sábado, 20 de agosto de 2022

 

Datafolha: Hoje, Lula venceria no 1º turno e reação de empresários bolsonaristas comprova a tendência

Charge do Nando Motta (brasil247.com)

Pedro do Coutto

Pesquisa do Datafolha divulgada no final da tarde de quinta-feira, comentada imediatamente na GloboNews no programa comandado por Natuza Nery, revela que se as eleições presidenciais fossem hoje, Lula da Silva alcançaria 47% dos votos contra 32% de Bolsonaro. Ciro Gomes teria sete pontos e Simone Tebet apenas 2%. Votariam em branco ou anulariam o voto 8%.

Portanto, conforme escrevi ontem, 92% passam a ser iguais a 100%. Com 47%, Lula seria alguns pontos a mais do que a metade mais um, como  exigido pela Constituição para decidir a disputa nas urnas em 2 de outubro. O levantamento do Datafolha foi comentado na edição de ontem de O Globo por Marlen Couto e Dimitrius Dantas. Na Folha de S. Paulo, por Igor Gielow, Carolina Linhares e Joelmir Tavares.

FAVORITISMO – As pesquisas que estão se sucedendo têm estabelecido uma frente de Lula sobre Bolsonaro, apesar de neste último levantamento do Datafolha a distância ter encurtado três pontos, mas que não foram suficientes para alterar o panorama que parece dominante nas intenções de votos de eleitores e eleitoras do país.

As pesquisas do Datafolha e do Ipec demonstram claramente uma dificuldade muito grande da corrente que apoia Bolsonaro de mudar o panorama eleitoral brasileiro. Uma prova da dificuldade bolsonarista está no documento que um grupo de empresários contra a orientação da Fiesp e da Federação Brasileira de Bancos lançou defendendo um golpe contra a democracia caso o resultado das urnas derrote Bolsonaro.

Só o fato de um grupo bolsonarista defender a ruptura democrática, defendendo o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo, é capaz de explicar o reflexo dos números agora do Datafolha sobre o comportamento e a visão dos que se sentem previamente derrotados.

INVESTIGAÇÃO – O senador Randolfe Rodrigues, da Rede, requereu ao Supremo Tribunal Federal para que investigue o fato e a autoria do texto que passou a circular na internet. Não se trata  de fake news. É pior.

Trata-se, na realidade, de um apelo e de um incentivo a uma ação militar contra o provável resultado das urnas de outubro. É o tipo de incentivo voltado contra a Constituição do país e que não pode encontrar eco nem no Centrão que aparentemente apoia Bolsonaro, pois no caso de um golpe, é claro, os senadores e deputados perderiam seus mandatos. Portanto, não há respaldo no universo político partidário para tal iniciativa.

BASE DE DEBATE POLÍTICO –  A pesquisa do Datafolha apresenta ampla vantagem de Bolsonaro junto aos evangélicos. Nesse sentido, muito bom o artigo de Flávia Oliveira, O Globo desta sexta-feira, focalizando o assunto e a impropriedade de a campanha eleitoral se deslocar também para o plano religioso. A pesquisa do Datafolha apresenta ainda outros ângulos de análise.

Lula lidera a intenção de votos em São Paulo, Minas Gerais, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Nesses estados, exceto o Rio de Janeiro, no qual Cláudio Castro alcança 21% contra 17% de Marcelo Freixo, em São Paulo, Fernando Haddad lidera, Romeo Zuma em Minas, Eduardo Leite no Rio Grande do Sul. Este, do PSDB. No Nordeste a vantagem de Lula se amplia. Em tal panorama, a dificuldade de Bolsonaro aumenta, sobretudo porque em Minas Gerais o governo Romeu Zema não o apoia e nem apoia Lula da Silva.

REFLEXO – Lula apoia Alexandre Kalil, que está muito atrás do governador Romeu Zema nas pesquisas. Mas a neutralidade de Zema ajuda a posição de Lula no estado. Conforme já disse, qualquer que seja a manifestação ou intenção de voto, incluindo a neutralidade, ela se reflete diretamente na polarização entre Lula e Bolsonaro.

O Datafolha revela também o avanço de Lula entre os que ganham mais de dez salários mínimos Entre os que estão nessa faixa (8% do eleitorado), Bolsonaro caiu de 47% para 43% e Lula subiu de 33 para 40 pontos. Enquanto isso, entre os que ganham de dois a cinco pisos salariais, Bolsonaro surpreendentemente registrou 47% contra 45% de Lula. São coisas da política.

Preocupação antiga, a voz de Lula falha e chama a atenção na largada da campanha

Fazer campanha é mesmo massacrante e Lula já se ressente

Sérgio Roxo
O Globo

A dificuldade de Lula com a voz em alguns momentos do comício da noite de quinta-feira em Belo Horizonte chamou a atenção e fez reviver uma preocupação antiga no entorno do petista. Depois de sair da prisão em novembro de 2019, o candidato a presidente do PT chegou a fazer sessões semanais com fonoaudióloga e usou um discreto aparelho de audição.

Pessoas que conhecem Lula avaliam que ele precisará se poupar e ter mais tempo de descanso para não ficar sem voz até o fim da disputa eleitoral. O problema maior para o petista são justamente os comícios, quando acaba falando alto.

RELAXOU OS CUIDADOS – O aparelho auditivo tinha a função de fazer com que Lula escutasse melhor e não gritasse tanto. De acordo com integrantes do seu entorno, o petista relaxou nos cuidados com a voz nos últimos meses por causa do ritmo intenso das atividades políticas.

Na segunda-feira, em um ato na USP, o candidato do PT também teve dificuldade em alguns momentos do discurso. Os problemas do petista com a voz são frequentes há alguns anos. Reconhecido pela boa capacidade de comunicação em cima do palanque, Lula tem afirmado nos últimos tempos, nos atos políticos, que precisa ter uma garrafa de água ao lado para a voz não falhar.

Quando presidia o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC nos anos 1970, Lula fez discurso sem microfone em assembleia para 100 mil trabalhadores no estádio da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

TRATAMENTO – Em 2011, o ex-presidente foi diagnosticado com um câncer na laringe. Lula fez tratamento com quimioterapia e radioterapia e se curou da doença. O petistas se submete rotineiramente a check ups, que atestam suas boas condições de saúde.

Depois do câncer, o candidato adotou uma rotina diária de exercícios físicos. A sua assessoria costuma postar fotos na academia numa tentativa de construir a imagem de que o petista, aos 76 anos, tem vitalidade.

No último dia 9, enquanto participava de um debate na sede da Fiesp, Lula deixou uma caneta cair no chão. O presidente da entidade, Josué Gomes, e o vice do petista, Geraldo Alckmin, tentaram ajudá-lo a pegar o objetivo, mas foram repreendidos. “Parece que eu não posso nem pegar uma caneta. Se eu não posso pegar a caneta, não posso ser presidente. Preciso mostrar vigor aqui para vocês” — disse Lula.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Já comentamos aqui na Tribuna que Lula não é mais o mesmo. A idade pesa, faz 77 anos em outubro, ele não aceita dietas e restrições, casou com uma mulher bem mais nova, que gosta de circular e aparecer, e a campanha eleitoral não é brincadeira, produzindo um jet lag permanente (forte desconforto devido às constantes viagens). Há poucos dias, ele se sentiu mal e teve de faltar a um compromisso importante com empresários do setor financeiro. Daqui até 2 de outubro, é como viver no inferno, e agora a voz de Lula começa a falhar. Todo cuidado é pouco, mas quem se interessa? (C.N.) 

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