Lira deve continuar presidindo a Câmara, porém Pacheco não tem chance no Senado
Igor Gadelha e Gustavo Zucchi
Metrópoles
As novas configurações da Câmara dos Deputados e do Senado após as eleições deste ano já movimentam, nos bastidores, as apostas sobre o futuro de Arthur Lira (PP-AL) e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Parlamentares bolsonaristas e do Centrão convergem na previsão de que Lira deverá reeleito para o comando da Câmara, enquanto Pacheco deve perder a presidência do Senado.
Aliados de Jair Bolsonaro dizem que, se reeleito, o atual presidente trabalhará pela reeleição de Lira. Argumentam que ele é grato ao deputado por ter cumprido acordos e ajudado o governo a aprovar suas pautas na Câmara.
SUPERBANCADA – Fora o apoio de Bolsonaro, Lira pode ter ao seu lado uma “superbancada” na Câmara, caso avance a proposta de fusão entre seu atual partido, o PP, com o União Brasil.
Já Pacheco não deve ter a mesma facilidade, se Bolsonaro for reeleito. O presidente da República já avisou que quer aproveitar seu bom desempenho de sua base aliada nas eleições para o Senado para ter um apoiador no comando da Casa.
Dois nomes disputam como favoritos: a ex-ministra Tereza Cristina (PP), eleita senadora pelo Mato Grosso do Sul, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do atual chefe do Planalto.
DEIXAR O PL – Para viabilizar o projeto, Tereza Cristina avalia até mesmo deixar o PP e se filiar ao PL. Dessa forma, evitaria as críticas de que o PP terá sozinho o comando da Câmara (com Lira) e do Senado.
Independente da presidência do Senado, a ex-ministra está decidida a migrar para o PL, caso o PP e o União Brasil se fundam. Em seu estado, o União é controlado pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, adversário de Tereza, que se elegeu deputado federal.
Após as eleições deste ano, o PL deverá ter a maior bancada do Senado, com 15 senadores, superando o MDB, que ficou com 12 senadores, e o PSD, que terá 11 senadores.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Mesmo que Bolsonaro seja reeleito presidente, que é uma possibilidade remota, dificilmente o Senado se deixará dominar pelo chefe do governo. Ainda é cedo, porque o embate somente se dará em fevereiro e Renan Calheiros deve ser candidato. Vamos aguardar. (C.N.)
Quem poderia imaginar que Lula seria apoiado por nomes importantes do grande capital?
José Carlos Werneck
Aqueles petistas raiz, fundadores do partido, ressentidos e raivosos com os banqueiros e com os ricos, jamais poderiam imaginar que a candidatura de seu líder maior viesse a ser apoiada por nomes significativos do grande capital financeiro.
Um deles é Armínio Fraga, ex- presidente do Banco Central no Governo FHC, com formação impecável e currículo acadêmico com passagem na prestigiada Universidade de Princeton, menino bem nascido, estudante do Colégio Santo Inácio e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, autor de consagradas obras acadêmicas, como” German Reparations and Brazilian Debt: A Comparative Study”, e gestor da importante Gávea Investimentos.
RISCOS À DEMOCRACIA – Armínio Fraga ressaltou sobre apoio a Lula no segundo turno: ‘Estamos falando de riscos à democracia’. Lembrem-se que o ex-presidente do BC já demonstrava ser crítico à gestão de Jair Bolsonaro e até discursou durante a leitura de duas cartas em defesa da democracia, no dia 11 de agosto, na Faculdade de Direito da USP.
Armínio Fraga afirmou que os grandes temas não são econômicos. “Nós estamos aqui falando de riscos para nossa democracia, que na minha leitura aumentaram. Não há como colocar isso de uma maneira diferente.
“Nós estamos observando movimentos autocráticos mundo afora. São situações em que a deterioração da qualidade da democracia ocorre gradualmente. O povo continua votando, mas as coisas vão perdendo a sua qualidade, vão perdendo a sua força. Isso é relevante porque, na esteira disso, vêm fracassos retumbantes na economia também”.
OUTROS APOIADORES – Igualmente, os economistas Edmar Bacha, Pedro Malan e Persio Arida declararam voto em Lula da Silva no segundo turno das eleições. Em nota, os criadores do Plano Real afirmaram: “Votaremos em Lula no segundo turno; nossa expectativa é de condução responsável da economia”.
Malan foi ministro da Fazenda durante o governo de FHC e presidente do Banco Central durante o governo de Itamar Franco. Junto com ele, Persio Arida e Edmar Bacha foram os criadores do Plano Real.
