizou um Seminário Trabalhista nacional com os grupos políticos que se organizavam contra a ditadura lutando pela anistia e por eleições diretas.

Lá estavam destacadas lideranças sindicais da oposição, como Lula, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, Olívio Dutra, bancário do Rio Grande do Sul, Jacó Bittar petroleiro de Paulínia, em São Paulo, e outros dirigentes sindicais do Rio, Paraná, Santa Catarina, Minas, Bahia, Pernambuco.

Desde a primeira assembleia, um assunto centralizou os debates: – o movimento sindical devia ter partido político? As lideranças sindicais deviam entrar para partidos políticos?

Lula era totalmente contra. O argumento dele era que os sindicatos eram mais fortes do que os partidos políticos e a política descaracterizava o movimento sindical e desmobilizava os trabalhadores.

Durante dois dias discutimos muito. Estávamos lá um grupo de socialistas e trabalhistas do Rio: o trabalhista carioca José Gomes Talarico; a advogada e professora do Rio Rosa Cardoso; o gaúcho João Vicente Goulart, filho de João Goulart; eu, outros).

Defendíamos a reorganização dos trabalhistas e socialistas em um só partido, liderado por Brizola, que havia saído do Uruguai, passado pelos Estados Unidos e estava em Portugal, voltando.

Lula não queria partido nenhum. Mas houve tal pressão de líderes sindicais de outros Estados, que Lula balançou. O argumento dele era que os sindicatos poderosos, como os de São Paulo, não precisavam de partidos. Mas, e os mais fracos, que eram mais de 90% no país? Necessitavam de cobertura política.

Fazia frio em Criciúma. Ainda bem que a organização do Seminário foi previdente e distribuiu pequenos copinhos com magnífica grapa gaucha.

No último dia, no jantar, vi Lula já quase mudando de posição. De Criciúma ele foi para Minas, Bahia, Pernambuco, Ceará, discutir suas posições. Em Salvador o saudoso petroleiro baiano Mário Lima, amigo dele, principal líder trabalhista baiano, que tinha voltado do exílio em Fernando de Noronha e sido eleito presidente do Sindicato dos Petroleiros, discordou da criação de um novo partido, entrando para o MDB.

A ligação dos dois era tão próxima que Lula e Marisa em 1974, quando se casaram, a convite de Mario foram passar a lua de mel em Salvador, no bucólico Grande Hotel de Itaparica. Não houve conta a pagar. O diretor do hotel, advogado Virgilio Mota Leal, querido amigo de Mario e meu, não deixou.

Em 1980 afinal nasceu o PT que, antes dos tantos pecados, em determinados instantes prestou grandes serviços às lutas sociais e à democracia no pais.

Walmor de Luca devia ter ganho carteirinha de padrinho.





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MARIA DO LIXO



Rio de Janeiro - Maria das Graças, menina magrinha, cara de rato e perna de andorinha, acordava com a madrugada e descia pulando a ladeira da favela, para catar lixo nas montanhas de entulho de uma vila com nome de santo, numa cidade com nome de céu.

Maria das Graças, menina magrinha, cabelo de piolho, boca suja de farinha, voltava com a noite e subia cantando a ladeira da favela, trazendo caco de vidro branco porque caco de vidro escuro vale menos.

Maria das Graças, menina magrinha, dentes muito brancos e a pele toda pretinha, catava vidro branco na montanha de lixo da Vila São Domingos, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, quando a montanha se mexeu como elefante deitado e rolou lá de cima em ondas multicoloridas de podridão e mau cheiro. Maria das Graças, menina magrinha, não deu um passo. Ficou enterrada ali mesmo, com seu buquê de caco de vidro branco nas mãos e os olhos muito abertos entupidos de espanto e lixo.

Você está vendo, Maria das Graças, menina magrinha, que a culpa de sua morte é inteiramente sua? Se você lesse os jornais ficaria sabendo disso. Vou provar a você!

Seu tio advertiu você para não passar perto da montanha de lixo quando voltasse para casa depois de catar caco de vidro branco na montanha de lixo. Você tinha que catar caco de vidro branco na montanha de lixo muito longe da montanha de lixo. Sua mania de juntar cacos de vidro – e caco de vidro branco, porque vale mais do que caco de vidro escuro – fez você aproximar-se muito do local de perigo.

Mas onde sua culpa é imperdoável, Maria das Graças, menina magrinha, é na estúpida opção que você fez de sua vida. O que é que levou você à estranha tara de catar caco de vidro branco na montanha de lixo? Como compreender que uma menina com nome de santa (Maria das Graças), morando numa vila com nome de santo (São Domingos) em uma cidade com nome de céu (Belo Horizonte), fosse mexer com o vício de catar caco de vidro branco na montanha de lixo?

Maria das Graças, menina magrinha, cara de rato e perna de andorinha, foi uma pena que você tivesse morrido. Eu tinha uma aula para lhe dar ontem à beira da piscina do Copa, um hotel muito velho e muito charmoso onde grã-finos espreguiçam tédio em noites longas de caviar.

Eu teria apresentado a você um rapaz talentoso, bom profissional e bom caráter, que costumava tropeçar nas palavras mas ninguém jamais o acusou de tropeçar nos outros. Ele lançou um manual da civilização ocidental cristã, “20 anos de Caviar”. Você morreu porque quis. Você morreu porque optou. Você morreu por culpa sua.

Maria das Graças, menina magrinha, eu poderia mandar esta lágrima para cobrir seu túmulo de lixo. Mas, de que adianta? A culpa foi mesmo sua, menina pretinha, menina sujinha. Nessa noite de Natal, você não quis ser Maria do Caviar, Maria do Luxo. Acabou mesmo sendo Maria do Lixo.

FÉRIAS

Janeiro é férias. E férias são no mar. Até fevereiro.






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QUEM QUEBROU O BRASIL


Rio de Janeiro – Fim de ano, tempo de sabedorias. Comecemos então de longe. Platão, supersábio, na “Apologia de Sócrates”:


– “O juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo a lei”. (Como o irrepreensível juiz Sergio Mouro).

E Dante, superpoeta:

– “Per me si va nella cittá dolente, / Per me si va all’eterno dolore, / per me si va tra la perduta gente. / Lasciate ogni speranza voi ch’entrate.”

Séculos mais jovem, o ex-deputado e professor paranaense Hélio Duque adverte que o pais está entre uma agenda política e uma agenda econômica:

– Pela gravidade da crise econômica e financeira em que o populismo mergulhou o País, é na agenda econômica que os políticos brasileiros deveriam priorizar com responsabilidade e urgência. É preciso dizer, com todas as letras, que os Estados e a União estão quebrados. O que os distingue é que o governo federal, ao contrário dos estaduais, pode emitir títulos para saldar os seus compromissos financeiros. A década de irresponsabilidade fiscal, com o gasto público atingindo 45% do PIB, para uma arrecadação tributária de 36%, gerou a quebradeira geral. A recessão econômica era questão de tempo. Quando os governos Lula e Dilma, com consequências perversas aumentaram irresponsavelmente os gastos públicos, a maioria dos brasileiros contemplava e apoiava a farra fiscal.

Aqueles governos detonaram os fundamentos da economia construídos penosamente a partir do Plano Real. A relativa robustez que ele gerou, externamente ganhando o grau de investimento, significando bom pagador e internamente com a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros, foi abandonada. Em seu lugar colocaram uma política econômica fundamentada em abrir o cofre e gastar em um expansionismo fiscal enlouquecedor.

Eliminado o superávit primário, o déficit nas contas públicas determinou o descontrole da dívida pública que cresceu entre 2008 a 2015 em R$ 2,2 trilhões, certamente para alegria do sistema financeiro nacional remunerado regiamente com taxa de juros que atingiu 14,25% ao ano.

O atual governo foi feliz ao compor uma equipe econômica de gente competente, mas não tem na área política o seu correspondente. A sua atual base parlamentar, na maioria, participou da farra populista que levou o Brasil à tragédia. Se na oposição os seus porta-vozes, grandes responsáveis pela tragédia econômica, eximem-se da responsabilidade, os apoiadores do governo, em grande número, demonstram serem adeptos do “é dando que se recebe”. A Proposta de Emenda Constitucional que limita o crescimento do gasto público à inflação passada, exigiu negociações pesadas.

A aprovação da PEC dos gastos foi um avanço. A equipe econômica terá condições de reverter, em médio prazo, o caos econômico. Nesse cenário desesperador é fundamental, nas manifestações de rua que se multiplicam pelo País, cobrar dos administradores públicos e dos políticos o espírito público. A recuperação dos valores perdidos em tempo recente é fundamental. Antes de melhorar o cenário econômico e social ainda haverá relativa piora. A sua superação passa pelas reformas inadiáveis que precisam ser feitas e nelas a maior responsabilidade é da classe política.




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O ARTISTA E O ESTADISTA

Jânio condecorou Che Guevara e irritou os militares. Agosto de 1961. Reprodução arquivo Google.
Em 1959, Jânio Quadros e Juracy Magalhães disputavam a legenda da UDN para a Presidência da República. José Aparecido, articulador da campanha de Jânio, aconselhou-o a ir ao Nordeste para um encontro com os governadores da UDN: Magalhães Pinto (MG), presidente do partido, Cid Sampaio (PE), Dinarte Mariz (RN), Luis Garcia (SE).

Marcaram encontro em Aracaju. Jânio, Aparecido, outros, pegaram um avião  no Rio. Quando desceram em Salvador para reabastecer, Jânio viu Juracy embarcando para Aracaju sem esperar para cumprimenta-lo. No aeroporto, a imprensa baiana  foi educada mas dura com Jânio. Perguntei:

– Governador, esses passeios de V. Exa pelo mundo estão sendo pagos por quem? Ou será com o famoso terreno da Vila Mariana, em São Paulo?

– Respeitem-me. Nada tenho a dizer. Lamento o comportamento do governador.Não sou dos que arreganham os dentes para o sucesso eleitoral.

Levantou-se e foi para avião. Em Aracaju uma multidão com vassouras e os governadores da UDN o esperavam. Disse a Aparecido:

– O Juracy me armou uma cilada. Vou dizer-lhe o que precisa ouvir.

Na primeira reunião, Jânio levantou-se:

– Governador Juracy, quero começar dizendo que não aceitei o que o senhor fez em Salvador, as perguntas que me mandou fazer.

Juracy também se levantou, apoplético:

– O senhor me respeite. Nunca precisei pedir a ninguém para fazer perguntas por mim. Não tenho caspas nos meus ombros. Sou um revolucionário de 30. O senhor é um aventureiro, mentiroso e demagogo.

– Governador Juracy, não temos mais nada a conversar. Eu me retiro.

E saiu rápido.

O VASSOURINHA

Em 10 de fevereiro de 1961, dez dias depois da posse de Jânio no governo, fui a Porto Alegre entrevistar o governador Leonel Brizola. Recebeu-me no gabinete no dia seguinte às seis da manhã. Estavam lá, com cara de sono, Brusa Neto e Hamilton Chaves, os principais assessores. A conversa foi longa e objetiva. A certa altura, Brizola pede que eu não anote:

– Nery, isso que vou te dizer não deve ser publicado, porque não quero criar problema para o presidente Jânio Quadros. Gosto dele, estamos os dois apenas com dez dias de governo. E já começam graves problemas.

– De que tipo, governador?

– Políticos e econômicos. Sobretudo políticos. Tu já fizeste uma análise das forças políticas e econômicas que financiaram o Vassourinha? (Vassourinha era o Jânio). Para atender às necessidades do País e dos seis milhões de eleitores que votaram nele, ele vai ter que mudar de comportamento, e as forças que o financiaram não vão se conformar.

Bateu o fundo da caneta na mesa, ficou pensando longe:

– Tu deves ficar atento. Em seis meses, ou ele renuncia ou vamos para a guerra civil.

Fui para o hotel, anotei e guardei. Em sete meses Jânio renunciou.

LEITE BARBOSA

Jânio era dois: o artista e o estadista. Alias, era vários. Historias do artista, do múltiplo, do excepcional comunicador de massas, do candidato sempre imbatível –  vereador, deputado estadual, deputado federal, prefeito, governador, presidente – há tantas, nos meus e outros livros. Mas o Brasil lhe devia o livro sobre o estadista, o homem que em 1960 viu o pais meio século à frente,com todos os riscos e abismos que precisaria saltar e vencer.

Pois tem o livro. Publicado em 2007 pela Editora Atheneu (Rio, São Paulo), e logo esgotado, volta às livrarias, em esmerada segunda edição ampliada, uma obra-prima do embaixador Carlos Alberto Leite Barbosa: “Desafio Inacabado – A Política Externa de Jânio Quadros”.

Rara gente no Brasil teria a bagagem do embaixador Leite Barbosa para um livro desse nível sobre a política externa brasileira. Formado pela  Nacional de Direito da Universidade do Brasil,  já no Itamaraty aos 23 anos, em 42 anos de diplomata serviu em Nova York, Buenos Aires e Madri e, foi embaixador em Bogotá, Roma, Paris e junto à OEA.

Em 1960 foi convocado para o governo Jânio Quadros, onde trabalhou ao lado do presidente todos os dias dos 7 meses do governo. Seu testemunho é preciso, detalhado, documentado e sobretudo inteligente, não perdendo os conflitos que iam surgindo e sendo enfrentados. Perfis irretocáveis: de Jânio, Afonso Arinos, Lacerda, Fidel, Guevara, Kennedy, Tito, Frondisi. E EUA, União Soviética, China, África. Uma aula magna.



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OS SAPOS NA LAGOA


Na lagoa da fábula, os sapos pediam um rei. No sufoco da crise, os americanos pediam também um líder. Cinquenta e seis anos atrás, em 1960, como contei aqui na semana passada, vi os Estados Unidos na campanha eleitoral. Eisenhower, velhinho e exausto, Presidente. Vice-presidente e mafioso, e candidato ‘a sucessão, Nixon, imbatível. Contra ele, um jovem senador católico, aristocrata, milionário, cabelo na testa e cara de meninão bem comportado: John Fitzgerald Kennedy. Ninguém acreditava na candidatura dele.

No Brasil, ainda era um nome desconhecido. Lembro bem que a primeira vez que o li candidato foi numa crônica maviosa de Rubem Braga. Falava de outra coisa, uma borboleta amarela ou uma mulher nua, e de repente mandou um recado profissional: “Prestem atenção nesse nome. Pode ser ele”. Foi. Mas na imprensa brasileira ninguém o levava a sério.

Em Los Angeles, assisti ao famoso debate, cara a cara, pela TV, entre Kennedy e Nixon. Senti que havia no candidato democrata uma força qualquer além da pública esperteza de Nixon. E a reportagem que mandei, nas vésperas da eleição, dizendo que ele ia ganhar, quase não foi publicada porque em “A Tarde”, na Bahia, acharam um desparate.

Vinte anos depois, em 1980, no abrir-se da campanha eleitoral dos Estados Unidos para as eleições de outubro de 80, voltei lá e perguntei a um velho e sábio amigo, que vivia ali há muitos anos fazendo pesquisas econômicas, quem ia ser o novo Presidente.

– “Os americanos estão desesperados atrás de um líder para a crise. A situação não está boa. Claro, você chega, vê esta cidade, a mais rica e poderosa do mundo, vê esse império industrial avançando seus interesses sobre os outros países, vê esse império industrial avançando seus interesses sobre os outros países, vê o nível a que chegou a sua tecnologia, e pode imaginar que está tudo bem. Pois é um engano. Os Estados Unidos nunca estiveram às portas de uma crise tão grave, desde 1929. Não tem como comprar a sobras do banquete”.

CARTER E TRUMP

E o Carter?

