Donbass.
História das regiões e ex-regiões russófonas na Ucrânia que têm referendos de adesão à Rússia
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As forças russas assumiram o controle de vários territórios no leste e sudeste da Ucrânia depois que Kiev se preparou para assaltar territórios com muitos falantes de russo na véspera da operação militar especial.
As repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, que proclamaram sua independência da Ucrânia em 2014, anunciaram seus planos de realizar referendos para aderir à Rússia em 19 de setembro. As administrações das partes controladas pela Rússia das regiões de Kherson e Zaporozhye anunciaram planos semelhantes no dia seguinte.
Os referendos sobre a adesão à Rússia nas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk (DPR e LPR), assim como nas partes controladas pela Rússia das regiões de Kherson e Zaporozhie, deverão ocorrer de 23 a 27 de setembro.
História das regiões libertadas
Em 21 de fevereiro Vladimir Putin, presidente da Rússia, reconheceu a República Popular de Donetsk (RPD) e a República Popular de Lugansk (RPL) como Estados independentes e, três dias depois, anunciou o começo de uma operação militar especial na Ucrânia, após pedidos de ajuda das duas repúblicas, cuja população predominantemente russófona enfrentava ataques cada vez mais intensos por parte de Kiev.
O regime nacionalista chegou ao poder após um golpe de Estado apoiado pelo Ocidente em 2014 e matou milhares de civis ao longo de oito anos. Todas as tentativas de resolver o conflito pacificamente promovidas pela Rússia foram frustradas por funcionários ucranianos.
Durante a operação especial foram libertadas áreas significativas da RPD e de toda a RPL e foi assumido o controle da região de Kherson e da região de Zaporozhie que é banhada pelo mar de Azov. Desde então aí passaram a ser transmitidos os canais de televisão e estações de rádio russos e ligações comerciais e de transporte com a Crimeia têm sido reestabelecidas.
Em 20 de setembro a RPD e a RPL anunciaram a realização simultânea de referendos para se juntar à Rússia, enquanto as partes controladas pela Rússia das regiões de Zaporozhie e Kherson também anunciaram semelhantes planos, esperando que a iniciativa resultasse em um aumento na segurança dos territórios, abrindo "novas oportunidades para um retorno a uma vida pacífica plena".
República Popular de Donetsk
A República Popular de Donetsk é uma república presidencial. Ela está situada no sul da planície do Leste Europeu. Banhada pelo mar de Azov no sul, ela faz fronteira com as regiões ucranianas de Dnepropetrovsk, Zaporozhie e Carcóvia, a Rússia e a República Popular de Lugansk.
Com uma área de 26.500 quilômetros quadrados, sua população em 1º de março de 2022 foi estimada em cerca de 2,198 milhões de pessoas pelo Departamento Principal de Estatísticas da RPD.
A cidade de Donetsk surgiu a partir de uma localidade mineira no início dos anos 1860, recebendo o status de cidade em maio de 1917. No final desse ano, após a Revolução de Outubro, as autoridades soviéticas se estabeleceram na cidade.
Em 1918 e 1919 a cidade foi ocupada em diversos períodos por autoridades soviéticas, alemãs e nacionalistas ucranianas, até que em dezembro desse último ano uma ofensiva do Exército Vermelho restaurou o poder soviético.
A região experimentou a partir do final do século XIX um boom industrial, com a construção de fábricas metalúrgicas e de construção de máquinas, ferrovias e minas. Em 2 de julho de 1932 foi formada a região de Donetsk como parte da República Socialista Soviética da Ucrânia. Em 3 de junho de 1938 ela foi dividida nas regiões de Stalin e Voroshilovgrad (hoje Lugansk).
Durante a Grande Guerra pela Pátria (parte da Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 22 de junho de 1941 e 9 de maio de 1945, limitada às hostilidades entre a União Soviética e a Alemanha nazista e seus aliados), em 20 de outubro de 1941, Donetsk foi ocupada pelas tropas alemãs, estimando-se que 92.000 pessoas morreram nos três campos de concentração criados pelos invasores na cidade e arredores. Em 8 de setembro de 1943 Donetsk foi libertada pelas tropas soviéticas.
Após o colapso da URSS em 1991, o território que hoje é a República Popular de Donetsk se tornou parte da Ucrânia.
Em 2014 irromperam protestos nas regiões do sudeste, à medida que as pessoas ficavam cada vez mais insatisfeitas com a nova liderança da Ucrânia, que surgiu após Viktor Yanukovich, então presidente (2010-2014), ter sido derrubado em um golpe de Estado orquestrado por Washington e Bruxelas. Em 13 de abril de 2014 Aleksandr Turchinov, presidente interino da Ucrânia, anunciou uma "operação antiterrorista em larga escala" envolvendo o Exército contra as regiões predominantemente russófonas do sudeste.
