Cúpula do União Brasil coloca um pé em cada canoa, sem apoiar Lula ou Bolsonaro
Igor Gadelha
Metrópoles
A cúpula do União Brasil mantém um pé em cada campanha no segundo turno da eleição para a Presidência da República deste ano entre Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT). Enquanto o presidente do partido, Luciano Bivar, apoia Lula e mantém contato frequente com aliados do petista, o vice-presidente da sigla, Antonio Rueda, vem ajudando Bolsonaro.
Rueda, que não conseguiu se reeleger deputado federal no Acre, é braço-direito de Bivar e tem participado de reuniões da campanha de Bolsonaro dentro do Palácio da Alvorada, residência presidencial em Brasília.
SEMANA PASSADA – Um dos encontros mais recentes ocorreu no dia em que Bolsonaro recebeu cantores sertanejos. Os artistas declararam apoio à reeleição do presidente e almoçaram com ele na sequência.
No primeiro turno, o União Brasil lançou como candidata à Presidência a senadora Soraya Thronicke, que ficou em quinto lugar, com 0,5% dos votos. No segundo turno, a sigla liberou seus filiados.
O União Brasil, vale lembrar, nasceu em 2020 fruto da fusão do DEM com o PSL, sigla pela qual Bolsonaro se elegeu em 2018, mas saiu no ano seguinte, após brigar com Bivar, na disputa pelo domínio do partido. Depois, tentou criar o Aliança, mas fracassou.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Luciano Bivar é um admirador e seguidor de GiIberto Kassab, criador e dono do PSD, porque no Brasil a política é assim e muitos partidos têm dono. O posicionamento dos dois, sem apoiar Lula ou Bolsonaro desde o primeiro turno, significa que nunca acreditaram nas pesquisas e acham que a parada será duríssima no próximo domingo. Depois, então, com a maior simplicidade, tanto Kassab quanto Bivar vão se integrar à base aliada, não interessa quem seja o eleito. (C.N.)
Bolsonaristas sonham transformar o Senado num antro de vinganças, mas não conseguirão
Vicente Limongi Netto
Começou o show de pantomimas de bolsonaristas eleitos para o Senado. Cospem sangue e pregam ameaças. Ergueram um altar de arrogância e petulância. Pretendem transformar a Câmara Alta em poleiro de vinganças. Em extensão de palanques eleitorais. Nessa linha, as munições dos enfurecidos novos senadores fantasiados de paladinos de barro, apontam como alvo predileto o Supremo Tribunal Federal, especialmente o ministro Alexandre de Moraes, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral.
“É preciso frear as ações do Moraes”, prega o senador eleito, general Hamilton Mourão, atual vice-presidente da República. Melancólico cartão de visita. Seria cômico se não fosse trágico e patético. Senadores têm o dever de apreciar, discutir e deliberar propostas que melhorem a qualidade de vida dos brasileiros mais necessitados. Não perder tempo e energia com picuinhas e rancores que amesquinham o mandato e diminuem a importância e a grandeza da Câmara Alta.
TEBET NO SUPREMO? – Humor negro, piada sem graça e o mais grave, deboche ao Supremo Tribunal Federal (STF) – é o que significam as informações do Estadão (Política-A10) no dia 21, revelando que o PT deseja que a senadora sem voto e em fim de mandato, Simone Tebet, venha a ser indicada para ministra da Suprema Corte, caso Lula seja eleito.
Seria cômico se não fosse trágico. É visível e gritante o constrangimento de Simone Tebet fazendo campanha ao lado de Lula. Tebet é do MDB e, seguramente, o partido dispõe, no caso, de nomes mais expressivos para a função.
Pelo visto a reta final da acirrada campanha eleitoral está maltratando neurônios de dirigentes petistas. O PT joga o destrambelhado e patético balão de ensaio no ventilador para ver o resultado. O aroma será desagradável. É muita areia para a kombi da boquirrota senadora. O STF merece respeito.
Polarização divide quem quer acompanhar mudanças sociais e os que tentam contê-las
Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
Não haveria a moderna civilização ocidental se o Iluminismo não corroesse as entranhas do Antigo Regime até liquidá-lo, nas revoluções inglesa, americana e francesa. Começou como um movimento cultural europeu nos séculos XVII e XVIII, que buscava mudanças políticas, econômicas e sociais. Os iluministas acreditavam no conhecimento e na razão, em detrimento do pensamento religioso.
A maioria apostava que o homem chegaria a Deus por meio da razão. O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) definiu-o assim: “O iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma menoridade que estes mesmos se impuseram a si. (…) Sapere aude! (Ouse saber!) Tem coragem para fazer uso da tua própria razão!”
