É claro que o plano de Bolsonaro para voltar ao poder não dará certo
Charge do Thiago Lucas (Jornal do Commercio)
Dora Kramer
Folha
Pesquisas de opinião sobre projeções de votos nesta altura dos acontecimentos animam ou desanimam os engajados, mas estão a um passo de se configurar obra de ficção se considerado o universo completo do eleitorado.
Agora significa pouco ou quase nada fulano estar “xis” pontos à frente ou atrás de beltrano, como se diz, se as eleições fossem hoje. Fato é que serão só daqui a mais um ano num ambiente volátil, propício a erro de cálculos.
BOLSONARO DISPUTA – A maior evidência dessa fantasia está na presença de Jair Bolsonaro (PL) como o preferido dos que rejeitam a reeleição de Luiz Inácio da Silva (PT). O ex-presidente não concorrerá, assim como não concorreu o atual quando esteve também inelegível em decorrência do cumprimento de pena de prisão.
Em 2018, Lula aparecia bem cotado nas pesquisas e por isso registrou candidatura à qual viria a renunciar praticamente às vésperas do pleito, em favor de Fernando Haddad (PT).
A insistência no cenário fictício era fruto de aposta na transferência automática de votos. Não deu certo, mas talvez tivesse dado caso desde o início o nome de Haddad fosse bem trabalhado como alternativa viável ao desastre anunciado.
MESMO ESTRATAGEMA – Águas passadas? Nem tanto, se considerarmos a repetição do estratagema no terreno oposto. Lá, Lula quis se manter relevante, assim como Bolsonaro aqui pretende o mesmo. Direito deles. Ocorre, porém, que condutas personalistas põem em risco projetos coletivos.
O PT ganhou em 2022 por um triz, com a ajuda do centro democrático que depois de eleito Lula desprezou. A direita não radicalizada (sim, ela existe, faz parte da política, queira a esquerda ou não) ganhou uma chance de se organizar e atrair esse campo para um programa compartilhado, como fez Fernando Henrique Cardoso em 1994.
Oportunidade que será perdida com a submissão aos planos de extremistas reverentes às ordens de um capitão, reformado para não ser expulso do Exército, ora atado pelo tornozelo e em via de ser condenado por tentar golpe de Estado. Não vai dar certo.
Pedidos de impeachment de Moraes estão entupindo a Mesa do Senado

Charge do Izânio (Arquivo Google)
Vicente Limongi Netto
Demoraram até conseguir contar o número certo, mas a Mesa Diretora do Senado Federal já tem 47 pedidos de impeachment contra o amado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. É a glória para todo magistrado que se preze.
Quando o volume alcançar 100 pedidos, o atencioso presidente da Suprema Corte, ministro Luís Roberto Barroso, vai promover coquetel público, para inaugurar galeria com todos os pedidos emoldurados. Presenças confirmadas de passistas da Mangueira, jogadores de futebol famosos e cantores como Alcione, Martinho da Vila e Zezé de Camargo.
VOZ DE VELUDO – Não está afastada a possibilidade de o ministro Barroso dar canja com sua voz aveludada aos convidados, para cantar “Evidências”. Autoridades com tornozeleira eletrônica serão convidadas de honra. O austero cerimonial do STF ainda não confirmou se o ex-presidente Jair Bolsonaro aceitará cortar a fita da bela e expressiva galeria.
Fora do prédio do STF, grupo de mendigos pedirá aos seguranças: “Sobrando pão com manteiga, mandem para nós”.
O austero presidente Lula, refinado socialista, marcará presença, é claro, caso não esteja no exterior, em missão oficial, trabalhando ardorosamente pelo Brasil. Sempre hospedado em modestas pensões, para economizar o dinheirinho suado dos brasileiros.
