sexta-feira, 5 de agosto de 2022

 

Já houve eleição em que Bolsonaro defendeu que a votação fosse informatizada pelo TSE

Em 1993, Bolsonaro defendeu que eleições fossem informatizadas pelo TRE

Em 1993, Bolsonaro acusava fraudes, mas no voto impresso

Daniel Salomão Roque
BBC Brasil

“Esse Congresso está mais do que podre”, gritou o então deputado federal Jair Bolsonaro no dia 20 de agosto de 1993. “Estamos votando uma lei eleitoral que não muda nada. Não querem informatizar as apurações. Sabe o que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos, e só serão computados 3.000”.

Bolsonaro, então filiado ao PPR (Partido Progressista Reformador) de Paulo Maluf, discursava para coronéis e generais da reserva na sede do Clube Militar do Rio de Janeiro em um evento para discutir a “salvação do Brasil”. Fazia uma defesa da nascente urna eletrônica como um antídoto contra fraudes que ocorriam no voto impresso.

SOB SIGILO – A maior parte da reunião, segundo o Jornal do Brasil da época, ocorreu sob sigilo, com os participantes divididos em seus planos para a retomada do poder. Uns defendiam o lançamento de candidaturas para as eleições de 1994. Outros, como Bolsonaro, sustentavam que a via democrática era um “sistema viciado”.

“Independente das pequenas divergências, nós já somos uma força política, e estamos crescendo”, disse o general Euclydes Figueiredo (1919-2009), irmão de João Figueiredo (1918-1999), último presidente da ditadura militar brasileira.

“Não queremos o golpe, mas eles nos temem”, afirmou no evento do Clube Militar.

DISSE BOLSONARO – No final daquele ano, Bolsonaro enumeraria as providências que julgava necessárias para garantir a lisura do processo eleitoral — entre elas, a proibição do voto dos analfabetos, a exigência de segundo grau (o antigo ensino médio) para os candidatos e a informatização das eleições.

“Só com essas medidas conseguiríamos evitar os votos comprados”, disse.

Quase 30 anos depois, suas declarações contrastam com uma das principais plataformas do atual presidente da República: lançar desconfiança sobre a lisura da urna eletrônica.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Muito interessante a matéria enviada por Antonio Fallavena. Mostra que na vida tudo muda e as pessoas também podem mudar. Bolsonaro também deveria pensar assim. Parece ser hora de aceitar as urnas eletrônicas. Atacá-las não está rendendo votos. É preciso mudar a estratégia. (C.N.)

A corrupção não consta em manifesto pela democracia, porque aqui ela é “democrática”

Corrupção nos noticiários e a volta do Papai Noel nas charges dos jornais  de sexta-feira - Região - Jornal VS

Charge do Tacho (Jornal NH)

Felipe Moura Brasil
Estadão

Defino “sistema” como o conjunto de lideranças apodrecidas das instituições e das elites econômicas que fazem escambos entre si para manter ou aumentar seus poderes, privilégios e blindagens, em detrimento da moralidade e do interesse públicos.

A Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito!, divulgada em 26 de julho de 2022, busca proteger o regime em que “temos os Poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal” de 1988, onde estão previstas “eleições livres e periódicas”, “cabendo a decisão final à soberania popular”.

VIÉS DEMOCRÁTICO – Assim entendida, a “democracia” é perfeitamente compatível com o sistema, uma vez que o respeito e o zelo pelas regras constitucionais são matérias de interpretação da cúpula circunstancial dos Poderes, que não deveria, mas pode, conforme a conveniência, afetar retoricamente o referido compromisso sem cumpri-lo na prática.

Manifestar-se pontualmente em defesa da separação de Poderes e do processo eleitoral contra as ameaças ostensivas de golpe de Estado feitas por um presidente reacionário, aloprado e apavorado com o risco de derrota iminente nas urnas, é mais fácil, e menos arriscado em termos de retaliação, que defender diariamente o País contra um conjunto de líderes poderosos e maliciosos que corroem o regime democrático por dentro e sem alarde, por exemplo desviando, permitindo desviar e mantendo impune quem desvia dinheiro do povo para campanhas e enriquecimento pessoal, em detrimento da oferta e da qualidade de serviços públicos, bem como da lealdade na concorrência de mercado.

CORTINA DE FUMAÇA – Jair Bolsonaro é a cortina de fumaça ideal do sistema que ele próprio ajudou a fortalecer, como apontei em artigo de 10 de agosto de 2021, porque não só deu ao conjunto de lideranças apodrecidas das instituições e das elites econômicas uma causa nobre pela qual vale a pena sair em defesa junto à sociedade civil, como também desmobilizou a parte dela que defendia o combate à corrupção literalmente sistêmica.

A corrupção não consta na carta pela democracia, porque no Brasil ela é democrática.

A esquerda demagoga, a direita reacionária e o centro fisiológico, com empresários cúmplices e afilhados no Poder Judiciário condescendentes, roubaram e tendem a continuar roubando juntos. Ou separados. Em estatais. Em ministérios. Em gabinetes. É o País dos ‘corruptos democratas’.

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