Em 11 de maio de 2014 foi realizado um referendo sobre a autodeterminação na região de Donetsk, em meio a temores de que os novos políticos nacionalistas ucranianos violassem seus direitos de usar livremente a língua russa, e no dia seguinte a RPD proclamou sua independência. A independência da república foi reconhecida pela Rússia, RPL, República da Abkházia, República da Ossétia do Sul, Coreia do Norte e Síria.
A maior parte da RPD dentro de suas fronteiras administrativas, incluindo a grande cidade portuária de Mariupol, foi libertada das forças de Kiev desde 24 de fevereiro de 2022.
A economia da região de Donetsk tem sido baseada na indústria metalúrgica, engenharia mecânica, indústrias química e de carvão, energia elétrica, indústrias alimentícias e leves. A RPD tem depósitos de carvão, sal de rocha, calcários e dolomitas, argilas refratárias e cerâmicas, caulim, mercúrio, amianto, gesso, giz, pedra de construção e pedra de revestimento.
De acordo com o Ministério da Indústria e Comércio da RPD, a economia local é orientada para a exportação, com suas empresas exportando ferro-gusa, ferro-máquina, aço laminado, coque, tubos, cabos e arame.
República Popular de Lugansk
A República Popular de Lugansk (RPL) também está localizada no sul da planície do Leste Europeu, fazendo fronteira com a região de Carcóvia ucraniana, a Rússia e a RPD.
Com uma área de 26.700 quilômetros quadrados, sua população em 1º de março de 2022 foi estimada em cerca de 1,39 milhão de pessoas pelo Comitê de Estatísticas do Estado da RPL.
A cidade de Lugansk foi fundada em 1795-1796 como um assentamento junto da fábrica de ferro de Lugansk, sendo construída por decreto da imperatriz russa Catarina II (1762-1796) para abastecer a Frota do Mar Negro e fortalezas costeiras com canhões e munições. Em 1882 a fábrica de Lugansk foi fundida com a localidade de Kamenny Brod formando a cidade de Lugansk.
Semelhantemente a Donetsk, Lugansk foi ocupada em diversos períodos de 1918 e 1919 por autoridades alemãs e austríacas, antes de em dezembro desse último ano as unidades do Exército Vermelho libertarem a cidade de Donetsk.
Ao longo dos anos, Lugansk tem sido um centro administrativo, de condado e distrital da província de Donetsk, posteriormente constituindo a região de Donetsk da República Socialista Soviética da Ucrânia. A região de Lugansk foi formada em 3 de junho de 1938 como região de Voroshilovgrad, após ter sido separada da região de Donetsk. Em 1958 ela foi renomeada para Lugansk.
Em 17 de julho de 1942, durante a Grande Guerra pela Pátria, Lugansk foi ocupada pelas tropas alemãs. Foi libertada em 14 de fevereiro de 1943 durante a operação ofensiva de Voroshilovgrad. Após o colapso da URSS, o território do que hoje é a República Popular de Lugansk se tornou parte da Ucrânia.
Em 2014, as ações da nova liderança da Ucrânia também suscitaram protestos de oposição no território de Lugansk. Em 11 de maio de 2014 foi realizado um referendo sobre autodeterminação na região de Lugansk e foi proclamada a independência no dia seguinte.
Após o começo da operação militar especial da Rússia em 24 de fevereiro, todo o território da república dentro de suas fronteiras administrativas foi libertado.
A economia da República Popular de Lugansk depende de ramos da indústria pesada, como indústria mecânica, química, petroquímica, alimentícia, madeireira, têxtil e de materiais de construção. Em 2021 73% das exportações da RPL eram produtos metalúrgicos.
Região de Kherson
A região de Kherson faz fronteira a norte com a região ucraniana de Dnepropetrovsk, com a península da Crimeia no sul, com a região de Zaporozhie no leste e com a região ucraniana de Nikolaev no oeste. A área total é de 28.500 quilômetros quadrados. A região tem acesso ao mar de Azov no sudeste e ao mar Negro no sudoeste.
Catarina II decidiu fundar a atual cidade de Kherson, em 29 de junho de 1778, no local de uma fortificação construída pelas tropas russas durante a guerra russo-turca de 1735-1739. A administração da Frota do Mar Negro esteve localizada em Kherson entre 1785 e 1794, quando foi transferida para Nikolaev, junto com a construção naval militar.
