domingo, 24 de julho de 2022

 


Historiador lança livro sobre os nobres do Império que colonizaram o Paraíba do Sul

Vasconcelos se dedica a pesquisar a era do Império

José Carlos Werneck

Está excelente o livro de historiografia “Titulares do Império em Nossa Senhora da Conceição e dos Apóstolos São Pedro e São Paulo da Parahyba do Sul”, do pesquisador José Roberto Vasconcelos, dedicado à genealogia e à heráldica dos membros da nobreza titular do Império na Parahyba do Sul, município criado em 1833.

Naquela época, seu território era vasto, abrangendo também os atuais municípios de Três Rios, Sapucaia, Levy Gasparian, São José do Vale do Rio Preto e Areal, além de grande parte do atual território de Petrópolis.

BRASÕES DE ARMAS – São 170 páginas, em papel couchê, sendo 153 de conteúdo, com dados da genealogia ascendente (pais, avós e bisavós) e descendente (filhos e netos e seus respectivos cônjuges) dos 31 titulares do velho Município da Parahyba do Sul, na antiga Província do Rio de Janeiro.

O trabalho ainda é enriquecido de 13 ilustrações monocromáticas dos brasões de armas, com a respectiva descrição heráldica, e de retratos de grande parte dos titulares abrangidos no estudo.

Figuram nessa obra os marqueses de São João Marcos, do Paraná e o de Lajes; a Condessa do Rio Novo e o Conde de Lages; os viscondes da Paraíba, de Ibituruna, de Entre Rios e de Jaguari (Barãode Três Barras), e os barões do Piabanha, de Entre Rios, de Ribeiro de Sá, de Águas Claras, de Pedro Afonso, de Simão Dias, o 1º e o 2º de Santa Justa, o de São Roque, do Rio do Ouro, de São Carlos, de Santo Antônio, de Werneck, de Diamantina, do Paraná e o 1º e 2º barões de Palmeiras.

OUTRAS OBRAS – “Titulares do Império em Nossa Senhora da Conceição e dos Apóstolos São Pedro e São Paulo da Parahyba do Sul”, ainda que independente, formará uma tríade com duas outras obras do mesmo gênero, dedicadas a Valença e a Vassouras.

Capa, contra capa e ilustrações heráldicas também são de autoria do autor, que tem várias obras publicadas, sendo a mais conhecida “A Casa Imperial do Brasil”.

Generais que apoiavam Bolsonaro plantaram o arbítrio e acabaram colhendo a corrupção

No Brasil de Bolsonaro, o primeiro-ministro britânico diria que, entre o arbítrio e a corrupção, os generais do Planalto escolheram o arbítrio. E tiveram a corrupção.

Santos Cruz acha que “o orçamento secreto é vergonhoso”

Marcelo Godoy
Estadão

O primeiro-ministro inglês, Neville Chamberlain, e o colega francês, Édouard Daladier, foram a Munique, em 1938, encontrar Mussolini e Hitler. Queriam apaziguar o alemão. Entregaram um aliado – a Checoslováquia – a Hitler, pois existiriam milhões de razões para a paz e nenhuma para a guerra. Na Inglaterra, Winston Churchill pensava diferente. “Entre a desonra e a guerra, eles escolheram a desonra. E terão a guerra.”

No Brasil de Jair Bolsonaro, os militares que o apoiam vivem um dilema. Quem mostra é um dos que se distanciaram do presidente. “O orçamento secreto é imoral, a começar do nome. Não tem cabimento, não tem critério ou transparência. É vergonhoso”, disse o general Santos Cruz, que deve desistir da candidatura à Presidência pelo Podemos e disputar uma vaga no Congresso.

CONFISSÃO DO SENADOR – Santos Cruz comentava a confissão do colega de partido, o senador Marcos do Val (ES), que recebeu R$ 50 milhões em emendas para apoiar Rodrigo Pacheco (PSD-MG), no Senado.

“O problema não se resume a R$ 50 milhões para um parlamentar. São bilhões para alguns. É um mensalão de última geração, um mensalão orçamentário. É imoral. Só não é crime porque se legalizou a imoralidade”, afirmou Cruz. A manobra que conduz milhões para parlamentares foi a forma de o governo Bolsonaro – um consórcio entre generais e expoentes do Centrão – domesticar o Congresso, cuja rebeldia irritava o general Augusto Heleno.

“O problema é o Brasil perder a capacidade de indignação. Um país anestesiado. Um governo e os Poderes que banalizaram absurdos, fanfarronices, covardias, manipulações da opinião pública e desrespeitos à população”, diz o general Santos Cruz, que vê um ambiente de destruição da democracia. “É a falta de vergonha.”

COISA DO PASSADO – A confissão de Marcos do Val ao Estadão parece coisa do passado, envelhecida, diante da rapidez com que as tragédias se empilham sobre os restos da moralidade e da ordem pública no Brasil. A morte de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT, em Foz do Iguaçu, não o surpreendeu.

