quarta-feira, 25 de maio de 2022

 


Após a desistência de Doria, PSDB acelera a decadência rumo à futura fusão com o MDB

TRIBUNA DA INTERNET

Charge do Cazo (Arquivo Google)

Merval Pereira

O ex-governador de São Paulo João Doria tomou uma atitude que já estava madura ao renunciar à candidatura à Presidência da República, mas deveria ter se antecipado à cúpula do PSDB, que agora está às voltas com a pressão interna para que o partido tenha um candidato próprio. Não se trata mais de disputar a Presidência com Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes. Trata-se, isso sim, de tentar salvar a própria sigla do desastre anunciado.

Os tucanos, que governaram o país por oito anos e estiveram no segundo turno em todas as eleições, exceto as de 2018, foram devastados pelo fenômeno eleitoral chamado Bolsonaro e não souberam reagir a esse ataque hostil.

PSDB E PT -A saída de Geraldo Alckmim do partido que ajudou a fundar só fortaleceu a percepção dos eleitores que trocaram o PSDB por Bolsonaro de que a social-democracia tucana tem mais a ver com o petismo do que com o liberalismo que eles buscaram nesses anos todos em que a sigla era a única alternativa viável ao PT. Assim como a adesão do ex-juiz Sergio Moro ao governo Bolsonaro reforçou a tese petista de que Moro condenou Lula para facilitar a vitória de Bolsonaro.

Os eleitores do Sul, do Sudeste, do Centro-Oeste que abandonaram Alckmin em 2018 para aderir a Bolsonaro não encontraram motivos para voltar ao ninho tucano, pois o partido, além de criticar e atacar o presidente eleito, teria de ter apresentado uma proposta de governo que atendesse a esse eleitorado, que quer derrotar o PT porque considera Lula e seus camaradas socialistas enrustidos que usam a democracia para destruí-la.

Não se importam exatamente com a democracia, já que Bolsonaro pode ser tudo, menos democrata.

OBJETIVOS – Querem é manter no poder um esquema político que garanta os incentivos à agricultura e à pecuária e que afaste a ameaça da ação de movimentos como MST e MTST nas áreas urbanas.

A política ambiental, um dos pontos nevrálgicos da imagem do país no exterior e uma necessidade interna com repercussão no futuro da nossa economia, é tema delicado, que deveria ter sido tratado pelo PSDB como projeto de desenvolvimento futuro, não de retrocesso, tendo a agricultura e a pecuária como elementos fundamentais dentro de uma visão de desenvolvimento sustentável.

Mas o PSDB perdeu a capacidade de se antecipar aos acontecimentos, essencial para sua fundação. Nasceu de uma dissidência do MDB para modernizar a visão política do país contra o conservadorismo e a corrupção de um partido que já não tinha mais políticos do quilate de Ulysses Guimarães no controle, mas do tipo de Orestes Quércia.

FUSÃO COM MDB – Agora, como ressalta Marcus Pestana, fundador do PSDB e candidato ao governo de Minas Gerais, os tucanos propõem a união com o mesmo MDB, sem seus grandes nomes, com a perspectiva de uma futura fusão entre os partidos. Seria o retorno, mais de 30 anos depois, à mesma situação rejeitada por seus fundadores.

Enfim, João Doria saiu da disputa para a Presidência numa boa hora — poderia até ter saído antes —, terá tempo para rever suas posições e voltar a competir pelo próprio partido, já que não saiu rompido. Ele tentou superar a barreira da cúpula do PSDB, mas ela era intransponível. Na verdade, Doria nunca contou com a boa vontade do grupo e não soube se impor ao partido na base do diálogo e da confiança.

Quis se impor pelos resultados — e tinha toda a razão, porque fez um bom governo, mas sua figura pública arrogante e não condizente com a realidade não conseguiu convencer os eleitores. Seria um candidato teoricamente forte se tivesse sido apoiado pelo eleitorado de São Paulo. Tinha muita confiança em si mesmo e se esqueceu de que, sozinho, não conseguiria superar todos os obstáculos.

ACELEROU DEMAIS – Com tranquilidade, Doria reconheceu que se excedeu e acelerou demais quando não devia. O PSDB tem como fortaleza de resistência apenas o governo de São Paulo, e caso o perca — caminha para isso — será uma tragédia para o partido. Doria entendeu, afinal, que não poderia ser o responsável pela maior derrota do PSDB.

Agora, deverá ser lançada a chapa Simone Tebet, do MDB, com um vice tucano de peso, que pode ser Tasso Jereissati ou Eduardo Leite. Mas há muita gente no PSDB querendo apoiar Bolsonaro; provavelmente o apoio a ela não será unânime, e, se não aparecer com perspectiva de vitória, ela será abandonada tanto pelo PSDB quanto pelo MDB. É devido a essa rachadura nos dois partidos que tucanos históricos querem lançar uma candidatura própria para garantir a continuidade do partido.

O baque da votação de Alckmim em 2018, que não chegou a 5% do eleitorado, pode se repetir nesta eleição, o que decretará o fundo do poço tucano. O PSDB não pode nem mesmo repetir o MDB, que desistiu de ter candidatos à Presidência da República para reforçar suas bancadas e ganhar poder de barganha. Os tucanos não têm essa capilaridade toda, nem unidade partidária. O candidato do partido, se sair, será lançado às feras.

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