– “Esse era um bestalhão. Aqui ninguém levava o Presidente a sério. O país o chamava de plantador de amendoim e eles estavam precisando era de um líder, plantador de certezas.O povo estava com medo. Havia uma desesperança generalizada e toda hora que surge um problema mundial, como agora no Irã, o país entra numa neurose coletiva perigosa. O Carter derrotou a indicação para candidato contra Ted Kennedy, mas é um Presidente incompetente, com aquela cara de noviça rindo forçado de um pecado que não é só dela”.

Os americanos mataram Kennedy, que era um sol deles. Insistiram em outro Kennedy, o Robert, eles mataram de novo. O Ted terceiro, o Ted, ninguém precisou matar, porque tomou um porre e caiu no rio com a secretaria.

A cada nova campanha eleitoral, os americanos correm atrás de um novo sapo para tira-los da lagoa de ouro. Vi em Boston, lançando sua candidatura, Ted Kennedy. Nada de novo:

“- O verdadeiro perigo está dentro de nós mesmos, pessoas, grupos, cultura. Ou temos imaginação suficiente para pôr em plenas funções a máquina delicada e inigualável que chamamos de democracia industrial, a única que pode levar o homem a uma nova época de bem-estar, ou então o mundo em que vivemos estará cada dia mais desequilibrado, inabitável, no sentido físico e moral, menos humano e menos aberto à esperança.”

“Antigamente, para nós, esta esperança obstinada na capacidade dos homens de resolverem problemas dos homens chamava-se sonho americano. Hoje, não pode mais ser um sonho apenas nosso, porque nenhum país, por mais forte, pode andar para a frente sozinho. Chegou a hora de construir qualquer coisa de novo”.

TED E TRUMP

Nada mais parecido com um americano do que outro americano. Nada mais parecido com um republicano americano do que um democrata americano. Por isso os Estados Unidos tão facilmente trocaram três Kennedys por um Trump e trocaram um Clinton e uma Clinton por um Trump. Sempre atrás de um sol para os sapos.



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PALOCCI E A PEC


Rio de Janeiro – Esta é quase uma historia de horror. Em 2005, no primeiro governo de Lula, os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo, dois poderosos ministros do governo, prepararam um PAF (Plano de Ajuste Fiscal), um projeto de ajuste fiscal realista, fixando o limite de gastos públicos por dez anos, impedindo seu crescimento acima do PIB (Produto Interno Bruto).

Quando o PAF chegou à Casa Civil, a ministra Dilma Rousseff liquidou o projeto, fundamental para o equilíbrio das finanças públicas, com uma frase de quatro palavras:

– “É um ajuste rudimentar”.

Era um tiro de escopeta. Pareciam tempos de Hitler ou Stalin.

Os dois ministros, ao invés de enfrentarem o primarismo da Dilma e convencerem o presidente da República da importância de uma base orçamentária realista, aceitaram a qualificação de “rudimentares”.

DILMA

Com o afastamento do ministro Palocci, assumiria a Fazenda Guido Mantega, o anti-Palocci, adepto da gastança, que permaneceria nos governos Lula e Dilma.

Eleita presidente em 2010, Dilma Rousseff implantaria a desastrada “Nova Matriz Econômica”, onde o BNDES foi vítima e por extensão toda a sociedade brasileira. Dilma adotaria verdadeiramente uma “política econômica rudimentar”. O País iria afundar em dividas impagáveis, juros na estratosfera, queda de arrecadação, desemprego na escala de milhões, renda per capita encolhendo em 10%, dívida pública bruta acima de R$ 4,3 trilhões, levando os Estados federativos a situações pré-falimentares.

Tudo isso foi gerado pelo gasto público irresponsável e aparelhamento do Estado por corporações que usufruíram vantagens de todo tipo: algumas empresas ganharam o apelido de “campeãs nacionais do desenvolvimento”. Um dos exemplos, mas não único, foi o empresário Eike Batista e suas empresas simbolizadas no X de multiplicação, hoje todas elas em situação falimentar. As outras, a “Lava Jato” está revelando.

Se em 2005 o Ajuste Fiscal de Palocci e Paulo Bernardo tivesse sido aprovado, o Brasil não estaria mergulhado no cenário de horror e brutal recessão econômica. A PEC que limita os gastos públicos, agora aprovada na Câmara dos Deputados, poderia ter se transformado em realidade onze anos atrás. Seus fundamentos básicos já estavam presentes na proposta dos dois ministros do PT.

PRISÕES

Satanás não perde tempo. Desolados com seu partido e seu governo, Palocci e Bernardo enveredaram pelos becos do pecado, pelos caminhos do mal. A Lava Jato os pegou na esquina do dinheiro sujo.. Palocci está na cadeia, Paulo Bernardo de tornozeilera nas pernas. E Lula se escondendo da Policia quando pensa no juiz Sergio Moro.

O líder do PT na Câmara, o alegre baiano Afonso Florence, ignorando essa realidade, ainda afirma:

– “A aprovação da PEC do teto dos gastos representará o desmonte de todas as políticas públicas do Brasil”.

É seguido pela amazônica senadora Vanessa Grazziotin, ao qualificar a PEC 241 de “PEC da maldade”:

– “Quem vota a favor da PEC 241 vota contra o Brasil.”

Eles acreditam que o dinheiro público é infinito, desconhecendo que sem o ajuste o resultado será a explosão da inflação, da dívida pública, do desemprego, da falência de empresas e falta de recursos para os investimentos sociais.

O despenhadeiro em que jogaram o Brasil exigirá muito tempo para tira-lo de lá. O ajuste das contas públicas é apenas o começo. As reformas na estrutura estatal, destacadamente na Previdência, na legislação trabalhista e na área tributária, são imprescindíveis.

Sem o enfrentamento dessas reformas, o desequilíbrio fiscal estrutural estará presente na economia brasileira. Exigirá coragem, determinação e consciência de saber estar construindo, para o futuro, o País que o seu povo merece e tem direito.






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O NAUFRÁGIO DO PT3.10.16    


Rio de Janeiro – A história da humanidade tem naufrágios que ultrapassaram os tempos, como o do cônsul Pompeu voltando da África para Roma. No Brasil a Bahia nasceu do naufrágio do valente aventureiro Caramuru. Perdemos o bispo Sardinha nas costas do nordeste. E na história universal o Titanic, o super navio afundado.
Nesta semana mais um naufrágio veio para carimbar a história da política brasileira. Depois de 30 anos de belas vitórias, muitas loucuras, falcatruas e numerosas prisões o PT naufragou de norte a sul do país. Não sobrou nenhuma liderança. Lula esta lá em São Bernardo escondendo-se da Polícia Federal. Dilma não quer ficar em Porto Alegre mas fora de lá não tem onde se esconder. José Dirceu, Palocci, Vacari, não podem atender o telefone. Preso não atende telefone. Não sobrou ninguém. Nem o talentoso ex ministro Tarso Genro, porque ninguém quer papo com ele.
Perder São Paulo já seria uma derrota dolorosa, mas compreensível. O que é inexplicável é o PT, depois de tantos mandatos, ser escorraçado da capital, sem conseguir sequer chegar a um segundo turno. Nem isso. Foi derrotado, humilhado e ofendido.
O RETRATO
Com exceção do distante, minúsculo e boliviano Acre, em todos os estados onde tentou disputar alguma coisa foi varrido pelos eleitores. Não se salvaram nem o Rio Grande do Sul onde já teve berço e cama. Nem o ABC paulista com seus numerosos sindicatos e alguns outrora poderosos diretórios políticos e sequer no Nordeste que já foi um dia proclamado como território sagrado do partido. De tanto esconder-se, dele os eleitores e as urnas se esconderam. Como a Itabira do poeta o PT ficou reduzido a um retrato na parede. Mas como dói.
Algum tempo vai ser preciso mas logo logo o pais sentirá o alívio que foi o sumiço do PT. Chegará ao fim a ladainha escondida atrás de discursos demagógicos, explorando a ingenuidade popular. Nunca mais ninguém dirá que nunca antes na história deste país houve alguém como ele ou que é mais honesto do que Jesus Cristo.
NOVOS TEMPOS
Parece pressa, mas chegou a hora. O Congresso tem o dever de começar uma reforma política para ficar pronta antes de 2018. Houve avanços mas ainda são poucos. Acabar com o financiamento empresarial das eleições foi um salto. Mas não basta. É preciso regulamentar o financiamento individual para que espertos não finjam estar dando dinheiro que é dele quando não é.
Muita coisa há para reformular. Por exemplo: por que não começar a discutir um sistema parlamentarista que seja integral ou ao menos um que seja misto? O pais está maduro para esta reforma. Mais urgente ainda é acabar com o vergonhoso carnaval dos partidos. Cinquenta partidos (funcionando ou a funcionar) tornam a democracia um fantoche. Eles passam a ser fundados ou a existirem apenas em função da teta gorda do Fundo Partidário e dos negociáveis tempos de TV e de rádio.
Mais de 10 partidos já seriam um exagero e 50? Tornam-se um sórdido balcão de negócios. É claro que essas coisas não se implantam do dia para a noite. Mas na hora em que algumas dezenas de parlamentares sérios, que existem no congresso, se dispuserem a preparar um projeto de clausula de barreira, como existe em todas as democracias, a pressão da opinião pública virá irresistível. É preciso querer e fazer.
O excelente deputado Miro Teixeira tem tempo, independência e autoridade para começar esta batalha.
A escravidão também jamais iria acabar. Mas um dia acabou.



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O PECADO DA SOBERBA



Salvador (BA) - Dilma diz que foi derrubada por um golpe do Congresso. Se tivesse o bom hábito de ler os doutores da Igreja saberia que o pecado foi dela: a soberba. Sem ouvir ninguém, sem ler ninguém, sem conversar com ninguém, ela empurrou a economia do país para o abismo. E ainda queria ficar mais 2 anos brincando de casinha de boneca no Palácio do Planalto.
Encontro aqui em Salvador um mestre guardião da pátria: o doutor em economia, baiano, três vezes deputado federal pelo MDB e PMDB do Paraná, Hélio Duque, que com sua sabedoria, me mostra que Dilma não foi empurrada. Ela pulou.
1 – A pobreza do debate público no Brasil não fica limitada à sociedade. Penetra na política. A proposta do Governo de emenda constitucional para limitar o crescimento do gasto público vem sendo combatida pelos que não entendem a importância de uma gestão fiscal responsável. Sem forte ajuste nas contas públicas, impedindo que as despesas cresçam mais do que as receitas, torna-se impossível retomar o crescimento econômico. A brutal recessão que mergulhou a vida nacional na crise tem no descontrole das despesas sua origem.
2 – O Estado não é gerador de riqueza, mas arrecadador de tributos para devolver em benefício da sociedade, com investimentos em áreas essenciais para o desenvolvimento humano e econômico. Responsabilidade fiscal é um valor que deve ser cultivado pela sociedade, acima de preferencias pessoais ou ideológicas. O governante deve em primeiro lugar estruturar uma boa administração econômica. Sem ela o fracasso é garantido. Governos populistas e corporativistas geram a disfuncionalidade do Estado.
CONGRESSO
3 – Grupos organizados no Congresso ensaiam, através de emendas incabíveis, torpedear o programa de ajuste e limitação das contas públicas. Desejam a perpetuação da tragédia econômica e social que pode ser vista na recessão econômica dos últimos anos: desemprego de 11 milhões de trabalhadores e um déficit fiscal de mais de 10% do PIB (Produto Interno Bruto), aumento da relação dívida bruta/PIB de 53% para 70% e déficit acumulado de mais de 400 bilhões de dólares. E uma taxa de inflação atingindo o poder aquisitivo dos assalariados, com imensa redução na inclusão social e distribuição de renda.
4 – A situação real da economia brasileira foi escondida da população por largo tempo, com a conivência dos partidos políticos que apoiavam o governo. Lamentavelmente, para muitos homens públicos política econômica e política social são coisas diferentes. Os populistas e os seus agregados infantilizados acreditam que a primeira é defensora dos ricos, poderosos e privilegiados, enquanto a segunda é uma conquista dos pobres e deve integrar o seu universo existencial. Nada mais falso. Elas estão integradas. São ligadas umbilicalmente. Os recursos gerados pela política econômica é que garantem o dinheiro para o investimento em educação, saúde, segurança, nos programas assistenciais e nos programas sociais. Não existe política social sem dinheiro, desde tempos imemoriais. Quando faltam recursos, a desigualdade social aumenta.
5 – Até 2014, a melhoria do padrão de vida de milhões de brasileiros permitiu que muitos ascendessem à baixa classe média, comprovando que sem crescimento da economia que gera emprego e salários melhores, é impossível garantir a ascensão social. A perversa e cruel realidade foi responsabilidade de um governo que acreditava que os recursos públicos são infinitos, não aceitando disciplina e responsabilidade na administração do dinheiro público.
6 – Os parlamentares brasileiros deveriam meditar sobre essa realidade, empenhando-se na aprovação das reformas sem as quais a crise econômica se agravará. O economista Mansueto Almeida, do Ministério da Fazenda sintetizou:
– “Se o Congresso não quiser aprovar a PEC contra o crescimento do gasto nem reforma da Previdência, não haverá ajuste fiscal.”
E sem ajuste fiscal, o governo terá de se financiar com juros crescentes, levando à explosão da dívida pública. Seria o descontrole da inflação e um tiro fatal na retomada do crescimento econômico.
O pais esta de olho no Congresso.


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OLIMPIADAS DE SANGUE


Rio de Janeiro – Fernando Martins, jornalista, diretor da ANJ (Associação Nacional de Jornais) no Rio, conhecia o Salgueiro de “Chão de Estrelas” de Orestes Barbosa e Silvio Caldas. Ia passando na boca do morro, um velho e um rapaz carregavam uma moça.
– O que é que ela tem?
– Está passando mal. Vamos levar para o hospital do INSS em Andaraí.
– Entrem aqui.
E tocou seu carro para o Andaraí.
Branca como uma nuvem, os olhos enormes saltando das pálpebras roxas, a moça tossia desesperada. O rapaz apertava a cabeça dela contra o peito e pedia baixinho:
– Calma, Gracinha, calma.
E a moça tossindo, tossindo, toda branca, como uma nuvem engasgada.
Trânsito ruim, Fernando furava o sinal, dava contramão, guardas apitando, anotando. Ligou o rádio para distrair a moça. Elisete Cardoso cantava “Chão de Estrelas”:
– “Minha vida era um palco iluminado / Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões.”
E a moça tossindo, sufocada.
E Elisete cantando:
– “Cheio dos guizos falsos da alegria /
Andei cantando minha fantasia / Entre as palmas febris dos corações.”.
A moça deu um gemido fundo, grunhiu forte.
Fernando sentiu as costas úmidas. Era a hemoptise. A mancha vermelha cresceu no ombro, escorria pelos braços. E Elisete cantando:
– “Nossas roupas comuns dependuradas / Na corda qual bandeiras agitadas/ Pareciam um estranho festival./ Festa dos nossos trapos coloridos/ a mostrar que nos morros mal vestidos / é sempre feriado nacional.”
O rapaz, desesperado, o rosto lavado de sangue que saia do peito dela, gritava:
– Gracinha, aguente, pare de tossir. Doutor, desculpe, estamos sujando tudo.
E as golfadas esguichando, ensopando o tapete do carro. E Elisete cantando:
– “A porta do barraco era sem trinco / e a lua furando nosso zinco / salpicava de estrelas nosso chão. / Tu, tu pisavas nos astros distraída / sem saber que a ventura desta vida / é a cabrocha, o luar e o violão.”
A moça pendeu a cabeça no colo do rapaz, parou de tossir. Houve um longo silêncio de segundos. O rapaz sacudiu o rosto da moça;
– Gracinha, abra os olhos. Você não pode morrer, meu amor. Cabo (Cabo era o velho), será que ela morreu, Cabo?
O velho apenas bateu com a cabeça. E passou os dez dedos calosos na testa da filha. O rapaz ficou soluçando baixinho, contido, beijando as pálpebras roxas. Tinha nos olhos o espanto dos loucos. E Elisete cantando:
– “Meu barraco no Morro do Salgueiro / Tinha o cantar alegre de um viveiro. /Foste a sonoridade que acabou./ E hoje, quando do sol a claridade / Forra meu barracão sinto saudade / Da mulher, pomba-rola que voou.”
Fernando estava na porta do hospital do INSS, em Andaraí. A moça tinha recebido alta algum tempo antes naquele mesmo hospital. Voltava morta. 21 anos, uma filha de dois meses. Comida pela tuberculose, a doença da fome.
O velho e o rapaz entraram com a moça morta. O rapaz saiu logo, o mesmo olhar de espanto dos loucos:
– Doutor, o senhor vai voltar para a cidade? Podia me deixar no serviço? Preciso avisar a meu chefe para ele não cortar meu ponto.
O rapaz era lixeiro do Departamento de Limpeza Urbana, Distrito do Salgueiro. Fernando o deixou lá, no pé do morro. Elisete já não cantava “Chão de Estrelas”.
RIO
Acabaram as Olimpíadas. O Rio deu magnífica demonstração da unidade e capacidade de realização de seu povo. Agora é hora de nos mobilizarmos, nos unirmos todos e juntarmos toda essa energia para realizar as Olimpíadas da Pobreza, da Saúde, da Educação, da Segurança, da Moradia, do Saneamento. Da vida do povo.