NA GLOBONEWS– Pândegos e pândegas da GloboNews, sempre ela, enchendo o peito agora, para descobrir, antes tarde do que nunca, que todos os passos de Bolsonaro objetivam torna-se vítima e perseguido pelo STF. Venho escrevendo sobre isso há semanas.
Hoje, o principal da ópera bufa brasiliense é Bolsonaro esperando a hora de ser preso. Valise com chinelos, pasta de dente, escova e pijamas já pronta. Castelinho, Hélio Fernandes, Villas Boas, Rui Lopes, Rubens Azevedo Lima, Paulo Branco, João Emilio Falcão, Evandro Paranaguá, Carlos Chagas etc., revirados nos túmulos.
Estratégia afrontosa de Trump sobre tarifas já está dando bons resultados

Supostas insanidade de Trump são friamente planejadas
Faisal Islam
BBC News
As tarifas de importação já representam somas significativas para o Tesouro dos Estados Unidos, sem enfrentar retaliação contra os exportadores americanos. Os valores somam, desde o início do ano, mais de US$ 100 bilhões (cerca de R$ 554 bilhões). As tarifas já representam cerca de 5% da receita federal americana, em comparação com os 2% típicos anteriormente.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, acredita que a receita anual com as tarifas será de US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,66 trilhão).
O valor está muito abaixo do que o país arrecada com o imposto de renda, mas é um montante considerável, recebido sem retaliações diretas dos países exportadores e, agora, sem as turbulências observadas inicialmente no mercado.
QUEM PAGA? – Mas a história não termina aqui. Afinal, quem, na verdade, está pagando estas tarifas? Em última análise, os consumidores americanos pagarão uma grande parte delas, na forma de aumento dos preços pagos por produtos importados.
Bessent foi um dos que sugeriram, no passado, que o aumento do valor do dólar americano ajudaria a reduzir o custo das importações para os consumidores. Mas o que ocorreu foi o contrário. O dólar caiu no mercado internacional no primeiro semestre deste ano. A moeda americana perdeu 10% do valor, em comparação com uma cesta de moedas mundiais. E esta queda irá se somar ao custo das importações, além das tarifas.
Existem aqui também outras questões em discussão. O presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, declarou esta semana que “o comércio mais movimentado do mercado no momento é o ‘dólar curto'”.
PADRÕES DESTRUÍDOS – Bailey destacou que os padrões de segurança estabelecidos nos mercados, especialmente em relação ao dólar americano, estão “sendo essencialmente destruídos”.
Existe uma “redução de exposição” ao dólar, com as empresas e comerciantes eliminando suas transações ou os “hedges destinados a garantir proteção contra seu declínio”, segundo Bailey.
Como discuti anteriormente, existe nos mercados a suspeita de que este dólar mais fraco, na verdade, possa fazer parte do objetivo destas intervenções, que foram projetadas para ajudar a promover, por exemplo, a retomada da competitividade das indústrias americanas. Além disso, os Estados Unidos também ajudaram seu grande rival, a China, a mostrar para o resto do mundo que pode, pelo menos, ser um parceiro comercial mais estável.
VITÓRIA DE TRUMP – Neste primeiro estágio da grande guerra comercial global, o recente acordo comercial entre os Estados Unidos e o Japão é uma vitória importante para a Casa Branca. Ele irá combater a noção de que “Trump sempre muda de ideia”.
Este panorama poderá se traduzir em outras aparentes vitórias nas manchetes da próxima semana, aumentando a euforia do mercado. Mas o quadro econômico, de forma geral, permanece muito mais sombrio.
O Japão é uma peça importante na convulsão do sistema de comércio mundial, causada pelo presidente americano, Donald Trump. É possível, agora, afirmar que sua abordagem agressiva está gerando resultados tangíveis.
ACORDO ESPERADO – Desde o princípio, o lado americano vem falando sobre as possibilidades de chegar a um acordo com o Japão. Mas, apesar das diversas tentativas, a negociação era estranhamente elusiva, até agora.
