Presidente do Cidadania rebate FHC: “Doria pode não ser indicado como candidato único”
Cristiane Noberto
Correio Braziliense
O presidente do Cidadania, Roberto Freire, respondeu ao tuíte do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) que endossava a atitude do ex-governador de São Paulo João Doria ao se posicionar como pré-candidato à presidência pelo PSDB.
“Caro FHC, com todo respeito, em nenhum momento dos diálogos em busca da candidatura única da terceira via e desde quando ainda lá participava o Uniao Brasil, as prévias do PSDB deixaram de ser acatadas: João Doria era o candidato do PSDB. O da unidade poderá ser ou não. Com admiração”, escreveu o líder da legenda. O PSDB e o Cidadania firmaram uma Federação para as eleições deste ano.
Mais cedo, FHC escreveu em no Twitter que “agiu bem o candidato João Doria, ressaltando que o resultado das prévias deve ser respeitado”. Desde a disputa pela vaga pelo partido, o tucano histórico demonstrou apoio ao paulista.
FORÇA NULA – Dentro do tucanato, no entanto, ainda que se reconheça o prestígio da velha guarda, a opinião de Fernando Henrique dá força junto à opinião pública, mas segundo um membro da Executiva Nacional ouvido pelo Correio, “dentro da dinâmica interna do partido a força dele é nula”.
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, convocou uma reunião de emergência da Comissão Executiva Ampliada para terça-feira (17/5), em Brasília. A ideia é debater com os membros do partido sobre uma carta enviada por João Doria ao qual acusa uma “tentativa de golpe” dentro do partido.
Segundo o ex-governador paulista, critérios como má colocação nas pesquisas e altos índices de rejeição são “desculpas estapafúrdias”; ele reclama também de “movimentações do presidente nacional que criam insegurança jurídica”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É óbvio que má colocação nas pesquisas e alta rejeição não são “desculpas estapafúrdias”, muito pelo contrário. O fato concreto é só resta Simone Tebet, do MDB, para formar chapa com Ciro Gomes. O resto, como diz Sebastião Nery, é apenas folclore. (C.N.)
Aos gritos e palavrões, Bolsonaro lembra 64 e diz que a democracia está sofrendo ameaças
Eduardo Gayer e Giordanna Neves
Estadão
Em discurso cheio de palavrões e com gritos, o presidente Jair Bolsonaro comparou o momento atual com 1964, ano do golpe militar, para dizer que a liberdade está ameaçada no País. “O que tentaram nos roubar em 64 tentam nos roubar agora. Lá atrás pelas armas, hoje pelas canetas”, afirmou o presidente em um evento com empresários nesta segunda-feira, 16, em São Paulo.
“A liberdade é mais importante que a nossa própria vida”, disse o presidente, que voltou a enfrentar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), citando a possibilidade de eleições “conturbadas”.
IGUALZINHO A 64 – A suposta proteção às liberdades individuais e democráticas, defendida por Bolsonaro, foi a justificativa utilizada pelos militares para derrubar o então presidente João Goulart e instalar o regime de exceção, que durou 21 anos no País.
No mesmo discurso, Bolsonaro voltou a minimizar a defesa de golpe militar – o que é inconstitucional – em manifestações pró-governo. “Entendo tudo isso como liberdade de expressão”, declarou, chamando em seguida de “psicopata” e “imbecil” quem classifica os atos bolsonaristas como antidemocráticos por suas bandeiras.
O chefe do Executivo ainda disse se sentir um “prisioneiro sem tornozeleira eletrônica” no comando do País e descartou que um dia possa ser preso. “Por Deus que está no céu, eu nunca serei preso. Não estou dando recado para ninguém”, afirmou no evento da Associação Paulista de Supermercados (Apas).
ELEIÇÕES CONTURBADAS – Bolosnaro afirmou ainda que as eleições deste ano podem ser conturbadas. “Vocês (supermercadistas) foram excepcionais nessa pandemia, mas tudo pode acontecer. Poderemos ter outra crise. Poderemos ter eleições conturbadas. Imagine acabarmos as eleições e pairar para um lado, ou para o outro, a suspeição de que elas não foram limpas? Não queremos isso”, disse. “Só Deus me tira de lá [Presidência]. Não adianta inventar canetada.”
Em discurso com palavrões, Bolsonaro voltou a dizer que as eleições não podem ter qualquer suspeição. “Já vi falando que eu vou perder a eleição, vou perder minha família toda. Tá achando que vai me intimidar dando recado? Ou nós decidimos no voto, pra valer, contabilizado, auditado, ou a gente se entrega. E se entregar, vocês vão dar 50 anos ou mais pra voltar a situação que está hoje em dia”, afirmou o presidente, que, sem provas, levanta dúvidas sobre a lisura do sistema eleitoral brasileiro. Ele rechaçou, no evento, ser um ditador.
