Repúdio ao tarifaço de Trump une empresários dos EUA e Brasil

Charge de Zé Dassilva (nsctotal.com.br)
Pedro do Coutto
O novo tarifaço imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros, com alíquota de 50%, acendeu um alerta vermelho tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. A decisão, tomada de forma unilateral e inesperada, gerou reações contundentes de empresários dos dois países, que agora se unem em um raro consenso: é preciso negociar urgentemente antes que os danos comerciais se tornem irreversíveis.
A medida já causa impacto direto nos frigoríficos brasileiros, que suspenderam parte dos abates voltados à exportação. O setor da carne, um dos mais integrados à cadeia produtiva norte-americana, vê a taxação como um risco não apenas para o Brasil, mas também para a estabilidade de preços nos Estados Unidos, especialmente em tempos de inflação sensível ao bolso do consumidor médio.
REAJUSTE -Não foi apenas o setor de carnes que sentiu o golpe. As tarifas sobre produtos como café, suco de laranja e aeronaves da Embraer atingem diretamente o consumo e a indústria norte-americana. O café brasileiro representa cerca de um terço do abastecimento dos EUA, e grandes redes já indicam reajustes de preço nos próximos meses.
A Embraer, por sua vez, alertou que os impactos econômicos das novas tarifas podem ser comparáveis aos sofridos durante a pandemia da Covid-19, tamanho o prejuízo para seus contratos com companhias aéreas americanas. O mercado reagiu: ações da fabricante brasileira recuaram quase 9% em meio à apreensão do setor aeroespacial.
O pano de fundo político também não passou despercebido. Analistas interpretaram o movimento como uma retaliação indireta à crise política que envolve Jair Bolsonaro — aliado de Trump — atualmente sob investigação no Brasil por crimes contra o Estado Democrático de Direito. Nesse sentido, a tarifação acaba sendo um recado de teor pessoal, travestido de decisão econômica.
APOIO – A Câmara de Comércio dos EUA, por sua vez, rompeu com a postura habitual de neutralidade e passou a apoiar a pressão brasileira por uma reabertura de diálogo, sob o argumento de que a medida prejudica consumidores, importadores e exportadores americanos. Para os empresários de ambos os países, essa não é uma guerra comercial tradicional: é um erro político com custos econômicos elevados.
Economistas apontam que os efeitos dessa escalada já se refletem no aumento do custo de vida nos Estados Unidos, que ainda enfrenta os resquícios da inflação pós-pandemia. Enquanto isso, o Brasil analisa medidas de resposta, como a aplicação da Lei de Reciprocidade Econômica, embora especialistas alertem que devolver a ofensiva com nova taxação pode aprofundar o problema e desencadear uma guerra tarifária prejudicial aos dois lados.
REUNIÃO – O presidente Lula, embora publicamente moderado, autorizou sua equipe econômica e diplomática a pressionar por uma reunião bilateral urgente, com foco na criação de exceções tarifárias ou cotas de exportação, especialmente para alimentos e bens industriais sensíveis.
O cenário é crítico, e não comporta soluções simplistas. Se Trump deseja manter influência entre produtores rurais e industriais dos EUA, precisará repensar sua estratégia antes que as consequências se tornem politicamente insustentáveis — afinal, é o eleitor norte-americano que pagará mais caro pelo bife, pelo café da manhã e pela passagem aérea.
O pragmatismo dos empresários já falou mais alto. Agora, resta saber se o presidente norte-americano será capaz de ouvir o recado e agir com responsabilidade. Neste momento, as vontades pessoais precisam ceder espaço ao bom senso econômico. O tempo urge.
Malafaia diz quem entrará na mira de Trump se Bolsonaro for preso
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Malafaia diz que Trump aumentará a pressão ao Brasil
Bela Megale
O Globo
O pastor Silas Malafaia, um dos principais apoiadores de Jair Bolsonaro, avalia que uma eventual prisão do ex-presidente fará Donald Trump aumentar a carga contra autoridades brasileiras.
Para Malafaia, estão na mira, além dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), as autoridades envolvidas no julgamento e investigação da trama golpista.
ESTÃO NA LISTA – — A minha visão é que, se prenderem o Bolsonaro, Trump vai agir contra ministros do STF, o procurador da República e o chefe da Polícia Federal. É claro que o ministro Alexandre de Moraes e sua família estão nessa lista. Mas eu não acredito que os outros ministros do Supremo vão dobrar a aposta, como Moraes faz — disse Malafaia à coluna.
O pastor compartilha do discurso de aliados de Bolsonaro em culpar Lula pelo tarifaço. Ele condena a atitude do presidente de responder à medida de Trump com a lei da reciprocidade. Malafaia classificou a briga de um “mico contra um gorila”.
Irresponsabilidade de Lula faz Trump radicalizar contra o Brasil
Carlos Newton
Em busca do quarto mandato e do Nobel da Paz, o presidente Lula da Silva comprou uma briga desnecessária com o governo dos Estados Unidos. Ao contrário do que fizeram os demais países atingidos pelo tarifaço, o governante brasileiro abandonou qualquer tipo de negociação com os Estados Unidos. E passou a fazer críticas diárias a Trump, inclusive em eventos internacionais, como as reuniões do Mercosul e do Brics.
O presidente americano avisou que iria radicalizar, mas Lula não deu importância, procedendo como se fosse fácil enfrentar os Estados Unidos. E o resultado é que a complicação está se agravando cada vez mais.
INVESTIGAÇÃO PESADA – Nesta terça-feira, Trump mandou abrir uma investigação comercial contra o Brasil, que deve causar mais prejuízos do que as tarifas, que inicialmente haviam subido para apenas 10%, mas a agressividade de Lula fez Trump elevá-las para 50%, que até agora é o teto máximo.