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HISTORIAS DE FIDEL


Rio de Janeiro - No segundo semestre de 1957, 59 anos atrás, realizou-se em Moscou o Festival Mundial da Juventude. Milhares de jovens do mundo inteiro. Os brasileiros e latinoamericanos ficamos no hotel Zariá, ao lado da Universidade da Amizade dos Povos, que em 61 tornou-se a Universidade Patrice Lumumba, homenagem ao líder assassinado da independência do Congo Belga, depois Republica Democrática do Congo. Durante o ano, lá moravam estudantes russos.Homens em um hotel,mulheres em outro.

Os apartamentos eram por ordem alfabética. A Argentina antes do Brasil e a Colombia depois. Estava lá, estudando cinema, um rapaz simpático da Colômbia, já com 30 anos, exilado de seu pais e jornalista em Paris, Gabriel Garcia Marquez, o Gabo.

No desfile de abertura, magnífico e emocionante, um mundo de bandeiras de todos os países e povos, com imensas flâmulas suspensas nos muros do Kremlin saudando a Paz – “Mir e Drusba” – (Paz e Amor) – na incomparável e iluminada Praça Vermelha, diante do Kremlin e do tumulo de Lênin, deu bem para ver que os russos já andavam rusgando com os chineses, que passaram silenciosos e pouco aplaudidos. Já os cubanos, uma pequena delegação, foram recebidos delirantemente como heróis.

Na frente deles, mais alto do que os outros, barba rala e boné verde, Fidel Castro. E Che Guevara, Camilo Cienfuegos e seus companheiros. Já lutavam nas montanhas da Sierra Maestra, apesar de os russos ainda não acreditarem na possibilidade de vitoria deles, diante do exercito do ditador cubano Batista e tão perto dos Estados Unidos.

Terminado o festival voltaram para Sierra Maestra.Em 59 venceram.

CHE

Em 1952. Gaia Gomes era diretor artístico da Rádio América de São Paulo. David Raw trabalhava com ele. Uma tarde, entrou lá um rapaz de cabelos negros, olhos grandes, esbugalhados, bigode ralo e barbicha fina. Argentino, trazia para Gaia uma carta de apresentação de Alberto Castilho, médico e cantor de tango em Buenos Aires. Não queria emprego. Também era médico, mas estava precisando de uma passagem para a Guatemala, onde pretendia ajudar o governo revolucionário de Jacobo Arbenz.

Gaia e David fizeram uma “vaquinha” na rádio e compraram a passagem. Nos dias que passou em São Paulo, o rapaz de bigode ralo conheceu o deputado Coutinho Cavalcanti, paulista de Rio Preto, autor do segundo projeto de Reforma Agrária apresentado no Congresso Nacional (o primeiro foi o do baiano Nestor Duarte).

Com a passagem e o projeto, o rapaz de barbicha fina embarcou para a Guatemala. Lá acabou trabalhando no Instituto Nacional de Reforma Agrária e aplicando as ideias do deputado Coutinho. Em 1954, um golpe militar, montado nos Estados Unidos e dirigido pelo coronel Castillo Armas, derrubou o governo de Arbenz. O rapaz de cabelos negros fugiu para o México. Em 1958, ele apareceu em Cuba, na Sierra Maestra, ao lado de Fidel Castro e Camillo Cienfuegos. Derrubado o ditador Batista, o rapaz de olhos grandes, esbugalhados, implantou a reforma agrária em Cuba, baseado no projeto do deputado Coutinho, paulista de Rio Preto.

O rapaz chamava-se Ernesto “Che” Guevara.

ADEMAR

Em 1960, Fidel Castro esteve no Rio. O embaixador Vasco Leitão da Cunha lhe ofereceu um banquete. Estava lá todo o society carioca, deslumbrado com o charuto enorme e a engomada farda de Fidel. De repente, aproxima-se dele um homem gordo e vermelho:

– Senhor primeiro ministro, só não lhe perdoo os fuzilamentos.

– Pois posso assegurar que só fuzilei ladrões dos dinheiros públicos.

O homem gordo e vermelho ficou ainda mais vermelho. Era Ademar.

FORMOSA CUBANA

Rômulo Pais, patrimônio de Minas, o maior compositor popular do Estado (Ataulfo, Ari Barroso, tantos outros nasceram lá, mas são cariocas), venceu carnavais sem conta, fez obras-primas, como:

-“Foi pra Santa Tereza que aquela beleza o bonde pegou”.

Em 1961, fez uma música de muito sucesso: “Formosa Cubana”:

– “Vamos todos cantar, cuba-libre tomar. Foi hasteada a bandeira no mastro, vitória do barbudo Fidel Castro. Vem, Lolita – formosa cubana, vem, vem pra festa e deixa a Sierra Maestra”.

Em 1964, no dia 1º de abril, Belo Horizonte incendiada pelo fogaréu de Magalhães Pinto, Rômulo entrou no bar Pólo Norte, matriz da boemia mineira. Gervásio Horta, outro grande compositor popular (alma secreta de Valdick Soriano, autor de muitos dos sucessos do padroeiro da cafonália), começa a cantar a “Formosa Cubana”. Rômulo volta rápido:

– Rômulo, esta beleza de marcha não é sua?

– Nada disso. Não tenho nada com a letra nem com a musica.

Gervásio continua cantando. Rômulo faz um apelo desesperado:

– Não canta, Gervásio. Esta cubana, desde ontem, ficou muito feia.

‘E saiu assoviando: “Foi pra Santa Teresa…”.

O DITADOR

Fidel Castro fez 90 anos esta semana (13 de agosto). É um herói do
século. Mas é um ditador.




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AS MÃOS DE PILATOS


Pontius Pilatus ganhou de Tiberius, imperador de Roma, o governo da Judeia e da Samaria, quando exilou Arquelau, filho de Herodes o Grande, e irmão de Herodes Antipas, o antipático, que deu a Salomé o pescoço de João Batista.
Philo J1udaeus e Josephus, historiadores judeus, contemporâneos dele, disseram que era “ríspido” e “intratável”. Mas não queria matar Jesus. Quando aquele homem de olhos mansos, todo ensanguentado, chegou preso ao palácio, trazendo na cabeça a coroa sarcástica ”Jesus Nazarenus Rex Judeorum”-, Pilatos lhe perguntou quem ele era.
– “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.
O caminho, Pilatos sabia o que era. A vida, também. Mas a verdade, não. O evangelista João (18,38) conta que Pilatos outra vez lhe perguntou:
– “O que é a verdade”?
Jesus não respondeu. E foi levado para morrer. Monges medievais diziam que Jesus não respondeu porque a resposta já estava na pergunta. A pergunta, em latim, era:
– “Quid est veritas”? (O que é a verdade?)
Com as 14 letras da pergunta se escreve a resposta:
– “Est vir qui adest”. (É o homem que está aqui).
A verdade é que nem a própria Verdade disse o que é a verdade. E, até o fim dos tempos, jamais alguém saberá.
Toda a tragédia, e todo o ridículo, do homem é que passam os séculos sobre os séculos e nunca ele saberá o que é a verdade. A vida, afinal, é a bela e fugaz busca de Pilatos, querendo em vão saber o que é a verdade. E ninguém saberá, porque ela é muitas.
Por isso Pilatos lavou as mãos e foi dormir.
A VERDADE
Desde o começo dos tempos, o grande conflito das civilizações sempre foi a tentativa de uns imporem aos outros sua verdade. Como ela nunca está com uns nem com outros, porque jamais existiu uma só verdade, a coação ideológica é a grande desgraça dos povos.
Todos os sistemas religiosos, filosóficos, políticos, acabaram se esvaindo pela impossibilidade de se implantarem absolutos. Um dia, o homem sacode a cangalha e pula livre para o campo.
O mais humano e generoso movimento político dos dois últimos séculos foi o socialismo. E acabou se degenerando na brutalidade hegemônica do nazismo, do fascismo, do comunismo.
Da mesma forma que a direita sempre tentou e continua tentando impor seu pensamento único, chame-se colonialismo, imperialismo, neoliberalismo, globalização, também a esquerda imaginou e imagina possível encarneirar a humanidade em um curral ideológico único, universal, inexorável.
E um dia, infelizmente a tão duro custo, a humanidade acaba descobrindo que tudo não passou de fantasia ou pesadelo.
Tudo isso, por tão óbvio, é banal e fácil de dizer. Difícil é enfrentar o dragão radical, solto no poder, na sociedade, no trabalho, na vida. A coragem de dizer não, como Ortega y Gasset:
– “Ser da esquerda, como ser da direita, é uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser imbecil: ambas são formas de hemiplegia moral”.
Intelectual é sinônimo de liberdade, de independência. E o primeiro dever de quem fala, escreve, participa da vida coletiva, é a coragem de ser livre. Para dizer o que pensa porque sabe o que diz.
Seguir a caravana, entrar na correnteza, deixar-se levar pela onda, é cômodo mas medíocre. E inútil.
Perguntem a Pilatos, que por isso lavou as mãos e foi dormir.
TERRORISMO
O mundo foi abalado mais uma vez pela besta satânica do terrorismo. E logo, outra vez, exatamente na França, o mais democrático dos países. Parece uma maldição e é. Logo em um balneário da França, Nice, cidade de repouso e férias, em pleno e ensolarado verão.
Um caminhão, um terrorista dirigindo o caminhão em zigue-zague, na hora em que milhares de pessoas olhavam o céu vendo a explosão de fogos comemorativos do “14 de Julho”, a maior festa nacional , e 84 pessoas atropeladas e mortas e centenas de feridos na fileira da morte.
Um só matando 84 e ferindo centenas. Alguém dirá que o terrorista era um louco. Mas uma sociedade que produz esse tipo de loucura também é uma sociedade enlouquecida. Como Pilatos, ela deve lavar as mãos e ir dormir, imaginando que não tem nada a ver com a loucura coletiva.
Os filhos de Pilatos estão pagando o preço de suas mãos lavadas.
TURQUIA
Desgraça nunca vem só. Depois da tragédia terrorista da França, militares da Turquia tentam golpe de Estado, bombardeiam o parlamento, cercam o presidente no palácio e ameaçam massacrar a população que honra sua bela historia e vai para as ruas defender a democracia.
Mãe da Grécia e avó de Roma, a Turquia não merece isso. Não há desculpa. Golpe militar com as armas da nação é canalhice.


***



UM GENIO CHAMADO GLAUBER


Na boate do Hotel da Bahia, onde morava, em Salvador, em 1963, numa noite de sexta-feira, depois do jantar, eu ouvia o Blecaute, o negro cantor de voz calorosa, com suas canções americanas, acompanhado de uma jovem alta, esguia e bela, gaucha e também negra, bem negra, com olhos de amêndoa. Depois de cantar, veio sentar-se à minha mesa.
Era a Leila. Entrou Glauber Rocha, agitado e falando atropeladamente no filme que ia fazer, “Barravento”. Apresentei-lhe a Leila. Ainda de pé, Glauber olhou longamente para ela, chegou bem perto do rosto e gritou alto:
– Sophia Loren em negativo!
Sentou-se. A Leila ficou surpresa, assustada. Ele continuou:
– Você nunca fez cinema? Nunca a chamaram para filmar?
– Não. Sou de Porto Alegre. Eu só canto.
– Você vai fazer um teste de fotos e de fago.
Ela ficou parada, ansiosa. Falei-lhe mais do Glauber, de sua liderança em um grupo de jovens intelectuais baianos, ela sorriu aliviada:
– Claro que aceito. Sempre sonhei com isso. Quando será?
– Amanhã. Mas antes temos que resolver um problema. Seu nome. Leila é bonito, mas não é nome de atriz. Tem que ser outro.
E ficou pensando. Entrei na conversa:
– Que tal Luiza?
– Ótimo, disse Glauber. É simples e forte. Mas tem que ser duplo.
Levantou-se, foi até o bar, pediu uma água, voltou:
– Já tenho o nome: Luiza Maranhão.
Tímida, a gaucha Leila, a nova Luiza, respirou fundo:
– Também gostei muito. E você, Nery?
– Ótimo. Para manchete de jornal e capa de revista é perfeito.
E nasceu ali a deslumbrante e queridíssima atriz Luiza Maranhão. Marcamos encontro para as fotos no dia seguinte, na redação do “Jornal da Bahia”, onde Glauber era editor de Policia e eu colunista. Ela só voltou a Porto Alegre depois de filmar “Barravento”, primeiro longa de Glauber. Depois Glauber fez o clássico “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Terra em Transe” e outros. Ele era isso: um “vulcão cultural”, como o chamou em magnífico livro o João Carlos Teixeira Gomes, o primoroso poeta Joca.
A revista francesa “Cahiers du Cinema”, a bíblia dos cinéfilos, elogiou esta semana o filme “Cinema Novo”, que recebeu a “Palma de Ouro” de documentário no Festival de Cannes, na França. O documentário é de Eryk Rocha, filho de Glauber Rocha (1939-1981). A revista diz assim:
– “O Cinema Novo é o cinema do futuro: Eryk Rocha restitui a força criativa, a energia incandescente, o desejo e a paixão de um movimento que nunca deixou de ser contemporâneo”.
Como dizia Otavio Mangabeira, “baiano bom é o que brilha lá fora”.
CPC-UNE
Eram mil coisas ao mesmo tempo, naqueles tumultuados dias do governo João Goulart. Impulsionado pelo meu “Jornal da Semana”, tinha acabado de me eleger deputado. O candidato do PCB (Partido Comunista) a deputado estadual, meu amigo Aristeu Nogueira, não se elegeu. Ficou como primeiro suplente do Partido Socialista.
O PCB queria criar na Bahia o CPC (Centro Popular de Cultura) da UNE (União Nacional dos Estudantes) e não tinham recursos. Fui a Brasília. O perene e incansável Waldir Pires, então Consultor Geral da Republica, me encaminhou ao MEC (ministro da Educação e Cultura Julio Sambaqui). O dinheiro só poderia ir através da Inspetoria Seccional do MEC em Salvador. Era um grande baiano, ex-prefeito de Mutuípe, Julival Rebouças. Para cuidar da verba, um funcionário federal, Noenio Spinola, depois consagrado jornalista, diretor de redação do “Jornal do Brasil”..
E foi assim que, também com a lucidez e o estimulo do grande reitor da Universidade Federal da Bahia, o professor Edgard Santos, começaram a nascer esses maravilhosos tsunamis culturais baianos que foram o “Cinema Novo” e a nova “Musica Baiana”. Instalado no sub-solo da Faculdade de Direito, ali na Piedade, o CPC trouxe Gilberto Gil de São Paulo, Tom Zé de Irará, Caetano e Maria Betânia de Santo Amaro e outros de outros lugares e setores, como as artes plásticas, a musica clássica, o teatro, escritores como João Ubaldo Ribeiro, Flavio Costa, Paulo Gil Soares. Outros, como o pioneiro Gilberto Gil, já ensinavam.
Hoje, estão ai ridículos e desinformados, faturadores da Lei Rouannet combatendo a união da Educação com a Cultura, como se a principal revolução cultural brasileira deste século não tivesse nascido exatamente da junção da Educação com a Cultura no CPC do PCB. Perguntem a Ferreira Gullar, Arnaldo Jabor (Paulo Pontes e Vianinha não respondem mais).