Persio Arida, ex-presidente do BNDES e do Banco Central, declarou seu voto na quarta-feira (5), segundo o jornal “O Globo”. Ele afirmou que considera o presidente Jair Bolsonaro “claramente uma ameaça à democracia brasileira” e que houve “imenso retrocesso civilizatório” em seu governo.
APOIO DO CENTRO – Para ele, um eventual governo Lula terá responsabilidade fiscal e está com “expectativa de boas políticas econômicas na direção das reformas”, diante de uma base de apoio mais ao centro.
Arida já coordenou o programa do atual candidato a vice-presidente pelo PT, Geraldo Alckmin, em campanhas anteriores.
Ao ler as declarações de tão consagrados nomes do grande capital, fiquei tranquilo. O “perigo vermelho” com uma possível volta de Lula à Presidência da República é coisa do passado, pois tenho absoluta certeza de que Armínio Fraga não tem ideia do preço do quilo de feijão, mas sabe de cor o valor de um excelente taco de golfe!
Lula é aconselhado a nomear Alckmin para comandar a Defesa e acalmar os militares
Vera Rosa
Estadão
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi aconselhado a chamar Geraldo Alckmin, candidato a vice em sua chapa, para comandar o Ministério da Defesa em eventual governo do PT. A ideia, apresentada por um ex-titular da pasta para o próprio Alckmin, antes do primeiro turno das eleições, é bem vista por alguns interlocutores de Lula.
Conhecido pela discrição, o ex-governador de São Paulo tomou a iniciativa de pedir a conversa reservada porque foi um dos escalados por Lula para sondar o ânimo das Forças Armadas diante das ameaças golpistas do presidente Jair Bolsonaro. Ficou surpreso, porém, quando ouviu que ele seria o nome ideal para a Defesa.
MOSTRAR APREÇO – “Há uma sintonia entre os militares e o senhor”, disse-lhe o ex-ministro, que me contou o diálogo sob a condição de não ter o nome divulgado. “Ninguém melhor do que um vice-presidente da República para mostrar o apreço pelas Forças Armadas”, continuou ele, referindo-se a Alckmin.
A conversa ocorreu há cerca de dois meses, em São Paulo. O ex-ministro destacou a importância de Lula fazer um gesto para se aproximar dos militares, caso vença a eleição, após um período de desgaste e tensões. Recomendou, por exemplo, o apoio a projetos estratégicos que envolvem a defesa nacional e contemplam Exército, Marinha e Aeronáutica, além do respaldo à proposta para regulamentar a participação de oficiais em cargos públicos.
“Não podemos viver novas assombrações”, afirmou o ex-titular da Defesa, numa referência à politização das Forças Armadas.
O Estadão apurou que Lula não tomou qualquer decisão sobre o assunto. No primeiro mandato do petista, o vice-presidente José Alencar acumulou a função com a de ministro da Defesa, de novembro de 2004 a abril de 2006, substituindo o diplomata José Viegas Filho.
CURINGA DO TIME – Atualmente, Alckmin virou um curinga na equipe. Tem conversado com militares, empresários, religiosos e representantes do agronegócio, com o intuito de quebrar resistências e desconfianças em relação a um possível novo governo.
Desde o primeiro turno, Lula é cobrado a divulgar com antecedência quem desejaria ver na cadeira de ministro da Economia e até da Defesa. “É loucura imaginar que você pode indicar time antes. Quem quiser conhecer meu ministério, vai ter que esperar primeiro eu ganhar eleições”, avisou o candidato do PT, nesta quinta-feira, 6.
Visto pelo mercado financeiro como uma espécie de garantia contra o radicalismo, Alckmin também já teve o nome citado para ocupar a pasta hoje dirigida por Paulo Guedes. Questionado, o ex-governador sempre negou que vá comandar um ministério, se a chapa sair vitoriosa da disputa com o presidente Jair Bolsonaro. “Vice é copiloto. A tarefa é ajudar, colaborar no conjunto do governo”, costuma repetir o ex-tucano, hoje nas fileiras do PSB.
FALTA APROXIMAÇÃO – A relação com os militares é considerada protocolar e até mesmo “intransponível” pelo comando da campanha de Lula. Piorou a partir do governo Dilma Rousseff, com a criação da Comissão da Verdade, considerada pela caserna como uma tentativa de “revanche”. Embora haja contatos de emissários do ex-presidente com a cúpula das Forças Armadas, ainda não houve abertura para uma aproximação maior.
Em abril, Lula adiantou que, se eleito, demitirá aproximadamente 8 mil militares, hoje em cargos comissionados. A manifestação provocou mal-estar na caserna, que também teme mudanças nas regras aprovadas pelo Congresso para a aposentadoria dos militares – mais vantajosas do que a de outras categorias –, caso o PT volte ao poder.
