segunda-feira, 21 de julho de 2025

 

A escalada antidemocrática nas relações Brasil-EUA é preocupante

Charge do Aroeira (brasil247.com)

Pedro do Coutto

O gesto do governo dos Estados Unidos de aplicar sanções a ministros do Supremo Tribunal Federal brasileiro representa um dos episódios mais graves e inéditos na história das relações diplomáticas entre duas das maiores democracias do hemisfério ocidental. Ao denunciar com firmeza essa afronta, o presidente Lula da Silva faz não apenas a defesa da soberania nacional, mas também do princípio da separação dos poderes — um alicerce das democracias modernas e do pacto constitucional brasileiro.

Segundo informações confirmadas por veículos como a BBC Brasil e o The New York Times, a administração Trump tem atuado com viés ideológico explícito ao acolher e incentivar pressões vindas do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro, que busca minar instituições democráticas brasileiras por meio de articulações que ultrapassam todos os limites da razoabilidade diplomática.

ESTRATÉGIA – Não se trata apenas de uma ingerência externa, mas de uma tentativa deliberada de deslegitimar decisões de um tribunal supremo soberano, com o objetivo de alimentar tensões políticas internas no Brasil, forçando o país a responder não apenas com firmeza, mas com inteligência estratégica.

Ao sancionar magistrados que representam o mais alto tribunal do país, a Casa Branca rompe com a prática diplomática consagrada, colocando em xeque sua própria credibilidade internacional. Tais ações só são cabíveis — e mesmo assim sob forte debate jurídico e político — em contextos extremos, como em tempos de guerra ou em resposta a regimes de exceção que cometem violações sistemáticas dos direitos humanos.

O Brasil, por mais que enfrente turbulências políticas, permanece uma democracia funcional, com Judiciário ativo, eleições regulares e liberdades garantidas constitucionalmente. O gesto norte-americano, portanto, beira a ilegalidade e o arbítrio, e pode, inclusive, configurar abuso de poder de natureza extraterritorial.

DESCOMPROMISSO – No centro dessa crise está Eduardo Bolsonaro. Sua atuação, à margem do Itamaraty e em flagrante oposição ao governo legitimamente eleito, escancara o descompromisso de parte da extrema direita com os fundamentos republicanos. Trata-se de um comportamento que pode configurar “traição à pátria”, ainda mais grave por envolver conluios com potências estrangeiras em detrimento do interesse nacional.

Ao instrumentalizar seu sobrenome e a herança política do pai para pressionar uma potência estrangeira a intervir nas instituições brasileiras, Eduardo Bolsonaro ultrapassa os limites da liberdade parlamentar e entra no terreno pantanoso das ações antinacionais.

O pano de fundo disso tudo é ainda mais tenso. A política tarifária de Donald Trump contra o Brasil — o chamado “tarifaço” — impõe sérias restrições a setores estratégicos da economia brasileira, como o aço, o alumínio e os produtos agrícolas. Recuar agora, para Trump, significaria um sinal de fraqueza junto a sua base ultranacionalista.

RISCO – Avançar, por outro lado, representa um risco geopolítico de alta intensidade. É nesse contexto que Lula ganha pontos: ao se posicionar de forma firme, articulada e serena, reforça sua imagem de estadista diante de um cenário internacional polarizado e de um presidente norte-americano imprevisível.

Para além das disputas momentâneas, o que está em jogo é a soberania do Brasil e a integridade de suas instituições. Permitir que sanções arbitrárias vindas de Washington determinem os rumos da política interna brasileira seria um retrocesso histórico — e um grave precedente para o continente latino-americano, já marcado por ciclos de interferência e tutelagem estrangeira.

DESCONFORTO –  A comunidade internacional observa com atenção. Organismos como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o próprio Conselho de Direitos Humanos da ONU já demonstraram, em outras ocasiões, desconforto com atitudes semelhantes.