VI A MORTE NA TARDE AZUL

Treze horas na sala Vip do Aeroporto de Brasília. A “Frente de Redemocratização” se preparava para o voo da Vasp para Goiânia, onde fariam um comício. Sentados nas macias poltronas negras, Magalhães Pinto e dona Berenice, deputados Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, senadores Teotônio Vilela, Mauro Benevides e Evandro Cunha Lima, deputado do Rafael Almeida Magalhães, jornalistas Sílvia Fonseca, de O Globo, Marcondes Sampaio, Nélson Penteado e eu, da Folha.
O general Euler Bentes e os senadores Roberto Saturnino e Marcos Freire haviam vindo ao Rio e seguido de automóvel com o jornalista Pompeu de Souza. Chega uma jovem da Vasp e avisa que o voo ia atrasar porque o avião estava em conserto, na pista..Quando anunciaram o voo, pela porta víamos na pista mecânicos deitados embaixo do avião, puxando carrinhos e consertando coisas. Fomos.Exatamente às 16:00, o avião rolou na pista, foi até o fim, decolou, mas em visível dificuldade.
Começou a voar baixo, muito baixo, sobre o planalto verde. A asa direita bastante inclinada, os motores trêmulos, entrou em longa curva e a arquitetura branca de Brasília ali cada vez mais perto. Voou alguns minutos e, de repente, a aeromoça, com voz tensa, informa:
– Senhores passageiros, vamos voltar para o Aeroporto de Brasília, em emergência. Fiquem tranquilos, vai dar tudo certo, é uma pane no sistema hidráulico. Façam o obséquio de tirar canetas, objetos, folgar as gravatas, tirar os relógios, anéis, alianças e curvar o corpo sobre os joelhos.
A PANE
E a aeromoça morena, muito calma, e duas bem alvas, nem tão calmas, passaram a distribuir travesseiros e cobertores para o apoio do rosto, e pegar embrulhos, objetos e levar lá para o fundo. Um passageiro, atrás do deputado Tancredo Neves, chama a aeromoça baixinho:
– Não estou entendendo porque tirar tudo.
– Meu senhor, há uma pane no sistema hidráulico. Se, ao tocar o chão, o avião virar, haverá incêndio e é preciso sair rápido.
Olhei o relógio, 16:22. Tive consciência da gravidade e me preparei para ver o máximo de detalhes. À minha frente, a Sílvia tira a aliança. Põe novamente no dedo e diz a Marcondes, que era uma pedra de tranquilidade:
– Não vou tirar a aliança não. Sei que vou morrer e só poderei ser reconhecida por ela. Não quero meu marido chorando em cova errada.
Imediatamente peguei meu relógio, que havia posto no bolso, e pus novamente no pulso. Também queria ser reconhecido. Atrás de mim, Magalhães Pinto segura forte a mão de dona Berenice que, de olhos fechados, reza profundamente. Ulysses e Tancredo, impassíveis, olham em frente sem piscar o olho. Teotônio aperta ao máximo o cinto e Rafael folga a gravata e curva o corpo sobre os joelhos. Mauro Benevides olha pela janela em silêncio. Evandro Cunha Lima, vermelho. Lá na frente, uma mulher chora, mas chora baixo. A seu lado, uma cigana toda de roxo treme e reza lívida, os olhos molhados. Sílvia sorri:
– Meu Deus, olha uma cigana!
Sílvia volta o rosto sobre a cadeira:
– Nery, você está pálido.
– O que é que você queria? Que, com esse medo estivesse luminoso?
O MEDO
E ela ficou longamente olhando pela janela, serena, como os que sabem que vão morrer e se conformam.O avião vai descendo, passa baixo sobre um campo verde. Ao longe três grandes carros vermelhos dos Bombeiros, uma ambulância e dois carros azuis da Aeronáutica. Fico olhando o azul muito azul da tarde linda, nuvens brancas esgarçadas lá longe no horizonte interminável do planalto, uma novilha esgalga andando mansa no pasto e o avião trêmulo mas tranquilo, descendo empenado.
Amarrei o medo dentro de mim como um louco incontrolável, e por segundos mergulhei infinitamente nos braços da morte. Uma procissão de amor passou em relâmpago: meus pais, filhos, a infância, meu amor azul, Santo Afonso Maria de Liguori nas “Meditações sobre a Morte”, de manhã, no Seminário da Bahia:“É preciso conquistar a intimidade da morte”.
O avião avançava sobre a pista e entre faíscas se arrastou até o fim.
O medo voltou frio, e o “Domingo Azul do mar”, de Paulo Mendes Campos, entrou olhos a dentro, na estupidez de morrer na tarde azul.
 O CATA MILHO
Não seria um ministério. Seria um cata-milho. De tal maneira o PT abastardou a vida publica nacional que agora queriam o MINC (Ministério da Cultura) reduzido a um lupanar de picaretas arrancando verbas em troca de votos . Iludem-se imaginando que o pais não vê.
Os verdadeiros criadores culturais continuarão nos palcos com suas peças, seus filmes, seus espetáculos, seus livros, suas artes, honrando a cultura e a vida da Nação. Pouco importam os impostores. A historia sempre caminhou para a frente e a máfia cultural vai ficando atrás.
O que conta são os o que contam. O que contou foi Gustavo Capanema, Anísio Teixeira, José Aparecido, Celso Furtado, Antonio Houaiss, Luis Roberto Nascimento Silva, Francisco Weffort.



A FALTA QUE FAZEM

JK, Israel Pinheiro, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Foto: Arquivo Nacional
Um dia, quando sobre nossos dias ainda mais se dobrarem as páginas do tempo e a crua crônica daquele nosso tempo for totalmente escrita, muito se há de dizer daqueles homens que construíram aqueles tempos. Volto a Brasília anos depois e, como dizia o poeta, “em cada canto uma saudade”. Não há colinas como em Roma mas colunas como no Alvorada. Penso em Juscelino, Lucio Costa, Niemeyer. Mas também em Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Burle Max.
O tempo não volta. O tempo rola. Não há por que querer o passado agarrado nas nossas pernas. Entro no Congresso e não podia mesmo ser o mesmo. O pais muda, o voto muda, os lideres mudam. Mas também não precisa aquele deprimente espetáculo de baixo nível mental na votação do Impeachment, chamando a vovozinha, a mãezinha, o filhinho, o netinho.
A Nação não precisava esperar votos da altitude intelectual de Otavio Mangabeira e Carlos Lacerda, de Vieira de Melo e Ulysses Guimarães. O voto de hoje é assim porque os lideres de hoje não são mais Tancredo Neves, Leonel Brizola, Franco Montoro, Miguel Arraes, Orestes Quércia, Pedroso Horta, Petrônio Portela. José Aparecido, Teotônio Vilela.
Não culpemos o povo. O povo vota em quem conhece. Um dia as escolas formarão eleitores que votarão melhor. Sem choro nem vela.
Saímos do “Mensalão” para o “Petrolão”, a caminho do “Fundão”. O novo escândalo está vindo ai. A poupança voluntária, administrada pelos fundos de pensão, é instrumento do desenvolvimento. A poupança interna brasileira tem, na riqueza gerada dos seus assalariados de classe média e trabalhadores, poderoso instrumento na maximização da prosperidade em algumas das maiores empresas e empreendimentos na economia brasileira. O fator segurança nesses investimentos decorre da visão de longo prazo para o seu fluxo de caixa em um universo temporal de 35 a 50 anos. O gestor deve ter disponibilidade de recursos para atender as necessidades decorrentes dos pagamentos dos aposentados e pensionistas.
Existem no Brasil 278 fundos de pensão públicos e privados. Os dez maiores são vinculados a empresas estatais e representam 53% do total do patrimônio e real capacidade de investimento. O grande patrimônio formado pela poupança voluntária de milhões de trabalhadores não pode ser administrado ignorando os critérios de competência técnica. Com a chegada do PT ao poder e o ativismo sindical originário do Sindicato dos Bancários de São Paulo, a competência técnica foi substituída pelos sindicalistas-gestores. Transformaram-se em instrumento de governo, patrocinando investimentos nada ortodoxos, arrombando a Previdência Complementar. O grande teórico do modelo foi o falecido sindicalista Luiz Gushiken, ex-deputado federal e ex-presidente do sindicato paulista ao ser nomeado chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. O sindicalista Berzoini ocuparia o Ministério da Previdência, enquanto João Vaccari assumia a presidência do Sindicato em São Paulo.
FUNDÃO
O aparelhamento nominal dos Fundos se daria com a ida dos sindicalistas Sérgio Rosa para a direção da Previ, do Banco do Brasil; Wagner Pinheiro para a Petros, da Petrobrás; e Guilherme Lacerda para o Funcef, da Caixa Econômica. A ocupação dos fundos de outras estatais seguiria a mesma filosofia. Todos vinculados â CUT (Central Única dos Trabalhadores). Agora, em 2015, a conta do aparelhamento se expressa nos prejuízos causados pelas operações temerárias e perdas de bilhões de reais, provocados por incompetência generalizada. No ano passado, o acumulo de déficits, destacadamente na Previ, Petros e Funcef atingiu R$ 77,8 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Previdência Privada, confirmado pela Superintendência de Previdência Complementar (Previc) considerada o grande xerife do setor. Nos outros fundos de pensão o cenário não é diferente, afetando o futuro de mais de 500 mil aposentados e pensionistas.
POSTALIS
O mais dramático e chocante ocorreu no Fundo Postalis, dos Correios, que afetará a vida de 100 mil trabalhadores da ativa e aposentados. O déficit de R$ 5,6 bilhões será arcado por 71mil trabalhadores da ativa e por 30 mil aposentados. De maneira injusta e cruel, por um período de 23 anos, a partir de maio, pagarão em 279 meses, até o ano de 2039, um déficit milionário gerado por corrupção e administração temerária. Terão descontos do salário de 17,92%, mensalmente, desfalcando o orçamento de dezenas de famílias. A medida injusta foi aprovada pelo Conselho de Administração dos Correios. A dilapidação patrimonial do Fundo será paga pelos próprios funcionários.

GOLPE FOI ISSO


O Centro Edgard Leuenroth, da Universidade Estadual de Campinas, onde toda a documentação do Ibope está arquivada desde sua fundação, tem depositada uma documentação do Ibope provando que nas vésperas do golpe militar de 31 de março de 1964 a popularidade do presidente João Goulart era de 74%.O levantamento foi feito entre os dias 9 e 26 de março de 1964, incluindo oito capitais brasileiras, atestando que Goulart tinha 74% de apoio dos brasileiros.
(Em tempo: Dilma Rousseff tem hoje também 70%, mas de impopularidade. Exatamente o contrario). No Estado de São Paulo, principal base de combate ao seu governo, 69% dos paulistanos apoiavam Goulart, com a seguinte distribuição: 15% consideravam a administração “ótima”; 30% “boa” e 24% “regular”; e 16% entendiam ser um governo “péssimo”.
Durante 35 anos a Pesquisa Ibope, contratada pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo, permaneceu sigilosa, proibida pelos militares de ser divulgada. A pesquisa atestava também que 59% dos brasileiros apoiavam as “reformas de base”, seu programa de governo..
Neste ano de 2016, Lula e Dilma Rousseff buscaram traçar paralelo entre a situação atual e a crise que levou ao “Golpe de 64” . É um delírio dos ignorantes da história. A substituição de uma presidente da República pelo impeachment/, obedecendo a todo o rito constitucional, é um ato democrático amparado pela Constituição. Acreditar que a ação golpista contra Goulart tinha na “impopularidade” o seu fundamento é de uma falsidade gritante. Ao contrário, o ‘pecado’ de Jango foi exatamente a popularidade de seu governo, determinante para a sua deposição.
Certos de que Juscelino Kubitschek ganharia as eleições do ano seguinte (1965), comandantes militares brasileiros e americanos, dominados pelos interesses dos Estados Unidos, juntaram-se à UDN de Carlos Lacerda e outros e deram o golpe sem nenhuma reação. Ao contrario do que dizia a UDN, o povo não tinha armas. E Jango não quis jogar o pais numa guerra civil e entre militares brasileiros.
CELSO FURTADO
A defesa dos interesses nacionais e não a corrupção, em tempos de radicalização da “Guerra Fria”, foi testemunhada e demonstrada por Celso Furtado na obra autobiográfica “A Fantasia Desfeita” (II tomo, página 253), onde relata episódio insólito. Celso era ministro do Planejamento. Tramitava no Congresso Nacional, por iniciativa parlamentar, um projeto de reforma bancária. O ministro da Fazenda San Tiago Dantas recebeu ultimato do banqueiro americano David Rockefeller:
– “Ou vocês tiram de imediato esse projeto de lei ou mando cortar todas as linhas de crédito que hoje beneficiam o Brasil”.
E continua Celso Furtado:
– “San Tiago dava a impressão de estar arrasado. Mas longe de esmorecer continuava a empenhar-se para criar um clima de compreensão nos círculos de negócios dos Estados Unidos. Se fracassasse na tentativa, as incertezas cresceriam com respeito ao processo político brasileiro.”
E foi o que aconteceu em 1964: tanques na rua e nós na cadeia.
Isso sim é que é golpe.
DILMA
Domingo foi diferente: foi um dia de desfile democrático diante das televisões. Um a um, os 513 deputados foram chamados para darem seus votos, livremente, abertamente, sem coações partidárias. Salvo um ou outro caso de partidos que fecharam questão, a imensa maioria votou como quis, anunciando de viva voz e justificando os votos em pequenos discursos.
Os números finais atestam o flagrante isolamento do governo, que só conseguiu 137 votos enquanto a oposição fez 367. Mais de um terço.
LAVA VOTO
A Operação Lava Jato e o juiz Sergio Moro, alem de tudo que a Nação já lhes deve, ficaram credores de mais uma: caiu significativamente o nível de corrupção nas negociações espúrias de compra e venda de votos nos três palácios: Alvorada, Planalto e GoldenTulip.
Deputados que entravam lá imaginando saírem com nomeações, empregos e até “presentes” em dinheiro eram advertidos logo ao chegarem de que ali não se falava em troca-troca, cambalacho, dinheiro fácil. Era preciso ficar de olho na Lava Jato. Se alguém fosse flagrado numa operação de Delação Premiada seria um escândalo sem conserto.
Imaginem se o santo vigário da Paróquia de Brasília, que ajudava Gim Argello a limpar o dinheiro sujo das propinas, fosse flagrado com R$ 350 milhões de “esmola”? Desde que Jesus Cristo fundou a sua igreja há 2 mil anos jamais se viu uma “esmola” tão generosa.
DESPACHO
A preocupação do PT no final da noite de sábado era “onde a Dilma vai despachar” nos próximos meses antes de o processo chegar ao final. Isso não é mais problema. Ela já foi “despachada” pela Câmara Federal.



