sexta-feira, 23 de junho de 2023

 

Tarcísio assiste à decisão do TSE de camarote, à espera de assumir a herança de Bolsonaro

De camiseta azul, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se ajoelha para orar com lideranças evangélicas durante a Marcha para Jesus de 2023Adriana Ferraz e Gustavo Queiroz
Estadão     

Pode não ser hoje nem amanhã. No entanto, se os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmarem a expectativa geral e tirarem o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) da disputa presidencial de 2026, a herança bolsonarista cairá no colo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), querendo ele ou não.

Aliás, o governador paulista nem precisará ter pressa em assumir o posto: terá três anos pela frente para definir estratégias, angariar aliados, inaugurar obras e bater o martelo na Bolsa de Valores de São Paulo em novas concessões à iniciativa privada.

BOLSONARISTA MODERADO – Depois de vencer a eleição de 2022 com a roupagem de “bolsonarista moderado”, mas colado à imagem do ex-presidente, Tarcísio vem dando sinais cada vez mais claros de seu distanciamento da extrema-direita e de seu principal líder, nem citado mais por ele como opção para 2026. Mesmo no dia em que hospedou Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes, o governador evitou dividir os holofotes a seu lado.

A discreta recepção na sede do governo paulista desagradou bolsonaristas mais radicais que esperavam um repeteco do tapete vermelho estendido a Bolsonaro e ao próprio Tarcísio pelo então governador Rodrigo Garcia (PSDB), durante o segundo turno da eleição de 2022.

No dia 1º de junho, o tapete até estava estendido na entrada do palácio, mas era para dar as boas-vindas ao presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, convidado do dia seguinte.

PELA PRIMEIRA VEZ – O ex-presidente, por sua vez, entrou pela garagem do Bandeirantes sem ser visto pela imprensa e com passagem direta para a ala residencial. Na manhã seguinte, durante formatura de oficiais da Polícia Militar, Bolsonaro pôde presenciar, pela primeira vez, seu ex-ministro no posto de autoridade principal de um evento. E, durante o discurso, agradecimentos ao passado, sem projeções para o futuro.

“Quero agradecer primeiro ao presidente que abriu as portas para mim, confiou no nosso trabalho, fez a diferença ao enfrentar crises difíceis. Ele deixou um legado, despertou em nós um sentimento de patriotismo, de brasilidade e formou novas lideranças. Quero demostrar aqui minha eterna gratidão”, disse Tarcísio, que, assim como Bolsonaro, tem seguido o script de prestigiar eventos militares, cristãos e do agronegócio.

Na edição deste ano da Marcha para Jesus, principal encontro evangélico do País, Tarcísio já ocupou o posto vago por Bolsonaro e também pelo presidente Lula da Silva, que, convidado, não participou. A milhares de fiéis, o governador se ajoelhou para orar com líderes de diversas igrejas e pedir bênçãos ao Estado e também ao Brasil.

MOSTRAR SERVIÇO – Tarcísio, no entanto, ainda precisa mostrar a que veio. Além das propostas de privatização, como a da Sabesp, e do aumento de salário s policiais militares (promessa feita ao segmento bolsonarista), o carioca que se mudou para São Paulo às vésperas da eleição segue em busca de uma marca que, daqui a três anos, possa lhe render nova mudança de endereço.

Não custa lembrar que os três últimos governadores paulistas – e tucanos – tentaram, sem sucesso, chegar ao Planalto. João Doria nem concorreu, e José Serra e Geraldo Alckmin perderam duas vezes cada.

Além da eventual inelegibilidade de Bolsonaro, outro fator decisivo pode cair no colo de Tarcísio. Se apenas seguir o cronograma de obras das gestões tucanas, o governador poderá inaugurar 34 estações de metrô e de trem até 2026. Para os paulistas, seria um ótimo começo. E o efeito positivo em São Paulo seria facilmente exportado para outros Estados, com destaque para os do Nordeste, tradicionalmente posicionados mais à esquerda. Nesse desafio, Bolsonaro não deve ajudar muito.

Mourão diz que o coronel Lawand jogou a carreira “na latrina” ao incitar o golpe

O senador e ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos-RS)

Mourão foi visitar o tenente-coronel Mauro Cid na prisão

Natália Portinari e Edoardo Ghirotto
Metrópoles

O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente de Bolsonaro, afirmou que o coronel Jean Lawand Júnior jogou a carreira “na latrina” ao incitar uma tentativa de golpe de Estado para manter o ex-presidente no poder.