A desumanidade e o arbítrio estavam presentes nos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, na destruição da Amazônia e nos 675 mil mortos pela covid-19 por um governo que escolheu a cloroquina e desprezou a vacina. O negacionismo escondeu o ouro dos pastores da Educação, quis impor o voto impresso, aparelhou com militares a Esplanada e aprovou a PEC Kamikaze.

Em 1939, Churchill se mostrou correto: a 2.ª Guerra começou e devastou a Europa. No Brasil de Bolsonaro, o primeiro-ministro britânico diria que, entre o arbítrio e a corrupção, os generais do Planalto escolheram o arbítrio. E tiveram a corrupção.

Em geral, Bolsonaro tornou pior o que já havia na política, mas trouxe contribuições pessoais

Regras claras do governo de Bolsonaro. A charge de Frank Maia | Desacato

Charge do Frank (Arquivo Google)

William Waack
Estadão

A obra de destruição presidida por Bolsonaro está quase completa, e falta apenas provocar a “convulsão social” – a caminho, que ninguém se iluda – por conta da provável derrota eleitoral. Essa obra se compõe da dissolução da institucionalidade e da formidável expansão do patrimonialismo, com suas velhas marcas de corrupção. Só teve dois aspectos originais.

Bolsonaro não foi muito criativo. O empenho em atacar a imprensa, por exemplo, é parte de um fenômeno mais amplo do desgaste da mídia profissional em seu papel tradicional como guardiã da veracidade objetiva dos fatos. Daí o destaque alcançado por fake news, e a presença desproporcional no debate público brasileiro de celebridades projetadas por redes sociais.

INCOERÊNCIAS – Bolsonaro é um populista autoritário de feições convencionais, sem preocupação em manter coerência entre palavras e ações, ou cumprir promessas eleitorais.

O atual presidente já encontrou o STF como uma instância política e não foi o iniciador do desequilíbrio entre os Poderes, um processo de longo curso. É discussão do tipo ovo ou a galinha determinar se o STF assumiu o presente protagonismo político por deliberada vontade de seus integrantes ou se ocupou o vazio deixado por outros Poderes (especialmente o Legislativo).

Não importa quem tem razão, no embate aprofundou-se o enorme e destrutivo desarranjo institucional.

SEM ORIGINALIDADE – Bolsonaro também nada exibiu de original na sanha de demonização do adversário político, uma marca sobretudo petista no período pós-ditadura militar. Usou as mesmas ferramentas profissionais e os métodos de seus adversários, embora a belicosidade e a boçalidade bolsonaristas tenham “estilo” próprio.

É um populista autoritário de feições convencionais, sem preocupação em manter coerência entre palavras e ações, ou cumprir promessas eleitorais.

Mas trouxe duas relevantes contribuições originais à obra destrutiva.

IMAGENS DESTRUÍDAS – A primeira foi o emporcalhamento da credibilidade das Forças Armadas. Conscientes disso ou não, ao emprestarem ao governo Bolsonaro o prestígio pacientemente reconquistado, os comandantes militares margearam o abismo da aventura política e danificaram a imagem da própria instituição. Não adianta reiterar que generais fardados ou de pijama, dentro ou fora do governo, são indivíduos falando em nome próprio, que não representam as Forças Armadas. O público não faz essa distinção.

A segunda “contribuição” foi o emporcalhamento da imagem externa do Brasil. Bolsonaro já trilhava esse caminho subordinando-se a Trump e nas posturas públicas em relação a meio ambiente, entre outras.

Mas não há memória de um chefe de Estado que tivesse convocado ao palácio onde mora embaixadores do mundo inteiro para falar mal do próprio país. Bolsonaro garantiu lugar original na história.

Não estou certo de entender este mundo em que a exceção tem se tornado a regra

Guerra na Ucrânia: 'Este é o maior desafio para a Europa desde a 2ª Guerra  Mundial', diz historiador - BBC News Brasil

Prédio residencial atingido em Kiev, capital da Ucrânia

Candido Bracher
Folha

“Quando Deixamos de Entender o Mundo” é o título de um fascinante romance de não ficção do escritor chileno Benjamin Labatut. Em cinco episódios independentes, em que personagens reais e fatos verídicos são enriquecidos com a imaginação do autor, são expostas as intrincadas ligações entre a criação científica, por um lado, e a beleza, a loucura e a guerra, por outro.

 Somos apresentados a cientistas que exploraram os limites do conhecimento em suas épocas, como Einstein, Schwarzschild, Schrödinger e Heisenberg, entre outros, e aprendemos como pode ser desestabilizadora a descoberta científica quando revela fatos que acentuam a nossa incapacidade de compreender o mundo.

A OLHO NU – Li o livro há alguns meses, mas nos últimos dias o seu título me voltou repetidas vezes à mente. Certamente não por eu me perguntar sobre o funcionamento dos buracos negros, ou buscar entender os princípios da mecânica quântica; não me aventuro a tanto. Minha incapacidade presente de compreender o mundo está ligada a fatos muito mais simples e observáveis a olho nu. Isso é o que mais incomoda.

Sinto-me como Chauncey Gardiner, o personagem interpretado pelo genial Peter Sellers no filme “Muito Além do Jardim”. Ele é uma pessoa limítrofe, que viveu em completa reclusão até a meia-idade, ocupando-se de cuidar do jardim e tendo na televisão seu único meio de contato com o mundo externo.