O SUPREMO TELEFONE

Henrique Teixeira Lott e outros por ocasião da posse de Nereu Ramos na presidência da República, 11 nov. 1955. Nereu Ramos (ao centro, assinando um livro); Henrique Teixeira Lott (à sua direita, segurando o óculos); Mascarenhas de Moraes (à direita de Lott, de óculos); Georgino Avelino (à esquerda de Nereu Ramos, de gravata borboleta). CPDOC/FGV/Arquivo.
No dia 11 de novembro de 1955, internado Café Filho, Presidente da República, com problemas cardíacos, o presidente da Câmara, Carlos Luz, que estava exercendo a Presidência da Republica, tentou demitir o general Lott do Ministério da Guerra, para impedir a posse de Juscelino e João Goulart, que haviam ganho as eleições de 3 de outubro.
Mas não conseguiu. A Câmara reuniu-se, derrubou Carlos Luz e pôs Nereu Ramos, presidente do Senado, lá no Catete.
Antonio Balbino, governador da Bahia, amigo de Nereu, veio para o Rio visitá-lo. Nereu acabava de receber uma carta de Café Filho, comunicando-lhe que ia reassumir a Presidência. Mas o General Denis, comandante do I Exército, já havia mandado cercar a casa de Café para ele não sair de lá.
Quando Balbino chegou ao Catete, o General Lima Bryner, Chefe da Casa Militar de Nereu e muito amigo de Balbino, pediu-lhe que convencesse Nereu a não devolver o governo a Café. Nereu foi claro:
– Só vou agir dentro da lei. O Café, através de Prado Kelly e Adauto Cardoso, entrou com mandado de segurança junto ao Supremo Tribunal. Se o STF conceder o mandado, entrego o governo a ele e volto para o Senado.
Lott soube da conversa, chamou Balbino:
– Vá conversar com o presidente do Supremo.
Balbino foi. O velhinho estava em casa, noite alta, já de pijama:
– Ministro, o país está vivendo um momento difícil. Compreenda. A casa do Café Filho está cercada pelo Exercito. O Catete está cercado. Nereu não vai poder passar o governo.
– Mas o mandado de segurança está em pauta para amanhã. Se o Tribunal conceder, o Café vai reassumir.
– Ministro, entenda. Enquanto se fecha o Legislativo, ainda se entende. Mas, e se o Judiciário for fechado? Para onde vamos?
O presidente do Supremo levantou-se, passou para o escritório, pegou um telefone negro, antigo, daqueles de gancho, e começou a ligar para os outros ministros, falando baixinho, cochichando, cochichando.
Da sala, Balbino só ouvia fiapos de conversas. No dia seguinte, o mandado de segurança não entrou em pauta. Café continuou em casa.
Nereu no Catete e JK assumiu no dia em que a Constituição mandava.
DIVIDA PUBLICA
1.-No final de 2015 a dívida bruta do governo brasileiro atingiu 66,2% do PIB (Produto Interno Bruto). Analistas de diferentes instituições financeiras projetaram que, no ritmo atual, ao final de 2018, poderá atingir 85% do PIB. Representaria quase toda a riqueza produzida pelo País para a sua liquidação. O economista Armínio Fraga considera que “o crescimento da dívida pública é galopante e põe em risco o trabalho de décadas”, agravada pela maior recessão econômica da história no período republicano
2.- Anteriormente, no biênio 1930-1931, com a Revolução de 30 e a quebra da Bolsa de Nova York, nosso PIB encolheu por dois anos. Agora a recessão foi de 4% em 2015, projeta 4% para 2016 e 1% para 2017.
Significa três anos de contração da economia brasileira.
  1. - Se os indicadores econômicos são negativos, os sociais são brutalizadores, de acordo com a pesquisa “Pnad Contínua” do IBGE que aponta o desemprego alcançando 13,5% em 2017, representando perda de emprego e renda para os trabalhadores.
JUROS
  1. No Brasil, a dívida pública é remunerada na taxa selic de 14,25% ao ano. Em 2015, significou o pagamento de juros acima de R$ 502 bilhões. No Japão, a taxa de juros é negativa de 0,05%, com títulos de dez anos do Tesouro japonês. A confiabilidade e a certeza de que o governo não vai mudar a política econômica são fator de segurança.
  2. - Nos EUA, os títulos da dívida pública são remunerados em 1,7% ao ano. Na Alemanha, a remuneração é de 1%. Na Itália, por volta de 1,5%. Os títulos da dívida pública desses países têm esse perfil de resgate decorrente do nível de confiabilidade nos seus governos. No caso do Japão, ao final de dez anos o investidor receberá valor menor do que o total do seu investimento. Resgatará menos do que aplicou.
AZEVEDOS
Vi na TV o rosto sereno do presidente (ex) da empreiteira mineira Andrade Gutierrez, Octavio Marques de Azevedo, que “propinou” as campanhas da Dilma Rousseff em 2010 e 2014, coagida pelo PT.
Nunca vi o empresário antes. Mas aquele rosto e aquele Azevedo não me enganam. Os Azevedo de Minas eu os conheço há mais de 60 anos. Em 1954, o jovem engenheiro Celso Melo de Azevedo, fundador e presidente da “Construtora Melo de Azevedo”, desafiou as velhas forças políticas de Minas (PSD, PTB, UDN), saiu candidato a prefeito de Belo Horizonte por uma aliança de pequenos partidos (PSB, PDC) com apoio das “esquerdas”, ganhou (eu me elegi vereador) e fez uma administração moderna, exemplar. Ao final do mandato, elegeu-se presidente da “Associação Brasileira dos Municípios”. O comandante de suas campanhas era o jovem jornalista José Aparecido de Oliveira.



A VINGANÇA DA FLORESTA

Gilberto Amado, deputado federal de Sergipe de 1915 a 1917 e de 1921 a 1926, senador de 1927 a 1930 , em 1934 queria ser governador. Já escritor famoso, honra e glória de sua gente, decidiu governá-la. A eleição era indireta, pela Assembleia, comandada pelo Catete. Foi a Getúlio:
– Presidente, quero ser governador de Sergipe.
– Por que, Gilberto?
– Porque quero. É a hora.
– Mas, Gilberto, você um homem tão grande, ser governador de um Estado tão pequeno?
– Quero dirigir minha tribo. Isto é fundamental para minha vida.
– Ora, Gilberto, conheço você muito bem. Esta não é a verdadeira razão. Não pode ser. Governar por governar, isso não existe para um homem de seu tamanho, da sua grandeza.
Gilberto Amado sentiu que era preciso apelar. Apelou:
– Pois o senhor quer que eu diga mesmo? Quero ser governador para roubar, roubar, roubar, do primeiro ao último dia. Roubar desesperadamente
Getúlio ficou perplexo, deu uma gargalhada. Gilberto já estava de pé, andando de um lado para o outro, as mãos para o alto,os olhos incendiados:
– Isto mesmo, Presidente. Roubar, roubar, roubar!
Gilberto Amado não ganhou Sergipe. Mas Getúlio ficou tão encantado que o nomeou embaixador no Chile e Roma até 1942,
depois representante permanente do Brasil na ONU. Tudo que ele queria.
MARINA
Quem conhece a Amazônia sabe que os deuses da floresta são implacáveis. Não se pisa em pescoço de preso. Mas o que o marqueteiro do PT, João Santana, e a Dilma fizeram nas eleições com a índia Marina Silva e o governador Eduardo Campos para “desconstruí-los” (no Houaiss, “destruí-los”) é quase o que o “Estado Islâmico” faz. É a maldade babante.
O olho de peixe do Santana e o chiclete da Monica são um retrato do cinismo levado ao extremo. Ele diz que não sabe quem depositou 7,5 milhões de dólares em sua conta. Ela, que cuida das contas, também não.
O que Lula, Dilma, Santana, Monica, sabem? Alô, Gilberto Amado!
LULA
Quando Lula teve sua bela vitoria em 2002, o país o elegeu vendo no PT uma estrela de novos tempos, uma mensagem de ética na vida publica.    Mas minha mãe adivinhou. Ela passeava com meu filho ao lado da Igreja de nossa querida cidade de Jaguaquara, na Bahia, e ele pintou o nome de Lula no longo muro branco. Depois ele pediu:
– Minha avó, vou fazer uma foto sua com o Lula.
No infinito de sua sabedoria, ela respondeu.
– Meu filho, estou com o nome mas não estou com o homem.
Como na ironia de Gilberto Amado, esta é a dolorosa decepção que o Brasil tem hoje: o PT, que parecia ter vindo para salvar, veio para roubar.
SUPREMO
1.- O jurista e professor Ives Gandra Martins publicou na “Folha de São Paulo” um artigo arrasador : “O Supremo Constituinte”. Denunciou: - “Subordinar a Casa do Povo (a Câmara) à Casa do Poder (o Senado) tornando-a uma Casa Legislativa de menor importância, como fez o Supremo Tribunal, é subverter por inteiro o Estado democrático de Direito, onde a Câmara, que tem 100% da representação popular, resta sujeita ao Senado, em que os eleitores escolhem um ou dois nomes pré-estabelecidos e que, indiscutivelmente, traz a marca de origem de ter sido a instituição que garantiu a escravidão americana por 80 nos”.
  1. - Absurdamente, a Câmara dos Deputados teve as suas prerrogativas constitucionais limitadas pelo ministro Luis Roberto Barroso, o “Barrosinho”, do STF. O Regimento interno, aprovado em 1989, foi adulterado pelo inacreditável parecer. E apoiado por 8 ministros enterrando o parecer jurídico do ministro Edson Fachin sobre o rito do impeachment.
  2. - Com indiscutível vocação pública, o advogado e constituinte Oswaldo Macedo alerta para o fato de o STF ignorar o artigo 86 da Constituição: “Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade”. O ministro Barroso, a um só tempo, ignorou a Constituição e o Regimento interno da Câmara dos Deputados, decretando que o rito do impeachment na escolha dos integrantes da Comissão Especial, ao invés do voto secreto dos parlamentares, deve ser indicação dos líderes partidários.
  3. - O barrento ministro delegou ao Senado a palavra final sobre o rito do impeachment, transformando a Câmara em órgão subsidiário do Senado, hierarquizando a Câmara em função subalterna, como no “pacote de Abril” de 1977, no governo Geisel, que criou os “senadores biônicos”.
Vai custar demais ao país a nomeação de cada ministro do STF.




CACHAÇA NÃO É ÁGUA


O PT não nasceu em São Bernardo, São Paulo. Nasceu em Criciúma, Santa Catarina. Eu vi. Em 1978, o prefeito Walmor de Luca, líder estudantil, deputado federal de 1974 no levante eleitoral do MDB, realizou um seminário trabalhista nacional com os políticos que se reorganizavam lutando pela anistia e destacadas lideranças sindicais.
Lula estava lá. E também Olívio Dutra, o bigodudo gaucho, bancário do Rio Grande do Sul, depois prefeito de Porto Alegre e governador gaucho, Jacó Bittar petroleiro de São Paulo e outros dirigentes sindicais do ABC paulista, Rio, Paraná, Santa Catarina, Minas, Bahia, Pernambuco.
Desde a primeira assembleia um assunto centralizou os debates: o movimento sindical devia ter partido político? As lideranças sindicais deviam entrar para partidos políticos já funcionando ou outros a nascerem?
Lula era totalmente contra. O argumento dele era que os sindicatos eram mais fortes do que os partidos políticos e a política descaracterizava o movimento sindical e desmobilizava os trabalhadores.
Discutimos dois dias. Estávamos lá um grupo de socialistas e trabalhistas (José Talarico, a brilhante advogada Rosa Cardoso, o exemplar João Vicente Goulart, eu, outros). Defendíamos a reorganização dos trabalhistas e socialistas em um só partido liderado pelo incansável Brizola, que saíra do exílio no Uruguai e articulava sua volta em Portugal.
Lula não queria partido nenhum. Mas houve tal pressão de líderes sindicais de outros Estados que Lula balançou. O argumento dele era que os sindicatos poderosos, como os de São Paulo, não precisavam de partidos. Mas, e os mais fracos, que eram mais de 90% no país? No último dia vimos Lula já quase mudando de posição. Afinal, em 10 de fevereiro de 1980, nascia o PT, marco da historia política brasileira.
Walmor de Luca devia ter ganho carteirinha de padrinho.
Lembro-me bem de que lá em Criciúma já rouco de falar Lula pediu:
– Me dá minha água.
Veio uma garrafinha de água bem branquinha. Aquela “minha água” me chamou a atenção. Joguei um gole no meu copo. Era cachaça e da boa.
Lula continua o mesmo. Sempre misturando cachaça com água.
LULA
Em tempos de Carnaval, a marchinha é inesquecível:
– “Você pensa que cachaça é água
Cachaça não é água não.
Cachaça vem do alambique
E água vem do ribeirão”.
Lula é um passarinho do céu, como aqueles da Bíblia, que não fiam nem tecem. A casa de São Bernardo não é dele mas é nela que ele mora. O sitio de Atibaia não é dele mas é nele que ele passa os fins de semana e pesca.O triplex de Guarujá não é de ninguém mas quem pôs o elevador lá foi ele, quem fez a churrasqueira lá foi ele, quem construiu as suítes lá foi ele, quem toma os porres lá é ele, quem paga… quem paga tudo… ah, quem paga tudo é a Madrinha Odebrecht, a Titia OAS, o Vovô Teixeira.
ADVOGADOS
Mais uma voz honrada da advocacia brasileira se levanta para protestar contra o esdrúxulo manifesto dos leguleios que, incapazes de defenderem seus clientes presos nos escândalos do Mensalão e Lava Jato, agridem o bravo juiz Sergio Moro, que vale mais do que todos eles juntos.
Em Curitiba, o mestre, advogado e escritor Antonio Carlos Ferreira publicou na “Gazeta do Povo” uma resposta acachapante aos fatureiros:
1.- “A argumentação claudicante do manifesto contra a Lava Jato divulgado dias atrás não tenta atingir somente a honra do magistrado Sérgio Moro, como também a dos tribunais que referendam e referendaram continuamente suas decisões fundamentais. Se algo houvesse de errado, certamente estas seriam reformadas. Os habeas corpus têm sido julgados no Supremo Tribunal e indeferidos.Não existe a mínima condição de se imputar atos inconstitucionais ao magistrado, que respeita a lei, a ordem e os direitos individuais de quem está preso ou em prisão domiciliar”.
  1. – “O manifesto ensejará um desastre à classe dos advogados perante a população farta de tanta corrupção, e o tiro sairá pela culatra. Os acusados são meros traidores da pátria, pois se locupletam com dinheiro público e não podem ficar impunes. Aqui não é o advogado que fala, mas o brasileiro farto de tantas mediocridades. Eles não representam a classe dos advogados, que são milhares a lutar pelo seu dia a dia e não são filiados a partidos políticos, ao contrário de muitos que firmaram o manifesto, isso quando não partilham de ideologias estranhas, ou então estão a justificar a condenação de seus clientes, pois muitos fazem parte da defesa de construtoras e construtores que se locupletaram”.
  2. “A argumentação do manifesto é falha, pois falta com a verdade. E, se todo juiz ou causídico é exegeta à força, como diz Carlos Maximiliano, o saber argumentar é que lhe dá expressão ao raciocínio”.



