terça-feira, 6 de setembro de 2022

 

O melancólico fim de Mikhail Gorbachev | Por Luiz Holanda

Mikhail Sergeevitch Gorbatchov faleceu em Moscou, capital da Rússia, em 30 de agosto de 2022. Na condição de secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética de 1985 a 1991, ele foi o oitavo e último líder da União Soviética.
Mikhail Sergeevitch Gorbatchov faleceu em Moscou, capital da Rússia, em 30 de agosto de 2022. Na condição de secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética de 1985 a 1991, ele foi o oitavo e último líder da União Soviética.

Morto aos 91 anos de idade, Mikhail Gorbachev foi o último líder da União Soviética (URSS) antes de sua dissolução. No dia seguinte à sua renúncia ao governo soviético, o Parlamento do país (o Soviete Supremo) reconheceu formalmente a independência de 15 novos Estados, encerrando assim a existência da União Soviética.

Gorbachev chegou ao poder em 1985, aos 54 anos, iniciando uma série de reformas para dar um novo fôlego ao país, que estava estagnado. Essas reformas, conhecidas como a Perestroika (reconstrução e reestruturação) e a Glasnost (abertura e liberdade de expressão), provocaram o fim do bloco soviético.

Na época a economia estava em colapso. Totalmente planificada, era o Estado que decidia quanto iria produzir em cada setor (quantos carros ou pares de sapatos ou pães, por exemplo), quanto desses produtos cada cidadão precisava, quanto tudo deveria custar e quanto deveria ser pago às pessoas. Para os comunistas, esse sistema era justo, muito embora, na realidade, ficava cada vez mais difícil o seu funcionamento.

Com a oferta sempre atrás da demanda, o dinheiro pouco rendia na mão do povo, que não conseguia comprar os itens básicos e necessários de sobrevivência. Para se adquirir um carro, por exemplo, era preciso ficar anos na lista de espera. Isso sem falar de outros produtos. A corrida armamentista e os gastos com a exploração espacial acabaram por ajudar o colapso.

Tanto naquela época, como agora, a economia dependia do petróleo e do gás, atingidos duramente com a recessão da década de 1980. Diante dessas dificuldades, era impossível fazer algumas reformas para se alcançar a “glasnost” e a “perestroika” pretendidas. Com isso Gorbachev acabou por desencadear, inadvertidamente, a dissolução da URSS e a sua consequente destituição do poder.

Embora tenha sido o responsável por abrir caminhos em áreas como a liberdade de expressão, é visto internamente como o responsável pelo fim da superpotência e pelos anos terríveis da crise econômica com a dissolução do bloco soviético. O império entrou em colapso, e o povo passou a sofrer mais restrições do que quando integrava o bloco. Gorbachev sentiu na próprioa carne que não tinha acertado.  Logo após a dissolução da URSS, participou das primeiras eleições à Presidência e recebeu uma votação diminuta, insignificante para quem ocupou o posto de líder da nação. Tão logo deixou o poder, permaneceu na obscuridade, sem qualquer influência nos destinos da Rússia, que foi o que sobrou da União Soviética, atualmente a maior potência do extinto bloco. Para quem participou ativamente da mudança que praticamente mudou o mundo, sua existência teve um fim bastante melancólica.

Dentro em breve viverá na memória do seu povo como um visionário inconsequente, no qual todas as dimensões produzidas formam uma imagem que não condiz com o original.

*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.

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