Obrigado a confrontar a vida real, quando é expulso da casa pelos advogados do seu falecido patrão, vê-se diante de uma gangue de adolescentes em um subúrbio americano. Ameaçado com um canivete, ele saca do bolso o controle remoto da televisão e o aponta para o grupo, procurando mudar a cena. Tento o mesmo, mas meu controle remoto tampouco funciona.

CONCEPÇÃO EVOLUTIVA – Acredito ser natural nas pessoas, seja por necessidade psíquica, seja por fundamentos reais, o desenvolvimento de uma concepção evolutiva do homem e da sociedade.

A embasar essa crença, está desde a imagem conhecida e onipresente da “evolução”, mostrando as figuras que vão do macaco ao homem que caminha ereto até as “frisas do tempo’’, que aprendemos a fazer no primário (“fundamental”, para os mais jovens), em que a pré-história, a escravidão, a servidão feudal vão se seguindo, passando pelos descobrimentos, o Renascimento e a Revolução Industrial, até desaguarem nas democracias modernas dos nossos dias.

No nosso próprio tempo de vida, vimos distanciarem-se as sombras das grandes guerras do século passado, a chegada do homem à Lua, a integração crescente das mulheres e a conscientização em relação às minorias em geral e os progressos tecnológicos que facilitam a comunicação e a informação. É natural que acreditemos no progresso e em uma tendência à busca do entendimento, às soluções negociadas e ao equilíbrio democrático, ao menos no nosso mundo ocidental.

RETROCESSO CLARO – Como essa crença nos convém, podemos até desprezar elementos que apontem em sentido contrário, considerando-os casos excepcionais, exceções que justificam a regra.

Mas ultimamente a exceção tem-se tornado regra. Somos parte de um mundo que assiste praticamente inerte às crescentes evidências das consequências trágicas do aquecimento global. Diante das previsões cada vez mais precisas e incontestadas da ciência, comportamo-nos como o sapo na panela, atribuindo ao outro a responsabilidade que é de todos. Como o entendimento global é muito complicado, fingimos que o problema não existe.

Nos EUA, a inacreditável invasão do Capitólio só é menos chocante que as previsões do provável retorno do seu fomentador nas próximas eleições presidenciais.

REVERTEU O FILME – Nas últimas semanas, três decisões da Suprema Corte anulando o direito ao aborto, liberando o porte de armas em público e cerceando a agência ambiental americana dão a impressão de que o projetista reverteu o filme da história.

Nas Filipinas, como uma assombração de além-túmulo, volta o nome de Ferdinand Marcos, caricatura perfeita do ditador corrupto. Os jornais nos dão conta de que a eleição de seu filho foi amparada em uma série intensa de fake news, comprovando uma vez mais o princípio de Goebbels, de que uma mentira dita mil vezes torna-se verdade.

Na Europa — que, após a Segunda Guerra, ergueu-se para dar ao mundo os belos exemplos da queda do Muro de Berlim, a reunificação alemã e a consolidação da União Europeia, onde o respeito às diferenças de língua e cultura faz a força do bloco —, assistimos pasmos à volta da guerra de grandes proporções.

DIRETO AO ABISMO – Ao menos nesse caso, nos conforta que, com a perspectiva do ingresso da Suécia e da Finlândia na Otan e o convite à Ucrânia e a Moldova para integrar a UE, a aventura de Putin pareça repetir a lógica das tragédias gregas, como a de Édipo, quando a ânsia de escapar ao futuro temido acaba por precipitar o personagem no abismo do qual queria fugir. A Otan será mais forte após a guerra, e o futuro de Putin é incerto. Mas isso não trará de volta os milhares de vítimas desse confronto anacrônico.

Na América Latina, uma sequência de eleições polarizadas entre posições aparentemente inconciliáveis mostra a deterioração da democracia no subcontinente, em vez da consolidação que há alguns anos parecia assegurada.

A fragilidade crescente dos partidos políticos e o efeito disfuncional das redes sociais tornam difícil a formação de maiorias que possam garantir a implementação de políticas sustentáveis que levem ao crescimento econômico e ao desenvolvimento social.

AINDA HÁ TEMPO – No nosso Brasil, temos diante de nós uma eleição presidencial na qual os dois candidatos que lideram as pesquisas são, para tomar por empréstimo a frase de Laurentino Gomes, “de um lado, um sujeito que namora a ditadura, com sua linguagem grosseira. De outro, uma esquerda com cheiro de naftalina”. Ainda há tempo para construir uma alternativa que represente os ideais de união e concórdia.

Entre todas, a imagem que mais dói projeta-se em minha mente repetidas vezes. No rio Itaquaí, cercados pela floresta amazônica, dois homens seguem em uma pequena lancha, pouco antes de serem emboscados e assassinados.

Aos meus olhos, são defensores da floresta e de seus povos, mas ouço o responsável último pela segurança no país dizer com descaso que fazem uma “aventura não recomendável”. Não estou certo de querer entender este mundo.

 

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