PETROLEO NÃO É DO PT

O presidente Getúlio Vargas, posando com a mão suja de petróleo durante o seu último mandato (1951-54) Arquivo - Agência Senado.
A campanha do “O Petróleo é Nosso”, pela criação da Petrobrás, estava no auge, em 1953, eletrizando todo o pais. Em Belo Horizonte, entidades estudantis, sindicais, de jornalistas e intelectuais preparamos um comício para a praça da estação e convidamos os parlamentares. A polícia proibiu, alegando que era comício dos comunistas. Nenhum deputado federal apareceu. A praça cheia, cercada pela policia.
Lá na frente, servindo de palanque, vazio, pusemos um caminhão sem as laterais e com um microfone. De repente, chega o deputado federal do PTB, querido professor licenciado da Faculdade de Direito e candidato a senador, Lucio Bittencourt, alto, magro, terno claro, bigodinho preto, e vai direto para o caminhão. Fomos juntos. Com ele, a polícia não teve coragem de barrar-nos. Alguns de nós falamos. Ele pegou o microfone e começou:
– Ontem, chegando a Minas, li nos jornais que a policia havia proibido este comício. Liguei para o governador Juscelino, ele me disse que eram ordens do Exercito, do Rio. Confesso que tive duvidas de vir. Mas, à noite, dormindo, ouvi o povo me dizendo:
– Vai, Lucio, vai! Vai!
E Lucio foi. Subiu no caminhão, deu um passo à frente e caiu embaixo do caminhão. Ainda tentei segurá-lo pela ponta do paletó, não adiantou. Nosso querido professor desabou. Acabou o comício.
LULA
No dia seguinte, no palácio, Juscelino dava gargalhadas:
– Eu bem disse a ele: – “Não vai, Lucio! Não vai!
Aquela queda ajudou Lucio Bittencourt, o “senador do petróleo”, a ter uma vitoria consagradora para senador em Minas, no ano seguinte.
Quando vejo o escárnio do PT gigoloteando a Petrobrás e destruindo-a, comendo por dentro como cupins, penso em tantos que, como Lucio Bittencourt 60 ano atrás, Eusébio Rocha, Rômulo Almeida,Gabriel Passos, Francisco Mangabeira , lutaram incansável e bravamente para que o petróleo fosse de fato nosso, do povo brasileiro e não de Lula e sua gangue.
Uma ação da Petrobras valer um “pixuleco” é uma afronta à historia.
LÚCIO
Dois anos depois, em 1955, já criada a Petrobrás e Getúlio morto, o Partido Comunista, embora ilegal, estava apoiando Juscelino e Jango para Presidente e vice, e Lucio Bittencourt, recém-eleito senador do PTB, para governador. Lucio disputava com Bias Fortes (PSD) e Bilac Pinto (UDN).
Fui destacado para ajudar a campanha de Lucio como jornalista. Haveria uma excursão ao Norte e Nordeste de Minas, ele me chamou:
– Vamos lá, você morou e foi professor em Pedra Azul, conhece bem o vale do Jequitinhonha, Araçuaí, aquela região toda.
Fiquei animado. Mas logo o “Jornal do Povo” me propôs acompanhar Juscelino ao Nordeste brasileiro. Entre o nordeste de Minas e o meu Nordeste, traí Lucio Bittencourt. Falei com ele, ele compreendeu, outro companheiro da Faculdade foi em meu lugar e fui com Juscelino.
Em Campina Grande, Juscelino estava no palanque com Rui Carneiro, Alcides Carneiro, Samuel Duarte, Abelardo Jurema, o PSD todo da Paraíba. Falava um deputado. Chega um “western” (telegrama especial da época) urgente da “Ultima Hora” informando que Lucio Bittencourt acabava de morrer em desastre de avião, em Minas, saindo de Araçuaí e quase chegando a Pedra Azul. Morreram o piloto, ele e meu substituto.
Gelei. Sentei em um canto do palanque e quase chorei. Alguém, um colega da Faculdade, morrera em meu lugar. Os assessores ficaram sem saber como dar-lhe a noticia. Nós jornalistas escolhemos Fernando Leite Mendes, o brilhante e gordo baiano da “Ultima Hora”, que Juscelino chamava de “Pero Vaz de Caminha” de sua campanha:
– Governador, uma noticia ruim, de Minas. Lucio Bittencourt morreu perto de Pedra Azul em desastre de avião.
Juscelino arregalou os olhos, fechou-os, baixou a cabeça, ficou alguns instantes em silencio, visivelmente chocado, como se estivesse rezando, e murmurou :
– Foi reza forte do Bias.
Pegou o microfone e fez comovente homenagem a Lucio Bittencourt.
DELCÍDIO
Se, pouco tempo atrás, a algum candidato de um “Enem” qualquer dessem esses nomes para dizer quem são, tiraria inapelavelmente “zero”:
Cerveró, Delcídio,Youssef, Fernando Baiano, Paulo Roberto Costa, Renato Duque, Bumlai. E no entanto são capitães de longo curso. E como navio não anda sozinho, alguém os trouxe para a gangue e a porta do xadrez.
Delcídio era um guapo engenheiro de Corumbá que apareceu lá pelas bandas do Pará e logo o governador Jader Barbalho, rapaz de raro faro, o fez diretor da Eletronorte e logo ele saltou para diretor da Eletrosul, em Santa Catarina. Especializou-se em gás, gasodutos, termo-elétricas e Bolivias. Cerveró, fiel escudeiro,virou senador de Dilma. Deu no que deu.



RÉQUIEM PARA PARIS

Em Paris, desde a primeira vez, em 1955, eu pensava em Gilberto Amado, sergipano de Estância e universal como todo gênio:
– “Uma rua de Paris é um rio que vem da Grécia”.
Para mim, o rio correu até minha Jaguaquara, na Bahia.
O sábio Paulo Rónai também lembrou Hemingway sobre Paris:
– “Se tens a sorte de ter vivido em Paris quando moço, por onde quer que andes o resto de tua vida ela estará contigo porque é uma festa móvel”.
E o poeta Murilo Mendes teve medo na guerra, em um verso eterno:
-“Bombardear Paris é destelhar a casa de meu pai.”
O TERROR
Cada um vê Paris com os olhos de sua alma. Meu gordo e saudoso amigo Antonio Carlos Vilaça falava dela como da primeira escola:
– “Paris foi importante para minha geração, uma geração que lia autores franceses. Em Paris pensávamos, éramos”.
São 60 anos. Minha Paris é uma história de 60 anos. De 1955 quando lá estive pela primeira vez até a semana passada, quando mais uma vez deixei Paris depois de mais um mês lá, como faço todo ano. Eu enrolava minha saudade e a canalha terrorista enrolava suas bombas assassinas.
Não consigo imaginar destruída a cidade onde mais sonhei, mais aprendi, mais amei, mais cresci, mais vivi.
CONCENTRAÇÃO
Voltemos ao Brasil. Os professores Marcelo Medeiros e Pedro Souza, da Universidade de Brasília (“Estabilidade da Desigualdade”) demonstram que a concentração da renda continua imutável e ascendente. Estudiosos da desigualdade social brasileira, eles denunciam:
– O segmento do 1% mais rico da população, estimado em 1,4 milhão que ganham a partir de R$ 229 mil anuais, em 2006 tinha participação em 22,8% da renda nacional. Em 2012 cresceu para 24,4% da renda brasileira.
– Entre os 10% mais ricos, não foi diferente. A renda, no mesmo período, avançou de 51,1% para 53,8%. Já a renda dos 90% mais pobres não obteve a mesma performance, mesmo apresentando alguma melhoria.
E o PT dizia-se o partido dos trabalhadores. Virou o dos banqueiros.
DESIGUALDADE
O professor Naércio Menezes Filho, da FEA-USP e coordenador do Centro de Políticas do Insper, no jornal “Valor” (16/10/2015), no artigo “A Desigualdade Começou a Subir”, sintetiza:
– “O Brasil é um país bastante desigual. Essa desigualdade tem sua origem no fato de que a maioria da população ficou excluída do nosso sistema educacional até meados do século XX. Nos últimos 20 anos, porém, o processo de inclusão social que houve fez com que a desigualdade declinasse continuamente. Será que esse processo está chegando ao fim?”
CRISE
“Com tristeza e o coração partido”, o professor e escritor Hélio Duque, três vezes deputado pelo MDB e PMDB do Paraná, responde:
  1. - “Lamentavelmente, sim. O governo Dilma Rousseff, por incompetência e centralismo autossuficiente e autoritário, conseguiu interromper um caminho que, mesmo com limitação, se apresentava virtuoso, Os próximos anos serão de frustração do sonho de o Brasil estar marchando para a construção de uma sociedade que avança no combate à miséria e a injustiça social”.
  2. - “Sem crescimento da economia, não existe milagre que possa sustentar a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Somente com políticas econômicas de austeridade fiscal é que se pode enfrentar essa realidade adversa: a sustentabilidade das políticas de inclusão social”.
DEFICIT
  1. – “Historicamente, o “superávit primário”, mesmo nos momentos de crise, sempre foi obtido por diferentes administrações. Quando Dilma assumiu o governo, era de R$ 128 bilhões. Agora, de maneira inédita, a situação é inversa: o “déficit primário” consolidado seria de R$60 bilhões”
  2. – “Com o agravante de o Tesouro ser obrigado a pagar as “pedaladas fiscais” (dívidas atrasadas no BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica), estimadas pelo Tribunal de Contas em R$ 40,2 bilhões”.
  3. – “Com outros penduricalhos, o déficit ultrapassará e R$ 117 recordes de popularidade”. bilhões. Ele foi construído naqueles anos onde a fantasia marqueteira era vendida aos brasileiros que aprovavam e aplaudiam o governo com marcas recordes de popularidade”.
ISABELITA
E de um amigo paulista, que bem conhece a Argentina, vem a definição perfeita de Dilma:
– Dilma é a Isabelita sem Perón.





O BISPO DE HYPONA



Agostinho, bispo de Hypona (hoje Annaba, na Argélia), um dos construtores do Cristianismo, autor de livros imortais como “Confissões”, “Cidade de Deus”, “Doutrina Cristã” (viveu dos anos 354 a 430), enfrentando as perseguições ao Catolicismo no mundo muçulmano, fugia da policia em pequeno barco quando foi cercado saindo de Hypona:
– O senhor viu o bispo Agostinho passando por aqui?
– Não vi não.
E o policial foi embora. O barqueiro levou um susto:
– Bispo Agostinho, sua Igreja ensina a não mentir.E o senhor mentiu.
– Não menti. Fiz uma “restrição mental”. Ele perguntou se eu vi o bispo passando. E eu não vi passando. Estou passando. Estamos passando.
LOTT
E foi em frente. No Brasil, tivemos um caso semelhante. Em 1955 Juscelino Kubitschek elegeu-se presidente da Republica. A UDN e seus militares tentaram um golpe para impedir a posse de JK O vice-presidente Café Filho internou-se em um hospital e assumiu o presidente da Câmara o mineiro Carlos Luz que imediatamente demitiu o ministro da Guerra marechal Lott e nomeou o general Fiuza de Castro.
Estava armada a jogada para impedir a posse de JK. Mas o marechal Lott e o general Odilo Denis rebelaram-se e exigiram a posse provisória de Nereu Ramos, presidente do Senado. O jornalista Otto Lara Rezende, da revista “Manchete”, foi entrevistar Lott:
– Marechal, os senhores rasgaram a Constituição?
– Pelo contrario, Otto. Nós garantimos o retorno aos quadros constitucionais vigentes.
O verdadeiro golpista Carlos Luz entregou o governo, Nereu Ramos assumiu a presidência e garantiu a posse de JK e João Goulart.
CUNHA
O híbrido deputado Eduardo Cunha está fingindo de Bispo de Hypona e marechal Lott. Diz que não tem dinheiro na Suíça, apenas “ativos”. E que os “ativos” não são dele, mas dos “trusts”, dos bancos.
É uma farsa. O bispo e o marechal não mentiam. Argumentavam. Defendiam-se: um da policia e o outro do golpe contra a posse de JK.
BRASIL
Em dois meses pela Europa, a pergunta que mais ouvia era uma:
– Como está o Brasil?
Infelizmente não está bem. E os números vêm piorando a cada dia.
1.- No PIB mundial, medido em dólares, o Brasil manteve, por alguns anos, o 7º lugar. Em primeiro lugar, os EUA, com 18,12. Segundo, China, 11,21. Terceiro, Japão, 4,21. Quarto, Alemanha, 3,41. Quinto, Reino Unido, 2,85. Sexto, França, 2,47.Agora, no início de outubro, o Fundo Monetário, projetando o cenário para 2015, deslocou a economia brasileira para o 9º lugar, com o PIB que era de US$ 2,35 trilhões sendo rebaixado para US$ 1,80 trilhão. A Índia passou a ser a sétima, com US$2,18 trilhões. E a oitava a Itália, com US$ 1,8.
2.– O Brasil em dólares perdeu o equivalente ao PIB da Suécia que é de US$ 520 bilhões, ou da Argentina que é de US$ 474 bilhões. Analisando o impacto desse rebaixamento brasileiro, constata-se que o cenário projetado é ainda mais grave. Para o PIB de US$ 1,80 trilhão, o FMI utilizou a cotação do dólar a 3,20 reais. A conta é fácil: o PIB do Brasil em 2015 é de 5,74 trilhões de reais. Com o dólar em 3,20, alcançaríamos o total de US$ 1,793 trilhão, ou US$ 1,80 trilhão.
DÓLAR
  1. – A moeda norte americana chegou a ultrapassar 4 dólares, em relação ao real, determinando um rebaixamento ainda mais doloroso do Brasil, no “ranking” das principais economias mundiais. Com o dólar valendo R$ 3,50, a redução do PIB brasileiro iria para US$ 1,64 trilhão. Cotado a R$ 3,60, a queda seria para US$ 1,59 trilhão.Valendo R$ 4,00, o nosso PIB seria de US$ 1,43 trilhão.
  2. - O “ranking” do Fundo na amostragem do PIB em dólar, em diferentes países, demonstra: a) no Canadá é de US$ 1,78 trilhão; b) na Austrália, US$ 1,44 trilhão; c) na Coréia do Sul, US$ 1,41 trilhão; d) Na Espanha, US$ 1,40 trilhão. Na América Latina, o do México US$ 1,28 trilhão. Se o dólar continuar se valorizando ante o real, agravando as contas nacionais, a recessão econômica poderá levar o nosso PIB, medido na moeda americana,a ser ultrapassado por alguns desses países.
PEDALADAS
Há quatro anos, o então ministro Guido Mantega blasonava:
– “O FMI prevê que o Brasil será a quinta economia em 2015, mas acredito que isso ocorrerá antes”.
Em 2010, ao final do seu governo, era Lula quem afirmava:
– “Se depender de Dona Dilma e de Dom Guido, vamos ser a quinta economia do mundo. Em 2016, vamos conquistar essa medalha de ouro.”
Apenas irresponsáveis pedaladas.





ALHAMBRA DE GRANADA

A Alhambra ou, preferencialmente, Alambra localiza-se na cidade e município de Granada, na província de homônima, comunidade autônoma da Andaluzia, na Espanha.
A primeira vez em que vim a Granada foi no violão de meu pai lá nas noites da roça. Agustín Lara, o barroco mexicano Ángel Agustín Maria Carlos Fausto Mariano Alfonso Rojas Canela del Sagrado Corazón de Jesús Lara y Aguirre del Pino, embolerava as noites com as canções “Granada”, “Solamente una Vez”, “Noche de Ronda”, “Palmeras” (o nome da nossa fazendinha) e outras.

A segunda vez em que vim a Granada foi nos iluminados comícios da Constituinte espanhola de 1977, quando a Espanha reaprendeu a democracia, a luta política e a liberdade.

A terceira vez em que vim a Granada foi na Exposição Internacional de Sevilha em 1992 quando o então presidente espanhol Felipe Gonzalez acompanhou o presidente Fernando Collor numa visita aos eternos labirintos de Alhambra, soluço incontido da história e Patrimônio Cultural da Humanidade, soberbos séculos construídos pelos árabes e pelo cristianismo desde os fenícios, os romanos, os gregos.

LABIRINTOS

A quarta vez em que vim a Granada foi agora. Mas não vim a Granada porque vir a Granada sem ir a Alhambra é não ir a Alhambra nem vir a Granada. Aqueles magníficos e perturbadores palácios, brotando de dentro das florestas de ciprestes são um dos mais apocalípticos documentos da espiritualidade humana. A partir do ano 712 os árabes dominaram o reino de Granada durante 536 anos. Em 1248 Fernando III, O Santo, conquistou Sevilha e Granada para a cristandade.

