Recusa do ministro da Defesa demonstra que o golpe de Bolsonaro fracassou antes da hora
Carlos Newton
Embora tenham saído notícias de que foram os militares do governo que lideraram a reunião com embaixadores, evento que desagradou o quartel-general da campanha e políticos da base aliada, a versão mais acertada é um pouco diferente. A ideia realmente teria sido apoiada pelos núcleo duro de militares do Planalto, formado pelos generais Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência, Braga Neto, candidato a vice de Bolsonaro, além do novo assessor do presidente, tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid.
Mas na verdade a proposta surgiu do chamado Gabinete do Ódio, chefiado pelo filho Zero Dois, Carluxo Bolsonaro, e que funciona no terceiro andar do Planalto, ao lado do gabinete presidencial.
RESPOSTA A FACHIN – A ideia surgiu como resposta à iniciativa do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Edson Fachin, que a 31 de maio reuniu um expressivo grupo de diplomatas no evento “Sessão informativa para Embaixadas: o sistema eleitoral brasileiro e as Eleições 2022”, quando reagiu às críticas de Bolsonaro às urnas eletrônicas.
Nesta segunda-feira, dia 18, a reunião no Alvorada foi organizada pelo Gabinete do Ódio, que é liderado por Tércio Arnaud, reconhecido como competente especialista em informática. Assim como seu chefe Carluxo Bolsonaro, também Arnaud tem parcos conhecimentos de inglês, o que explica os erros cometidos nos vídeos do power point desta segunda-feira.
Também partiu do Gabinete do Ódio a divulgação da notícia de que o ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira, iria fazer a mais importante preleção aos embaixadores.
“MENAS” VERDADE – Depois da reunião, que não teve a esperada palestra do general Paulo Sérgio Nogueira, o Planalto mandou informar que a participação do ministro da Defesa teria sido cancelada pelo próprio presidente Bolsonaro, por ter achado a apresentação do militar “muito longa”. No entanto, como diria o candidato Lula da Silva, essa informações do Planalto era “menas” verdade. O próprio general Paulo Sérgio Nogueira é que se recusou a fazer a palestra, por entender que estaria sendo usado politicamente por Bolsonaro.
A ausência do ministro da Defesa esvaziou o evento e levantou novas dúvidas sobre o suposto apoio das Forças Armadas a um golpe de Bolsonaro.
Aqui na Tribuna da Internet, continuamos defendendo a tese de que o Alto Comando do Exército, única instituição que realmente interessa, não compactua nem vai compactuar com o golpe ansiado por Bolsonaro. Ou seja, o resultado das urnas será respeitado.
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P.S. – Em tradução simultânea, tudo isso demonstra que o famoso golpe ansiado por Bolsonaro fracassou antes da hora H e do dia D, e o presidente brasileiro agora segue o mesmo caminho de Donald Trump, descendo a ladeira, rumo ao limbo. (C.N.)
Charge do Duke (O Tempo)
Aliados dizem que reunião de Bolsonaro com embaixadores foi um vexaminoso “tiro no pé”
Andréia Sadi
g1 Brasília
Aliados de Jair Bolsonaro (PL) veem como um “tiro no pé” e um “vexame” o evento promovido pelo presidente, destinado a repetir, para uma plateia de diplomatas estrangeiros, ataques infundados ao sistema eleitoral brasileiro.
A ideia do encontro – realizado na segunda-feira (18) no Palácio do Planalto com direito a erro de grafia na apresentação – foi do próprio presidente com o objetivo de desviar o foco da opinião pública de dois escândalos que afetam o projeto da reeleição:
1 – As denúncias de abuso sexual contra o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, figura recorrente ao lado de Bolsonaro até cair em desgraça;
2 – O assassinato de um tesoureiro do PT por um apoiador do presidente da República – que já falou em “fuzilar a petralhada” – aos gritos de “Aqui é Bolsonaro”.
DESVIAR O FOCO – Para aliados, Bolsonaro conseguiu, sim, desviar o foco, mas trocou os escândalos pelo que foi descrito como “aberração”. E, ao fazê-lo, o presidente ignorou os apelos do Centrão – que comanda a ala política do governo e a campanha à reeleição – para evitar maior radicalização.
Bolsonaro disse a interlocutores que queria reagir à reunião em que o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, afirmou a embaixadores que a comunidade internacional deveria estar “alerta” a “acusações levianas” contra o sistema eleitoral.
O grupo avalia que o evento – para o qual o Bolsonaro contou com o apoio de militares como o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ministro da Defesa, e Braga Netto, assessor especial da Presidência – “implodiu pontes com o comando do Tribunal Superior Eleitoral” justamente no momento em que tentava uma reaproximação com Alexandre de Moraes, que vai presidir a Corte nas eleições.
TEIA DE RUMORES – Após a reunião, Fachin, reafirmou a segurança do sistema eleitoral brasileiro e criticou – sem citar Bolsonaro – o que chamou de ‘teia de rumores descabidos e populismo autoritário’.
A iniciativa foi considerada, ainda, completamente intempestiva, pois foi realizada no momento em que o governo se preparava para colher os frutos da ampliação de benefícios sociais às vésperas da eleição autorizada pela chamada Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Kamikaze.
A expectativa é que esses benefícios possam tirar Bolsonaro das cordas na corrida eleitoral – o último Datafolha, divulgado em 23 de junho, colocou Lula com 47% das intenções de voto no primeiro turno, ante 28% do presidente. Nos votos válidos, Lula teria 53% contra 32% de Bolsonaro, o que o garantiria vitória do petista no primeiro turno.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Deputados da Oposição aproveitam a oportunidade e pedem ao Supremo que Bolsonaro seja investigado por ataque ao sistema eleitoral em reunião com embaixadores estrangeiros. Na verdade, jamais um presidente brasileiro foi alvo de tantos inquéritos e processos. Bolsonaro detém hoje um recorde que dificilmente será quebrado. (C.N.)
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