QUESTIONAR TUDO – O precursor do iluminismo René Descartes (1596-1650), considerado o pai do racionalismo, no Discurso do Método, preconizava que se questionasse tudo. Os governos absolutistas e a Igreja católica não permitiam questionamentos. Graças ao Iluminismo que pregavam, a racionalidade humana, a ciência e o humanismo acabaram se impondo.
As ideias iluministas foram consolidadas por Denis Diderot (1713-1784) na Enciclopédia, com 35 volumes, que continha milhares de artigos e ilustrações de diversos cientistas, filósofos e pesquisadores de campos de conhecimentos distintos, a mais importante exposição do conhecimento humano até então realizada.
A limitação do poder do Estado sobre o indivíduo, os ideais e lutas pelos direitos individuais, tal como a vida, a liberdade, a dignidade; o sistema de repartição de poderes entre Executivo, Legislativo e Judiciário são legados iluministas.
E O PROGRESSO – Além da liberdade e da justiça social, os iluministas pregavam o progresso. Na economia, as ideias de Adam Smith (1723-1790), ao defender a economia de livre mercado e liberal, foram sua resposta ao velho modelo mercantilista.
“Penso, logo existo”, a frase icônica do filósofo francês René Descartes, colocando a razão humana como única forma de existência, é a síntese do sujeito iluminista, um ser centrado e unificado.
O sujeito do Iluminismo — um “indivíduo soberano”, singular e indivisível —, porém, foi ultrapassado pelo sujeito sociológico, fruto da sociedade industrial e sua estrutura de classes, que protagonizou as grandes mudanças dos séculos XIX e XX. Era um ser interativo, configurado pelo seu processo de socialização e absorção de caracteres de suas relações e experiências vividas junto aos demais sujeitos que o rodeavam.
DESCONSTRUÇÃO – Entretanto, esse sujeito entrou em crise na sociedade pós-moderna, por uma série de razões, entre as quais a “desconstrução” da sua própria identidade, pelas revoluções científica, tecnológica, cultural e de gêneros.
Na sociedade atual, o sujeito não tem uma, mas várias identidades. Não é um ser configurado de forma plena e estável, mas fragmentado, partilhando, por vezes, identidades contraditórias entre si. Em meio a tantas mudanças, o sujeito pós-moderno constrói identidades provisórias, variáveis e problemáticas.
Essa “crise de identidade” é parte de um processo mais amplo de mudanças sociais, muitas das quais impostas pelas novas formas de produção de riqueza. O descolamento da sociedade atual das estruturas da democracia representativa, que entrou em crise, faz parte desse processo, assim como a radicalização política em curso no mundo, inclusive aqui no Brasil. Assim, a polarização é entre os indivíduos que querem acompanhar essas mudanças e os que tentam contê-las.
“São as trapaças da sorte, são as graças da paixão; pra se combinar comigo, tem que ter opinião”
Paulo Peres
Poemas & Canções
O professor, poeta e letrista mineiro Antônio Carlos de Brito (1944-1987), conhecido como Cacaso, nos versos de “Face a Face”, em parceria com Sueli Costa, numa letra brilhante e elaboradíssima, expõe condições para quem quiser combinar com ele. A música foi gravada pela Simone no LP Face a Face, em 1977, pela Emi/Odeon.
FACE A FACE
Sueli Costa e Cacaso
São as trapaças da sorte, são as graças da paixão
Pra se combinar comigo tem que ter opinião
São as desgraças da sorte, são as traças da paixão
Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração
Morena quando repenso o nosso sonho fagueiro
O céu estava tão denso, o inverno tão passageiro
Uma certeza me nasce e abole todo o meu zelo
Quando me vi face a face fitava o meu pesadelo
Estava cego o apelo, estava solto o impasse
Sofrendo nosso desvelo, perdendo no desenlace
No rolo feito um novelo, até o fim do degelo
Até que a morte me abrace
São as desgraças da sorte, são as traças da paixão
Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração
São as trapaças da sorte, são as graças da paixão
Pra se combinar comigo tem que ter opinião
Morena quando relembro aquele céu escarlate
Mal começava dezembro, já ia longe o combate
Uma lambada me bole, uma certeza me abate
A dor querendo que eu morra, o amor querendo que eu mate
Estava solta a cachorra que mete o dente e não late
No meio daquela zorra, perdendo no desempate
Girando feito piorra, até que a mágoa escorra
Até que a raiva desate
São as trapaças da sorte, são as graças da paixão
Pra se combinar comigo tem que ter opinião
São as desgraças da sorte, são as traças da paixão
Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração
O Globo confirma que houve corrupção de Lula, mas isso prova que deixou de apoiá-lo?
