quarta-feira, 12 de novembro de 2025

 

William Waack

Trump perde aprovação entre eleitores preocupados com economia, diz Ipsos

Avaliação positiva de Trump pelo grupo é de 38% - uma queda de 24 pontos percentuais desde janeiro

Danilo Cruz, da CNN Brasil, em São Paulo
Trump anuncia tarifas na Casa Branca  • (Carlos Barria/Reuters - 2.abr.2025) O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, viu sua aprovação entre os americanos preocupados com a economia despencar para 38% em outubro, segundo pesquisa Reuters/Ipsos feita em outubro. Isso representa uma queda de 24 pontos percentuais desde janeiro, quando a visão positiva
 de Trump nesse grupo era de 62%.

Os eleitores demonstram preocupação com preços nos supermercados, aluguel e o mercado de trabalho. O tema foi determinante nas recentes eleições para os governos da Virgínia, Nova Jersey e para a prefeitura de Nova York - todas vencidas por democratas.

Na maior cidade americana, 55% dos eleitores diziam que o custo de vida era a questão mais importante que a região enfrenta - e foi onde o prefeito eleito Zohran Mamdani focou o discurso com debates sobre transporte público gratuito e outros aspectos.

Para as eleições legislativas do ano que vem, o tema também será 

fundamental.

Na amostragem conduzida pela Ipsos, 44% dos eleitores independentes dizem que a posição dos candidatos sobre a economia é o fator decisivo na hora de escolher o voto. Os republicanos ficam na segunda posição nesse aspecto, com 40% - seguido pelos democratas com 33%.

Durante participação no WW , o presidente da Ipsos nos Estados Unidos, Clifford Young, afirmou que o tema "supera questões ideológicas e se estabelece como o maior desafio político para os republicanos".

O governo Trump entende a dificuldade do momento. A inflação para produtos comuns aos americanos segue em alta em decorrência da política tarifária do governo. O café, por exemplo, subiu quase 19% e a carne mais de 8% em um ano, segundo os dados mais recentes.

Em outra frente, Trump lida com as consequências da mais longa paralisação do governo americano na história, que deixou trabalhadores públicos sem receber por mais de um mês e gerou cortes em diversas equipes.

A Casa Branca prometeu um auxílio de US$ 2 mil dólares - com exceção aos americanos de alta renda - baseado na arrecadação das tarifas, mas não está claro se o projeto irá para frente.

"Faz todo sentido que o governo Trump esteja reagindo. Quem vota, no fim das contas, é a pessoa comum, que está preocupada com as coisas do dia a dia", afirmou Young.

A pesquisa também apontou que a maioria dos eleitores americanos apoia medidas focadas na redução do custo de vida. Segundo o instituto, os independentes apoiam mesmo "medidas consideradas progressistas" - como transporte público gratuito e restituição de impostos para os mais pobres. "Em resumo, as pessoas estão preocupadas com coisas reais: supermercados, aluguel, custos do dia a dia e assim por diante. Sem respostas, perde-se o voto", apontou o especialista.

 

Ninguém acredita que Fux liberte Bolsonaro, mas a possibilidade é concreta

Fux de toga, com pastas embaixo do braço, em pé em sala do STF e com olhar confiante

Sem apoio de Barroso, Fux não conseguiria achar a brecha

Carlos Newton

O ministro Luiz Fux é considerado um dos maiores processualistas do país, a ponto do novo Código de Processo Civil, adotado em 2015 e que já sofreu alguns aprimoramentos, tenha sido apelidado do “Código do Fux”.

Neste final de ano, quando o país está dominado por uma polarização extremamente acirrada, Fux surpreendeu a opinião pública ao se posicionar contra as decisões do ministro Alexandre de Moraes no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro é dos demais acusados ​​de golpe de estado.

429 PÁGINAS – Na reta final do julgamento, a primeira surpresa foi Fux ter anunciado que não votaria a favor da denúncia e da prisão de Bolsonaro.

Na ocasião, pediu licença a outros ministros para que não sofresse aparte durante a leitura do seu voto, que demorou mais de 13 horas, por ter 429 páginas.

O calhamaço não teve maior efeito, porque os ministros da Primeira Turma se sentiram afrontados pela atuação de Fux e nem se importaram em saber a procedência dos argumentos jurídicos que ele apresentou aos borbotões. Resultado: os erros e exageros de Moraes não foram confirmados e Bolsonaro pegou 27 anos e quatro meses.

