sábado, 21 de março de 2020

Em nome do irmão

Como pode Ronaldinho Gaúcho acabar preso com Assis depois de entrar no Paraguai portando passaporte e identidade paraguaios falsos?
Em busca da resposta para essa e outras perguntas que apaixonados do futebol no mundo inteiro fazem desde o último dia 6, a reportagem do UOL passou nove dias em Assunção. Entrevistou promotores, um juiz, advogados dos brasileiros, membros do governo local, quatro defensores de outros envolvidos no processo, administrador da cadeia e membros do estafe de Ronaldinho e Assis.
As autoridades preferem esperar pelas perícias nos celulares dos irmãos para tentar fechar o quebra-cabeça. A defesa afirma que ambos agiram de boa-fé, pensando que os documentos eram verdadeiros.
Mas Ronaldinho não desconfiou de papéis que o apontavam com nacionalidade paraguaia sem nunca ter morado no país (estrangeiros só podem obter passaporte local se morarem ao menos três anos do Paraguai)? A resposta dos defensores dos brasileiros direciona o protagonismo do episódio para Assis.
Os advogados dos irmãos afirmam que o mais velho deles foi fisgado pela ideia de ter documento paraguaio para poder abrir empresa no país (só a cédula da identidade do Paraguai é necessária) e pagar menos impostos. O argumento é de que a sugestão foi apresentada pelo empresário brasileiro Wilmondes Sousa Lira, também preso, e pela empresária paraguaia Dalia López, procurada pela polícia. Por essa versão, Assis acreditava que a documentação seria a legítima.
NORBERTO DUARTE / AFP
O estafe dos ex-jogadores descreve Ronaldinho como um cara que não se envolve nos negócios. Desde o tempo em que jogava, deixa todas as decisões contratuais e comerciais nas mãos do irmão, que considera como um pai. E assim teria sido feito no Paraguai.
O discurso interno entre as pessoas que assessoram os dois é de que Assis é honesto, mas às vezes se descuida. Essa é a tese para explicar como os dois ex-atletas se meteram nessa enrascada. O argumento é de que faltou cuidado para Assis ao topar o projeto da documentação paraguaia. A avaliação é de que ele falhou ao não consultar seus advogados sobre a papelada.
De acordo com membros do estafe da dupla, se tivesse feito isso, teria ouvido ser impossível se naturalizar paraguaio sem viver três anos no país. Saberia, também, que, ao pedir nacionalidade paraguaia, deixaria de ser legalmente brasileiro.
Apesar do suposto descuido de Assis, os advogados dos irmãos não o culpam por Ronaldinho passar o aniversário de 40 anos preso em Assunção. A situação só acontece, segundo os defensores, por conta de uma extensa lista de irregularidades que Ministério Público e Justiça teriam cometido no processo. "Não existia a ordem para prendê-los quando eles foram presos. A ordem era só verbal. Isso é totalmente ilegal", diz o advogado Sérgio Queiroz.
A defesa anexou no processo uma tabela com registros dos horários dos fatos para comprovar sua tese. Osmar Legal, um dos promotores do caso, nega que isso tenha acontecido. No entanto, ele não apresentou para a reportagem registros dos horários referentes aos atos relativos às prisões.

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