Carlos Newton
Agora não adianta lamúrias. Um dos maiores jornais do país, pertencente a uma das mais poderosas organizações de comunicação do planeta, cuja produção artística e jornalística é assistida em mais de 100 nações, acaba de proferir sentença irrecorrível: não adianta Lula repetir que não houve corrupção em seus governos. Negar tal evidência é o mesmo que acreditar em Papai Noel, segundo O Globo.
No entanto, a existência da corrupção petista, tida como inegável e divulgada para todos os continentes e por todos os meios de comunicação nos últimos anos, foi agora contestada junto ao TSE pela assessoria jurídico-eleitoral, em nome do agora candidato à Presidência pela quinta vez, Luiz Inácio Lula da Silva.
SE DIZ INOCENTE – O ex-presidiário se diz inocente, apesar das suas nove digitais levantadas no local do crime pelos órgãos de investigação e recebidas como convincentes pelo Poder Judiciário, ao menos em três instâncias, como lembrado, aliás, pelo seu vice Alckmin, sem nenhuma indignação, em 2017: “Lula quer voltar a cena do crime”.
O STF, por sua vez, sem entrar no mérito das denúncias e condenações, entendeu que por incorreção no endereço da Vara Criminal, os processos-crime estariam nulos. Não inocentou Lula de nada, como também foi ressaltado pelo ministro aposentado Marco Aurélio Mello, que não é bolsonarista de carteirinha.
Todavia, o Tribunal Superior Eleitoral, encarregado de assegurar a tranquilidade e a transparência dessas importantes eleições, tem outra visão do assunto.
AVANÇANDO O SINAL – Para surpresa nacional e internacional, O TSE avançou o sinal e procurou garantir a inexistente “inocência” do candidato Lula, proibindo a campanha adversária de nominá-lo de “corrupto” e “ladrão”, por conta dos crimes apurados na operação Lava Jato, aplaudida no mundo inteiro.
O paradoxo é que a propaganda eleitoral do Lula pode afirmar estrondosamente que Bolsonaro é pedófilo, canibal, fascista, genocida, energúmeno e por aí vai, mas a campanha rival não pode usar informações – reais e inquestionáveis – de que Lula é corrupto e propiciou a ocorrência da maior roubalheira de recursos públicos de todos os tempos.
Felizmente, esse equívoco proporcionado pelo ministro Paulo Sanseverino, do TSE, nomeado para o Superior Tribunal de Justiça em 2010, pelo então presidente Lula, acaba de ser anulado por outra integrante da Corte eleitoral, e caberá ao Pleno decidir o que deve prevalecer.
POSIÇÃO DE O GLOBO – Quanto à inusitada manifestação do jornal da família Marinho, reconhecendo Lula como corrupto, foi inserida em um artigo que tinha como principal objetivo criticar o fato de o ex-juiz da Lava Jato, agora senador eleito Sérgio Moro, supostamente ter subsidiado o candidato Jair Bolsonaro com algumas informações privilegiadas quando do debate presidencial promovido pela Band e que foi um verdadeiro sucesso, pois Lula, inesperadamente, acabou sendo nocauteado.
Engraçado, durante a operação Lava Jato, a Globo recebeu com absoluta exclusividade as principais e mais devastadoras informações sobre todos os investigados e denunciados pelos mais diversos crimes contra o patrimônio púbico.
Porém, depois que o ex-juiz passou a ser perseguido pelo petismo, o jornal trocou de lado e pretende que Sérgio Moto entre para um convento e deixe de ter opiniões sobre o que é melhor ou menos pior para o Brasil.
ESCREVEU O GLOBO – De qualquer forma, o jornal dos irmãos Marinho prestou inestimável contribuição ao Estado Democrático de Direito ao advertir a quem interessar possa:
“Querer crer que não existiu corrupção nos governos petistas e que as acusações contra Lula resultaram apenas da parcialidade de um juiz, como alega equivocadamente o candidato do PT, é o mesmo que acreditar em Papai Noel. Tanto existiu que bilhões que escoaram pelos dutos da roubalheira desenfreada foram devolvidos aos cofres públicos pelos réus confessos”.
Com esse editorial, a família Marinho demonstrou que não está à venda. Lutará pela renovação das outorgas de seus canais de televisão pelos próximos 15 anos, pouco se preocupando se quem vai decidir será Bolsonaro ou Lula. Para a Globo, restou claro que a propaganda do PT e a inocência pregada por Lula valem menos que uma nota de três reais.
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P.S. – Lula pode até ser eleito, mas não porque foi “inocentado” pela Justiça. Vencerá quem mentir mais, já que nenhum dos candidatos tem programa de governo e a fatura será cobrada do eleitorado vulnerável, mal informado e que prefere o peixe ao invés da vara de pescar. (C.N.)
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