Os mulçumanos foram embora de Granada ficando apenas cristãos e judeus. Em 5 séculos construíram dezenas de palácios e quilômetros de caminhos nas colinas vermelhas da Alhambra. Sevilha é um símbolo da união do mundo árabe com o mundo cristão. Na catedral toda em ouro, está o túmulo de Cristovão Colombo, todo em prata.

Cheguei a um tempo em que caminhar horas é maratona. Vou voltar a Alhambra ouvindo Granada de Agustín Lara.

CAPITALISMO

O jornal “El Pais”, o maior da Espanha e da Europa, publicou uma pesquisa assustadora: “O 1% mais rico tem tanto patrimônio quanto todo o resto do mundo”:

– “2015 será relembrado como o primeiro ano da série histórica em que a riqueza de 1% da população mundial alcançou a metade do valor de todos os ativos. Em outras palavras: o 1% da população mundial, aqueles que têm um patrimônio avaliado em 760.000 dólares têm tanto dinheiro liquido ou investido como 99% do restante da população mundial. Esta enorme faixa entre privilegiados e o resto da humanidade, continuou ampliando-se desde o inicio da Grande Recessão , em 2008”.

– “A estatística do Credit Suisse, uma das mais confiáveis, chega já a uma leitura possível: os ricos sairão das crises ainda mais ricos, em termos absolutos como relativos, e os pobres relativamente mais pobres”.

OS NÚMEROS

Distribuição da riqueza mundial:

Quem tem a riqueza mundial? Evolução entre 2000 e 2015 em %.

– 10% da população mundial

– 5% da população mundial

– 1% da população mundial

A pirâmide da riqueza global

34 milhões de pessoas = 0,7% da população mundial:

– Mais de 1.000.000 de dólares = 45,2% da riqueza

– Entre 100.000 e 1.000,000 dólares = 39,45% da riqueza

– Entre 10.000 e 100.000 dólares (1.003= 21% milhões de pessoas)

= 12,5% da riqueza

– Menos de 10.000 dólares (3.386 = 71% milhões de pessoas)

= 3% da riqueza

ELEIÇÕES

No dia 20 de dezembro a Espanha vai às urnas para escolher o novo Chefe do Governo que, como o regime é parlamentarista, sairá da maioria conquistada por cada partido. Estes números que estão ai em cima comandam o debate eleitoral. Como também os números do orçamento nacional.

Aqui não há pedaladas. Como a União Europeia achou que os números do orçamento para 2015 estavam sem objetividade, reclamou e pediu que o Governo Espanhol seja mais objetivo para que não só a população espanhola como os governos de todos os estados da União Europeia possam caminhar seguros diante dos números.

No dia 20 a palavra final é das urnas.


BILHETE A HELIO FERNANDES


A ditadura não sabia o que fazer naquele segundo semestre de 68. Os intelectuais, os estudantes, os cavalos do Exercito e da Policia Militar e os primeiros cadáveres estavam nas ruas. A TV Globo  era uma escuderia para quem como eu ainda respondia a vários IPMS. Mas eu queria, precisava escrever em jornal e cassado não podia.

Todas as manhãs, passava em escritórios de amigos para saber de alguma novidade. Subi ao de José Aparecido, no edifício Avenida Central. Estava lá com ele o principe do livro no Brasil, Enio Silveira. E entra,  barbudo, apressado, falando encachoeirado, Helio Fernandes.

Eu o lia de muitos e  muitos anos, no “Diário de Noticias” e agora na “Tribuna da Imprensa”. Ele não me conhecia. Foi direto:

– Sebastião Nery,li seu livro “Sepulcro Caiado, o Verdadeiro Juracy”. Bom e bem escrito. Dei uma nota. Por que você não escreve na “Tribuna”?

– Helio, li sua nota, fiquei contente e agradeço muito. Quanto a escrever na “Tribuna”, sou nordestino de Jaguaquara, na Bahia.  Lá na minha terra a gente só entra na casa dos outros convidado.

– Pois está convidado. Quando quer começar?

– Hoje. Quanto você me paga?

– Nada. A “Tribuna” não tem dinheiro para um profissional como você.Mas tem toda a liberdade que você quiser usar.Comece quando quiser.

TRIBUNA

Despedi-me, fui para a rua do Lavradio, apresentei-me ao chefe da redação, o baiano Helio Ribeiro, e fiz a primeira coluna. Escrevia todos os dias. Não era um emprego. Era uma tribuna contra a ditadura.

Exceto quando a ditadura me impediu, como impediu Paulo Francis, Oliveira Bastos, Evaldo Diniz, Genival Rabelo, Monserrat, tantos, e os cinco anos na “Ultima Hora” (de 78 a 83), escrevi mais de 30 anos na “Tribuna”, todos os dias, até o jornal fechar recentemente.

Sou testemunha diária da bravura de Helio Fernandes. Comecei em agosto de 68, em dezembro veio o AI-5 e a ditadura, como uma bomba de Hiroshima, queria matar o país de uma vez. Enfiaram um major na redação, que lia tudo, vetava tudo, queria cortar tudo. E Helio resistindo,sendo preso, confinado e o jornal explodido por uma bomba na madrugada.

Quando ele chegou do confinamento em Fernando de Noronha, Pirassununga, etc, eu estava no aeroporto Santos Dumont. Os militares ameaçavam: – Se ele voltar a escrever, vai de novo.

Helio voltou a escrever, sempre, até hoje, já no jornal on-line.

O AMIGO

No dia 13 de maio de 71, ele me mandou este bilhete, batido na redação, em lauda do jornal:

– “Sebastião Nery, meu abraço.

Sua coluna de hoje só não é a melhor que você já fez pois tem feito tantas excelentes que seria impossível a classificação. Mas a de hoje é genial. Lúcida, limpa, magnificamente bem escrita, desassombrada, com aquele tom que só os grandes jornalistas conseguem. Infelizmente, grandes jornalistas é precisamente o que está faltando ao jornalismo brasileiro.

São raros os que sabem escrever. Mais raros os que têm alguma coisa a dizer. E pouquíssimos os que têm coragem de dizer o que sabem. Você, para honra nossa, reúne as três coisas: sabe escrever, tem o que dizer e o diz daquela forma corajosa que apavora os que têm medo da liberdade.

Meu abraço de admirador profissional e de amigo, Helio Fernandes”.

(Este não é um bilhete. É um galardão que guardo na parede – SN).

CENSURA

Um dos maiores empulhamentos que se tentou criar no Brasil é que quem mais sofreu com a censura e resistiu foram os jornalões, mas revistonas. Uma fraude, uma farsa. Falsos heróis continuam falando de uma valentia que não tiveram. Negociavam com os militares no escurinho do cinema.

Em alguns raros dias, como a noite do AI-5, de fato todas as redações foram pressionadas pessoalmente por militares. Mas logo iam embora e a censura era feita pelo telefone, entre amigos.

Censura mesmo sofreu a “Tribuna”, porque se rebelava, resistia, denunciava as torturas, publicava as noticias de assassinatos.

Quando surgiram o “Pasquim”, “Politika” e “Opinião”, esses foram também diretamente censurados. Tínhamos que entregar tudo antes para ser censurado em Brasília. Mas os “jornalões”, não. Nunca tiveram de mandar edições para Brasília.

*Em 31/08/2011.





GETÚLIO E DILMA



Aquela foi uma noite de cão, o 23 de agosto de 1954. Fez 61 anos domingo. Ninguém me contou. Eu vi, vivi e sofri.

Getúlio encurralado no Catete. Juscelino, generoso, corajoso e solidário, o havia levado a Belo Horizonte no dia 12 para inaugurar a siderúrgica Mannesman. Eu queria ver e ouvir Getúlio. Nunca o tinha visto de perto. Mais baixo do que pensava, mais gordo do que parecia, uma infinita tristeza no rosto, como se fosse logo chorar. Leu seu discurso com a voz forte, decidida mas tensa. Deixou claro : só morto sairia do Catete.

Juscelino fez um discurso como ele era : valente, desafiador, falando em desenvolvimento, futuro e democracia, Nada poderia fazer mais bem a Vargas naquela hora desastrada.

Getúlio resolveu dormir em Minas. De manhã, depois do café, Vargas todo arrumado para viajar, com um charuto na mão esquerda, Juscelino chamou um pequeno grupo de jornalistas, um de cada jornal, para nos apresentar. A mão miúda, gordinha, fria, parecia um filé mignon. Olhava-nos com simpatia, sorriso contido mas olhar distante, de quem não estava mais ali, perguntava o jornal onde trabalhávamos, de onde éramos.

Em nenhum instante sorriu aberto. Entrou no carro sem olhar para trás, foi para o aeroporto com Juscelino, despediu-se emocionado.

SUICÍDIO

E o golpe galopava nas rádios, jornais e tribunas do Congresso. Na noite de 23 de agosto, as rádios “Nacional”, “Tupi”, “Globo” ficaram de plantão. A “Nacional” era do governo. A “Tupi” de Chateaubriand e a “Globo” de Roberto Marinho tinham sido entregues a Carlos Lacerda, que não saia do microfone. Meia noite Vargas reuniu o ministério.

Recebeu o manifesto dos generais, levado por seu ministro da Guerra, Zenóbio da Costa. Assinou uma licença, deu a caneta a Tancredo , foi deitar-se ao amanhecer. Lacerda e Eduardo Gomes gritavam nas rádios:

– “ Licença coisa nenhuma. Ele não voltará ”.

Não voltou. Ficou para sempre. Suicidou-se às 8:30 da manhã.

A CARTA

Passei a madrugada ouvindo as rádios e um pianista cego, no “ Columbia ”, bar restaurante de jornalistas noturnos,na avenida Paraná.

A Carta Testamento começou a ser lida nas rádios. Corri para o palácio da Liberdade, cheio de jornalistas, políticos. Juscelino literalmente arrasado. Nas mãos, enrolada, a Carta Testamento. Pedi uma copia para mim, sai às pressas. A cidade já toda na rua. Armaram um palanque bem ao lado da escadaria da Faculdade de Direito. Roberto Costa e Dimas Perrin, dirigentes do Partido Comunista, comandavam:

– Na hora em que terminar de ler a Carta, não esqueça de apontar para o Consulado Americano e dizer:

– Quem matou Getúlio está ali! Foi o imperialismo americano!

O Consulado ficava exatamente ao lado da Faculdade, com uma Biblioteca Thomas Jefferson logo na entrada:

E fui lendo pausadamente, comovidamente. Não sei que ator baixou em mim. Não parecia que era eu. Até a voz ficou mais alta, poderosa. A multidão chorava e eu também. As ultimas frases li como se estivesse sobre o túmulo de Vargas. Antes de descer, o fogo já subia. Haviam posto gasolina nas revistas e jornais pendurados nos cavaletes, nos livros dentro das estantes e nas grandes fotografias de Lincoln e Jefferson.

Queimava tudo. Fogo sabe bem inglês.O incêndio do Consulado em Belo Horizonte foi uma das fotos mais impressionantes que correram o mundo no 24 de agosto. As Policias Federal, Militar e Civil avançaram batendo. Houve muita pancadaria. Estudantes e povo apanhamos muito.

MONTANHA

Montanha, um investigador enorme, grandalhão, negro, me agarrou pelo pescoço com a mão esquerda, a palma da mão bem vermelha, me sacudiu no ar e jogou no chão, como um embrulho inútil.

Na outra mão, um revolver grande, preto. Pensei que ele ia atirar:

– Ai, meu Deus! Vou morrer aos 22 anos, como Álvares de Azevedo!

Não atirou. Bateu com o revolver no meu rosto, o sangue esguichou e saiu me arrastando para o carro da policia.Roberto e Dimas pegaram um ano de cadeia. Estudantes que derramaram a gasolina seis meses cada. A Policia acusou minhas frases de serem uma senha. Sem prova me soltaram.

DILMA

Dom Pedro I, acuado, mandou seu recado:

– “ Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, digam ao povo que fico ”.

Ficou pouco. Getúlio, isolado, deu um tiro no peito. Dilma, ainda bem, não dará.

Também, e é uma pena, não sairá. Só agarrada, tirada. Falta arranjar um José Bonifácio para cuidar de Michel Temer até ele crescer.




ONTEM E HOJE



Foi meu colega na saudosa Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas e contemporâneo na Câmara Federal (1975 – 83 pelo MDB e PMDB mineiro). Agora, Genival Tourinho está escrevendo um livro comparando o estilo de vida dos parlamentares de sua geração com os dos atuais: – “Quanto mais recordo mais fico indignado”.

No meio do mês, era comum que os colegas da Câmara formassem filas em uma agência da Caixa Econômica Federal para pegar um empréstimo para segurar o resto do mês:

– “Nós trocávamos avais. Eu cansei de pedir ao colega Tancredo Neves que fosse meu avalista, E eu o avalizava quando ele precisava.”

Advogado e excelente parlamentar, Genival demonstra que a Câmara nunca foi, ao longo da sua história, um clube de privilégios e mordomias. Quando era no Rio e nos primeiros anos de Brasília, os deputados não tinham gabinetes privativos. Além do subsídio mensal, havia a verba de transporte: 4 passagens aéreas de Brasília até a capital do seu Estado. Tinham direito de contratar 3 funcionários. E o apartamento funcional.

CÂMARA

Tudo mudou a partir de 1991, quando a mesa da Câmara promoveu “reforma administrativa” alargando benefícios que se estendem até hoje. Penduricalhos foram introduzidos com verbas variadas e podendo contratar até 27 funcionários. O estilo da representação mudou e não foi para melhor.

Aprovada a Constituição, o presidente da Câmara Ulysses Guimarães indicou o economista e professor Helio Duque, baiano do PMDB do Paraná, ex-presidente da Comissão de Economia da Câmara e um dos vice-presidentes da Executiva Nacional do PMDB, para integrar a Comissão de Orçamento. Sábio e experiente, Ulysses desconfiava do que acontecia lá.

Helio ficou 15 dias, renunciando e relatando ao presidente da Câmara o que lá ocorria: um grupo de parlamentares era subordinado aos interesses das grandes empreiteiras nacionais. Dois anos depois Helio não era mais deputado e o escândalo dos “Anões do Orçamento” chocou o Brasil, levando à cassação do mandato de vários dos seus membros.

O Mensalão e o Petrolão têm pai e mãe.

BANCOS

No começo do Ajuste Fiscal , o governo petista da Dilma e do Lula anunciou que ia “taxar os lucros dos bancos e financeiras, as grandes fortunas e as heranças”. O tempo foi passando e não se fala mais nisso. Mas o governo não esqueceu de taxar os salários dos trabalhadores, as aposentadorias dos trabalhadores, as pensões dos trabalhadores e aumentar os impostos das pequenas e medias empresas.

Escondido, com vergonha, os jornalões, que pertencem aos bancões, deram a noticia escabrosa: o lucro dos bancos chegou a 46%! Em um pais em recessão, com um “crescimento do PIB abaixo de 0%”, não há noticia mais pornográfica. E o Banco Central, a gorda dona do bordel, aumentou a taxa básica de juros para 14%, a maior do mundo, alegando despudoradamente que é para baixar a inflação. E a inflação subindo.

PIRÃO

Os jornalões não se envergonham de defender o ajuste fiscal só contra quem vive de salário ou aposentadoria e contra a indústria e comercio que produzem, Sabem por que? “O “Globo” abriu o jogo:

“O governo vai honrar o acordo feito na Câmara para não impor vetos à desoneração da folha de pagamento de setores da economia acordados com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Na negociação com a Câmara, segundo fontes do Planalto, o governo concordou em manter a desoneração para três setores: call centers, transportes e comunicações”.