“O papel dos militares não é puxar saco de presidente, nem de Lula, nem de Bolsonaro. Eles têm quer ficar acima das brigas políticas”, afirmou Lula no primeiro turno da corrida ao Planalto. “O Exército não serve para política. Deve servir para proteger a fronteira e o país das ameaças externas”, emendou.
ARTIGO 142 – Apesar da pressão do partido, Lula vetou a proposta de incluir a revogação do artigo 142 da Constituição nas diretrizes de seu programa de governo. Como mostrou o Estadão, uma ala do PT defendia a retirada desse artigo por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional, batizada de “PEC antigolpe”.
O artigo 142 estabelece que, sob a autoridade suprema do presidente da República, as Forças Armadas “destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por garantia de qualquer destes, da lei e da ordem”.
No confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro mencionou várias vezes o dispositivo constitucional. Na ocasião, suas declarações foram interpretadas no meio político e jurídico como ameaça de intervenção militar. “Fake news”, reagiu ele. A escalada de tensões na Praça dos Três Poderes, porém, parece longe do último capítulo.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Matéria muito interessante da repórter Vera Rosa, que tem bons informantes no meio militar. Lula vem sendo muito inábil em suas declarações sobre as Forças Armadas. O motivo é simples – os militares não querem Lula de volta ao Planalto. Se ganhar no voto, eles até aceitam numa boa. Mas a imagem do petista nas Forças Armadas é a pior possível. Eles sabem o que Lula fez no verão passado, digamos assim, lembrando um filme de suspense bem roteirizado. (C.N.)
É com apoio do Congresso, e não dos militares, que Jair Bolsonaro pretende invadir o Supremo
Eliane Cantanhêde
Estadão
O ano de 2022 marca o estrangulamento do centro e a polarização entre os extremos para além das eleições, com a esquerda de um lado e a extrema direita de outro, ambos servindo como ímã para as demais forças políticas. E é assim que os movimentos no segundo turno, de certa forma naturais, são da centro-esquerda para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da centro-direita para o presidente Jair Bolsonaro.
Esse estrangulamento do centro parece, mas não é, exclusivo do Brasil. Basta olhar a Colômbia, há décadas presidida pela direita, que viveu neste mesmo 2022 uma eleição entre um ex-guerrilheiro do M-19, Gustavo Petro, e um ricaço que, em 2016, fez loas “ao grande pensador alemão Adolf Hitler”, quando queria dizer Albert Einstein…
DIREITA RESSURGE – Na Europa, onde os governos aglomeravam partidos e ideias ao centro, a extrema direita emerge por toda a parte, com um discurso que continua chocando metade da população brasileira, mas não choca mais boa parte da outra metade.
Essa “novidade” é mais evidente na França, mas é forte na Suécia e na Alemanha e desponta até em Portugal e Itália. Sem falar em Hungria, Polônia, Rússia e na estonteante vitória de Donald Trump nos Estados Unidos.
Lula atrai nomes de grande apelo moral, a começar de Fernando Henrique Cardoso, com quem se reencontra numa foto, quatro décadas depois das Diretas-Já, em mais uma jornada pela democracia. Já os apoios de Bolsonaro, que não parecem tão preocupados com a democracia, têm o principal: votos.
UM E OUTRO – É assim que Lula tem maior chance de vencer no dia 30 e não diz para quê, mas Bolsonaro já faz planos para o “day after”. Planos que fazem todo o sentido, porque a história mostra que líderes com instinto e projetos autoritários usam o segundo mandato para aumentar seu poder e reduzir o das instituições, como Hugo Chávez na Venezuela.
No mapeamento do Planalto, a bancada bolsonarista tem 44 (não 41) dos 81 senadores de 2023, do PL, PP, PSC e Republicanos, mas também do PSD, União Brasil, Podemos e MDB. É com esse exército, não as Forças Armadas, que Bolsonaro pretende fechar o cerco.
INVADIR O SUPREMO – Se reeleito, Bolsonaro terá Executivo, Legislativo (não mais só a Câmara) e tentará invadir o Supremo, com impeachment de ministros e mais sete cadeiras na Corte.
O STF está atento, saca a cláusula pétrea da independência dos Poderes e conta com o bom e velho pragmatismo do Centrão. Para eles, orçamento secreto e mensalão, sim, mas golpe e ataques às instituições e à democracia, aí, não!
Aliás, foi o que disse Valdemar Costa Neto, presidente do PL de Bolsonaro, num giro pelo Supremo na quinta-feira. Que não seja só de boca para fora.
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