domingo, 26 de maio de 2024

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O STF na História | Por Luiz Holanda

Sessão solene de abertura do Ano Judiciário de 2024 no STF.
Sessão solene de abertura do Ano Judiciário de 2024 no STF.

Sofrendo atualmente críticas contundentes, inclusive com propostas de redução de seus poderes, o Supremo Tribunal Federal (STF) já foi alvo de manifestações de aplausos por parte do povo brasileiro. Para os que não se recordam, o Supremo foi um dos baluartes na defesa da democracia durante o regime militar, que, durante 21 anos, interrompeu o período democrático iniciado em 1945 com o fim da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas.

Tão logo assumiram o poder, os militares começaram a alterar as instituições por meio de decretos, batizados de Atos Institucionais (AI). O Supremo Tribunal Federal foi uma delas. Até a decretação do AI-5, em 1968, ainda era possível conceder habeas corpus a presos políticos. Com o AI-5, suspenderam-se os habeas corpus para os crimes políticos e para os crimes contra a segurança nacional, a ordem econômica e social, e a economia popular.

Logo após ser empossado na presidência da República, o general Castelo Branco, em visita de cortesia ao STF, fez um discurso no qual tentou enquadrar o Supremo pedindo que o Tribunal seguisse “as orientações da revolução”. O ministro Álvaro Ribeiro da Costa, de forma dura, respondeu dizendo que o Supremo era o ápice do Poder Judiciário e que não deveria ser enquadrado em nenhuma ideologia revolucionária.

Castelo retrucou, falando que quem mandava era o Executivo. Ribeiro da Costa respondeu que se cassassem algum ministro do Supremo ele fecharia o Tribunal e entregaria as chaves ao porteiro do Palácio do Planalto. Castelo, então, por meio do Ato AI 2, aumentou o número de ministros do Tribunal de 11 para 16, nomeando cinco ministros: Adalício Nogueira, Prado Kelly, Oswaldo Trigueiro, Aliomar Baleeiro e Carlos Medeiros. Mais tarde, em fevereiro de 1967, nomeou o deputado federal Adauto Lucio Cardoso, da União Democrática Nacional (UDN), para ocupar a vaga deixada pela aposentadoria do ministro Ribeiro da Costa. Adauto foi protagonista de outro célebre exemplo de resistência do STF, o caso da lei da mordaça, um decreto-lei que instituía a censura prévia de qualquer livro que fosse publicado a partir daquela data.

Tão logo o decreto foi aprovado pelo Congresso, submisso aos interesses dos militares, a oposição entrou com um recurso no STF dizendo que aquela norma era inconstitucional, por atentar contra a liberdade de expressão, mas o Supremo disse que não poderia se intrometer nos interesses da revolução. Indignado com o posicionamento do Tribunal, o ministro Adauto Lúcio Cardoso levantou-se, retirou a toga e disse que nunca mais voltaria ao Supremo, solicitando sua aposentadoria logo após o julgamento do recurso.

Esta foi uma das melhores ilustrações do Judiciário na história. Outras demonstrações de resistência ocorreram, muito embora algumas humilhações tenham ocorrido sob o “estado do medo” vigente na época. Atualmente, o STF vem sofrendo críticas contundentes da imprensa devido algumas decisões proferidas em relação às delações da Operação Lava Jato.

*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.

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