Entre novembro de 1917 e fevereiro de 1920, durante a Guerra Civil Russa, partes da região foram tomadas por forças ucranianas, antes do Exército Vermelho estabelecer controle total.
Após várias reorganizações administrativas como parte da República Socialista Soviética da Ucrânia, Kherson foi ocupada pelas tropas alemãs em 19 de setembro de 1941, antes de ser libertada pelas tropas soviéticas em 13 de março de 1944. Em 30 de março de 1944 a região de Kherson foi formada por um decreto do Presídio do Soviete Supremo da URSS.
Painel dizendo "Rússia está aqui para sempre!" na região de Kherson, foto publicada em 31 de agosto de 2022
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Nos tempos do Império Russo o território era uma típica região agrária, com a indústria representada principalmente pelo processamento de matérias-primas agrícolas, a construção de pequenas embarcações e a produção de implementos agrícolas. Durante o período soviético a região de Kherson se desenvolveu, tanto na área industrial quanto agrícola, criando indústrias altamente desenvolvidas na construção de máquinas, refino de petróleo, indústrias leves e alimentícias.
Durante a operação militar especial da Rússia na Ucrânia as tropas russas assumiram o controle da região de Kherson.
Região de Zaporozhie
A região de Zaporozhie faz fronteira com as regiões de Kherson, Dnepropetrovsk e Donetsk, com um território de 27.200 quilômetros quadrados. Os limites sul da região são banhados pelo mar de Azov.
A história da cidade de Zaporozhie remonta a 1768, quando Catarina II lançou uma guerra contra o Império Otomano. Em 1770 ela decidiu construir a chamada linha defensiva de Dniepre. Sete fortalezas desde as corredeiras fluviais de Dniepre para o mar de Azov deveriam oferecer proteção contra os ataques dos tártaros da Crimeia.
Após a construção em 1873 de uma via ferroviária para Ekaterinoslav (hoje Dniepre), e depois para Sevastopol, Aleksandrovsk se tornou um centro para o trânsito de grãos de Odessa para a Europa. No final do século XIX e início do século XX Aleksandrovsk se tornou um centro de engenharia mecânica.
Aleksandrovsk mudou de mãos sucessivamente de abril de 1918 a janeiro de 1920, ficando inclusive na posse de tropas germano-austríacas e do revolucionário anarquista ucraniano Nestor Makhno. A cidade foi então tomada por unidades do Exército Vermelho e em 1921 foi renomeada para Zaporozhie. Em 1921-1922 ela se tornou o centro da província de Zaporozhie da República Socialista Soviética da Ucrânia e em 1939 se tornou o centro da recém-formada região de Zaporozhie.
Em 1941-1943, durante a Grande Guerra pela Pátria, a cidade foi ocupada pelo Exército da Alemanha. Durante a ocupação, mais de 44 mil habitantes morreram e todos os prédios industriais foram destruídos. A cidade foi libertada dos nazistas pelas tropas soviéticas em 1943. Desde 1991, após a dissolução da URSS, Zaporozhie tem sido uma região da Ucrânia.
A região de Zaporozhie é das maiores regiões criadoras de produtos agrícolas e da indústria alimentícia. Pelo menos 12% do trigo e 16% da cevada ucraniana foram cultivados nesta região, rica em chernossolo, ou solo negro, além de 25% da eletricidade da Ucrânia.
Na região estão ativas a metalurgia ferrosa e não ferrosa, engenharia mecânica, energia, química e petroquímica, indústrias alimentícias e leves, agricultura e produção farmacêutica. Mais de 160 grandes empresas industriais operam aqui, incluindo o produtor de aço e ferro Zaporozhstal.
A usina nuclear de Zaporozhie, construída nos anos 1980, está localizada na cidade de Energodar. Desde que foi comissionada uma sexta unidade geradora de energia em 1996, a usina se tornou a maior da Europa e a terceira maior do mundo.
As forças russas assumiram o controle da usina nuclear e da área circundante durante a operação militar especial na Ucrânia. Os militares russos também reivindicaram o controle da parte da região de Zaporozhie junto do mar de Azov, que perfaz mais de 70% do território desta região.
A usina está sendo bombardeada pelos militares ucranianos há quase dois meses em uma tentativa de encenar uma provocação e culpar a Rússia por isso, apesar dos apelos para o cessar-fogo por parte de Moscou, para evitar um desastre nuclear. Um recente relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre a situação na usina nuclear de Zaporozhie também pediu que o ataque à usina nuclear terminasse.
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