NA OUTRA TURMA – O esquema de Fux só se tornou possível com a cumplicidade de Luís Roberto Barroso, que se aposentou exatamente no momento necessário. Sem que o julgamento do golpe de estado tivesse acabado, Barroso sumiu e Fux puderam trocar de Turma, para substituí-lo.

Assim, de uma hora para outra, Bolsonaro passou a ter maioria na Segunda Turma, que vai julgar seu recurso mais importante, com condições totais para absolvê-lo, no início do ano.

O único ministro que poderia evitar é Gilmar Mendes. Como presidente, tentará fazê-lo, mas não conseguirá, porque cabe recurso ao plenário da Segunda Turma, onde Fux e Bolsonaro têm maioria.

PRECEDENTE – A outra arma que Gilmar tem em mãos é fraca, por se tratar de um reles precedente de 2018, no caso Maluf. Com escassos 6 a 5 aprovou-se um precedente altamente discutível, porque anula sem expressiva maioria um dispositivo do Código de Processo Penal e cria grave empecilho ao amplo direito de defesa. 

Como Fux e Bolsonaro agora têm maioria na Segunda Turma, podem atropelar ou tal precedente com total segurança, porque não há força vinculante de jurisdição ou súmula.

Na verdade, Gilmar e os outros ministros que o seguem ainda não encontraram a brecha jurídica que possa neutralizar o esquema de Fux para absolver 

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PS
 – Quando for publicado o acórdão condenando Bolsonaro e os outros acusados, a defesa do ex-presidente terá 10 dias (Código de Processo Penal) ou 15 dias (Regimento do Supremo) para recorrer à Segunda Turma. No caso, fica valendo o prazo mais extenso, de 15 dias. Será então escolhido o relator, que poderá até ser o presidente da Turma, Gilmar Mendes, ou algum outro membro, como o próprio Luiz Fux, o que facilitará muito seu trabalho para “absolver” Bolsonaro. (CN)

Sputnik

 

Caros, obsoletos e nem a Ucrânia quis: Alemanha tenta lucrar no Brasil com blindados defasados

Membros do Exército da Alemanha durante desfile militar, em novembro de 2025, a bordo do Leopard 2A6 - Sputnik Brasil, 1920, 11.11.2025
Especiais
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas avaliam que Exército Brasileiro deveria investir em veículos próprios, uma vez que não há perigo regional iminente, o que permitiria o desenvolvimento de uma frota própria e sem dependência estrangeira.
As informações de que a Alemanha ofereceu tanques Leopard 2A6 ao Brasil movimentaram o noticiário de defesa nacional. De acordo com o portal Tecnologia & Defesa (T&D), citando fontes do Exército Brasileiro, foram oferecidos ao país 65 Leopard 2A6 e 78 blindados Marder 1A5, supostamente recusados pela Ucrânia.
O artigo do T&D levanta uma série de objeções à aquisição. Os principais pontos críticos são o custo elevado, os desafios logísticos e o aumento da dependência do fornecedor alemão.
O custo de aquisição também é apontado como uma questão problemática: o preço da proposta seria de aproximadamente 15 milhões de euros (cerca de R$ 92,7 milhões) por cada Leopard 2A6 e 10 milhões de euros (cerca de R$ 61,8 milhões) por cada Marder, valores que não incluem o suporte técnico e a manutenção.
Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas da área de defesa afirmam que esses tanques alemães são obsoletos, e refletem uma tentativa de Berlim de se livrar dos veículos restantes enquanto ainda possuem alguma operacionalidade. Para os analistas, parte dos Leopard 2A6 e Marder 1A5 deve ser canibalizada para o próprio reparo de outros do mesmo lote.
Vinicius Modolo Teixeira, professor de geopolítica e coordenador do Laboratório de Desenvolvimento Territorial e Geopolítica da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemate), diz que o negócio para a Alemanha visa o lucro na venda dos veículos, mas também nos custos da reforma para gerar renda para a indústria bélica local. Ao Brasil, restam os ônus.
"A gente corre o risco de ficar dependente de uma manutenção extremamente cara, necessária para a operação desses blindados, que ainda não possui no Brasil, e ter que comprar todo um parque de material tecnológico, já antigo também, defasado, para que eles se tornem operacionais no país."
O Brasil já teve experiências ruins com a compra de blindados usados de Bélgica e Estados Unidos, na década de 1990, por não haver peças de reposição no mercado devido ao estado de defasagem desses equipamentos.

