Para se reeleger, Bolsonaro não pode ser Bolsonaro e tem de sufocar a beligerância
Guilherme Amado
Metrópoles
O presidente Jair Bolsonaro tem que driblar o jeito Bolsonaro de ser para se manter competitivo para a eleição de outubro. Só que, a contar pelos novos ataques à Justiça Eleitoral na semana passada e pelas investidas de seus apoiadores contra as pesquisas que o mostram bem atrás de Lula, o presidente já começou a deixar a autocontenção para trás.
Num ciclo vicioso, Bolsonaro só tende a perder se não conseguir esconder sua essência beligerante. Por isso, parece estar desistindo do voto e seus ataques de Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal integram uma estratégia contra a realização das eleições.
Caso seja derrotado e precise questionar o resultado eleitoral, o presidente precisa fazer parecer que o Supremo é seu adversário. Neste quadro, Jair Bolsonaro precisa manter aquecida a tensão com o STF daqui até as eleições, para fazer colar a narrativa de que é vítima do tribunal.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Uma análise precisa, curta e grossa de Guilherme Amado, um dos destaques na nova geração de jornalistas políticos, que está chegando à casa dos 40 anos, a idade da razão. Parece claro que Bolsonaro, desde que assumiu, escolheu esse caminho, por julgar que as Forças Armadas iriam apoiá-lo numa aventura para repetir 1964. Ele parece não ter entendido o propósito do general Eduardo Villas Bôas, que comandava o Exército no governo Dilma Rousseff e deu grande força ao impeachment. Os militares não queriam o poder, apenas almejavam que poderiam fazer bonito no governo Bolsonaro, mas se enganaram. O presidente tem um parafuso a menos e se mostra incontrolável, ingovernável e inadministrável. E vida que segue, diria o grande João Saldanha, o João sem Medo, como era chamado por Nelson Rodrigues. (C.N.)
Charge do Duke
Entenda como melar uma eleição democrática, inventando pretextos sem a menor base real
Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
A urna eletrônica é o maior avanço já realizado no Brasil para assegurar que nosso Estado de direito democrático seja realmente uma democracia de massas, segundo o princípio “cada cidadão um voto”, que caracteriza as eleições majoritárias no Brasil — principalmente as eleições para o Executivo, nos três níveis de federação. Só para ilustrar, esse princípio foi a principal reivindicação da luta contra o apartheid na África do Sul, em que pese a bandeira “Libertem Mandela”, o grande pai da democracia sul-africana.
As eleições proporcionais, embora tenham o mesmo princípio, não garantem uma representação exatamente proporcional ao número de eleitores de cada unidade da federação, porque São Paulo elege menos deputados do que seria a proporção de seu colégio eleitoral, e alguns estados com menos eleitores são sobrerepresentados, como Roraima, por exemplo.
MAIS SEGURANÇA – Com a urna eletrônica, acabaram-se as fraudes eleitorais na contagem e na apuração dos votos, que eram muito frequentes quando o voto era impresso e apurados manualmente, inclusive durante o regime militar, e mesmo após a redemocratização.
Em parte, o aperfeiçoamento do sistema decorreu da tentativa de fraude das eleições para o governo do Rio de Janeiro, em 1982, quando foi eleito o governador Leonel Brizola, numa operação tabajara realizada pelos órgãos de inteligência do governo do presidente João Batista Figueiredo.
Um sistema informatizado de apuração dos votos, feito pela empresa Proconsult, associada a antigos colaboradores do regime militar, transferia votos nulos e brancos para o candidato governista. Os indícios de que os resultados seriam fraudados surgiram da apuração paralela contratada pelo PDT à empresa Sysin Sistemas e Serviços de Informática, que divergiam completamente do resultado oficial. Outra fonte que obtinha resultados diferentes dos oficiais foi a Rádio Jornal do Brasil. A tentativa de fraude é analisada no documentário britânico Beyond Citizen Kane, de 1993.
APURAÇÃO IMEDIATA – Com a adoção da urna eletrônica, porém, se tornou impossível alterar o resultado da votação na apuração e na computação dos votos, porque cada urna é um compartimento estanque, não conectado em rede, que registra, apura e emite o boletim de votação de cada seção eleitoral. Esses resultados, posteriormente, são transmitidos para os tribunais eleitorais e somados, num processo que possibilita a obtenção do resultado da eleição no mesmo dia.
Além disso, torna possível uma operação reversa de rastreamento, para conferir o resultado urna por urna, caso isso seja necessário. A inviolabilidade da urna eletrônica, porém, precisa ser atualizada a cada eleição, para impedir que sejam hackeadas.
Desde quando tomou posse, o presidente Jair Bolsonaro (PL) levanta suspeitas sobre as urnas eletrônicas. Afirma que venceu as eleições de 2018 no primeiro turno, o que é fantasioso, sem qualquer base nos fatos.