Vejam bem que coisa mais sórdida. Aumento de impostos para todo mundo, menos para “comunicações” (jornais, rádios e TVs), “transportes” (ônibus, metrôs, trens) e “call centers” (centrais telefônicas).

Eles passam dia e noite falando em “liberdade de expressão”, “igualdade de direitos”, “sacrifícios coletivos”. Mas põem a faca na garganta do governo só em defesa dos interesses deles.

Farinha pouca meu pirão primeiro.

BOMBA JUCÁ

O senador Jucá, do PMDB de Roraima, líder da Dilma no primeiro mandato, jogou um bomba no Planalto na “Folha de S. Paulo” de sábado:

1.- “O quadro de uma eventual deposição da presidente da República não está maduro. Ou o governo muda ou o povo muda o governo”.

2.- “Vai piorar. A arrecadação federal está caindo, a atividade econômica está caindo, os Estados estão começando a quebrar, os setores que ainda empregaram no primeiro semestre, como o comércio e serviços, vão desempregar no segundo semestre, com a classe média com risco de desemprego. Então todo mundo vai ser o mais conservador possível.”

3.- “O governo está na UTI. Pelo amor de Deus não racionem o oxigênio porque depois vai morrer e ai não adianta, já passou a hora”.



MINAS ERA DIFERENTE



Minas não esquece. Minas é boa de lembranças. Livro de mineiro está sempre relembrando. O passado é o adubo da alma. Como em Guimarães Rosa e Pedro Nava. Ou em Drummond.

Mais um belo livro de mineiro contando historias de Minas. O jornalista e poeta (luminoso poeta) Petrônio Souza Gonçalves (“Quem soltou a borboleta azul na tarde triste?”) pagou uma divida de Minas. Lançou “José Aparecido de Oliveira – O Melhor Mineiro do Mundo”.

MINEIROS

50% do texto é do Petrônio. Texto leve, livre, solto. Cada frase um fato. Bem editado, bem ilustrado, rico em fotos e testemunhos. Os outros 50% são depoimentos de jornalistas e escritores mineiros sobre Aparecido:

Benito Barreto : -“O Homem e o Amigo”.
José Bento Teixeira de Salles” : “Assim Era Ele”.
Orlando Vaz : – “Articulador Político e Talento Admirável”.
José Augusto Ribeiro : “Dois Raros Momentos da Dupla Jânio-Aparecido”.
Gervásio Horta : ’Poucas e Boas”.
Mauro Werkema : “José de Todos os Amigos”.
Aristóteles Drummond : “O Zé Carioca”.
Guy de Almeida : “Aparecido no DF”.
Angelo Oswaldo: “O Compromisso Cultural de José Aparecido”.
Wilson Figueiredo : – “A Arte de Negociar Divergências”.
Paulo Casé : “Manifesto AAZA”.
Oscar Niemeyer: “JAO”.
Ziraldo: “As Aventuras de José Aparecido”.
Mauro Santayana: “Conversações na Rua Caraça”.
Alberto Pinto Coelho: “Demiurgo das Utopias Realizáveis”.
Silvestre Gorgulho: “Lições e Segredos de Um Mestre”.
E eu : “12 Historias de José Aparecido” .
Por ultimo, o José Maria Rabelo, porque algumas lembranças dele me deixaram a alma dolorida. Em 1950/60 nós éramos jornalistas e ativistas políticos vendo a pátria, o povo, o futuro. Nossos heróis, mesmo quando deles divergíamos, não nos envergonhavam. Hoje, a Operação Lava-Jato mostrou uma elite política que afunda no dinheiro, na corrupção.
O José Dirceu, tão preparado e tão guloso,é um desperdício nacional.
JOSÉ MARIA
1.- “A Praça Sete era naqueles tempos, por volta de 1950, o coração político de Belo Horizonte, onde nós, estudantes idealistas, passávamos horas do dia discutindo os problemas daqui e do resto do mundo”.
  1. - “Ao lado de Hélio Pellegrino, Palmius Paixão Carneiro, Fernando Correia Dias, Bernardino Machado de Lima, Wilson Vidigal e outros insensatos salvadores da pátria, todos pertencentes ao antigo Partido Socialista Brasileiro, eu participava ativamente das discussões na praça, não poupando munição contra os adversários: de um lado os integralistas, de outro os comunistas stalinistas. Nós tínhamos a chama da verdade, o socialismo democrático, com a qual iríamos incendiar o planeta”.
  2. – “Um dia, eu estava lá, fazendo minha pregação e distribuindo impropérios à direita e à esquerda. Foi quando um grupo de integralistas se aproximou, com alguns deles passando a insultar-me e ameaçar-me de agressão. Aí surgiu meu futuro amigo, e usando um porrete, que não sei de onde tirara,avançou sobre os provocadores,forçando-os a fugir praça afora”
  3. – “O Zé Aparecido me explicou por que tomara aquela atitude quixotesca, que poderia ter tido outras consequências. Primeiro, porque nunca admitira a ideologia integralista, herdeira do fascismo, de gente como aquela, fanática 1e totalitária. Segundo, pela iminência de um ato de covardia., diante de seus olhos, com um bando de provocadores lançando-se contra uma pessoa sozinha, unicamente por divergir deles”.
  4. – “A partir daquele episódio, nasceu entre nós uma grande amizade, que se manteria inabalável por mais de meio século, apesar das contingências de tão extensa travessia. Mais tarde, ele foi morar em nossa república, que ficava numa velha casa. Parece-me que hoje tombada pelo patrimônio histórico da capital mineira, no cruzamento das ruas Aimorés e Maranhão, Bairro dos Funcionários. Ali, eu e o Euro Arantes vivíamos e redigimos os primeiros números de nosso jornal “Binômio”.
PETROLÃO
  1. – “Todos levávamos uma vida muito apertada, estudando e ganhando algum dinheiro como jornalistas principiantes. Lembro-me que o Zé Aparecido possuía apenas dois trajes, ou, como se dizia, duas mudas de roupa. Um deles era um terno jaquetão preto, que o acompanhou por longo e longo tempo. De tal forma o jaquetão preto se identificou com o portador, que muita gente achava que, ele fazia questão de usar por esquisitice”.
  2. - Nesse tempo, graças a suas relações com a UDN, conseguiu uma cópia do famoso inquérito do Banco do Brasil, revelando uma grossa negociata no governo do presidente Eurico Gaspar Dutra. Entre os denunciados, apareciam importantíssimas figuras da República”.
Corrupção sempre houve. Mas o petrolão e o PT são incomparáveis.



O DONO DA OCA

O então governador do Rio, Leonel Brizola, ao lado do cacique Juruna e de Darcy Ribeiro, inaugura o Ciep Zumbi dos Palmares.
Juruna, o selvagem cacique xavante que até os 18 anos flechava avião voando baixo em Barra do Garças, estava comovendo o país, de gravador na mão, provando que em Brasília “governo de branco mente”.

Juruna ficou indignado com o representante da Funai em Mato Grosso, que o enganou, e contou a um pastor que ia matá-lo e fugir para o Paraguai. O pastor ligou para Darcy Ribeiro, que sugeriu que levasse Juruna urgente para o Rio. E pediu a Lysaneas Maciel e a mim para recebermos o cacique no Galeão.

Fomos e o levamos para o apartamento de Brizola, em Copacabana, onde Brizola e Darcy nos esperavam. Juruna entrou e ficou em pé, com aquele tamanhão, o cabelo tosado, calado.. Darcy convidou-o a sentar-se. Juruna não se sentou e ficou olhando solene para Brizola.

Darcy disse a Brizola que ele não se sentou porque esperava uma ordem do dono da casa. Brizola falou, ele sentou-se. Brizola pensou em lança-lo para o Senado, lançou para deputado, elegeu-se e foi tragado pela visceral corrupção política do “homem branco”.

Quando saímos do apartamento de Brizola para levar Juruna a um pequeno hotel em Copacabana, perguntei ao cacique porque ele não se sentou ao chegar à casa de Brizola.

– É a lei.

E nada mais disse. Pela lei do índio quem manda é o dono da oca.

SUPREMO

No Brasil, nos países democráticos, a “oca” é o Supremo Tribunal. O STF é a lei. Até chegar a ele, a sociedade tem numerosos degraus legais: delegados, procuradores, juízes, tribunais intermediários. Mas só o Supremo manda sentar-se e levantar-se, dá a palavra final.

Aquelas 11 togas ali sentadas é que abençoam ou amaldiçoam uma lei. Elas são a voz, a garganta da Constituição. Há meses o bravo e sereno juiz Sergio Moro, o hábil procurador Janot, a Policia Federal dão ao pais o magnífico exemplo de cumprimento do dever conduzindo a Operação Lava Jato. Agora, chegará tudo ao Supremo. Ele vai comandar a lavagem final.

Com a palavra os donos da oca.

HISTÓRIA

O professor e ex-deputado Helio Duque, sempre patrioticamente atento ao que acontece no pais, relembra a historia do Supremo:

1. - D. João VI, em 1808, desembarcou com sua comitiva real no Rio de Janeiro e imediatamente instalou o principal órgão da Justiça Nacional: a Casa de Suplicação do Brasil. Em Portugal, a corte suprema tinha o nome de Casa da Suplicação. Essa é a origem histórica do STF (Supremo Tribunal Federal). Uma casa de Suplicações ou de Suplícios?

2. - No Império e na República o Supremo sempre foi o guardião da Constituição, mas nas ditaduras o perfil da Corte sofreu reveses. Em 1968, com o AI-5, foram cassados os ministros Hermes Lima, Victor Nunes Leal e Evandro Lins e Silva. Em reação à violência, os ministros Gonçalves de Oliveira, presidente do STF, e Antonio Carlos Lafayette de Andrada renunciaram em solidariedade aos ministros vítimas da violência.

3. - No governo Castelo Branco, o ministro Ribeiro da Costa, presidente do STF, advertia:

– “Pretende-se atualmente fazer com que o Supremo dê a impressão de ser composto por onze carneiros que expressam debilidade moral, fraqueza e submissão.”

SARNEY

Vozes cavernosas e de um passado triste já começam a desavergonhadamente se manifestar. O notório José Sarney, que sempre sabe do que e por que está com medo, acusa:

– “O Sergio Moro sequestrou a Constituição e o país. O Supremo Tribunal Federal não pode se apequenar”.

Em artigo o juiz sugere que Sarney é mafioso:

– “Quem, em geral, vem criticando a colaboração premiada é aparentemente favorável à regra do silêncio, a omertà das organizações criminosas”.

NO MUNDO

A duração dos mandatos varia de pais para pais. No Brasil, agora, os ministros dos tribunais superiores têm mandato até os 75 anos, como os demais servidores públicos. Na Alemanha, no Tribunal Constitucional, os ministros têm mandato de 12 anos. Na França, 9 anos. Na Itália, também 9 anos, como na Espanha. À exceção dos EUA e outros poucos, são raros os mandatos vitalícios.

A “vanguarda do atraso” (como o saudoso Fernando Lyra chamava Sarney) vem conspirando para derrubar, nos tribunais, a “Operação Lava Jato”, acreditando que a vitaliciedade poderá ser uma aliada na impunidade geral e irrestrita dos delinquentes.

A oca vai dizer se os tempos mudaram no Brasil.


O MINISTRO DE PATOS







João Grande, lá na Paraíba, era um tropeiro muito alto e muito forte, de mãos enormes, pernas arqueadas e botas cravadas de ferro. Levou uma tropa para Patos, cidade vizinha, depois sentou-se no bar, pediu uma cerveja e ficou ali olhando a praça e o povo.



Percebeu que, na calçada em frente, as pessoas iam andando e, de repente, quando chegavam diante de uma casa, desciam da calçada, davam uns passos na rua, subiam novamente a calçada e seguiam.



Foi ver o que era. Era a casa do delegado, que tinha posto uma placa na porta proibindo qualquer pessoa de passar pela calçada da casa dele, para não fazer barulho, porque ele gostava de tirar uma madorna, uma soneca, toda tarde.
JOÃO GRANDE



João Grande ficou indignado. Arrancou a placa e começou a andar na calçada proibida, batendo forte no chão com suas botas cravadas de ferro. O delegado, irado, saiu de lá de dentro como uma fera, os olhos esbugalhados, abriu a porta, viu aquele homenzarrão de botas barulhentas, deu um sorriso amarelo, afinou a voz:



– Boa taaarde!



João Grande não disse nada. O delegado também calou e não disse nada. Na calçada, já pronto para descer, andar pela rua e subir novamente a calçada, como fazia o dia inteiro, a semana toda, vinha vindo um homenzinho baixinho, pequenininho, trotando, quase correndo, com um cesto na cabeça, equilibrando numa rodilha de pano. Quando viu a cara amofinada do delegado, parou, olhou bem para ele e gritou:



– Olha o abacaxi!!!!



Nunca mais, a partir daquele dia, o homenzinho do abacaxi desceu da calçada do delegado. Ele nem ninguém. João Grande jogou a placa na rua e voltou para sua terra com as mãos enormes e as botas cravadas de ferro.



EDUARDO CARDOSO



Em 1969, logo depois do AI-5, Carlos Petrovich, diretor do Curso de Teatro da Universidade de Brasília, ocupada e estrangulada pela ditadura, convidou o saudoso Ariano Suassuna, gênio rebelde de “A Pedra do Reino” e “Auto da Compadecida”, para uma palestra. O auditório estava cheio de arapongas do SNI. Suassuna começou contando a história de João Grande.



Esta semana, o ministro da Justiça, Eduardo Cardoso, foi apanhado em flagrante reunindo-se às escondidas, no ministério da Justiça, com um punhado de advogados dos réus do escândalo da “Operação Lava a Jato”, na roubalheira da Petrobrás para dar dinheiro ao PT e seus aliados.
Ora, o processo é uma gravíssima e indispensável operação da Policia Federal, do Ministério Publico Federal e do Supremo Tribunal Federal para desbaratarem “o maior escândalo financeiro da historia do pais”. O ministro da Justiça não tem o direito de estuprar a legalidade para tentar desviar e obstruir o encaminhamento das atribuições da Policia Federal,  da Procuradoria Geral da Republica, da Controladoria Geral da Republica, do Tribunal de Contas da União e do Supremo Tribunal.



O ministro da Justiça precisa respeitar o pais. Se ele quer ser o  delegado de Patos de um século atrás só chamando um tropeiro João Grande para jogar a placa dele na rua.



JOAQUIM BARBOSA



Tem razão o sempre lúcido, equilibrado e bravo ex-presidente do Supremo Tribunal, Joaquim Barbosa:



– “Nós, brasileiros honestos, temos o direito e o dever de exigir que a Presidente Dilma demita imediatamente o Ministro da Justiça.



“Reflita você: – para defender alguém em um processo judicial, ao invés de usar argumentos e métodos jurídicos perante o juiz, você vai recorrer à política”?



E logo a pior política, com o governo rasgando o processo e a lei?



A LISTA DO XILINDRÓ



O clássico do cinema americano, filme de 1993, de Steven Spielberg, chamava-se “A Lista de Schindler!”. Um poema da bravura humana.



Está chegando fevereiro. E foi para fevereiro que o Procurador Geral da Republica, Rodrigo Janot, e o ministro relator da ação no Supremo Tribunal, Teori Zavascki, prometeram a divulgação da lista dos políticos acusados na Operação Lava a Jato, por terem foro privilegiado.


Vai ser a “Lista do Xilindró”. 



ZUM, ZUM, ZUM, ESTÁ FALTANDO UM


UM BAIANO IMORTAL


UM PARTIDO PASCISTA

DONA PEROLINA DO PMDB


O DEDO DE DILMA

RABO DE CAVALO, CRESCENDO PARA BAIXO 

PRESIDENCIALISMO DE CORRUPÇÃO

O SUPREMO COCHICHO 

UM PARTIDO FASCISTA

LIÇÕES PARA AÉCIO E EDUARDO
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

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