Mensagens encontradas pela PF mostram que Lawand pediu que Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, pressionasse o então presidente a acionar as Forças Armadas para reverter o resultado das eleições no fim do ano passado.

CARREIRA BRILHANTE – “Mas quem é o Lawand na fila do pão? É um coronel com carreira militar brilhante, foi comandante dos mísseis e foguetes em Formosa”, disse Mourão à coluna.

“Agora estava no Estado Maior numa função burocrática, designado para aquilo que é um dos prêmios que o Exército dá, para ser adjunto do adido militar nos Estados Unidos, dois anos em Washington e agora está jogando isso pela latrina”, definiu, em referência à decisão do governo Lula, após a revelação das mensagens, de reverter a nomeação de Lawand para ser adjunto do adido do Exército em Washington, onde ganharia 25 mil dólares mensais.

Nas conversas encontradas pela PF, Cid disse a Lawand que Bolsonaro não tentaria dar um golpe porque não teria o apoio do Alto Comando do Exército.

MOURÃO DESCONVERSA –  Questionado se o Alto Comando era o único empecilho impedindo a gestão anterior de tentar tomar o poder por uma intervenção militar, Mourão disse que não participou dessas conversas.

“O presidente em nenhum momento aventou essa hipótese. O que eu ouvi do presidente ao longo daqueles dois meses, após a derrota na eleição, foi alguém que ficou extremamente abatido, porque ele julgava que iria vencer.”

O senador disse não saber se havia pessoas no entorno de Bolsonaro que o aconselhavam a dar um golpe. “Aí eu não sei, porque nunca participei dessas conversas. Vocês sabem muito bem que eu era escanteado desse pacote aí.”

ERRO DE BOLSONARO – Sobre o tenente-coronel Mauro Cid, Mourão diz que Jair Bolsonaro não deveria ter transformado seu ajudante de ordens em um “faz-tudo”, pelo fato de ser um oficial da ativa. O senador afirma que, hoje, Mauro Cid está colhendo as consequências disso.

“Eu fui visitá-lo na prisão, porque o conheço desde criança. Isso foi há umas duas semanas. O Cid está bem, ele é um cara acostumado a viver em confinamento, não está triste com isso. O cara é da Força Especial, passou por uma série de treinamentos”, disse.

Mourão nega que Cid tenha a intenção de fazer uma delação premiada, como é cogitado. “O Cid não tem nada para delatar. O Cid era ajudante de ordens do presidente, e o presidente transformou ele num faz-tudo, que não deveria ter transformado”, declarou.

OFICIAL DA ATIVA – “O Cid é um oficial da ativa. Ele [Bolsonaro] tinha que ter pegado um assecla qualquer para ser faz-tudo dele. Mas ele gostava do Cid e foi isso. E ele [Cid], hoje, está sofrendo o bullying do Alexandre de Moraes.”

Mourão disse também que militares da ativa que discutiram a possibilidade de golpe com Cid, como o coronel Jean Lawand, não tinham condições de executar o plano que estavam tramando.

“Toda vez que a gente avalia uma ameaça, temos que ver a capacidade daquela ameaça realmente se concretizar. Se você pega três, quatro oficiais que não têm comando de tropa… A primeira coisa que o cara tem que ter é comando de tropa. Ali não tinha nenhum comandante de batalhão. Estavam trocando ideia, dizendo pressiona o presidente para isso, para aquilo”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – O coronel Jean Lawand era um “tríplice coroado” como João Figueiredo e Augusto Heleno, em decorrência de sua condecoração com a Medalha Marechal Hermes, por ter sido primeiro colocada na AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras), EsAO (Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais) e ECEME (Escola de Comando e Estado Maior). Em tradução simultânea, chegaria facilmente a general de quatro estrelas.

O tenente-coronel Mauro Cid ia na mesma balada, só faltava a ECEME. A derrocada de Lawand e Cid mostra que nem sempre os primeiros colocados são os melhores alunos. Muito pelo contrário, podem ser apenas duas vacas fardadas, como dizia o general Olympio Mourão Filho, que em 1964 colocou a tropa na rua e detonou o golpe militar. Recordar é viver. (C.N.)

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