A apuração, a cargo do USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA), vai avaliar práticas do país em áreas como comércio eletrônico e tecnologia, taxas de importação e desmatamento, segundo comunicado divulgado nesta terça-feira (15).
“Sob o comando do presidente Donald Trump, eu abri a investigação sobre os ataques do Brasil às empresas de rede social americanas e outras práticas comerciais injustas”, disse, em nota, Jamieson Greer, o representante dos EUA para o comércio.
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CONHEÇA OS SETORES A SERES INVESTIGADOS
Leia abaixo os itens que o USTR afirma que irá investigar, com os elementos apontados pelo governo americano, segundo os repórteres Lucas Marchesini e Ricardo Della Coletta
Folha.
COMÉRCIO DIGITAL e serviços de pagamento eletrônico: “O Brasil pode prejudicar a competitividade das empresas americanas desses setores, por exemplo, retaliando contra elas por não censurarem discursos políticos ou restringindo sua capacidade de prestar serviços no país.”
TARIFAS PREFERENCIAIS injustas: “O Brasil concede tarifas mais baixas e preferenciais às exportações de determinados parceiros comerciais globalmente competitivos, em detrimento das exportações dos EUA.”
MEDIDAS ANTICORRUPÇÃO: “A falta de aplicação, por parte do Brasil, de medidas anticorrupção e de transparência levanta preocupações em relação às normas para combate ao suborno e à corrupção.”
PROPRIEDADE INTELECTUAL: “O Brasil aparentemente nega proteção e aplicação adequadas e eficazes dos direitos de propriedade intelectual, prejudicando trabalhadores americanos cujos meios de subsistência dependem dos setores impulsionados pela inovação e criatividade dos EUA.”
ETANOL PROTEGIDO: “O Brasil deixou de lado sua disposição de conceder tratamento praticamente livre de tarifas ao etanol americano e, em vez disso, passou a aplicar uma tarifa substancialmente mais alta às exportações americanas de etanol.”
DESMATAMENTO ILEGAL: “O Brasil parece não aplicar de forma eficaz as leis e regulamentações destinadas a impedir o desmatamento ilegal, prejudicando a competitividade dos produtores americanos de madeira e produtos agrícolas.”
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P.S. – Os prejuízos que o Brasil pode tomar são incomensuráveis e Lula não está nem ligando. (C.N.)
Moraes aprova IOF para o governo salvar um ajuste que nunca existiu

Charge do Fraga (Gaúcha/Zero Hora)
Celso Ming
Estadão
A decisão do ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, de manter o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) não parece ter eliminado a questão central dos conflitos entre Congresso e o governo.
A decisão do ministro Alexandre de Moraes limitou-se a retirar do pacote do IOF a tributação que incidiria sobre o crédito denominado “risco sacado”, que é uma operação comum no comércio, em que o fornecedor recebe à vista do banco pela mercadoria vendida no atacado, e o comerciante assume a dívida a prazo com o banco.
OUTRA QUESTÃO – Mais de uma vez, o próprio ministro, na condição de árbitro do conflito entre os outros dois poderes, afirmou que a questão central estava no uso indevido de um imposto regulatório, como é o caso do IOF, para fins escancaradamente arrecadatórios.
A razão pela qual o governo optou pelo IOF para aumentar a arrecadação tem a ver com a exigência do princípio da anualidade – o que determina que um imposto destinado a aumentar a arrecadação só entre em vigor no exercício fiscal seguinte ao da aprovação da lei. Essa exigência não se estende aos impostos regulatórios, porque eles têm de entrar imediatamente em vigor.
Depois que o Congresso rejeitou a medida provisória que instituiu o pacote, o governo recorreu ao Supremo na tentativa de reverter a decisão legislativa. Uma coisa é judicializar decisões para defender prerrogativas constitucionais, quando existem. Outra, bem diferente, é escavar narrativas contraditórias para impor o descabido.
CONTRIBUINTE IDIOTA – Ao tentar justificar o injustificável, a equipe econômica trata os contribuintes e a opinião pública como idiotas.
Ao longo de semanas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu a medida provisória do IOF como necessária para cobrir, em grande parte, o rombo fiscal que o governo se recusa a enfrentar por meio da redução de despesas. Definia, portanto, sua natureza tributária.
Em 2023, durante a apresentação do arcabouço fiscal, o ministro Haddad jurou que não aumentaria a carga tributária para cumprir metas fiscais.
CULPA DOS RICOS – Na batalha perdida para o Congresso, o governo Lula passou a acusar os lobbies dos ricos de empurrar para a população mais pobre o custo do saneamento fiscal, na base do “nós contra eles”.
Ou seja, passou a defender o pacote como política de justiça tributária.
É argumento sem pé nem cabeça porque, além de encarecer o custo do crédito para as camadas de renda mais baixa, passou a conta para os microempreendedores individuais, para as pequenas e médias empresas que usam o Simples para saldar suas obrigações com o Fisco.
REGULATÓRIO? – Quando percebeu que estava em jogo o uso inapropriado de um tributo, a equipe econômica, principalmente o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, inventou a narrativa de que o principal objetivo do pacote era mesmo regulatório e que o aumento da arrecadação não passava de efeito colateral.
Não é preciso ir muito longe para explicar por que um imposto regulatório não pode ser usado para fins arrecadatórios. É que esse desvio tira força do imposto quando ele terá de ser usado depois para fins regulatórios.
Como o ministro não tratou da questão que ele próprio havia julgado central, a matéria parece sujeita a novos questionamentos na Justiça.
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