quarta-feira, 17 de agosto de 2022

 

JK, O Homem do Século | Por Luiz Holanda

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O Memorial fica na Praça do Cruzeiro, a parte mais alta do Plano Piloto. Ao fundo, monumento a JK, concebido por Oscar Niemeyer, com a ideia de ser a primeira coisa a ser vista para quem chega no local.
O Memorial fica na Praça do Cruzeiro, a parte mais alta do Plano Piloto. Ao fundo, monumento a JK, concebido por Oscar Niemeyer, com a ideia de ser a primeira coisa a ser vista para quem chega no local.

Se vivo fosse, o ex-presidente Juscelino Kubitschek – o famoso JK-, completaria 122 anos no dia 12 de setembro próximo. Segunda a lenda, seu pai fora convidado por um amigo para um encontro justamente no dia em que o filho ia nascer:  “Não vou poder ir porque acabou de nascer o futuro presidente da república”, teria dito na ocasião. Parecia predestinação, pois o filho não só foi presidente do Brasil como também um dos maiores, e quem o afirma é a nação.

Obstinado, venceu todas as dificuldades, inclusive a resistência por parte do PTB de João Goulart e da extinta UDN, que desde aquela época pregava o golpe militar como sistema de governo. No final, quem saiu vitoriosa foi a UDN, pois o governo militar por ela defendido   acabou acontecendo em 1964, e durou quase 30 anos. Juscelino começou sua carreira política como prefeito de Belo Horizonte, não estando dentro das características e tabus da política de então para ser candidato a presidente da República. Tudo conspirava contra ele.

Mesmo assim, conseguiu contornar todas as dificuldades. Curando o trauma que existia com o suicídio de Getúlio Vargas, apresentou sua candidatura a presidente e ganhou as eleições, permanecendo no cargo até o fim do mandato. Naquela época nenhum presidente da República terminava o mandato. Só JK conseguiu quebrar o jejum. Foi um dos poucos e raros períodos completos de governo civil no país. Aliás, presidentes civis que foram até o fim do mandato de 1927 até a eleição de Collor foram três: JK, FHC e Sarney.

A fama de Jk só começou depois que ele deixou o poder. No cargo, não conseguiu fazer o seu sucessor, pois o seu candidato, o marechal Henrique Teixeira Lott, perdeu para Jânio Quadros. A oposição na época era bastante forte. Homens como Carlos Lacerda e Afonso Arino levantaram acusações gravíssimas contra JK. Ele não só não respondeu como jamais perseguiu seus detratores.

Com a chegada dos militares ao poder em 1964, foi perseguido e teve seus direitos políticos cassados. Exilado, foi impedido de voltar para o Brasil, e quando voltasse não poderia transitar por Brasília. Entre suas importantes obras estão FURNAS, TRÊS MARIAS, USIMINAS e SUDEN, frutos de sua obstinação. Mas sua maior obra, inaugurada em 21 de abril de 1960, foi Brasília. No dia da inauguração, perante uma multidão de 150 mil pessoas, declarou: “Sob a proteção de Deus, dou por inaugurada Brasília, Capital do Brasil”. Com este simples ritual cívico, realizava-se o sonho que o país acalentava desde a sua independência.

Vai ser difícil o Brasil encontrar outro presidente igual a JK. Alguém já disse que ele, para construir Brasília, “sentou seu gabinete num avião, foi morar entre as nuvens, inspirou-se com as estrelas, tomou conselhos à lua e iluminou-se de calor para transportar para Brasília todas as belezas das constelações siderais, toda a candura e meiguice dos luares dengosos, e toda força e vitalidade do sol”.

Em setembro próximo vamos comemorar seu aniversário recordando o passado, pois, segundo Alexandre Herculano, “O mister de recordar o passado é uma espécie de magistratura moral, é uma espécie de sacerdócio. Exercitem-no os que podem e sabem, porque não o fazer é um crime”.

Diante da nossa eterna pobreza de homens públicos e da falta de líderes para nos conduzir, vai ser difícil encontrar outro igual a JK, tanto na bondade e na elegância, como na civilidade expressas nas suas imorredouras palavras: “Se há algo que que eu possa louvar em mim mesmo é o fato de ter-me mantido rigorosamente o mesmo homem, antes, durante e depois do poder. Outrossim, não quero envergonhar ninguém, mesmo depois de morto”.

*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.

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