Estritamente falando, esta é uma vitória da técnica de Trump, especialmente se o Japão se tornar uma espécie de peça de dominó que leva o resto do mundo a se alinhar.
O Japão, agora, conta com o melhor acordo (ou, melhor dizendo, o menos ruim) entre todas as nações com superávit comercial importante sobre os Estados Unidos. A tarifa geral de 15% a ser cobrada sobre os produtos japoneses importados pelos Estados Unidos é superior aos 10% do Reino Unido, mas os britânicos não detêm superávit comercial.
FÚRIA DOS JAPONESES – Tóquio estava jogando duro. Acostumados à extrema polidez do país asiático, os diplomatas de Washington estranharam a fúria dos negociadores japoneses durante as negociações.
O ministro da Fazenda do Japão chegou a descrever o estoque de US$ 1,1 trilhão (cerca de R$ 6,1 trilhões) em bônus do Tesouro americano (o maior do mundo), mantido pelo país asiático, como uma “carta” que poderia ser colocada na mesa.
Houve rumores de que os fundos de hedge japoneses estariam vendendo bônus americanos, após o anúncio das tarifas de importação, em abril. O “Dia da Libertação” de Trump causou forte venda dos títulos e despertou questões maiores sobre a maior economia do mundo e o status de paraíso seguro do dólar americano.
ENORME IMPORTÂNCIA – Por isso, o estabelecimento de um acordo comercial entre os Estados Unidos e o Japão tem enorme importância, isoladamente e como exemplo para outros blocos econômicos importantes, incluindo a União Europeia (UE).
O acordo veio no dia em que os japoneses recebem líderes da UE em Tóquio. Surgiu um certo falatório de que o Japão, a UE e o Canadá estariam coordenando sua retaliação conjunta. Mas este acordo suspende qualquer iniciativa.
Alguns membros da União Europeia se perguntarão por que não podem chegar a um acordo similar, em um momento em que a Alemanha e a França aceleram o passo rumo à retaliação, talvez contra as gigantes americanas da tecnologia.
FALTAM DETALHES – O mundo aguarda para saber os detalhes do acordo, mas já está claro que o Japão protegeu suas importações de produtos agrícolas, embora vá importar mais arroz dos Estados Unidos.
Não se sabe ao certo o que poderá aumentar a popularidade dos grandes carros americanos no país asiático. Mas as empresas privadas japonesas receberão apoio para investir nos Estados Unidos, de alguma forma, a quantia de meio trilhão de dólares (cerca de R$ 2,8 trilhões).
O Japão poderia ter esperado para observar o desenrolar da situação e a reação dos mercados internacionais, quando entrarem em vigor as tarifas mais elevadas de Trump para diversos países (incluindo o Brasil), programadas para o dia 1° de agosto.
FRAGILIDADE – Mas a fraca posição doméstica atual do primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, pode ter influenciado as negociações. E outros países, como a Indonésia e as Filipinas, também celebraram acordos.
O panorama atual mostra uma penosa aceitação mundial de que os Estados Unidos irão cobrar dos seus principais aliados tarifas de importação que, um ano atrás, teriam sido impensáveis, por medo de que sobrevenha algo pior.
No caso do Japão, a ameaça de Trump foi uma tarifa de 25%.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Excelente análise. Quem considerava Trump um alucinado irresponsável está quebrando a cara. Conforme o próprio Trump explicou, ele tem direito de mexer nas tarifas dos Estados Unidos, e os governantes dos outros países têm idêntica prerrogativa. No caso do Brasil, ele deu uma pitada de pimenta política no tarifaço, para mostrar como os EUA protegem as empresas americanas que são ameaçadas por outros países. Mas Lula, Moraes e a maioria do Supremo não acreditaram no que Trump dizia, e o Brasil virou exceção no mercado mundial, ridicularizando nosso país no concerto das nações, como se dizia antigamente. É lamentável… (C.N.)
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