Eventual condenação de Bolsonaro no TSE cria dilema. Com quem a direita vai, então?
William Waack
Estadão
Jair Bolsonaro caminha para a guilhotina da inelegibilidade. Se for cortada, sua cabeça ficará como um troféu a ser exibido por uma das bolhas do espectro político brasileiro e tratada como símbolo de martírio pela outra.
Num futuro museu da ciência política é provável que a cabeça cortada figure como exemplo de quem surfa uma onda cuja abrangência nunca entendeu, despreze os fundamentos de organização e conduta da ação política, ignore a importância de uma boa estratégia e confunde bravata com coragem.
TUDO NEBULOSO – Nunca ficou claro se Bolsonaro queria controlar as instituições que o limitavam ocupando-as “por dentro” ou tentando derrubá-las “por fora”. Acabou severamente tolhido por Judiciário e Legislativo. Iniciou o mandato dizendo que “não faria a política de sempre” e acabou totalmente embrulhado por ela.
Há certo consenso quanto ao fato de Bolsonaro ter se transformado num cabo eleitoral de Lula. Mas não se pode ignorar um fator emocional muito além do que sua figura possa ter servido de contraste em favor do adversário: foram a frieza, ausência de solidariedade e empatia com o sofrimento de milhões de pessoas durante a pandemia.
As eleições que ele perdeu deixaram evidente o peso majoritário do que se possa chamar de “centro-direita” no eleitorado. O problema para essa larga fatia é o fato de que ela é dispersa e Bolsonaro nunca a liderou de forma abrangente. Para um contingente nutrido do setor conservador, Bolsonaro não é uma figura a ser cultuada – mas, sim, a ser esquecida.
DIREITA DIVIDIDA – Podem-se identificar agremiações partidárias “de direita”, mas não existe um partido dominante “da direita” (como existe o PT na esquerda). O que se poderia chamar de espectro amplo de “centro-direita” no Brasil ostenta convergências, mas não um conjunto coordenado de postulados e, menos ainda, uma proposta de atuação comum.
Num cenário desses, a cabeça de Bolsonaro continuará tendo relevância para uma parcela ainda significativa do eleitorado, embora menor do que já foi. Líderes populistas são capazes de fazer sucessores quando estão no poder e dispõem de máquina partidária e estatal. Não é o caso de Bolsonaro, que não tem herdeiro nem sequer próximo da sua estatura política.
A ausência do nome dele como candidato obviamente abre um campo enorme para outros nomes, sobretudo entre alguns atuais governadores. É o caminho “natural” da política, que não tolera vácuos. E resolve um pedaço importante da grande tendência de centro-direita, que era como se livrar dele. Permanece, porém, o dilema essencial: com quem, então?
Lindbergh pede afastamento de Campos Neto por descumprir os objetivos do BC
Raphael Felice
O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) protocolou, nesta quinta-feira (22/6), uma denúncia no Conselho Monetário Nacional (CMN) contra o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. O argumento do parlamentar é que Campos Neto descumpre os objetivos do BC.
Lindbergh é presidente da Frente Parlamentar Contra os Juros Abusivos. Ele afirma que Campos Neto não cumpre uma das funções do BC, que é o fomento do pleno emprego e o crescimento econômico, ao manter a taxa de juros em 13,75%.
TRAVAR A ECONOMIA – “A decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 13,75% é inaceitável. Fica parecendo, cada vez mais, que Roberto Campos Neto e o Banco Central não estão agindo de forma técnica ao manter, pela sétima vez consecutiva, os juros em patamar tão elevado, mas, sim, agindo politicamente para travar a economia brasileira e sabotar o governo do presidente Lula”, diz o parlamentar.
Lindbergh Farias também pede ao CMN para avaliar a possibilidade de pedir ao Senado Federal a exoneração de Campos Neto. “Dada a intransigência de Campos Neto em reduzir a taxa básica de juros, é urgente que se tome uma decisão enérgica. Não podemos mais ‘ter paciência’ com um presidente do Banco Central que está comprometendo de forma direta o futuro do país”, afirma o parlamentar.
“A exoneração é o único caminho possível para que o Brasil possa baixar a taxa de juros e colocar o Brasil nos trilhos do desenvolvimento com justiça social”, afirmou o deputado petista.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Roberto Campos Neto já está pavimentando seu futuro, quando tiver de deixar o cargo, em 2024. Nos últimos anos, ninguém serviu tão primorosamente os interesses dos banqueiros brasileiros, que faturam como nunca no financiamento da dívida pública e também no rendimento das operações compromissadas, que funcionam como o antigo overnight, remunerando os recursos sem movimento que os bancos deixam nos depósitos à vista no Banco Central. É por essa exploração extorsiva a que é submetido o país que o editor da Tribuna defende a estatização da atividade bancária, que deveria ser exercida por agentes públicos, sem fins lucrativos, mas aqui no Brasil há operações que rendem mais de 400% ao ano, diante de uma inflação de apenas 6%, algo inimaginável em qualquer país decente. (C.N.)
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