"Eles foram rapidamente inutilizados. A gente comprou esses blindados em meados da década de 1990, e, por volta do ano 2000, 2005, eles já não estavam tão operacionais mais, e hoje já foram aposentados. A gente não teve então uma utilização boa desse equipamento."

José Augusto Zague, pesquisador de Pós-Doutorado do Projeto Pró-Defesa V pelo Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais (IPPRI) e do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes), ambos da Universidade Estadual Paulista (Unesp), explica que a malha viária do Brasil sequer suportaria o deslocamento de um Leopard 2A6.

"Um veículo blindado como esse, que tem mais de 60 toneladas, ele teria dificuldade até para transitar nas nossas rodovias. A maior parte delas não suportaria. [...] Seria necessária uma adaptação, uma aquisição de veículos que pudessem transportar esses blindados."

Zague explica que a Ucrânia pode ter recusado os veículos pelo valor para deixá-los operacionais, mas também pela dificuldade de Kiev de lidar com equipamentos com origem ocidental.
"Os ucranianos herdaram uma doutrina de defesa da antiga União Soviética e têm algumas dificuldades para adaptação em armamentos ocidentais."
Caça Gripen, da empresa sueca Saab, durante testes em Goiás, em março de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 07.08.2025
Panorama internacional
Além do Brasil: venda do Gripen para a América do Sul é pontapé para uma base de defesa conjunta?

Qual a serventia desses blindados para o Brasil?

A compra desse tipo de veículo deve ser feita para servir um propósito para as forças armadas do Brasil, segundo os analistas entrevistados pela Sputnik Brasil. Além do alto valor a ser investido para obter os blindados, ainda seria necessário gastar mais dinheiro na compra de munições.
Teixeira explica que os veículos operados pelo Brasil utilizam canhões 105mm, diferente dos 120mm do Leopard A26, obrigando o país a importar essa munição, uma vez que as fábricas nacionais não produzem tal calibre.
"Nós temos que importar essa munição em um período de utilização dela, e no momento as fábricas de cartuchos, as fábricas nacionais, não fabricam. É um tipo de munição também muito mais cara do que é atualmente operada. Nós operamos blindados no Brasil com canhão de 105mm, é uma diferença bastante grande na questão de potência desses canhões."
O professor da Unemat conta que não há necessidade de aquisição de canhões 120 mm, pensando nas blindagens de outras tropas sul-americanas. Para Teixeira, o ideal seria ignorar a possibilidade de adquirir armamento alemão e investir na indústria de defesa nacional.
"Nossos blindados são bastante antigos, são bastante onerosos para as Forças Armadas e não têm a funcionalidade esperada. Porém, o ideal seria a busca para uma modernização e a fabricação a nível nacional."
Zague ressalta que é preciso haver uma formulação mais precisa da estratégia de política de defesa brasileira. Segundo o especialista, os "documentos de defesa não são claros com relação à definição de ameaça, do que nos ameaça, como ameaça, por que ameaça, e sobre as nossas vulnerabilidades estratégicas", além da falta da participação de civis nesse processo decisório militar.
"As formulações estratégicas são quase que integralmente feitas pelos militares. Não tem uma participação da sociedade civil como ocorre em outros países, em algumas democracias europeias, por exemplo, em que você tem uma participação da sociedade civil, os ministérios têm uma participação maior dos civis. Então, falta clareza para essas definições estratégicas."
O pesquisador da Unesp reforça: é preciso pensar um desenho industrial próprio, fugindo da super sofisticação empregada pelos países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que pouco adiciona ao poderio dos armamentos. Um exemplo de eficiência, na visão de Zague, é a Rússia.
"Mesmo tendo todos os problemas com relação à aquisição, por exemplo, dos semicondutores, das dificuldades que ela tem por conta das sanções, de ter acesso a determinados componentes, a Rússia tem feito inovações a partir de um desenho industrial próprio. Como é autônoma, ela consegue um desenho industrial próprio que permite a ela desenvolver armamentos sem utilizar aquilo que eu chamaria de super sofisticação dos armamentos ocidentais. O Brasil poderia, por exemplo, pensar em desenvolver um desenho industrial próprio, como o Irã fez."