PROJETO REJEITADO – Bolsonaro chegou a promover uma tentativa de restabelecimento do voto impresso, que foi rejeitada pelo Congresso. Com a aproximação das eleições desde ano, nas quais concorrerá à reeleição, o presidente da República intensificou seus ataques ao processo eleitoral, levantando suspeitas sobre as urnas eletrônicas e, até mesmo, em relação à idoneidade dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Para neutralizar esses ataques, o então presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, decidiu ampliar o colégio de especialistas encarregado de testar a segurança das urnas e, para isso, também convidou um representante das Forças Armadas, que têm uma unidade de defesa cibernética a cargo do Exército.
O que era para ser uma colaboração específica, entretanto, passou a ser tratado por Bolsonaro como uma espécie de tutela militar sobre processo eleitoral, o que é inconstitucional. Mais de 80 questionamentos foram feitos pelo general Heber Garcia Portella, encarregado de representar as Forças Armadas nesse processo, que agora estão servindo de pretexto para desacreditar o processo, em lives e declarações do presidente da República.
RESPOSTAS PRECISAS – Nesta segunda-feira, dia 9, o presidente do TSE, ministro Edson Fachin, encaminhou aos integrantes da Comissão de Transparência das Eleições um ofício com as respostas técnicas da Corte às opiniões e recomendações expostas pelo Ministério da Defesa, em 22 de março deste ano.
As respostas tratam de novos questionamentos sobre a confiança do teste de integridade; o processo de amostragem aleatório para seleção de urnas que compõem o teste de integridade; a totalização com redundância pelos TREs; fiscalização e auditoria; a inclusão de urnas modelo UE2020 no teste público; os procedimentos normativos para a hipótese de verificação de irregularidade em teste de integridade; e as sugestões para uma possível duplicidade entre abstenção e voto.
Com esses esclarecimentos, o TSE deixou claro que a responsabilidade integral pela realização e lisura do pleito é da Justiça Eleitoral.
Bolsonaristas atacam Fachin por ter dito que as eleição são dirigidas pelas “forças desarmadas”
Deu no Estadão
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) reagiram à declaração do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, sobre a relação entre os militares e as eleições, inflamada após o presidente usar questionamentos das Forças Armadas para levantar dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas. O magistrado agradeceu o papel logístico dos militares na garantia das votações em todo o País e disse, nesta quinta-feira, 12, que quem trata das eleições são “as forças desarmadas”.
Em live no início da noite de ontem, Bolsonaro, que defende a participação ativa dos militares na apuração de votos, rebateu e afirmou que Fachin “vê fantasmas” e foi “descortês” com as Forças Armadas.
REAÇÃO A FACHIN – Nas redes, apoiadores de Bolsonaro repercutiram as falas do presidente e criticaram Fachin. Pedem nova resposta das Forças Armadas ao TSE e reforçam a tese infundada de que as urnas não são seguras. Como já demonstrou o Estadão Verifica, o volume de fake news sobre o modelo de votação é enorme, mas nunca houve de fato qualquer violação ao sistema, que coincidentemente faz aniversário nesta sexta-feira.
O TSE também foi às redes hoje para defender a urna, registrando os 26 anos desde que ela foi implantada. “Em 2000, o voto eletrônico foi totalmente implantado no Brasil e, graças a um intenso trabalho de logística, o equipamento chega aos 5.567 municípios do País”, publicou o TSE.
O embate entre Bolsonaro e Fachin surgiu após o presidente reeditar desconfianças sobre a lisura do processo eleitoral e tomar o novo presidente do TSE como alvo de suas manifestações. O foco mais recente da disputa entre Bolsonaro e Fachin, porém, está na participação dos militares no processo eleitoral.
SEM INTERVENÇÃO – Questionado sobre o papel das Forças Armadas nas eleições, o ministro disse que a Justiça Eleitoral não está aberta à ‘intervenção’.
A declaração se deu em meio a uma série de questionamentos que as Forças enviaram ao TSE nos últimos oito meses sobre supostos riscos e fragilidades que, na visão dos militares, podem expor a vulnerabilidade do processo eleitoral. A maioria das 88 perguntas reproduzia a dúvida sobre a segurança das urnas eletrônicas de Bolsonaro. Pediram, por exemplo, a montagem de uma sala de apuração paralela que pudesse ser monitorada pelas Forças Armadas.
Fachin respondeu. Disse que o TSE “manterá a sua firme atuação voltada a garantir paz e segurança nas eleições, a aprimorar o processo eleitoral, a propagar informações de qualidade”. A mensagem veio junto a um retorno da equipe técnica da Corte que disse não existir “sala escura” de apuração dos votos. A expressão citada na resposta do TSE já foi usada por Bolsonaro quando sugeriu uma contabilização paralela de votos controlada pelos militares.
FOI DESCORTÊS? – Em sua última investida, Bolsonaro disse nesta quinta-feira, 12, que Fachin, foi “descortês” com as Forças Armadas quando viu intervenção militar no processo de realização das eleições. Horas antes, Fachin havia afirmado que “quem trata de eleições são as forças desarmadas”.