Para o presidente, as eleições são vistas como um “ponto de inflexão” para o Brasil e para o mundo”. “Alguns querem a volta à cena do crime”, afirmou Bolsonaro, em referência a uma frase do ex-governador Geraldo Alckmin nas eleições de 2018. Hoje, Alckmin é o pré-candidato a vice do ex-presidente Lula da Silva.
INFLAÇÃO E ELEIÇÕES – No discurso, Bolsonaro reconheceu o impacto da inflação na disputa pelo Palácio do Planalto. Embora sem citar Lula nominalmente, Bolsonaro mostrou acreditar que o eleitor faz comparações entre passado e presente na hora de escolher seu candidato.
“Uma parte da população não sabe ver diferença. Olha na ponta da linha como está o preço na gôndola do supermercado e vota de acordo com o que está vendo, achando que vai voltar o diesel a R$ 3, a lata de óleo a R$ 5″, disse o presidente, pré-candidato à reeleição.
Bolsonaro, no entanto, voltou a jogar a culpa da inflação na crise trazida pela pandemia da covid-19 e nas medidas de contenção do coronavírus. O presidente disse ainda estar “buscando uma solução” para o preço dos combustíveis. “O mundo árabe nos adora, a recíproca é verdadeira”, disse o presidente, afirmando ter uma “excelente política externa”
MARCO TEMPORAL – Mantendo o clima de tensão institucional, o presidente voltou a pedir que o Supremo Tribunal Federal não rejeite a tese do marco temporal e a ameaçou descumprir uma eventual decisão da Corte nesse sentido.
“O que sobra pra mim se o Supremo aprovar isso? Eu tenho que pegar a chave na Presidência e entregar no Supremo, ou falar ‘não vou cumprir’”, repetiu. “Não se pensa no Brasil de jeito nenhum, o Brasil que se exploda, essa é a máxima.”
A revisão do marco temporal está paralisada no STF e, se aprovada, tem o potencial de ampliar o número de terras indígenas demarcadas no País. Hoje, o entendimento legal é de que povos indígenas só podem requerer demarcação de terras se comprovarem ocupação do território na data da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988. O presidente ainda voltou a celebrar a queda de multas do Ibama e a defender o armamento da população. “Eu não durmo sem uma arma do meu lado”, disse o presidente.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Falar palavrão num discurso aos gritos, diante de uma plateia de empresários, conforme descreve o repórter, é sinal de que Bolsonaro não está nada bem. Como pretende ser reeleito agindo assim, tão descontroladamente? Desse jeito ele elege Lula no primeiro turno… (C.N.)
Promessa de acabar com o teto de gastos é uma grave ameaça de Lula à economia
Deu na Gazeta do Povo
O ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado Lula continua a deixar muito claro que, se voltar ao Planalto, pretende demolir o edifício da responsabilidade fiscal, erguido a duras penas ao longo de pouco mais de uma década e meia. E a demolição começará pelo teto – no caso, o teto de gastos, um dos principais legados do governo Michel Temer.
No Twitter e em evento com reitores de universidades em Juiz de Fora (MG), o petista afirmou para quem quiser ouvir que, em seu governo, não haverá teto de gastos; só faltou explicar se ele pretende simplesmente ignorar a regra, ou se vai batalhar para uma mudança na Constituição, já que a limitação ao crescimento da despesa governamental está inscrita na Carta Magna desde 2016.
SIMPLISMO ILUSÓRIO – Os argumentos do ex-presidente e pré-candidato estão recheados daquele simplismo que tem marcado as opiniões de Lula sobre uma série de outros temas, até mesmo de política internacional, sem falar de alguns truques semânticos.
Para reduzir a dívida como porcentagem do PIB, indicador que no caso brasileiro está bem acima da média de países emergentes, Lula diz apenas que basta elevar o PIB, o que faz sentido em termos puramente matemáticos, mas na vida real é muito mais complicado de conseguir, além de revelar que não há a menor intenção em fazer um esforço de redução do gasto público.
No governo, o petismo plantou gastos e colheu inflação, recessão e desemprego. Demolir o teto de gastos é preparar uma reedição dessa colheita maldita que prejudica especialmente os mais pobres
HERANÇA MALDITA – Pois o petismo já demonstrou, ao longo de seus 13 anos e meio no poder, que sua parte na receita para o crescimento do PIB é o aumento dos gastos do governo como se não houvesse amanhã. No governo, Lula teve a sorte de receber uma herança bendita de Fernando Henrique Cardoso na forma do controle da inflação e do tripé macroeconômico; a manutenção dessa política, combinada com um período de forte demanda internacional por commodities brasileiras, resultou em um ciclo de crescimento que culminou no “PIBão” de 7,5% em 2010.
Àquela altura, o petismo já se julgava capaz de se livrar das regras herdadas de FHC e aplicar suas próprias ideias, por meio da “nova matriz econômica”. O resultado foi o início de uma sequência de déficits primários que continua até hoje e a crise de 2015-2016, com a pior recessão da história do país, algo que nem mesmo a pandemia de Covid-19 conseguiu igualar.
