quinta-feira, 12 de maio de 2022

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Telegram suspende grupo de bolsonaristas, mas atuação de plataforma segue obscura

O grupo que passava dos 60 mil usuários foi criado por militares da reserva com foco de desinformação

Telegram suspende grupo de bolsonaristas, mas atuação de plataforma segue obscura
Notícias ao Minuto Brasil

12/05/22 05:13 ‧ HÁ 3 HORAS POR FOLHAPRESS

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dos principais grupos bolsonaristas no Telegram, o Grupo B38, está temporariamente suspenso do aplicativo.

Usuários que tentarem ingressar ou visualizar as mensagens do grupo, que é público, encontram o aviso de que a empresa deu tempo aos moderadores do grupo para removerem mensagens após alguns usuários terem postado "conteúdo ilegal". A suspensão foi noticiada pelo site Núcleo Jornalismo.

O grupo que passava dos 60 mil usuários foi criado por militares da reserva no Recife (PE) para apoiar a campanha de Jair Bolsonaro (PL) em 2018 e era foco de desinformação. Como mostrou o podcast Cabo Eleitoral, da Folha de S.Paulo, o B38 tem representantes pelo país, site e reúne uma militância organizada.

No ano passado, integrantes do B38 afirmavam planejar carreatas em diversas cidades pelo país, para os atos de raiz golpista do 7 de Setembro, mobilizados pelo presidente, como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo.

Ao buscar o grupo no Telegram pelo Google, aparece a quantidade de 63 mil membros junto da mensagem: "Bem-vindo ao maior grupo de apoio a Bolsonaro do Brasil!!!". Com a suspensão não é possível visualizar a quantidade atual.

"Desculpe, este grupo foi temporariamente suspenso para dar tempo aos moderadores para limpeza, depois que alguns usuários postaram conteúdo ilegal. Nós vamos reabrir o grupo assim que a ordem for reestabelecida", diz o aviso, originalmente em inglês.

Conhecido por ter pouca moderação, o Telegram esteve recentemente na mira do Judiciário brasileiro e também do governo alemão.

Depois de assumir compromissos com o STF (Supremo Tribunal Federal), envolvendo moderação e combate à desinformação, a plataforma não parece ter atualizado suas regras públicas ainda.
Desse modo, para usuários em geral, não são muito claros o que pode ser considerado uma infração ou quais tipos de conteúdos ilegais são considerados passíveis de remoção.

Diferentes plataformas têm termos de uso e regras próprias e, em geral, a moderação realizada por elas ocorre com base em tais regras.

O termos de serviço do Telegram determinam que o aplicativo não pode ser utilizado "para enviar spam ou praticar golpes em nossos usuários"; "promover a violência em canais públicos do Telegram, bots, etc." e "postar conteúdo pornográfico ilegal em canais públicos, bots, etc."

Além dos termos de serviço, há uma página com perguntas frequentes, mas elas não trazem muitos detalhes sobre moderação.

A reportagem enviou questionamentos pedindo mais detalhes sobre a medida, pelo canal de atendimento à imprensa disponibilizado pelo Telegram e ao representante legal da empresa. Até a publicação deste texto, porém, não houve resposta.

Para Francisco Brito Cruz, diretor do InternetLab, o aviso de suspensão incluído pelo aplicativo não é claro sobre qual a origem da medida.

"Nós não sabemos se esse conteúdo ilegal que o Telegram está falando foi notificado para o Telegram por uma ordem judicial ou se foi o próprio Telegram que fez essa análise. Isso que a gente não sabe", diz.

"O que a gente sabe é que a medida de suspensão do grupo como um todo foi uma decisão corporativa e que tem um dose de ineditismo porque a gente nunca tinha visto outro caso como esse no Brasil."

Para ele, a partir do momento que uma plataforma toma a decisão de passar a moderar, a transparência passar a ser requerida em muitos mais pontos, já que a partir da decisão surgem uma série de dúvidas.

"Quando o Telegram não tomava nenhuma decisão era muito mais fácil para eles", diz. "Isso denota que não é só fazer moderação, moderação de conteúdo vem junto com outras coisas, gera outros questionamentos e portanto é uma tarefa super complexa".

A advogada Flávia Levéfre, que é mestre pela PUC-SP e integrante do coletivo Intervozes, considera que transparência é importante, mas ressalta que, havendo práticas ilícitas sendo praticadas, não há ilegalidade na moderação.

"Acho que quanto mais informação melhor e mais atendido o Código do Consumidor, já que a informação é um direito básico de acordo com a lei", diz ela. "Entretanto, havendo condutas ilícitas sendo praticadas na plataforma, não considero ilegal a remoção de conteúdo ou a suspensão de contas."

Em março, após decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, de suspender o funcionamento do aplicativo de mensagens no Brasil, a plataforma se pronunciou em processo.

Além de cumprir as determinações do ministro, que envolviam a remoção de mensagem do canal oficial do presidente Jair Bolsonaro (PL), a empresa afirmou ainda que passaria a realizar um monitoramento manual dos cem canais mais populares do país, diariamente. Disse ainda que postagens poderiam ser marcadas como "imprecisas", a partir de parcerias com agências brasileiras de checagem.

Afirmou também que quem divulgar fake news não poderá criar novos canais.

Dias depois, em 25 de março, o Telegram também aderiu ao programa de enfrentamento à desinformação nas eleições do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Até então a empresa vinha ignorando as tentativas de contato da Justiça Eleitoral.

Apesar de o Telegram ter aderido ao programa, o TSE informou que ainda não foi assinado o memorando de entendimento, que especifica exatamente os compromissos assumidos por cada uma das partes no contexto da iniciativa.

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