Cabe agora ao Brasil se unir em torno de suas instituições — independentemente de filiação partidária — para rejeitar qualquer tentativa de desestabilização promovida por interesses que não dialogam com os valores democráticos nem com o respeito ao direito internacional.

O futuro dessa crise dependerá não apenas da resposta do governo brasileiro, mas também da postura da sociedade civil, da mídia responsável e do Congresso Nacional. Afinal, não se trata apenas de política externa. Trata-se da preservação da nossa soberania, da integridade do sistema de Justiça e, sobretudo, da dignidade institucional do Brasil como nação.

Moraes poderia ter esperado um pouco, mas ele também não mede suas ações

Governo vê ato como 'ingerência' e avalia chamar embaixadora em protesto

Moraes e Trump não têm paciência e estão se atropelando

Merval Pereira
O Globo

Nós aqui quebrando a cabeça, tentando entender o que provocou a ira trumpista contra o Brasil, buscando um pouco de bom-senso nas decisões estapafúrdias tomadas, e tudo pode se resumir a uma questão pessoal.

O BRICS certamente irrita Trump, volta e meia ele bate nessa tecla, especialmente na questão da moeda que substituiria o dólar no comércio internacional. Mas Trump sabe também que o BRICS não é uma ameaça iminente, se é que será ameaça algum dia. Há as big techs, que não querem se responsabilizar pelo que transmitem. Essas são influentes no círculo trumpista e têm poder de fogo. Se equivocam, porém, se consideram que o Brasil não tem força política para regulamentá-las.

EM DÉFICIT – O comércio internacional não pode ser, pois ainda estamos em déficit com os Estados Unidos. Há quem ainda acredite que Bush filho só invadiu o Iraque para vingar o pai, que anos antes havia entrado em guerra com aquele país para defender o Kuwait de uma invasão. Pois Freud está novamente em campo, desta vez influenciando Trump a defender seu avatar brasileiro, como se defendesse a si próprio.

A confusão entre Bolsonaro, Trump e o Brasil piorou e está longe de terminar. É uma mistura de decisões políticas com pessoais, difíceis de negociar. Muitos fatores estão envolvidos, mas nada de concreto além da tentativa de criar um ambiente que propicie uma rendição do governo brasileiro.

Trump está cada vez mais apostando na liberação do ex-presidente Bolsonaro, e fez questão de demonstrar seu apreço ao mandar-lhe uma carta pessoal, enquanto não responde à carta institucional que o governo brasileiro enviou através do Itamaraty.

REAÇÃO DE MORAES – Está claro que as restrições do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes impostas a Bolsonaro vieram em resposta a esta tentativa de Trump de pressionar o STF, especialmente o próprio Moraes e demais ministros.

Acredito que Moraes poderia ter esperado um pouco, mas ele também não mede as reações. Tomar esta decisão em cima da carta de Trump para Bolsonaro deixa muito evidente que ele está participando desta disputa com o presidente americano. E se sentindo perseguido, dobra a aposta.

A tornozeleira era previsível, porque há muito tempo Bolsonaro deveria estar sendo acompanhado. Todas as razões alegadas para as medidas restritivas ao ex-presidente brasileiro existem há muito tempo.

PRISÃO PREVENTIVA – Poderia até mesmo ser decretada uma prisão preventiva. Que pode sair a qualquer momento, dependendo do que acharem no tal pendrive descoberto no banheiro da casa dos Bolsonaro. Ou do desenrolar do episódio, pois os bolsonaristas garantem que outras medidas virão, além da proibição de 8 ministros do STF de viajar para os Estados Unidos.

 Ainda teremos Paris, lembrou sarcasticamente um deles (Barroso?), repetindo a famosa frase de Humphrey Bogart no filme Casablanca.

Eduardo Bolsonaro e seus cupinchas estão em uma atuação internacional que prejudica o país. E não se pode deixar que Bolsonaro fuja de suas responsabilidades na tentativa de golpe, e se torne um exilado político vitimizado. Vejo o futuro imediato com muita preocupação.