A julgar pela fala de Lula em Minas Gerais, o que falta é “criatividade” – uma escolha de palavra bastante curiosa, dada a sua associação às mentiras contábeis que marcaram a passagem de Dilma Rousseff pelo Planalto – e mudar os nomes das coisas.
DINHEIRO PÚBLICO – Despesa com educação, para o petista, não deveria ser considerada “gasto”; pouco importa, obviamente, que, seja lá o termo favorito, o dinheiro continuará saindo dos cofres públicos da mesma maneira. E simplesmente afirmar que a chave para o crescimento é botar mais dinheiro na educação ignora uma série de problemas inconvenientes: que o Brasil, em termos proporcionais, já investe muito em educação, embora costume investir mal; e que o orçamento altamente engessado dá ao governo margem quase nula para qualquer aumento substancial do investimento estatal na educação (ou em qualquer outra coisa).
Na campanha de 2014, Dilma acusava seus adversários de “plantar inflação para colher juros”. Mas foi o petismo que plantou gastos e colheu inflação, recessão e desemprego.
Demolir o teto é preparar uma reedição dessa colheita maldita que prejudica especialmente os mais pobres, aqueles que não têm meios de se proteger em tempos de desorganização da economia. A promessa de Lula, ainda que embalada como se trouxesse progresso ao país, é na verdade uma ameaça, cuja concretização tem o potencial de demolir o Brasil todo.
Economia brasileira desaprendeu a crescer a partir de 1980 e não mais se reencontrou
Samuel Pessôa
Folha
Claramente há duas quebras estruturais no crescimento da economia brasileira. A primeira em 1918, e a segunda, em 1980. Nos 62 anos entre 1918 e 1980, crescemos 978%, ou 3,9% ao ano. Nos 41 anos entre 1980 e 2021, crescemos 34%, ou 0,7% ao ano. A economia desaprendeu a crescer a partir de 1980.
A evolução do produto per capita brasileiro, a preços de 2010, de 1900 até 2021, foi levantada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o Ipeadata.
INDUSTRIALIZAÇÃO – O forte crescimento de 1918 até 1980 foi simultâneo ao processo de urbanização e industrialização. Adicionalmente, após a Primeira Guerra, houve um longo processo de fechamento da economia mundial. O comércio e a mobilidade de capital se reduziram. Nossa estratégia de substituição de importação era coerente com o que ocorria na economia global.
De qualquer forma, o período de forte crescimento deixou um péssimo legado na área social, principalmente na escolarização nos níveis fundamentais da população.
Nos anos 1950, aproximadamente sete de cada dez crianças de sete a 14 anos estavam fora da escola. Em 1980, a taxa de analfabetismo da população com 15 ou mais anos era de 25%.
DÉCADA PERDIDA – Sabemos que 1980 é o ano de início do período conhecido por década perdida. A segunda rodada da elevação dos preços internacionais do petróleo, em 1979, associada à elevação dos juros americanos pelo então presidente do banco central dos EUA, Paul Volcker, para reduzir a inflação que chegou a atingir 14,5% em maio de 1980, produziu profunda e prolongada crise externa na América Latina.
Passada a longa crise, não conseguimos reencontrar o caminho do crescimento. Veja dois motivos principais. Um interno e outro externo.
Primeiro, a redemocratização trouxe para o centro da formulação das políticas públicas o tema do investimento na área social: universalizamos o ensino fundamental, avançamos no médio, construímos uma rede de proteção social muito abrangente para um país de renda média, e a pobreza entre os velhos praticamente foi eliminada.
MAIS IMPOSTOS – Os custos foram a redução do investimento público e o aumento da carga tributária. Segundo o Observatório de Política Fiscal do Ibre, o investimento público, incluindo as empresas estatais, foi de 5,8% do PIB para o período de 1947 até 1980 e de 4% no período posterior.
Segundo o IBGE, a carga tributária era de 25% na virada dos anos 1970 para os anos 1980 e de 34% nos anos 2000, um crescimento de nove pontos percentuais. Carga tributária maior e investimento em infraestrutura menor dificultam o crescimento.
O motivo externo foi a alteração na forma de organizar a produção. Desde 1970 e com muita intensidade a partir de 1990, há forte crescimento do comércio de bens em processo.
DESINDUSTRIALIZAÇÃO – A produção dos bens manufaturados foi quebrada em diversas etapas, e cada etapa passou a ser executada em diferentes países.
O resultado é que desde 1990 houve uma queda do valor líquido exportado como proporção da exportação bruta. O conteúdo de insumos importados dos bens exportados subiu muito. Esse fato é bem documentado nos trabalhos de Robert Johnson, professor da Universidade de Notre Dame em Indiana, EUA.
O mundo mudou e não conseguimos atualizar nossa inserção na economia global.
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