“Não sei de onde ele tira esse fantasma de que as Forças Armadas querem intervir na Justiça Eleitoral. As Forças Armadas não estão se metendo nas eleições. Elas foram convidadas por uma portaria do então presidente Barroso”, insistiu Bolsonaro, numa referência ao ministro Luís Roberto Barroso, que comandou o TSE até fevereiro.
Depois, como se dirigindo a Fachin, continuou: “O senhor tem poder para revogar a portaria. (Mas) enquanto a portaria está em vigor, as Forças Armadas foram convidadas.”
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – É tudo um teatro. Em campanha, Bolsonaro tenta criar fatos para fazer espalhafatos, desculpem o jogo de palavras. Faz-se de vítima, dizendo-se perseguido pelo Supremo e pelo TSE, e ao mesmo tempo comporta-se como líder revoltoso, conclamando as pessoas a reagirem junto com ele. A estratégia é eficiente, porém mostra-se limitada, porque a rejeição a Bolsonaro continua sendo a maior entre os candidatos, e isso significa que dificilmente ganhará no segundo turno, não importa quem seja o adversário, porque todos têm rejeição muito menor do que a dele. (C.N.)
Temer rebate Lula e afirma que o petista sonha em restabelecer o imposto sindical
Deu no Estadão
O ex-presidente Michel Temer não gostou da fala de Lula da Silva sobre a reforma trabalhista. O pré-candidato do PT disse que a reforma foi feita por pessoas com “mentalidade escravocrata”. O presidenciável já prometeu revogar parte da reforma, aprovada em 2018, no governo Temer.
O ex-presidente, que pilotou a mudança na legislação trabalhista e a defende como legado de seu governo, rebateu no mesmo tom.
IMPOSTO SINDICAL – “A única intenção do ex-presidente Lula, certa e seguramente, é restabelecer o imposto sindical. Sendo assim, que o diga expressamente e não faça acusações a quem não retirou nenhum direito dos trabalhadores. Nossa reforma trabalhista acrescentou direitos aos trabalhadores brasileiros”, afirmou Temer, em mensagem à Coluna do Estadão.
O ex-presidente citou algumas das mudanças aprovadas, como a possibilidade de férias parceladas, o registro formal do trabalho intermitente, o banco de horas e o home office.
“Existiam perto de 17 mil sindicatos no Brasil, enquanto nos Estados Unidos são 130, na Alemanha 8 e na Argentina 91. Os sindicatos são importantes, não há a menor dúvida. Mas eles se tornam mais importantes, mais significativos, com a colaboração espontânea dos trabalhadores”, afirmou.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Desta vez, Temer está com toda razão. Lula não tem ideia do que foi feito na reforma trabalhista no governo Temer e faz críticas sem o menor amparo na realidade. O que Lula realmente pretende é restabelecer o Imposto Sindical obrigatório, para sustentar milhares e milhares de falsos sindicalistas, que são verdadeiros parasitas, pois nada produzem e vivem às custas de quem trabalha de verdade. A existência de 17 mil sindicatos, além de federações, confederações e centrais, é uma vergonha para o Brasil diante do resto do mundo. Apenas isso. (C.N.)
Pacheco (sem citar Bolsonaro): ‘Inacreditável que ainda seja preciso defender a democracia’
Levy Guimarães
O Tempo
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse nesta sexta-feira (13), pelas redes sociais, que é “inacreditável que em 2022, com todos os problemas que temos no país, ainda seja necessário defender a democracia dos diversos ataques”. E acrescentou: “A democracia é a única forma de convivemos de forma harmônica e avançarmos como Nação. Não há outro caminho aceitável”.
Essas publicações vão na mesma linha do discurso do senador na noite da última quinta-feira (12), na abertura do Congresso Brasileiro de Magistrados, onde também defendeu a democracia.
ATENTADOS NOCIVOS – Segundo Pacheco, é preciso haver um fortalecimento das instituições. “Precisamos defender a democracia em tempos de atentados nocivos à sociedade brasileira. Temos que ter coragem para defender o nosso Judiciário e queria reafirmar aqui que eu respeito o Poder Judiciário do meu país”, disse.
Para o presidente do Senado, o país vive um ambiente de “ataques antidemocráticos, de arroubos que parecem populares para um determinado grupo, [mas que] na verdade são atentados muito nocivos à sociedade brasileira”.
ATAQUES AO TSE – As declarações acontecem em meio a novas suspeitas levantadas pelo presidente Jair Bolsonaro sobre o processo eleitoral. Ele vem reforçando a ideia de as Forças Armadas realizarem uma apuração paralela à do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com a contratação de uma empresa privada.
Como resposta, o presidente do TSE, ministro Edson Fachin, pontuou que o Tribunal aceita colaborações, mas a palavra final sobre o resultado da apuração é da Justiça Eleitoral. “Ninguém e nada interferirá”, afirmou.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Realmente, na fase atual da humanidade, a democracia tem de ser consensual. Ser obrigado a defendê-la, como diz o presidente do Senado, parece um mergulho no passado mais tenebroso. (C.N.)
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