BRIGAS PESSOAIS – O problema deixou de ser econômico; é muito mais pessoal, uma tentativa de interferência no sistema jurídico brasileiro que não tem o menor sentido. Seria importante começar a pensar em como dirigir nosso comércio para outros países, e fechar o acordo com a Europa. Freud pode explicar essa obsessão de Trump por Bolsonaro.

Por falha da Justiça americana, Trump escapou da cadeia por ter sido eleito presidente da República. Vê em Bolsonaro sua cópia prestes a ser preso pelo mesmo crime: tentativa de golpe para impedir que o vencedor das eleições assumisse a presidência da República.

Brasil ficou sozinho no mundo, nenhum país aceita apoiar Lula contra Trump

Jornal - #charge de Thiago Lucas (@thiagochargista), para o Jornal do Commercio. #lula #trump #eua #usa #mundo #tarifas #economia #brasil #chargejc #chargejornaldocommercio #chargethiagojc #chargethiagolucas #chargethiagolucasjc | Facebook

Charge de Thiago Lucas (|Jornal do Commercio)

Carlos Newton

É uma situação jamais vista. Embora já esteja com a data de validade vencida, como o mais idoso governante de país tido como democrático, que realiza eleições consideradas livres, o presidente Lula continua empenhado em se reeleger no próximo ano e quer aproveitar a disputa com Donald Trump para conseguir votos. Só pensa nisso, tudo o que faz é motivado por essa obsessão, que a própria mulher incentiva.

Nesta segunda-feira, em Santiago do Chile, Lula faz mais uma tentativa de buscar que algum país apoie o Brasil nessa iniciativa, mas nenhum governante lhe estende a mão.

RESPOSTA CONJUNTA – Lula sonha (?) em  usar essa pequena reunião no Chile para articular uma resposta conjunta de governos democráticos contra os avanços da extrema direita. O presidente chileno, Gabriel Boric, será o anfitrião na reunião, que ainda contará com o uruguaio Yamandú Orsi, o colombiano Gustavo Petro e o espanhol Pedro Sánchez, além de Lula.

Segundo o excelente repórter Jamil Chade, do UOL, a iniciativa não tocará no nome de Donald Trump.  Mas é claro que Lula dará um jeito de fazê-lo. Mas não haverá o resultado pretendido.

Nenhum país pretende apoiar o Brasil nesta trapalhada. Lula tenta convencê-los de que o motivo são as tarifas, mas todos sabem que a perseguição movida pelo Supremo à extrema direita brasileira acabou atingindo as big techs americanas, com ordens nada democráticas, multas e aplicação de censura prévia por ordens do STF. E Trump está apenas revidando.

MÍDIA APOIA LULA – Em busca das verbas publicitárias, a quase falida grande mídia apoia Lula incondicionalmente. Depois de publicar candentes editoriais apontando as falhas grotescas do Supremo, a grande imprensa mudou de lado, agora tudo é defesa da soberania, o nacionalismo não é mais o último refúgio do canalha, deixem em paz o grande pensador inglês Samuel Jonhson.

Lula posa de grande herói nacional, o único a enfrentar Trump, como se o presidente americano não tivesse o dever de lutar em defesa dos interesses dos Estados Unidos. Aliás, esse direito de Trump aumentar ou diminuir tarifas é reconhecido internacionalmente, nenhum país o contesta.

Entre os países da ONU que mantêm relações comerciais com os Estados Unidos e realmente têm alguma importância, apenas o Brasil não conseguiu renegociar as novas tarifas fixadas. China, Vietnã e Rússia se apressaram em negociar.

P.S. – Em tradução simultânea, Lula está completamente perdido. Depois de uma semana inteira de euforia, em que usou o nacionalismo piegas para ganhar apoio a um governo que inexiste, Lula enfim percebe que caiu numa armadilha. Quanto aos ministros do Supremo, passaram um fim de semana de tristeza. Deixaram Moraes descumprir leis importantíssimas, de âmbito internacional, e agora têm de aturar a humilhação(C.N.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário